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sexta-feira, 15 de março de 2024

Telescópios confirmam o ritmo de expansão do Universo

O ritmo a que o Universo está se expandindo, caracterizada pela constante de Hubble, é um dos parâmetros fundamentais para compreender a evolução e o destino final do cosmos.

© Hubble / Webb (NGC 5468)

Esta imagem da NGC 5468, uma galáxia situada a cerca de 130 milhões de anos-luz da Terra, combina dados dos telescópios espaciais Hubble e James Webb. Esta é a galáxia mais distante em que o Hubble identificou estrelas variáveis Cefeidas.

Atualmente, observa-se uma diferença persistente, designada por Tensão de Hubble, entre o valor da constante medido com uma vasta gama de indicadores de distância independentes e o seu valor previsto a partir do brilho remanescente do Big Bang. 

O telescópio espacial James Webb confirmou que o olhar perspicaz do telescópio espacial Hubble estava certo desde o início, eliminando qualquer dúvida remanescente sobre as medições do Hubble. 

Uma das justificativas científicas para a construção do Hubble foi a utilização do seu poder de observação para fornecer um valor exato para o ritmo de expansão do Universo. Antes do lançamento do Hubble, em 1990, as observações efetuadas por telescópios terrestres apresentavam incertezas enormes. Dependendo dos valores deduzidos para o ritmo de expansão, o Universo poderia ter entre 10 e 20 bilhões de anos. Nos últimos 34 anos, o Hubble reduziu esta medição para uma precisão inferior a um por cento, uma idade de 13,8 bilhões de anos. Isto foi conseguido através do refinamento da chamada "escada de distâncias cósmicas", medindo importantes pontos de referência conhecidos como estrelas variáveis Cefeidas. 

No entanto, o valor do Hubble não está de acordo com outras medições que mostram que o Universo estava se expandindo mais rapidamente após o Big Bang. Estas observações foram feitas pelo satélite Planck da ESA, que mapeou a radiação cósmica de fundo em micro-ondas, sendo um plano de como o Universo evoluiria em termos de estrutura depois do arrefecimento pós-Big Bang. Com o Webb, permitiu aos astrônomos verificar os resultados do Hubble. As imagens infravermelhas das Cefeidas, pelo Webb, concordaram com os dados ópticos do Hubble. 

O resultado final é que a chamada Tensão de Hubble, entre o que acontece no Universo próximo e a expansão do Universo primitivo, continua sendo um enigma para os cosmólogos. Poderá haver algo entrelaçado no tecido do espaço que ainda não compreendemos. Será que para resolver esta discrepância é necessária uma nova física? Ou será o resultado de erros de medição entre os dois diferentes métodos utilizados para determinar o ritmo de expansão do espaço? 

O Hubble e o Webb juntaram-se agora para produzir medições definitivas, reforçando a ideia de que algo mais, e não erros de medição, está influenciando o ritmo de expansão. Como verificação cruzada, uma primeira observação do Webb em 2023 confirmou que as medições do Hubble acerca da expansão do Universo eram exatas. No entanto, na esperança de aliviar a Tensão de Hubble, alguns cientistas especularam que erros invisíveis nas medições podem aumentar e tornar-se visíveis à medida que olhamos mais profundamente para o Universo.

Em particular, a aglomeração estelar poderia afetar de forma sistemática as medições do brilho de estrelas mais distantes. A equipe do levantamento SH0ES (Supernova H0 for the Equation of State of Dark Energy), liderada por Adam Riess, físico da Universidade Johns Hopkins em Baltimore, EUA, obteve observações adicionais com o Webb de objetos que são marcos cósmicos críticos, conhecidos como estrelas variáveis Cefeidas, que podem agora ser correlacionados com os dados do Hubble. 

Os astrônomos utilizam vários métodos para medir as distâncias relativas no Universo, dependendo do objeto que está sendo observado. Coletivamente, estas técnicas são conhecidas como a escada de distâncias cósmicas; cada degrau ou técnica de medição depende do degrau anterior para ser calibrado. Mas alguns astrônomos sugeriram que, avançando ao longo do "segundo degrau", a escada de distâncias cósmicas poderia ficar instável se as medições das Cefeidas se tornassem menos precisas com a distância. Tais imprecisões podem ocorrer porque a luz de uma Cefeida se pode misturar com a de uma estrela adjacente, um efeito que se pode tornar mais pronunciado com a distância, à medida que as estrelas se aglomeram no céu e se tornam mais difíceis de distinguir umas das outras.

O desafio observacional é o fato das imagens anteriores do Hubble, destas variáveis Cefeidas mais distantes, parecerem mais amontoadas e sobrepostas com estrelas vizinhas a distâncias cada vez maiores entre nós e as suas galáxias hospedeiras, exigindo uma contabilização cuidadosa deste efeito. A existência de poeira interveniente complica ainda mais a certeza das medições no visível. O Webb atravessa a poeira e isola naturalmente as Cefeidas das estrelas vizinhas porque a sua visão é mais nítida do que a do Hubble nos comprimentos de onda infravermelhos.

As novas observações do Webb incluem cinco galáxias hospedeiras de oito supernovas do Tipo Ia, contendo um total de 1.000 Cefeidas, e vão até à galáxia mais distante onde as Cefeidas foram bem medidas, a NGC 5468, a uma distância de 130 milhões de anos-luz.

Em conjunto, a confirmação da Tensão de Hubble pelo Hubble e pelo Webb permite que outros observatórios resolvam o mistério, incluindo o futuro telescópio espacial Nancy Grace Roman da NASA e a missão Euclid recentemente lançada pela ESA. Atualmente, é como se a escada de distâncias observada pelo Hubble e pelo Webb tivesse fixado firmemente um ponto de ancoragem numa das margens de um rio, e o brilho remanescente do Big Bang observado pelo Planck no início do Universo estivesse fixado firmemente na outra margem. A forma como a expansão do Universo se alterou nos bilhões de anos entre estes dois pontos ainda não foi diretamente observada. 

"Precisamos de descobrir se nos está escapando alguma coisa sobre como ligar o início do Universo aos dias de hoje", disse Riess. 

Estas descobertas foram publicadas no periódico The Astrophysical Journal Letters

Fonte: ESA

terça-feira, 14 de novembro de 2023

As primeiras imagens do Euclid: a deslumbrante intensidade da escuridão

A missão espacial Euclid da ESA revelou as suas primeiras imagens a cores do cosmos.

