quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O segredo do Unicórnio

Na constelação do Unicórnio, no interior de uma nuvem escura de grande massa rica em moléculas e poeira, encontra-se uma maternidade estelar ativa, o enxame Monoceros R2.
 © ESO (Monoceros R2)
Nesta bela imagem infravermelha obtida a partir do Observatório do Paranal do ESO, no norte do Chile, o telescópio de rastreio VISTA (Visible and Infrared Survey Telescope for Astronomy) penetra na escura cortina de poeira e revela com um detalhe  surpreendente as dobras, voltas e filamentos esculpidos na matéria interestelar poeirenta pelos intensos ventos de partículas e radiação emitidos pelas estrelas quentes jovens.
Embora esta nuvem pareça próxima no céu da mais conhecida Nebulosa de Órion, na realidade encontra-se quase duas vezes mais afastada da Terra, a uma distância de cerca de 2700 anos-luz. No visível podemos observar uma bela coleção de nebulosas de reflexão formadas quando a radiação azulada de um grupo de estrelas quentes de grande massa é dispersada por partes das camadas exteriores escuras da nuvem molecular. No entanto, a maioria das estrelas que acabaram de nascer permanecem escondidas uma vez que as espessas camadas de poeira interestelar absorvem fortemente a sua radiação ultravioleta e visível.
Com o seu enorme campo de visão, espelho grande e câmara sensível, o VISTA é o telescópio ideal para obter imagens profundas de grande qualidade no infravermelho de grandes áreas do céu, tais como a região Monoceros R2. A largura do campo de visão do VISTA é equivalente a cerca de 80 anos-luz a esta distância. Uma vez que a poeira é bastante transparente nos comprimentos de onda do infravermelho, muitas estrelas que não se conseguem observar em imagens no visível, tornam-se aparentes no infravermelho. A estrela de maior massa tem menos que dez milhões de anos de idade.
A nova imagem foi criada através de várias exposições obtidas em três regiões diferentes do espectro, no infravermelho próximo. Em nuvens moleculares como a Monoceros R2, as baixas temperaturas e as densidades relativamente altas permitem que as moléculas se formem, tais como o hidrogênio que, em certas condições, emite intensamente no infravermelho próximo. Muitas das estruturas vermelhas e rosas que aparecem na imagem do VISTA devem-se provavelmente ao brilho do hidrogênio molecular que é emitido pelas estrelas jovens.
A região Monoceros R2 possui um núcleo denso com, no máximo, dois anos-luz de extensão, o qual se encontra repleto de estrelas jovens de grande massa, possuindo igualmente um enxame de fontes infravermelhas brilhantes, que são geralmente estrelas de grande massa que nasceram recentemente, e que por isso estão ainda rodeadas pelos discos de poeira. Esta região encontra-se no centro da imagem, onde podemos observar uma maior concentração de estrelas e onde as estruturas avermelhadas proeminentes indicam muito provavelmente emissão de hidrogênio molecular.
A nuvem brilhante na parte mais à direita no centro da imagem é NGC 2170, a nebulosa de reflexão mais brilhante desta região. Em radiação visível, a nebulosa assemelha-se a ilhas azuis brilhantes num oceano escuro, enquanto que no infravermelho são reveladas no seu interior  fábricas frenéticas onde centenas de estrelas de grande massa estão se formando. A NGC 2170 pode ser observada de modo tênue através de um pequeno telescópio e foi descoberta por William Herschel na Inglaterra em 1784.
As estrelas formam-se num processo que dura tipicamente alguns milhões de anos e que se processa no interior de enormes nuvens de gás e poeira interestelar, com centenas de anos-luz de dimensão. Como a poeira interestelar é opaca à radiação visível, observações no infravermelho e no rádio são cruciais no sentido de compreendermos os primeiros estágios da formação estelar. Ao mapear o céu austral de modo sistemático, o telescópio VISTA irá colectar cerca de 300 gigabytes de dados por noite, fornecendo uma enorme quantidade de informação relativa àquelas regiões que, serão estudadas posteriormente em mais detalhe pelo Very Large Telescope (VLT), o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) e, no futuro, o European Extremely Large Telescope (E-ELT).
Fonte: ESO

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