quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Supernova de baixa massa como estopim para a formação do Sistema Solar

Uma equipe de pesquisa liderada pelo professor Yong-Zhong Qian da Escola de Física e Astronomia da Universidade de Minnesota, EUA, usou novos modelos e evidências de meteoritos para mostrar que uma supernova de massa baixa desencadeou a formação do nosso Sistema Solar.

complexo de gás e poeira na constelação do Cisne

© NASA/Spitzer (complexo de gás e poeira na constelação do Cisne)

Há cerca de 4,6 bilhões de anos atrás, uma nuvem de gás e poeira, que eventualmente formou o nosso Sistema Solar, foi perturbada. O colapso gravitacional resultante formou o proto-Sol com um disco circundante onde os planetas nasceram. Uma supernova - a explosão de uma estrela no final do seu ciclo de vida - teria energia suficiente para comprimir tal nuvem de gás. No entanto, não havia evidências conclusivas para apoiar esta teoria. Além disso, a natureza da supernova desencadeadora permanecia elusiva.

Qian e colaboradores decidiram focar-se nos isótopos de curta duração presentes no início do Sistema Solar. Devido à sua pequena vida, estes núcleos só podiam ter vindo da supernova desencadeante. As suas abundâncias no início do Sistema Solar foram inferidas pelos seus produtos de decaimento nos meteoritos. Como detritos da formação do Sistema Solar, os meteoritos são comparáveis a tijolos e argamassa que sobram num local de construção. Eles dizem-nos a composição do Sistema Solar e, em particular, quais os isótopos de curta duração que a supernova desencadeadora forneceu.

Qian é especialista na formação de isótopos em supernovas. As suas pesquisas anteriores concentraram-se em vários mecanismos pelos quais estes ocorrem em supernovas de diferentes massas. A sua equipe inclui colaboradores da mesma universidade, da Universidade Monash, na Austrália e da Universidade da Califórnia, em Berkeley (EUA). Qian e o pós-doutorado Projjwal Banerjee perceberam que os esforços anteriores no estudo da formação do Sistema Solar estavam focados numa supernova de alta massa como "gatilho", o que teria deixado um conjunto de impressões digitais nucleares que não estão presentes no registo meteórico.

Os pesquisadores decidiram testar se uma supernova de baixa massa, cerca de 12 vezes mais massiva que o nosso Sol, podia explicar o registo de meteoritos. Começaram a investigação examinando o Berílio-10, um núcleo de curta duração com 4 prótons e 6 nêutrons, com 10 unidades de massa. Este isótopo encontra-se amplamente distribuído em meteoritos.

Na verdade, a ubiquidade do Berílio-10 era uma espécie de mistério. Muitos cientistas teorizaram que a espalação - o processo no qual as partículas altamente energéticas removem prótons ou nêutrons de um núcleo para formar novos núcleos - por raios cósmicos seria a responsável pelo Berílio-10 encontrado nos meteoritos. Esta hipótese envolve muitos trajetos incertos e presume que o Berílio-10 não pode ser fabricado em supernovas.

Usando novos modelos de supernovas, Qian e colaboradores mostraram que o Berílio-10 pode ser produzido por espalação de neutrinos tanto em supernovas de baixa massa como alta. No entanto, apenas uma supernova de massa baixa como "gatilho" para a formação do Sistema Solar é consistente com o registo meteórico em geral.

"Além de explicar a abundância do Berílio-10, este modelo de supernova de baixa massa também explicaria os isótopos de curta duração do Cálcio-41, do Paládio-107 e alguns outros encontrados em meteoritos. O que não consegue explicar deverá, então, ser atribuído a outras fontes que requerem um estudo detalhado," disse Qian.

A equipe pretende examinar os mistérios restantes dos núcleos de curta duração encontrados em meteoritos. O primeiro passo, no entanto, é corroborar ainda mais a sua teoria examinando o Lítio-7 e o Boro-11, produzidos juntamente com o Berílio-10 por espalação de neutrinos nas supernovas. Qian realçou que poderão examinar isto num artigo futuro e pediu aos cientistas que estudam meteoritos que examinem as correlações entre esses três isótopos recorrendo a medições precisas.

Os resultados foram publicados na revista científica Nature Communications.

Fonte: University of Minnesota

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