sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Descoberta estrela magnética delta Scuti

As astrofísicas Coralie Neiner do Laboratory for Space Studies and Astrophysics Instrumentation, LESIA (CNRS/Observatoire de Paris/UPMC/Université Paris Diderot) e Patricia Lampens (Royual OIbservatory of Belgium), descobriram  a primeira estrela magnética do tipo delta Scuti, através de observações espectropolarimétricas feitas com o telescópio Canada-France-Hawaii Telescope (CFHT).

ilustração de uma estrela magnética delta Scuti

© Sylvain Cnudde (ilustração de uma estrela magnética delta Scuti)

As estrelas do tipo delta Scuti, são estrelas pulsantes, sendo que algumas delas mostram assinaturas atribuídas para um segundo tipo de pulsação. A descoberta mostra que isso é na verdade a assinatura de um campo magnético. Essa descoberta tem importantes implicações para o entendimento do interior das estrelas.

Dois tipos de estrelas pulsantes existem entre as estrelas com massa entre 1,5 e 2,5 vezes a massa do Sol: as estrelas do tipo delta Scuti e as estrelas do tipo gamma Dor. A teoria nos diz que as estrelas com temperatura entre 6.900 e 7.400 Kelvin podem ter ambos os tipos de pulsação. Essas são então chamadas de estrelas híbridas. Contudo, o satélite Kepler da NASA tem detectado um grande número de estrelas híbridas com temperaturas maiores ou menores do que esse limite. A existência dessas estrelas híbridas com temperaturas maiores é algo muito controverso, já que desafia o nosso entendimento sobre as estrelas pulsantes do tipo delta Scuti e gamma Dor.

Coralie Neiner e Patricia Lampens, portanto procuraram qual o fenômeno físico poderia imitar a assinatura das pulsações das estrelas do tipo gamma Dor nas estrelas do tipo delta Scuti, fazendo com que elas só aparecessem como híbridas quando elas realmente não eram. Uma explicação para isso poderia ser a presença de um campo magnético que produziria manchas na superfície das estrelas: Quando as estrelas rotacionavam, a passagem da mancha em frente do observador imitaria a assinatura de pulsação de uma estrela do tipo gamma Dor. Contudo, nenhum campo magnético havia até então sido observado numa estrela do tipo delta Scuti.

diagrama da medição do campo magnético

© Coralie Neiner (diagrama da medição do campo magnético)

O diagrama acima mostra a medição do campo magnético (parte superior), a medição da poluição (meio) e perfil médio das linhas espectrais da estrela HD188774 em duas datas diferentes (parte inferior). A assinatura visível diferente de zero no painel superior mostra que a estrela é magnética.

Através de observações de espectropolarimetria realizadas no CFHT, elas observaram a presença de um campo magnético numa estrela híbrida identificada pelo Kepler, a HD188774. Elas descobriram que essa estrela é na verdade uma estrela magnética delta Scuti, e que a assinatura do seu campo magnético se confunde com a assinatura de pulsação de uma estrela do tipo gamma Dor. A HD188774 não é uma estrela verdadeiramente híbrida, mas sim a primeira estrela magnética do tipo delta Scuti conhecida. É muito provável que muitas outras estrelas pensadas como híbridas entre as estrelas observadas pelo Kepler, sejam na verdade estrelas magnéticas delta Scuti, o que resolveria a controvérsia entre as predições teóricas e as observações realizadas com o Kepler. A descoberta traz uma nova luz para a interpretação das observações do Kepler, especialmente na estrutura interna dessas estrelas.