© Euclid (Barnard 33)

O Euclid mostra-nos uma vista detalhada espetacularmente panorâmica da Nebulosa Cabeça de Cavalo, também conhecida como Barnard 33 e parte da constelação de Órion. Na nova observação do Euclid deste viveiro estelar, os cientistas esperam encontrar muitos planetas com a massa de Júpiter, nunca antes vistos, na sua infância celeste, bem como jovens estrelas e anãs marrons. 

Nunca anteriormente foi um telescópio capaz de criar imagens astronômicas tão nítidas através de uma tão grande parcela do céu e de olhar para tão longe no Universo distante. O telescópio está pronto para criar o mais vasto mapa 3D do Universo, para descobrir alguns dos seus segredos ocultos. 

O Euclid, o detetive do Universo escuro, tem uma tarefa difícil: explorar como a matéria escura e a energia escura fizeram com que o nosso Universo se parecesse como é hoje. 95% do nosso cosmos parece ser feito destas misteriosas entidades. Mas não compreendemos o que são porque a sua presença causa apenas mudanças muito sutis na aparência e nos movimentos das coisas que conseguimos ver. 

Para revelar a influência "escura" no Universo visível, o Euclid irá observar as formas, distâncias e movimentos de bilhões de galáxias que se encontram até 10 bilhões de anos-luz. Ao fazê-lo, criará o maior mapa cósmico 3D alguma vez feito. O que torna especial a vista do cosmos do Euclid é a sua capacidade de criar, de uma só vez, uma imagem infravermelha extraordinariamente nítida através de uma parcela enorme do céu. As imagens divulgadas mostram esta capacidade especial: de estrelas brilhantes a galáxias indistintas, as observações mostram a integralidade destes objetos celestes, enquanto permanecem extremamente nítidas, mesmo quando é feito o zoom de galáxias distantes.

A matéria escura atrai as galáxias e fazendo-as girar mais rapidamente do que a matéria visível, por si só, poderia fazer; a energia escura está gerando a expansão acelerada do Universo.  As primeiras imagens captadas pelo Euclid são impressionantes e lembram-nos porque é essencial ir para o espaço para aprender mais sobre os mistérios do Universo.

Ao longo de seis anos, o Euclid examinará um-terço do céu com uma exatidão e sensibilidade sem precedentes. À medida que a missão for avançando, o banco de dados do Euclid será lançado uma vez por ano e será disponibilizado à comunidade científica global através do Astronomy Science Archives alojado no Centro de Astronomia Espacial Europeu da ESA, na Espanha.

Fonte: ESA

sábado, 14 de janeiro de 2023

O telescópio James Webb confirma o seu primeiro exoplaneta

Pesquisadores confirmaram a presença de um exoplaneta, um planeta que orbita outra estrela, pela primeira vez usando o telescópio espacial James Webb.

© STScI / L. Hustak (ilustração do LHS 475 b)

Formalmente classificado como LHS 475 b, o exoplaneta tem quase exatamente o mesmo tamanho que o nosso, atingindo 99% do diâmetro da Terra. 

Os astrônomos optaram por observar este alvo com o Webb depois de rever cuidadosamente dados do TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite) da NASA que sugeriam a existência do exoplaneta. 

O espectrógrafo NIRSpec (Near-Infrared Spectrograph) do Webb captou o exoplaneta pequeno e rochoso com facilidade e clareza com apenas duas observações de trânsito. 

Entre todos os telescópios em operação, apenas o Webb é capaz de caracterizar as atmosferas de exoplanetas de tamanho terrestre. A equipe tentou avaliar a composição da atmosfera do planeta, analisando o seu espectro de transmissão. Embora os dados mostrem que se trata de um planeta terrestre do tamanho da Terra, ainda não sabem se tem uma atmosfera. Embora não seja possível concluir o que está presente, a atmosfera não pode ter ser espessa dominada pelo metano, semelhante à lua de Saturno, Titã. 

Além da possibilidade do exoplaneta não possuir atmosfera, existem algumas composições atmosféricas que não foram descartadas, tais como uma atmosfera pura de dióxido de carbono. São necessárias medições ainda mais precisas para que haja possibilidade de distinguir uma atmosfera de dióxido de carbono puro de nenhuma atmosfera.

O Webb também revelou que o planeta é algumas centenas de graus mais quente do que a Terra, pelo que se forem detectadas nuvens, será possível concluir que o exoplaneta é mais parecido com Vênus, que tem uma atmosfera de dióxido de carbono e está perpetuamente envolto em nuvens espessas.

Os pesquiadores também confirmaram que o planeta completa uma órbita em apenas dois dias, informação que foi revelada quase instantaneamente pela curva de luz precisa do Webb. Embora o LHS 475 b esteja mais próximo da sua estrela do que qualquer outro planeta do Sistema Solar, a sua estrela anã vermelha tem menos de metade da temperatura do Sol, mas ainda poderá suportar uma atmosfera. 

O LHS 475 b está relativamente perto, a apenas 41 anos-luz de distância, na direção da constelação de Octante. 

Os resultados da descoberta foram apresentados nesta semana numa conferência da Sociedade Astronômica Americana.

Fonte: Space Telescope Science Institute

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Olhos infravermelhos mais aguçados para o VLT

O instrumento científico mais recente do ESO, o ERIS (Enhanced Resolution Imager and Spectrograph), completou com sucesso as suas primeiras observações de teste, uma das quais mostrou o coração da galáxia NGC 1097 detalhes extraordinários.

© VLT (NGC 1097)

Instalado no Very Large Telescope (VLT) do ESO, no Cerro Paranal, no norte do Chile, este instrumento infravermelho será capaz de ver mais longe e com mais detalhes, liderando o caminho nas observações do Sistema Solar, exoplanetas e galáxias. A versatilidade do ERIS se presta a muitos campos de pesquisa astronômica. Com este instrumento espera-se observar, com um único telescópio de 8,2 metros, as imagens mais nítidas obtidas até o momento, utilizando óptica adaptativa, uma técnica que corrige os efeitos de desfoque da atmosfera da Terra em tempo real. O ERIS estará ativo por pelo menos dez anos e espera-se que faça contribuições significativas para uma miríade de tópicos em astronomia, desde galáxias distantes e buracos negros até exoplanetas e planetas anões dentro do nosso próprio Sistema Solar.

