segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Em demanda das relíquias galácticas do Universo primordial

São massivas, são muito pequenas e são extremamente raras, mas podem abrigar os segredos de como as galáxias se formam e evoluem.

galáxias massivas ultracompactas

© ESO/VST/KiDS (galáxias massivas ultracompactas)

Um novo estudo desvenda a vida tímida das galáxias massivas ultracompactas. Foi produzido por uma equipe internacional liderada por Fernando Buitrago, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) e da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL).

As galáxias massivas ultracompactas têm várias vezes mais estrelas do que a Via Láctea, mais do que o equivalente a 80 bilhões de sóis, e são por isso muito brilhantes, mas as suas estrelas estão densamente empacotadas num tamanho muito menor do que o da nossa Galáxia. Os pesquisadores identificaram um novo conjunto de 29 galáxias com estas características, a distâncias entre 2 e 5 bilhões de anos-luz da Terra.

Sete destes modestos pesos pesados são de fato galáxias primordiais que permaneceram intactas, sem interagir com outras desde a sua formação, há mais de dez bilhões de anos. Estas relíquias abrem janelas sobre o aspeto e a constituição das galáxias nas primeiras idades do Universo, embora estejam na nossa vizinhança galáctica.

"Quando estudamos objetos muito pequenos e os estudamos no Universo distante, é muito difícil dizer o que quer que seja sobre eles," disse Fernando Buitrago. "Como este conjunto de galáxias que estudamos está no Universo próximo e relativamente perto de nós, mesmo sendo verdadeiramente pequenas, temos melhores condições para sondá-las."

Um dos avanços deste estudo é a apresentação da densidade destas galáxias massivas ultracompactas no Universo, no seu conjunto, relíquias e as que o não são. Os pesquisadores encontraram apenas 29 no mais completo rastreio de galáxias no Universo local. São tão raras que é necessário um volume com quase 500 milhões de anos-luz de lado a lado para encontrar uma delas apenas.

Os pesquisadores determinaram a idade das estrelas nas galáxias, separando as galáxias vermelhas e antigas das azuis e jovens. Como puderam estas relíquias ser preservadas intactas através do tempo cósmico é algo ainda por compreender.

De acordo com o paradigma da formação e evolução das galáxias, estas relíquias ultracompactas só poderiam ser poupadas à fusão com outras galáxias e impedidas de evoluir se residissem em aglomerados galácticos sobrepovoados. Poderá soar contraintuitivo já que se esperaria que em tais ambientes elas mais facilmente interagissem e perdessem as suas propriedades originais.

"Num lugar onde existem muitas galáxias, haverá também muita atração gravitacional e as velocidades relativas das galáxias serão muito elevadas. Por isso, elas irão passar umas pelas outras sem tempo suficiente para interagirem significativamente," disse Buitrago.

Neste estudo, os pesquisadores tentaram medir algumas das propriedades destes objetos, como os seus tamanhos e idades, mas estão pedindo tempo de observação com grandes telescópios para apontar diretamente para eles. De modo a compreender o seu passado, querem estudar em maior detalhe os lugares onde se encontram, as outras galáxias à sua volta, e as suas posições relativas no espaço.

"As galáxias massivas evoluem de forma acelerada quando comparadas com outras galáxias no Universo. Ao tentarmos entender as propriedades das galáxias mais massivas, poderemos vir a entender o eventual destino de todas as outras galáxias, incluindo o da própria Via Láctea," comenta Buitrago.

O estudo foi publicado na revista científica Astronomy & Astrophysics.

Fonte: Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço

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