Um artigo foi publicado no periódico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

Fonte: Observatoire de Paris

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Halos de ondas de rádio gigantescos ao redor de galáxias espirais

Usando um dos maiores rádio observatórios do mundo, o Very Large Array (VLA) do National Radio Astronomy Observatory (NRAO), um grupo de astrônomos descobriu que os halos ao redor dos discos das galáxias espirais são muito mais comuns do que se pensava anteriormente.

combinação dos halos de rádio de galáxias espirais

© NRAO/NASA (combinação dos halos de rádio de galáxias espirais)

A imagem composta acima mostra uma galáxia espiral de perfil com um halo de rádio produzido por partículas em movimento rápido no campo magnético da galáxia. Nesta imagem, a grande área cinza-azul é uma única imagem formada pela combinação dos halos de rádio de 30 galáxias diferentes vistas pelo VLA. No centro está uma imagem de luz visível de uma das galáxias, a NGC 5775, feitas com o telescópio espacial Hubble. Esta imagem de luz visível mostra apenas a parte interna da região de formação estelar da galáxia, porções exteriores que se estendem horizontalmente na área dos halos de rádio.

A equipe, dirigida pela Dra. Judith Irwin, da Universidade de Queens, no Canadá, observou de perfil 35 galáxias espirais próximas, de 11 a 137 milhões de anos-luz de distância da Terra.

As galáxias espirais, como a nossa própria Via Láctea ou a famosa Galáxia de Andrômeda, possuem na vasta maioria de suas estrelas, gás e poeira num disco plano em rotação com braços espirais. A maior parte da luz e das ondas de rádio observadas com telescópios surgem de objetos localizados neste disco.

“Nós sabíamos antes que alguns halos existiam, mas usando o poder total do VLA atualizado e de algumas técnicas de processamento de imagens, nós descobrimos que estes halos são muito mais comuns entre as galáxias espirais do que nós pensávamos anteriormente”, explicou a Dra. Irwin.

“Estudando estes halos com radiotelescópios obtivemos uma informação valiosa sobre o fenômeno como um todo, incluindo a taxa de formação de estrelas dentro do disco, os ventos das estrelas em explosão, e a natureza e a origem dos campos magnéticos das galáxias”, disse a Dra. Theresa Wiegert, membro da equipe da Universidade de Queens.

Para ver a constituição destes extensos halos em ondas de rádio típicos, os astrônomos escalaram suas imagens de 30 das galáxias para o mesmo diâmetro e as combinaram numa imagem única.

“O resultado é uma imagem espetacular, mostrando que os raios cósmicos e os campos magnéticos não somente permeiam o disco da galáxia, mas que se estende muito acima e abaixo do disco”, disse a Dra. Irwin.

A imagem combinada confirma a previsão destes halos feita em 1961.

"Os resultados dessa pesquisa vai ajudar a responder a muitas questões não resolvidas na evolução galáctica e formação de estrelas", disse Marita Krause, do Max-Planck Institute for Radioastronomy, em Bonn, na Alemanha.

As descobertas foram publicadas na revista especializada Astronomical Journal.

Fonte: National Radio Astronomy Observatory

Mudanças na Grande Mancha Vermelha de Júpiter

Os cientistas usando o telescópio espacial Hubble da NASA/ESA produziram novos mapas de Júpiter, que mostram as contínuas mudanças que ocorrem com a famosa Grande Mancha Vermelha.

Grande Mancha Vermelha de Júpiter

© Hubble (Grande Mancha Vermelha de Júpiter)

As imagens também revelam uma rara estrutura em forma de onda na atmosfera do planeta que não tinha sido vista por décadas. A nova imagem é a primeira de uma série de retratos anuais dos planetas externos do Sistema Solar, que nos darão um novo olhar desses mundos remotos, e ajudarão os cientistas a estudarem como eles mudam com o passar do tempo.

Nessa nova imagem de Júpiter, uma grande quantidade de feições foi captada incluindo ventos, nuvens e tempestades. Os cientistas por trás dessas novas imagens obtidas usando a Wide Field Camera 3 do Hubble num período de observação de mais de 10 horas e produziram assim dois mapas completos do planeta, a partir das suas observações. Esses mapas fizeram com que fosse possível determinar a velocidade dos ventos em Júpiter, com a finalidade de identificar diferentes fenômenos na sua atmosfera além de rastrear os seus aspectos mais famosos.