As primeiras observações de teste do ERIS foram realizadas em fevereiro deste ano, com observações posteriores realizadas em agosto e novembro para testar os limites do instrumento. Uma destas observações mostra o anel interior da galáxia NGC 1097, situada a 45 milhões de anos-luz de distância da Terra, na Constelação do Forno. Este anel gasoso e empoeirado fica bem no centro da galáxia; os pontos brilhantes são berçários estelares, mostrados aqui com detalhes sem precedentes. O centro brilhante mostra o núcleo ativo da galáxia, um buraco negro supermassivo que se alimenta do seu meio circundante.

Para colocar a resolução do ERIS em perspectiva, esta imagem mostra, em detalhes, uma porção do céu com menos de 0,03% do tamanho da Lua Cheia. O ERIS irá substitutir os instrumentos de sucesso NACO e SINFONI, fornecendo algumas melhorias essenciais à infraestrutura durante a próxima década. O ERIS possui uma câmara infravermelha de última geração, a NIX (Near Infrared Camera System), que foi utilizada para obter imagens do anel interno de NGC 1097. A NIX oferecerá uma visão nova e única de muitos objetos astronômicos diferentes, como exoplanetas e os discos de gás e poeira em torno de estrelas jovens. Ela pode usar uma técnica chamada coronagrafia, que bloqueia a luz das estrelas de forma semelhante a um eclipse solar, permitindo observar os tênues planetas ao seu redor.

O ERIS também possui um espectrógrafo 3D chamado SPIFFIER, que é uma atualização do SPIFFI (SPectrometer for Infrared Faint Field Imaging) do SINFONI. O SPIFFIER coleta um espectro para cada pixel individual dentro do seu campo de visão, o que permite aos astrônomos estudar, por exemplo, a dinâmica de galáxias distantes com detalhes incríveis, ou medir as velocidades das estrelas que orbitam o buraco negro supermassivo situado no centro da Via Láctea, o que é fundamental para testar a Relatividade Geral e entender a física de buracos negros. 

O módulo de óptica adaptativa do ERIS é equipado com sensores para analisar a turbulência atmosférica em tempo real, monitorando uma fonte astronômica real ou uma estrela-guia artificial a laser. O módulo envia informação até mil vezes por segundo para o espelho secundário deformável do VLT, que corrige os efeitos de distorção em tempo real, criando assim imagens muito mais detalhadas.

Fonte: ESO

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Hubble detecta escudo protetor defendendo um par de galáxias anãs

Durante bilhões de anos, as maiores galáxias satélites da Via Láctea, a Grande e a Pequena Nuvens de Magalhães, têm seguido uma viagem perigosa.

© STScI (Coroa de Magalhães)

Orbitando-se uma à outra à medida que são puxadas em direção à nossa Galáxia natal, começaram a desembaraçar-se, deixando para trás rastros de detritos gasosos. E, no entanto, estas galáxias anãs permanecem intactas, com uma vigorosa formação estelar em curso.

Se este gás foi removido destas galáxias, como é que elas ainda estão a formar estrelas? Com a ajuda de dados do telescópio espacial Hubble da NASA e de um satélite aposentado chamado FUSE (Far Ultraviolet Spectroscopic Explorer), uma equipe de astrônomos encontrou finalmente a resposta: o sistema de Magalhães está rodeado por uma coroa, um escudo protetor de gás quente. Este casulo envolve as duas galáxias, impedindo que os seus abastecimentos de gás sejam desviados pela Via Láctea e permitindo-lhes assim continuar  formando novas estrelas. 

Esta descoberta aborda um novo aspeto da evolução galáctica. As galáxias envolvem-se em casulos gasosos, que funcionam como escudos defensivos contra outras galáxias. Os astrônomos previram a existência da coroa há vários anos. Foi descoberto que se fosse incluída uma coroa nas simulações das nuvens de Magalhães, caindo para a Via Láctea, era possível explicar pela primeira vez a massa de gás extraído.

Era conhecido que a Grande Nuvem de Magalhães deveria ser suficientemente massiva para ter uma coroa. Mas embora a coroa se estenda a mais de 100.000 anos-luz das nuvens de Magalhães e cubra uma enorme porção do céu do hemisfério sul, é efetivamente invisível. O seu mapeamento exigiu pesquisar 30 anos de dados de arquivo em busca de medições adequadas. 

Os pesquisadores pensam que a coroa de uma galáxia é um remanescente da nuvem primordial de gás que colapsou para formar a galáxia há bilhões de anos. Embora as coroas já tenham sido vistas em torno de galáxias anãs mais distantes, os astrônomos nunca antes tinham sido capazes de sondar uma com tanto detalhe como aqui. Há muitas previsões, graças a simulações de computador, sobre como deveriam ser e como deveriam interagir ao longo de bilhões de anos, mas, observacionalmente, não foi possível realmente testar a maioria delas porque as galáxias anãs são normalmente demasiado difíceis de detetar. 

Tendo em conta que estão mesmo à nossa porta, as Nuvens de Magalhães proporcionam uma oportunidade ideal para estudar como as galáxias anãs interagem e evoluem. Em busca de evidências diretas da Coroa de Magalhães, a equipe vasculhou dados de arquivo do Hubble e do FUSE em busca de observações ultravioletas de quasares localizados bilhões de anos-luz por trás dela.

Os quasares são os núcleos extremamente brilhantes de galáxias que abrigam buracos negros massivos e ativos. A equipe argumentou que embora a coroa fosse demasiado fraca para ser vista por si só, deveria ser visível como uma espécie de nevoeiro que obscurece e absorve padrões de luz brilhante dos quasares no plano de fundo. 

As observações Hubble de quasares foram já usadas no passado para mapear a coroa em torno da galáxia de Andrômeda. Ao analisar padrões na luz ultravioleta de 28 quasares, a equipe foi capaz de detectar e caracterizar o material ao redor da Grande Nuvem de Magalhães e confirmar que a coroa existe. Como previsto, os espectros dos quasares estão impressos com as distintas assinaturas de carbono, oxigênio e silício que compõem o halo de plasma quente que rodeia a galáxia anã. A capacidade de detectar a coroa exigiu espectros ultravioleta extremamente detalhados.

Ao mapear os resultados, a equipe descobriu também que a quantidade de gás diminui com a distância ao centro da Grande Nuvem de Magalhães. Como pode um manto tão fino de gás proteger uma galáxia da destruição? Qualquer coisa que tente passar para a galáxia tem de passar primeiro por este material, para que possa absorver algum deste impacto. Além disso, a coroa é o primeiro material que pode ser extraído. Ao doar um pouco daquela coroa, protege o gás que está dentro da própria galáxia e é capaz de formar novas estrelas.

