segunda-feira, 30 de abril de 2018

Escassez de fósforo no espaço dificultaria existência de vida

A carência de um elemento químico no espaço cósmico pode ter importantes consequências para a existência de vida extraterrestre.

Nebulosa do Caranguejo

© J. Greaves (Nebulosa do Caranguejo)

Esta é uma imagem composta da Nebulosa do Caranguejo combinando imagens de infravermelho (vermelho), luz visível (verde) e ultravioleta (roxo).

É o que sugere um trabalho de cientistas da Universidade de Cardiff, na Inglaterra. O trabalho dos astrônomos Jane Greaves e Phil  Cigan foi apresentado durante a Semana Europeia de Astronomia e Ciências Espaciais, que ocorreu este mês em Liverpool, Inglaterra.

Greaves procurou por fósforo pelo Universo por causa de sua importância para a vida na Terra. Se este elemento estiver em falta em outras partes do Cosmos,  pode ser mais difícil que a vida alienígena exista.

O fósforo é um dos seis elementos dos quais a vida na Terra depende. Ele é crucial para compor o Adenosina Trifosfato (ATP), que as células usam para guardar e transferir energia. Recentemente, os astrônomos começaram a prestar atenção às origens cósmicas do fósforo, e descobriram algumas surpresas. Em particular, o fósforo é criado em supernovas, mas as quantidades vistas até agora não coincidem com os modelos computacionais. Quais seriam as implicações para vida em outros planetas se quantidades imprevisíveis de fósforo são jogadas no espaço e depois usadas na construção de novos planetas?

A equipe utilizou o telescópio William Herschel, do Reino Unido, localizado em La Palma, nas Ilhas Canárias, para observar a radiação infravermelha do fósforo e do ferro na Nebulosa do Caranguejo, uma supernova remanescente que está em média a 6.500 anos-luz de distância da Terra, na direção da Constelação de Touro.

Cigan, um especialista nesstes remanescentes estelares, disse: "Este é apenas o segundo estudo sobre o fósforo já realizado. O primeiro investigou uma remanescente de supernova, a Cassiopeia A (Cas A). Assim, podemos comparar duas diferentes explosões estelares e ver se elas liberaram diferentes proporções de fósforo e de ferro. O primeiro elemento (isto é, o fósforo) provê elementos que possibilitam a vida, enquanto o segundo compõe grande parte do núcleo do nosso planeta".

Os astrônomos tiveram que lidar com noites de neblina em suas observações ao telescópio, no mês de novembro de 2017. Só agora estão obtendo resultados científicos de algumas horas de dados.

"Estes são nossos resultados preliminares, que extraímos nas últimas semanas! Mas pelo menos no que diz respeito às partes da Nebulosa do Caranguejo que pudemos observar, ela parece conter muito menos fósforo do que Cas A. As duas explosões parecem ser diferentes entre si, talvez porque Cas A resulta da explosão de uma rara estrela supermassiva. Pedimos mais tempo com o telescópio para podermos voltar e checar, caso tenhamos perdido regiões ricas em fósforo na Nebulosa do Caranguejo," disse Cigan.

Os resultados preliminares sugerem que o material que foi ejetado no espaço pelas explosões pode variar fortemente quanto a sua composição química.

"O caminho que leva o fósforo aos planetas em formação parece um pouco complexo. Nós pensávamos que apenas alguns minerais portadores de ferro que vieram para a Terra, provavelmente sob a forma de meteoritos, eram reativos o suficiente para se envolverem na produção de proto-biomoléculas," observa Greaves.

"Se o fósforo se origina de supernovas e depois viaja pelo espaço em rochas de meteorito, eu me pergunto: um planeta novo poderia não possuir fósforo reativo, devido ao  lugar onde está? Isto é, ele pode ter nascido próximo à supernova errada? Neste caso, a vida pode ser muito difícil de se formar em um mundo semelhante ao nosso, se este possuir uma química pobre em fósforo," acrescenta Greaves.

Os pesquisadores planejam continuar suas pesquisas para estabelecer se outros remanescentes de supernova também apresentam baixo teor de fósforo, e se este elemento, tão importante para a formação de vida complexa, é mais raro do que pensávamos.

Fonte: Royal Astronomical Society

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