As novas imagens confirmam que a grande tempestade que tem existido na superfície de nuvens de Júpiter por no mínimo 300 anos continua encolhendo, mas mesmo que desapareça ela irá desaparecer lutando. A tempestade, conhecida como Grande Mancha Vermelha, é vista aqui fazendo seus movimentos em espiral no centro da imagem do planeta. Ela tem diminuído de tamanho de maneira muito rápida de ano em ano. Mas agora, a taxa de encolhimento parece ter reduzido novamente, mesmo apesar da mancha ser cerca de 240 quilômetros menor do que era em 2014.

O tamanho da mancha não é a única mudança que tem sido registrada pelo Hubble. No centro da mancha, que é menos intenso em cor do que já foi um dia, um filamento incomum pode ser visto se estendendo por quase todo o comprimento do vórtice. Essa estrutura filamentar rotaciona e gira durante o período de 10 horas de imagens da Grande Mancha Vermelha, distorcida por ventos que sopram a cerca de 540 quilômetros por hora.

Existe outra característica de interesse nessa nova imagem do nosso vizinho gigante. Logo ao norte do equador de Júpiter, os pesquisadores encontraram uma rara estrutura ondulada, de um tipo que foi registrada no planeta somente uma vez antes, décadas atrás por meio da sonda Voyager 2, que foi lançada em 1977. Nas imagens da Voyager 2, a onda era quase que invisível, e os astrônomos começaram a pensar que a sua aparição foi um acaso, pelo menos até agora.

A onda atual foi encontrada numa região cheia de ciclones e anticiclones. Ondas similares, chamadas de ondas baroclínicas, algumas vezes aparecem na atmosfera da Terra onde os ciclones estão se formando. A onda pode ter se originado numa camada clara abaixo das nuvens, e somente ter se tornado visível quando ela se propagou para o nível das nuvens.

As observações de Júpiter fazem parte do programa Outer Planeta Atmospheres LEgay (OPAL), que permitirá ao Hubble se dedicar tempo em cada ano para observar os planetas externos. Além de Júpiter, Netuno e Urano já foram observados como parte do programa e os mapas desses planetas serão colocados num arquivo público. Saturno, será adicionado mais tarde à série. A coleção de mapas que serão gerados com o tempo ajudará os cientistas, não somente a entenderem as atmosferas dos planetas gigantes no Sistema Solar, mas também as atmosferas do nosso próprio planeta, e dos planetas que estão sendo descobertos ao redor de outras estrelas.

O relato foi publicado num artigo do periódico The Astrophysical Journal.

Fonte: ESA

A Nebulosa da Águia

A Nebulosa da Águia (M16) é um aglomerado estelar jovem com cerca de 2 milhões de anos de idade, envolvido nuvens natais de poeira e gás brilhante.

Nebulosa da Águia

© Jimmy Walker (Nebulosa da Águia)

Esta bela imagem magnificamente detalhada desta região inclui as esculturas cósmicas que se tornaram famosas na icônica foto tomada pelo Hubble em 1995, captando uma vista próxima de parte do complexo de formação de estrelas. Descritas como trombas de elefante ou Pilares da Criação, estas densas colunas poeirentas que crescem próximas ao centro da imagem possuem comprimentos da ordem de anos-luz e estão se contraindo gravitacionalmente para formar estrelas.

A radiação energética das estrelas do aglomerado causam a erosão do material perto das pontas, eventualmente provocando a exposição de estrelas recém-formadas.

Estendendo-se desde o cume de emissão brilhante à esquerda do centro temos em destaque outra famosa coluna de poeira de formação estelar conhecida como a Fada da Nebulosa da Águia.

A Nebulosa da Água reside a cerca de 7.000 anos luz de distância da Terra. Trata-se de um alvo fácil tanto para binóculos como para telescópios de pequeno porte em uma região dos céus rica em nebulosas na direção da constelação de Serpens Cauda (a cauda da serpente).