Um artigo foi publicado na revista Nature

Fonte: Space Telescope Science Institute

terça-feira, 16 de agosto de 2022

Telescópio fotografa uma espetacular dança cósmica

O Very Large Telescope (VLT) do ESO observou o resultado de uma colisão cósmica, a galáxia NGC 7727.

© ESO / VLT (NGC 7727)

Esta gigante nasceu da fusão de duas galáxias, um evento que começou há cerca de um bilhão de anos. Em seu centro está o par mais próximo de buracos negros supermassivos já encontrados, dois objetos que estão destinados a se unirem em um buraco negro ainda mais massivo. 

As interações galácticas são muito violentas, mas as estrelas individuais geralmente não colidem, pois, em comparação com seus tamanhos, as distâncias entre elas são muito grandes. Em vez disso, as galáxias “dançam” em torno uma da outra, com a gravidade criando forças de maré que mudam drasticamente a forma dos dois parceiros. 

“Caudas” de estrelas, gás e poeira são tecidas em torno das galáxias à medida que elas formam eventualmente uma nova galáxia, dando origem a uma bonita e desordenada forma assimétrica como a que vemos aqui na NGC 7727. 

As consequências deste choque cósmico são muito evidentes nesta imagem da galáxia, obtida com o instrumento FORS2 (FOcal Reducer and low dispersion Spectrograph 2) montado no VLT. Apesar desta galáxia ter já sido previamente observada com outro telescópio do ESO, esta nova imagem mostra detalhes mais intrincados, tanto no corpo principal da galáxia como nas tênues caudas ao seu redor. Nesta imagem do VLT podemos ver os trilhos emaranhados criados à medida que as duas galáxias vão se fundindo, arrancando estrelas e poeira uma da outra para formar os longos braços que envolvem a NGC 7727. Partes destes braços se encontram salpicadas de estrelas, as quais aparecem como pontos brilhantes azul-lilás na imagem. Também visíveis na imagem estão dois pontos brilhantes no centro da galáxia, outro sinal do seu passado dramático. 

O núcleo da NGC 7727 é ainda composto pelos dois núcleos galácticos originais, cada um com um buraco negro supermassivo. Localizado a cerca de 89 milhões de anos-luz da Terra, na constelação de Aquário, este é o par de buracos negros supermassivos mais próximos de nós. 

Observa-se que os buracos negros em NGC 7727 estão a apenas 1.600 anos-luz de distância no céu e devem se fundir dentro de 250 milhões de anos, um piscar de olhos em tempo astronômico. Quando os buracos negros se fundem, eles criam um buraco negro ainda mais massivo. 

Prevê-se que a procura de pares de buracos negros supermassivos escondidos, como este, dê um grande salto em frente com o futuro Extremely Large Telescope (ELT) do ESO, que está previsto começar a operar mais para o final desta década, no deserto chileno do Atacama. Com o ELT, esperamos descobrir muitos mais destes objetos no centro das galáxias.

A nossa Galáxia, a Via Láctea, que também possui um buraco negro supermassivo no seu centro, vai acabar por se fundir com a nossa vizinha próxima, a galáxia de Andrômeda, daqui a bilhões de anos. Talvez a galáxia resultante se pareça com a dança cósmica que vemos na NGC 7727, por isso esta imagem pode nos dar um vislumbre do futuro.

Fonte: ESO

domingo, 31 de julho de 2022

Telescópios ajudam a descobrir as origens de GRBs náufragos

Uma série de explosões de raios gama (GRB - gamma-ray burst) aparecem como flashes solitários altamente energéticos longe de qualquer local galáctico óbvio, levantando questões sobre as suas verdadeiras origens e distâncias.


© NOIRLab (fusão de duas estrelas de nêutrons gerando GRB)

Utilizando dados de alguns dos telescópios mais poderosos da Terra e no espaço, incluindo o Observatório W. M. Keck, o Gemini North em Maunakea, Havaí e o telescópio Gemini South no Chile, os astrônomos podem finalmente ter encontrado as suas verdadeiras origens, uma população de galáxias distantes a quase 10 bilhões de anos-luz de distância.

Uma equipe internacional de astrônomos descobriu que certos GRBs curtos não tiveram origem como náufragos na vastidão do espaço intergaláctico, tal como inicialmente apareceram. Um estudo mais profundo, recorrendo a vários observatórios, descobriu ao invés que estes GRBs isolados ocorreram em galáxias notavelmente distantes.

Esta descoberta sugere que os GRBs curtos, que se formam durante as colisões de estrelas de nêutrons, podem ter sido mais comuns no passado do que o esperado. Dado que as fusões de estrelas de nêutrons formam elementos pesados, incluindo ouro e platina, o Universo pode ter sido semeado com metais preciosos mais cedo do que se esperava também. 

Outros observatórios envolvidos nesta pesquisa incluem o telescópio espacial Hubble, o LDT (Lowell Discovery Telescope) no Arizona, o GTC (Gran Telescopio Canarias) na Espanha e o VLT (Very Large Telescope) do ESO no Chile. 

Os pesquisadores começaram a sua busca analisando dados de 120 GRBs captados por dois instrumentos a bordo do Observatório Neil Gehrels Swift da NASA: o BAT (Burst Alert Telescope), que sinalizou que tinha sido detectada uma explosão; e o XRT (X-ray Telescope), que identificou a localização geral do brilho de raios X do GRB. 

Estudos adicionais do seu brilho remanescente, feitos com o Observatório Lowell, identificaram com maior precisão a localização dos GRBs. Os estudos posteriores descobriram que 43 dos GRBs curtos não estavam associados a nenhuma galáxia conhecida e apareceram no espaço comparativamente vazio entre as galáxias. 

Uma hipótese deste isolamento era que as estrelas de nêutrons progenitoras se formaram como um par binário dentro de uma galáxia distante, entraram à deriva no espaço intergaláctico e eventualmente se fundiram bilhões de anos mais tarde. A outra hipótese era que as estrelas de nêutrons se fundiram a muitos bilhões de anos-luz de distância nas suas galáxias hospedeiras, que agora aparecem extremamente fracas devido à sua vasta distância da Terra. Os astrônomos acham que este segundo cenário era o mais plausível para explicar uma grande fração de eventos sem galáxia hospedeira.

Este resultado pode ajudar os astrônomos a melhor compreender a evolução química do Universo. A fusão de estrelas de nêutrons desencadeia uma série de reações nucleares em cascata que são necessárias para produzir metais pesados, como ouro, platina e tório. A redução da escala de tempo cósmico na fusão de estrelas de nêutrons significa que o jovem Universo era muito mais rico em elementos pesados do que se pensava anteriormente.

O estudo foi aceito para publicação no periódico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

Fonte: Gemini Observatory

terça-feira, 12 de julho de 2022

As primeiras imagens do telescópio espacial James Webb

Em uma nova imagem panorâmica, o telescópio espacial James Webb revela detalhes nunca antes vistos do grupo de galáxias Quinteto de Stephan.

© James Webb (Quinteto de Stephan)

O Quinteto de Stephan é mais conhecido por ser destaque no filme clássico de 1946, “It’s a Wonderful Life”, aqui conhecido como “A Felicidade Não Se Compra”. Ele está localizado na constelação de Pégaso, o Quinteto de Stephan foi descoberto pelo astrônomo francês Édouard Stephan em 1877. É um grupo de cinco galáxias que fica na constelação de Pegasus, a cerca de 290 milhões de anos-luz da Terra.

A proximidade desse grupo fornece detalhes da interação de galáxias que desencadeiam a formação de estrelas e como o gás nestas galáxias está sendo perturbado.

A imagem mostra fluxos impulsionados por um buraco negro supermassivo em uma das galáxias do grupo em um nível de detalhe nunca visto antes. Grupos de galáxias próximos como esse podem ter sido mais comuns no início do Universo, quando material superaquecido e em colapso pode ter abastecido buracos negros muito energéticos.

Este enorme mosaico é a maior imagem de Webb até hoje, cobrindo cerca de um quinto do diâmetro da Lua. Ele contém mais de 150 milhões de pixels e é construído a partir de quase 1.000 arquivos de imagem separados. Com sua poderosa visão infravermelha e resolução espacial extremamente alta, o Webb mostra detalhes nunca antes vistos neste grupo de galáxias. 

Aglomerados cintilantes de milhões de estrelas jovens e regiões com novos nascimentos de estrelas enfeitam a imagem. Caudas de gás, poeira e estrelas estão sendo puxadas de várias galáxias devido a interações gravitacionais. Mais dramaticamente, o Webb capta enormes ondas de choque quando uma das galáxias, NGC 7318B, atravessa o aglomerado. 

Juntas, as cinco galáxias do Quinteto de Stephan também são conhecidas como Hickson Compact Group 92 (HCG 92). Embora seja chamado de “quinteto”, apenas quatro das galáxias estão realmente próximas umas das outras e envolvidas em uma dança cósmica. A quinta galáxia mais à esquerda, chamada NGC 7320, está mais em primeiro plano em comparação com as outras quatro. A NGC 7320 reside a 40 milhões de anos-luz da Terra, enquanto as outras quatro galáxias (NGC 7317, NGC 7318A, NGC 7318B e NGC 7319) estão a cerca de 290 milhões de anos-luz de distância.

Estudar galáxias relativamente próximas como essas ajuda os cientistas a entender melhor as estruturas vistas em um Universo muito mais distante. Essa proximidade fornece aos astrônomos a possibilidade de testemunhar a fusão e as interações entre galáxias que são tão cruciais para toda a evolução das galáxias. 

Ainda hoje, a galáxia NGC 7319, localizado no alto da imagem, abriga um núcleo galáctico ativo, um buraco negro supermassivo com 24 milhões de vezes a massa do Sol. Ele está ativamente atraindo material e emite energia luminosa equivalente a 40 bilhões de sóis.

O Webb estudou o núcleo galáctico ativo em grande detalhe com o Near-Infrared Spectrograph (NIRSpec) e Mid-Infrared Instrument (MIRI). As unidades de campo integral (IFUs) desses instrumentos, que são uma combinação de uma câmera e espectrógrafo, forneceram à equipe do Webb uma coleção de imagens das características espectrais do núcleo galáctico. Assim como a ressonância magnética médica (MRI), as IFUs permitem a obtenção de muitas imagens para estudo detalhado. 

O Webb penetrou o manto de poeira ao redor do núcleo para revelar o gás quente perto do buraco negro ativo e medir a velocidade dos fluxos brilhantes impulsionados pelo buraco negro. 

Na NGC 7320, a galáxia mais à esquerda e mais próxima no agrupamento visual, o Webb foi capaz de resolver estrelas individuais e até mesmo o núcleo brilhante da galáxia. Como bônus, Webb revelou um vasto mar de milhares de galáxias de fundo distantes que lembram os Deep Fields do Hubble.

Combinados com a imagem infravermelha mais detalhada já feita do Quinteto de Stephan do MIRI e da Near-Infrared Camera (NIRCam), os dados do Webb fornecerão uma recompensa de novas informações valiosas. Por exemplo, ajudará os cientistas a entender a taxa na qual os buracos negros supermassivos se alimentam e crescem. O Webb também vê regiões de formação de estrelas muito mais diretamente e é capaz de examinar as emissões da poeira, um nível de detalhe impossível de obter até agora. 

Além do Quinteto de Stephan, o Webb obteve a imagem mais profunda e nítida do Universo no infravermelho do aglomerado de galáxias SMACS 0723, exatamente como ele era há cerca de 4,6 bilhões de anos. Retratou imagens da Nebulosa Carina e Nebulosa do Anel do Sul, e realizou o espectro do exoplaneta WASP-96b, localizado 1.000 anos-luz de distância, analisando sua atmosfera e revelando a assinatura inequívoca de água.

O Telescópio Espacial James Webb resolverá mistérios em nosso Sistema Solar, olhará além para mundos distantes em torno de outras estrelas e investigará as misteriosas estruturas e origens de nosso Universo. 

Fonte: Space Telescope Science Institute

domingo, 10 de abril de 2022

Detectado maser poderoso em Nkalakatha

Um poderoso laser de ondas de rádio, chamado de "megamaser", foi observado pelo telescópio MeerKAT na África do Sul.

© SARAO (Telescópio MeerKAT)

A descoberta recorde é o megamaser mais distante de seu tipo já detectado, a cerca de cinco bilhões de anos-luz da Terra. A luz do megamaser viajou 58 sextilhões (58 seguidos de 21 zeros) quilômetros até a Terra. 

A descoberta foi feita por uma equipe internacional de astrônomos liderada pelo Dr. Marcin Glowacki, que trabalhou anteriormente no Instituto Interuniversitário de Astronomia Intensiva de Dados e na Universidade do Cabo Ocidental, na África do Sul, e agora está baseado na Universidade Curtin do Centro Internacional de Pesquisa em Radioastronomia (ICRAR) na Austrália Ocidental.