Fonte: NASA

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Um saco cósmico cheio de carvão

Manchas escuras bloqueiam quase completamente um rico campo estelar nesta nova imagem obtida pelo instrumento Wide Field Camera, instalado no telescópio MPG/ESO de 2,2 metros no Observatório de La Silla, no Chile.

parte da Nebulosa do Saco de Carvão

© ESO (parte da Nebulosa do Saco de Carvão)

As áreas escuras são pequenas partes de uma enorme nebulosa escura chamada Saco de Carvão, um dos objetos mais proeminentes do seu tipo, visível a olho nu. Daqui a milhões de anos, pedaços deste Saco de Carvão irão se acender, assim como o combustível fóssil de seu nome, com o brilho de muitas estrelas jovens.

A Nebulosa do Saco de Carvão situa-se a cerca de 600 anos-luz de distância na constelação do Cruzeiro do Sul. Este enorme objeto empoeirado forma uma silhueta conspícua sobre a faixa estrelada brilhante da Via Láctea e é por isso que esta nebulosa é conhecida dos povos do hemisfério sul desde que a humanidade caminha sobre a Terra.
O explorador espanhol Vicente Yáñez Pinzón foi o primeiro a assinalar aos europeus a presença da Nebulosa do Saco de Carvão em 1499. A Saco de Carvão em seguida foi apelidada de Nuvem de Magalhães Preta, devido à sua aparência escura quando comparada com o brilho intenso das duas Nuvens de Magalhães, que são na realidade galáxias satélite da Via Láctea. Estas duas galáxias brilhantes são claramente visíveis no céu austral, tendo chamado a atenção dos europeus durante as explorações de Fernão de Magalhães no século XVI. No entanto, a Saco de Carvão não é uma galáxia. Como outras nebulosas escuras, trata-se de uma nuvem interestelar de poeira tão espessa que não permite que a maioria da radiação emitida pelas estrelas de fundo chegue até aos observadores.
Um número significativo de partículas de poeira nas nebulosas escuras estão cobertas de gelo de água, nitrogênio, monóxido de carbono e outras moléculas orgânicas simples. Estes grãos impedem que a radiação visível passe através da nuvem cósmica. Para se ter uma ideia de quão escura é a Saco de Carvão, nos anos 1970 o astrônomo finlandês Kalevi Mattila publicou um estudo que estimava que a Nebulosa do Saco de Carvão possuía apenas cerca de 10% do brilho da Via Láctea à sua volta. Uma pequena parte da radiação estelar de fundo consegue no entanto passar através da nebulosa, como mostra esta nova imagem do ESO e outras observações obtidas por telescópios modernos.
Esta pequena quantidade de radiação que passa através da nebulosa não sai do outro lado sem ter sido modificada. A radiação que vemos nesta imagem parece mais vermelha do que seria normalmente. Este efeito deve-se ao fato da poeira nas nebulosas escuras absorver e dispersar mais a radiação azul das estrelas do que a radiação vermelha, “pintando” as estrelas de vários tons mais avermelhados do que seriam de outro modo.
Daqui a milhões de anos os dias negros da Saco de Carvão chegarão ao fim. Nuvens interestelares espessas como a Saco de Carvão contêm muito gás e poeira, o combustível de novas estrelas. À medida que o material disperso na nebulosa coalesce sob o efeito da gravidade, as estrelas formam-se e começam a brilhar, fazendo com que os “pedaços” de carvão “incendeiem”, quase como se tivessem sido tocados por uma chama.

Fonte: ESO

A Nebulosa Tromba do Elefante em IC 1396

A Nebulosa Tromba do Elefante se retorce através da nebulosa de emissão e aglomerado estrelar jovem que constituem o complexo IC 1396, na direção da constelação de Cepheus.