Os megamasers geralmente são criados quando duas galáxias colidem violentamente no Universo. Quando as galáxias colidem, o gás que elas contêm torna-se extremamente denso e pode disparar feixes de luz concentrados. Este é o primeiro megamaser de hidroxila deste tipo a ser observado pelo MeerKAT e o mais distante visto por qualquer telescópio até o momento. 

O objeto que quebrou o recorde foi chamado de "Nkalakatha", uma palavra isiZulu que significa “Grande Chefe”. O objeto está localizado próximo da Constelação de Órion, entre as estrelas Archernar e Aldebaran.

O megamaser foi detectado na primeira noite de uma pesquisa envolvendo mais de 3.000 horas de observações pelo telescópio MeerKAT. A equipe está usando o MeerKAT para observar regiões estreitas do céu extremamente profundas e medirá o hidrogênio atômico em galáxias do passado distante até agora.

A combinação de estudar masers de hidroxila e hidrogênio ajudará os astrônomos a entender melhor como o Universo evoluiu ao longo do tempo. Os astrônomos realizaram observações de acompanhamento do megamaser planejadas e esperam fazer muitas outras descobertas.

O MeerKAT é um instrumento precursor do Square Kilometer Array, uma iniciativa global para construir os maiores radiotelescópios do mundo na Austrália Ocidental e na África do Sul. 

Um artigo foi aceito para publicação no periódico The Astrophysical Journal Letters

Fonte: South African Radio Astronomy Observatory

terça-feira, 2 de novembro de 2021

União de telescópios para revelar o buraco negro da Via Láctea

A campanha de observação da colaboração EHT (Event Horizon Telescope) contará em breve com mais um instrumento, o telescópio espacial James Webb.

© STScI (enorme vórtice de gás próximo do buraco negro da Via Láctea)

A imagem mostra um enorme vórtice rodopiante de gás quente que brilha no infravermelho, assinalando a localização aproximada do buraco negro supermassivo no núcleo da Via Láctea. Na composição mostrada aqui, as cores representam diferentes comprimentos de onda de luz. As observações no infravermelho próximo efetuadas pelo telescópio espacial Hubble são mostradas em amarelo, revelando centenas de milhares de estrelas, berçários estelares e gás aquecido. As observações infravermelhas mais profundas do telescópio espacial Spitzer da NASA são vistas em vermelho, revelando ainda mais estrelas e nuvens de gás. A luz detectada pelo observatório de raios X Chandra da NASA é mostrada em azul e violeta, indicando onde o gás é aquecido a milhões de graus por explosões estelares e fluxos do buraco negro supermassivo.

Durante a primeira série de observações do Webb, os astrônomos irão usar o seu poder de imagem infravermelha para abordar alguns dos desafios únicos e persistentes apresentados pelo buraco negro da Via Láctea, o Sagitário A* (Sgr A*).

Em 2017, o EHT usou o poder de imagem combinado de oito instalações de radiotelescópios por todo o planeta para captar a primeira visão histórica da região imediatamente em torno de um buraco negro supermassivo, na galáxia M87. 

O Sgr A* está mais perto, mas é mais escuro do que o buraco negro de M87, e o material ao redor cintila, de modo que altera o padrão de luz a cada instante. O buraco negro supermassivo da Via Láctea é o único que se conhece ter este tipo de surto e, embora isto tenha dificultado bastante a obtenção de uma imagem da região, também torna Sagitário A* ainda mais interessante cientificamente. 

Estas proeminências aparecem devido à aceleração temporária, mas intensa, das partículas em torno do buraco negro para energias muito mais altas, com a emissão de luz correspondente. Uma grande vantagem de observar Sgr A* com o Webb é a capacidade de captar dados em dois comprimentos de onda infravermelhos simultaneamente e continuamente, a partir da localização do telescópio localizados além da órbita da Lua.

O Webb terá uma visão ininterrupta, observando ciclos de atividade e de calmaria que a equipe do EHT pode usar como referência com os seus próprios dados, resultando numa imagem mais limpa. A fonte ou mecanismo que causa os surtos de atividade ao redor de Sgr A* é altamente debatida. As respostas sobre como as erupções de Sgr A* começam, atingem o pico e se dissipam podem ter implicações de longo alcance para o estudo futuro dos buracos negros, bem como da física de partículas e do plasma, até mesmo das erupções solares.

Os buracos negros, previstos por Albert Einstein como parte da sua teoria da relatividade geral, são o oposto do que o seu nome indica, em vez de um buraco vazio no espaço, eles são as regiões de matéria mais densas e compactadas conhecidas. O campo gravitacional de um buraco negro é tão forte que curva o tecido do espaço em torno de si próprio, e qualquer material que se aproxime demais fica preso ali para sempre, juntamente com qualquer luz que o material emita. É por isso que os buracos negros aparecem "negros". Qualquer luz detectada pelos telescópios não provém realmente do buraco negro propriamente dito, mas da área ao redor. O limite interno final desta luz é o horizonte de eventos. 

A imagem de M87 pelo EHT foi a primeira prova visual direta de que a previsão do buraco negro de Einstein estava correta. Os buracos negros continuam sendo uma área experimental para a teoria de Einstein e os cientistas esperam que observações cuidadosamente programadas em vários comprimentos de onda de Sgr A* pelo EHT, pelo Webb, em raios X e por outros observatórios diminuam a margem de erro nos cálculos da relatividade geral, ou talvez apontem para novos reinos da física que não entendemos atualmente. 

As informações obtidas com o estudo de Sgr A* serão aplicadas a outros buracos negros, para aprender o que é fundamental à sua natureza e o que torna um buraco negro único. 

O telescópio espacial James Webb será o principal observatório de ciências espaciais do mundo quando for lançado ainda no final deste ano. Este telescópio resolverá mistérios no nosso Sistema Solar, olhará mais além para mundos distantes em torno de outras estrelas e investigará as misteriosas estruturas e origens do nosso Universo.

Fonte: Space Telescope Science Institute

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Disco formando satélites em torno de exoplaneta

Com o auxílio do Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), os astrônomos detectaram pela primeira vez de forma clara a presença de um disco em torno de um planeta fora do nosso Sistema Solar.

© ALMA (sistema PDS 70)

Estas observações nos dão novas pistas sobre como é que luas e planetas se formam em sistemas estelares jovens. 

O disco em questão, chamado disco circumplanetário, rodeia o exoplaneta PDS 70c, um dos dois planetas gigantes do tipo de Júpiter que orbitam uma estrela localizada a quase 400 anos-luz de distância da Terra. Os astrônomos já tinham descoberto anteriormente indícios da existência de um disco de formação de luas em torno deste exoplaneta, mas, uma vez que não conseguiam separar o disco do meio circundante, não tinha sido possível até agora confirmar a sua presença. 

Além disso, com o auxílio do ALMA, os astrônomos descobriram que o diâmetro do disco tem um tamanho aproximado correspondente à distância Terra-Sol e massa suficiente para formar até três satélites do tamanho da nossa Lua. Estes resultados não são apenas cruciais para descobrir como é que as luas se formam, mas também são extremamente importantes para comprovar teorias de formação planetária.

Os planetas se formam em discos de poeira em torno de estrelas jovens, esculpindo cavidades à medida que “engolem” material do disco circumstelar para crescer. Durante este processo, um planeta pode adquirir o seu próprio disco circumplanetário, o que contribui para o crescimento do planeta, regulando a quantidade de material que cai sobre ele. Ao mesmo tempo, o gás e a poeira do disco circumplanetário podem se juntar em corpos progressivamente maiores por meio de colisões múltiplas, levando por fim ao nascimento de luas em órbita destes planetas. No entanto, os astrônomos ainda não compreendem muito bem estes processos.

Até agora foram descobertos mais de 4.000 exoplanetas, mas todos eles fazem parte de sistemas já maduros. PDS 70b e PDS 70c, que formam um sistema que lembra o par Júpiter-Saturno, são os dois únicos exoplanetas detectados até agora que ainda estão no processo de formação. Apesar da semelhança com o par Júpiter-Saturno, o disco em torno do PDS 70c é cerca de 500 vezes maior do que os anéis de Saturno.

Os dois exoplanetas que compõem o sistema, foram descobertos inicialmente com o auxílio do Very Large Telescope (VLT) do ESO em 2018 e 2019, respectivamente, e a sua natureza única significa que foram já observados posteriormente e diversas vezes por outros telescópios e instrumentos. O PDS 70b foi descoberto com o auxílio do instrumento SPHERE (Spectro-Polarimetric High-contrast Exoplanet REsearch), enquanto PDS 70c foi observado pela primeira vez com o MUSE (Multi Unit Spectroscopic Explorer), ambos montados no VLT. O sistema de dois planetas também já foi observado com o instrumento X-shooter, também instalado no VLT.

Estas observações de alta resolução do ALMA permitiram agora aos astrônomos descobrir mais sobre este sistema. Além de terem confirmado a presença de um disco circumplanetário em torno de PDS 70c e estimarem o seu tamanho e massa, os pesquisadores descobriram também que PDS 70b não apresenta evidências claras de um tal disco, o que indica que o seu local de nascimento deve ter ficado desprovido de poeira devido ao seu companheiro, PDS 70c. 

Com o Extremely Large Telescope (ELT) do ESO, que está sendo construído no Cerro Armazones no deserto chileno do Atacama, será possível compreender ainda melhor este sistema planetário. Em particular, usando o instrumento METIS (Mid-infrared ELT Imager and Spectrograph) que será montado no ELT, a equipe conseguirá ver os movimentos do gás que rodeia PDS 70c, obtendo deste modo uma visão tridimensional do sistema. 

Esta pesquisa foi apresentada no artigo “A Circumplanetary Disk Around PDS 70c” publicado na revista The Astrophysical Journal Letters.

Fonte: ESO

quinta-feira, 8 de julho de 2021

O espetáculo começa com o CONCERTO

Um novo instrumento, um espectrômetro chamado CONCERTO, acaba de fazer as suas primeiras observações com sucesso: imagens de teste da Nebulosa Pata de Gato e da Nebulosa do Caranguejo.

© ESA (Nebulosa Pata de Gato)

O instrumento, instalado no APEX (Atacama Pathfinder Experiment), operado pelo ESO, ajudará os astrônomos a investigar a antiga e misteriosa época cósmica durante a qual se acenderam as primeiras estrelas. 

O objetivo principal do CONCERTO (CarbON CII line in post-rEionisation and ReionisaTiOn epoch) é o estudo do nascimento da primeira geração de estrelas. Para isso, o instrumento observará objetos cósmicos que se formaram entre 600 milhões e 1,2 bilhão de anos após o Big Bang. 

Esta era, conhecida por reionização cósmica, é ainda pouco compreendida apesar de ser crucial para a história do cosmos, já que marca a transição entre a "idade das trevas", um período muito obscuro da vida do Universo quando as estrelas ainda não se tinham formado, e o momento em que se formaram as galáxias mais longínquas que vemos hoje no Universo.

O CONCERTO irá também mapear aglomerados de galáxias distantes e regiões de formação estelar na Via Láctea. Sendo um instrumento capaz de mapear o céu nas frequências entre o infravermelho e o rádio, o CONCERTO irá coletar radiação emitida por átomos de carbono ionizados, um dos traçadores mais importantes da formação estelar nas idades cósmicas primordiais.

Os astrônomos usarão uma técnica de observação experimental inovadora chamada mapeamento de intensidades. O CONCERTO será o primeiro instrumento do mundo a fazer mapeamento de intensidades da radiação de carbono primordial num grande campo do céu. Os outros instrumentos montados no telescópio APEX se concentram ou em imagens ou em espectroscopia, mas não em ambas como o fará o CONCERTO. E em termos de imagem, com um diâmetro de cerca de 20 minutos de arco no céu, este instrumento é de longe, de todos os instrumentos já instalados no APEX, o que tem maior campo de visão. 

© ESA (Nebulosa do Caranguejo)

O CONCERTO substitui a câmara LABOCA (LArge APEX BOlometer CAmera), aumentando quatro vezes o tamanho do campo de visão. A primeira luz do CONCERTO marca o final do seu processo de instalação, que se iniciou com a entrega do instrumento no local do APEX no planalto do Chajnantor, no deserto chileno do Atacama, em finais de março de 2021.

Fonte: ESO

segunda-feira, 26 de abril de 2021

Hubble comemora 31 anos com estrela gigante à beira da destruição

Em comemoração ao 31º aniversário do lançamento do telescópio espacial Hubble, os astrônomos apontaram o celebrado observatório para uma das estrelas mais brilhantes vistas em nossa galáxia para captar sua beleza.