Nebulosa Tromba do Elefante e IC 1396

© J.C. Canonne/P. Bernhard/D. Chaplain/L. Bourgon (Nebulosa Tromba do Elefante e IC 1396)

Obviamente, essa tromba de elefante cósmica é gigantesca, medindo cerca de 20 anos luz de comprimento. Esta composição de imagens foi registrada através do uso de filtros de banda estreita que captam a luz emanada pelos átomos de hidrogênio ionizado, enxofre e oxigênio da região.

O quadro resultante acima, obtido pela equipe Ciel Boreal, destaca os brilhantes sulcos varridos que delineiam bolsões de poeira fria interestelar e nuvens de gás. Estas engastadas e escuras nuvens em formato de gavinha contêm matéria prima necessária para a formação estelar e escondem as protoestrelas dentro da obscura poeira cósmica.

Está em estudo se há formações estrelares na Nebulosa Tromba do Elefante, pois contém muitas estrelas jovens com menos de cem mil anos de existência. Essas estrelas foram descobertas através de imagens em infravermelho em 2003. As estrelas estão presentes em uma cavidade circular na cabeça do glóbulo. Os ventos dessas estrelas podem ter esvaziado a cavidade.

O relativamente esmaecido complexo IC 1396 reside a 3.000 anos luz de distância, cobrindo uma larga região dos céus, abrangendo mais de 5 graus.

Fonte: NASA

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Galáxia, estrelas e poeira

Esta galáxia estaria presa em uma teia de poeira?

NGC 7497 e MBM 54

© Eric Coles/Mel Helm (NGC 7497 e MBM 54)

Não, pois a galáxia se encontra muito além da nuvem. Entretanto, estrelas pontiagudas e formas assustadoras são abundantes nesta profunda paisagem cósmica. Este campo de visão abrange cerca de um Lua Cheia no céu na direção da constelação de Pégaso.

As estrelas brilhantes mostram suas pontas causadas pela difração, um efeito comumumente observado pelos suportes internos nos sistemas reflexivos dos telescópios e tratam-se de estrelas pertencentes a galáxia Via Láctea.

As tênues e difusas nuvens interestelares navegam sobre o plano galáctico e refletem fracamente as luzes combinadas das estrelas da Via Láctea.

Conhecidas como cirrus de alta latitude ou nebulosas de fluxo integrado, estas estruturas estão associadas com nuvens moleculares. Neste caso, a nuvem difusa catalogada como MBM 54, que reside a menos de um ano luz de distância da Terra, preenche a cena cósmica.

O objeto que aparentemente está imerso na nuvem de poeira é a notável galáxia espiral NGC 7497, localizada a cerca de 60 milhões de anos de distância da Terra. Vista de forma quase perfilada perto do centro do campo de visão, os próprios braços espirais e trilhas de poeira da galáxia NGC 7497 ecoam as cores das estrelas e da poeira da Via Láctea.

Fonte: NASA

Explosões de uma estrela recém-nascida

Um par de jatos com simetria quase perfeita está sendo lançado pelo objeto Herbig-Haro (HH) 212, que se vê nesta imagem obtida pelo instrumento (já desativado) do ESO, o Infrared Spectrometer And Array Camera (ISAAC).

explosões de uma estrela recém-nascida

© ESO/M.McCaughrean (explosões de uma estrela recém-nascida)

Este objeto situa-se na constelação de Órion, numa região molecular densa de formação estelar, não muito longe da famosa Nebulosa da Cabeça de Cavalo. Em regiões como esta, as nuvens de gás e poeira colapsam sob a ação da gravidade, rodando cada vez mais depressa e tornando-se cada vez mais quentes até que uma estrela jovem se acende no coração da nuvem. O material em rotação que resta ainda em torno da protoestrela recém-nascida junta-se dando origem a um disco de acreção que, sob as condições óbvias, evolui para formar o material base à criação de planetas, asteroides e cometas.
Embora este processo ainda não esteja completamente compreendido, é comum a protoestrela e o seu disco de acreção, que se vê aqui de perfil, serem a causa dos jatos. A estrela no centro de  HH 212 é na realidade muito jovem, com apenas alguns milhares de anos de idade. Os seus jatos são notavelmente simétricos, com vários nodos aparecendo a intervalos relativamente estáveis. Esta estabilidade sugere que a pulsação do jato varia de forma regular, e numa escala de tempo curta, talvez até tão curta como 30 anos!