© Hubble (AG Carinae)

A estrela gigante apresentada nesta última imagem do telescópio espacial Hubble está travando um cabo de guerra entre a gravidade e a radiação para evitar a autodestruição. A estrela, chamada AG Carinae, é cercada por uma camada em expansão de gás e poeira, ou seja, uma nebulosa, que é moldada pelos poderosos ventos da estrela. 

A nebulosa tem cerca de cinco anos-luz de largura, o que é aproximadamente igual à distância daqui até nossa estrela mais próxima, Alpha Centauri. A enorme estrutura foi criada a partir de uma ou mais erupções gigantes há vários milhares de anos. As camadas externas da estrela foram lançadas no espaço, o material expelido totalizando cerca de 10 vezes a massa do nosso Sol. 

Estas explosões são típicas da vida de uma espécie rara de estrela chamada Luminous Blue Variable (LBV), uma breve fase instável na curta vida de uma estrela ultrabrilhante e glamorosa que vive rápido e morre jovem. Estas estrelas estão entre as estrelas mais massivas e brilhantes conhecidas. Elas vivem por apenas alguns milhões de anos, em comparação com a vida de aproximadamente 10 bilhões de anos de nosso Sol.

A estrela AG Carinae tem alguns milhões de anos e reside a 20.000 anos-luz da Via Láctea. A vida útil esperada da estrela é entre 5 milhões e 6 milhões de anos. 

As LBVs têm dupla personalidade. Elas parecem passar anos em êxtase semiquiescente e então irrompem em uma explosão petulante, durante a qual sua luminosidade aumenta, às vezes em várias ordens de magnitude. Estas gigantes são estrelas ao extremo, muito diferentes de estrelas normais como o nosso Sol. Estima-se que AG Carinae tenha até 70 vezes mais massa do que o nosso Sol e brilha com o brilho ofuscante de 1 milhão de sóis.

Explosões importantes, como a que produziu a nebulosa apresentada nesta imagem, ocorrem algumas vezes durante a vida de uma LBV. Uma estrela LBV apenas lança material quando está na iminência de autodestruição. Por causa de suas formas massivas e temperaturas superaquecidas, estrelas variáveis ​​azuis luminosas como AG Carinae estão em uma batalha constante para manter a estabilidade. É uma disputa entre a pressão da radiação de dentro da estrela empurrando para fora e a gravidade pressionando para dentro. 

Esta queda de braço resulta na expansão e contração da estrela. A pressão externa ocasionalmente vence a batalha, e a estrela se expande a um tamanho tão imenso que explode suas camadas externas, como um vulcão em erupção. Mas esta explosão só acontece quando a estrela está prestes a se desintegrar. Depois que a estrela ejeta o material, ela se contrai ao seu tamanho normal (grande), se acomoda e se torna estável novamente. 

As estrelas LBV são raras: menos de 50 são conhecidas entre as galáxias em nosso grupo local. Estas estrelas passam dezenas de milhares de anos nesta fase, um piscar de olhos no tempo cósmico. Espera-se que algumas terminem suas vidas em explosões de supernovas titânicas, que enriquecem o Universo com os elementos mais pesados ​​além do ferro.

Como muitas outras LBVs, AG Carinae permanece instável. Ela experimentou explosões menores que não foram tão poderosas quanto aquela que criou a nebulosa atual. Embora AG Carinae esteja semi-quiesciente agora, sua radiação escaldante e o poderoso vento estelar (fluxos de partículas carregadas) têm moldado a nebulosa antiga, esculpindo estruturas intrincadas enquanto o gás em vazamento atinge a nebulosa externa com movimento lento.

O vento está viajando a até 1 milhão de quilômetros por hora, cerca de 10 vezes mais rápido que a nebulosa em expansão. Com o tempo, o vento quente alcança o material expelido mais frio, penetra nele e o empurra para longe da estrela. Este efeito limpou uma cavidade ao redor da estrela. 

O material vermelho é o gás hidrogênio brilhante misturado com gás nitrogênio. O material vermelho difuso no canto superior esquerdo aponta onde o vento quebrou uma região tênue de material e o varreu para o espaço. As características mais proeminentes, destacadas em azul, são estruturas filamentares em forma de girinos e bolhas tortas. Estas estruturas são aglomerados de poeira iluminados pela luz da estrela. As características em forma de girino, mais proeminentes à esquerda e na parte inferior, são aglomerados de poeira mais densos que foram esculpidos pelo vento estelar. 

A visão nítida do Hubble revela estas estruturas de aparência delicada em grandes detalhes. A imagem foi tirada em luz visível e ultravioleta. O telescópio espacial Hubble é ideal para observações em luz ultravioleta porque esta faixa de comprimento de onda só pode ser vista do espaço.

Fonte: ESA

sexta-feira, 16 de abril de 2021

Um novo olhar sobre buracos negros

O telescópio espacial James Webb (JWST) é uma espécie de sucessor do telescópio espacial Hubble e deve ser lançado no final do ano.

© ON (Um novo olhar sobre buracos negros)

Milhares de cientistas do mundo inteiro submeteram projetos para a primeira temporada de observações e apenas dois grupos liderados por brasileiros foram selecionados: o astrofísico Roderik Overzier do Observatório Nacional e Rogemar Riffel da Universidade Federal de Santa Maria. Ambas as pesquisas estudam galáxias e os buracos negros supermassivos em seus centros e, de certa forma, se complementam. 

O projeto do Rogemar visa estudar o núcleo de galáxias ativas no Universo próximo. O projeto do Roderik quer observar objetos parecidos, mas no Universo distante. Aliás, Roderik e colegas detém o recorde da radiogaláxia mais distante conhecida, um dos objetos de seu projeto. 

Observar o Universo próximo e distante é como montar uma história ligando o presente e o passado do Universo. Para entender a relação entre galáxias ativas, buracos negros super massivos em seus núcleos e a evolução do Universo, foram reunimos grandes astrônomos para conversar sobre estes assuntos e celebrar a Semana Internacional dos Buracos Negros, em homenagem à primeira imagem de um buraco negro divulgada pelo Event Horizon Telescope em 10 de Abril de 2019.

Nesta sexta-feira, 16 de Abril, às 19h, no canal do YouTube do Observatório Nacional, venha conversar com grandes nomes da área de buracos negros no Brasil. Acesse o link e ative o lembrete https://www.youtube.com/watch?v=khJqwhqOJiQ.

Fonte: Observatório Nacional