Mais longe do centro, enormes arcos de choque espalham-se pelo espaço interestelar, causados pelo gás ejetado colidindo com o gás e poeira do meio interestelar a velocidades de várias centenas de quilômetros por segundo.

Fonte: ESO

sábado, 10 de outubro de 2015

Poeira de estrelas em Perseus

Esta expansão cósmica de poeira, gases e estrelas cobre uma área de 6 graus nos céus na constelação de Perseus.

IC 348, Nebulosa do Fantasma Voador e NGC 1333

© Lynn Hilborn (IC 348, Nebulosa do Fantasma Voador e NGC 1333)

Na parte superior esquerda dessa magnífica paisagem celeste está o intrigante e jovem aglomerado de estrelas IC 348 e a vizinha Nebulosa do Fantasma Voador.

À direita, outra região ativa de formação estelar NGC 1333 está conectada por tentáculos escuros e poeirentos nas bordas da nuvem molecular de Perseus, localizada a cerca de 850 anos-luz de distância.

Outras nebulosas empoeiradas estão espalhadas ao redor do campo de visão, juntamente com a luz avermelhada tênue de gás hidrogênio.

Na verdade, a poeira cósmica tende a obscurecer as estrelas recém-formadas e os objetos estelares jovens ou proto-estrelas, bloqueando a captação pelos telescópios ópticos.

Por causa da gravidade intrínseca, as proto-estrelas se formam a partir do colapso dos núcleos densos incorporados da empoeirada nuvem molecular.

Considerando a distância estimada da nuvem molecular, este campo de visão abrange quase 90 anos-luz de diâmetro.

Fonte: NASA

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

New Horizons encontra céus azuis e água gelada em Plutão

As primeiras imagens a cores das neblinas atmosféricas de Plutão, enviadas pela sonda New Horizons da NASA na semana passada, revelam que são azuis.

o céu azul de Plutão

© NASA/JHUAPL/SwRI (o céu azul de Plutão)

A imagem acima foi gerada por software que combina informação de imagens azuis, vermelhas e no infravermelho próximo, a fim de replicar tanto quanto possível a cor que o olho humano veria.

"Quem teria esperado um céu azul no Cinturão de Kuiper? É lindo," afirma Alan Stern, pesquisador principal da New Horizons no Southwest Research Institute (SwRI) em Boulder, no estado americano do Colorado.

As partículas da neblina, propriamente ditas, são provavelmente cinzentas ou vermelhas, mas o modo como dispersam a luz captou a atenção da equipe científica da New Horizons. "Aquele impressionante tom azul diz-nos mais sobre o tamanho e composição das partículas da neblina," afirma Carly Howett, pesquisadora da equipe científica, também do SwRI. "Um céu azul muitas vezes resulta da dispersão da luz solar por partículas muito pequenas. Na Terra, essas partículas são moléculas muito pequenas de nitrogênio. Em Plutão, parecem ser partículas maiores, mas ainda relativamente pequenas, parecidas com fuligem que chamamos de tolinas".

Os cientistas pensam que as tolinas se formam bem alto na atmosfera, onde a luz ultravioleta do Sol quebra e ioniza as moléculas de nitrogênio e metano e permite com que reajam uma com a outra para formar íons mais complexos carregados positivamente e negativamente. Quando são recombinados, formam macromoléculas muito complexas, um processo encontrado pela primeira vez na atmosfera superior da lua de Saturno, Titã. As moléculas mais complexas continuam se combinando e crescendo até que se tornam partículas pequenas; os gases voláteis condensam e revestem as suas superfícies com geada antes que tenham tempo para cair através da atmosfera até à superfície, onde são acrescentadas à coloração vermelha de Plutão.

Num importante segundo achado, a New Horizons detectou inúmeras regiões pequenas e expostas de água gelada em Plutão. A descoberta foi feita a partir de dados recolhidos pelo espectrômetro do instrumento Ralph a bordo da New Horizons.

água em Plutão

© NASA/JHUAPL/SwRI (água em Plutão)

As regiões com água gelada exposta são realçadas em azul nesta composição do instrumento Ralph, que combina imagens da câmara Multispectral Visible Imaging Camera (MVIC) com espectroscopia infravermelha do Linear Etalon Imaging Spectral Array (LEISA). As assinaturas mais fortes de água gelada ocorrem ao longo de Virgil Fossa, a oeste da cratera Elliot à esquerda da inserção, e também em Viking Terra perto do topo da imagem. Um grande afloramento também aparece em Baré Montes, mais para a direita da imagem, bem como outros mais pequenos predominantemente associados com crateras de impacto e vales entre montanhas. A cena cobre aproximadamente 450 km.

"Grandes áreas de Plutão não apresentam água gelada exposta," afirma Jason Cook, membro da equipe científica, também do SwRI, "porque aparentemente é mascarada por outros gelos mais voláteis em quase todo o planeta. Compreender por que a água aparece exatamente onde aparece, e não em outros lugares, é um desafio que estamos estudando."

Um aspeto curioso da detecção é que as áreas que mostram as mais óbvias assinaturas espectrais de água gelada correspondem a áreas que têm um tom vermelho vivo nas imagens coloridas divulgadas recentemente. "Fiquei surpreso ao ver que esta água gelada é tão vermelha," afirma Sylvia Protopapa, membro da equipe científica e da Universidade de Maryland, em College Park, EUA. "Nós ainda não entendemos a relação entre a água gelada e os corantes avermelhados das tolinas à superfície de Plutão."

A New Horizons está atualmente a 5 bilhões de quilômetros da Terra e todos os sistemas estão operarando normalmente.

Fonte: NASA

A Nebulosa do Violão

O pulsar B2224+65 está se movendo através do espaço muito rapidamente. Devido a essa alta velocidade, o pulsar está criando uma onda de choque.

Nebulosa do Violão

© Chandra/Hubble/Hale (Nebulosa do Violão)

Essa estrutura é conhecida como Nebulosa do Violão, e a semelhança com o instrumento musical pode ser vista nos dados ópticos (azul) da imagem composta feita pelo telescópio espacial Hubble e pelo telescópio Hale do Observatório do Palomar. Os raios X obtidos pelo Chandra (rosa) revelam um longo jato que é coincidente com a localização do pulsar na ponta do braço do violão, mas não está alinhado com a direção do movimento. Os astrônomos continuarão estudando esse sistema para determinar a natureza desse jato de raios X.

Fonte: Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Descobertas ondas misteriosas ao longo de disco de formação planetária

Com o auxílio de imagens do Very Large Telescope (VLT) do ESO e do telescópio espacial Hubble da NASA/ESA, astrônomos descobriram estruturas nunca antes observadas em um disco de poeira que rodeia uma estrela próxima.

ondas deslocando rapidamente no disco de poeira da estrela AU Microscopii

© ESO/NASA/ESA (ondas deslocando rapidamente no disco de poeira da estrela AU Microscopii)

Neste mosaico a linha de cima mostra uma imagem obtida pelo telescópio espacial Hubble em 2010 do disco da estrela AU Microscopii, a linha central corresponde a uma imagem obtida pelo telescópio espacial Hubble em 2011 e a linha de baixo mostra dados do VLT/SPHERE de 2014. Os círculos pretos centrais tapam a luz brilhante da estrela central de modo a podermos observar o disco que é muito mais fraco. A posição da estrela está marcada esquematicamente. A barra de escala no alto da imagem indica, comparativamente, o diâmetro da órbita do planeta Netuno no Sistema Solar (60 UA). Note que o brilho das regiões mais exteriores do disco foi artificialmente aumentado para se poder observar a sua estrutura tênue.

As estruturas do tipo de ondas que se deslocam rapidamente no disco da estrela AU Microscopii não se parecem com nada que tenha sido observado, ou mesmo previsto, até hoje. A origem e natureza destas estruturas é um novo mistério que os astrônomos precisam desvendar.

A estrela próxima AU Microscopii, ou AU Mic, é jovem e encontra-se rodeada por um grande disco de poeira. A estrela AU Mic situa-se a apenas 32 anos-luz de distância da Terra. O disco contém essencialmente asteroides que colidiram tão violentamente que acabaram pulverizados. Estudos de discos de detritos como este fornecem pistas valiosas sobre como é que os planetas se formam a partir deles.
Os astrônomos têm estudado o disco de AU Mic no intuito de procurarem sinais de estruturas mais condensadas ou deformadas, já que tais estruturas podem indicar a localização de possíveis planetas. Em 2014 foram utilizadas as capacidades de imagem de alto contraste do instrumento SPHERE do ESO, recém instalado no VLT, tendo-se descoberto algo muito incomum.
“As nossas observações mostraram algo inesperado,” explica Anthony Boccaletti do Observatório de Paris, França, autor principal do artigo científico que descreve estes resultados. “As imagens do SPHERE mostram um conjunto de estruturas inexplicáveis no disco, em forma de arcos ou ondas, diferentes de tudo o que foi observado até hoje.”
Cinco arcos em forma de onda a diferentes distâncias da estrela aparecem nas novas imagens, fazendo lembrar pequenas ondas propagando-se numa poça d'água. Após ter descoberto estas estruturas nos dados do SPHERE, a equipe verificou imagens anteriores do disco obtidas com o telescópio espacial Hubble em 2010 e 2011 para ver se também aí apareceriam tais estruturas. Os dados foram recolhidos pelo instrumento Space Telescope Imaging Spectrograph (STIS) do Hubble. A equipe não só conseguiu identificar estas estruturas nas imagens mais antigas do Hubble, como também descobriu que estas variam com o tempo. Aparentemente estas ondas estão se deslocando muito rapidamente!
“Processamos as imagens dos dados Hubble e obtivemos informação suficiente para seguir o movimento destas estranhas estruturas durante um período de 4 anos,” explica o membro da equipe Christian Thalmann do ETH Zürich, na Suíça. “Descobrimos assim que os arcos se afastam da estrela a velocidades que vão até cerca de 40.000 km/hora!”
As estruturas parecem estar se movendo mais depressa e mais longe da estrela do que mais próximo dela. Pelo menos três delas estão se deslocando tão depressa que poderão escapar da atração gravitacional da estrela. Tais velocidades tão elevadas excluem a possibilidade de que estas sejam estruturas convencionais no disco causadas por objetos, tais como planetas, que perturbam o material do disco à medida que orbitam a estrela. Outro fenômeno qualquer deve estar envolvido  para que as ondas sejam aceleradas e se desloquem tão depressa, o que significa que estas estruturas são um sinal de algo verdadeiramente incomum. O disco é observado de perfil, o que complica a interpretação da sua estrutura tridimensional.
“Tudo nesta descoberta é bastante surpreendente!” comenta a co-autora Carol Grady da Eureka Scientific, EUA. “E uma vez que nunca foi observado nada do gênero, e nem sequer previsto pela teoria, podemos apenas tecer conjecturas sobre o que estamos vendo e como é que poderá ter se formado.”
A equipe não pode dizer com toda a certeza o que teria causado estas ondas misteriosas em torno da estrela. No entanto, já considerou uma série de fenômenos que foram rejeitados como explicação possível, incluindo a colisão de dois objetos raros e massivos do tipo de asteroides que libertariam enormes quantidades de poeira, e ondas em espiral com origem em instabilidades na gravidade do sistema.
No entanto, consideraram também outras ideias que parecem mais promissoras.
“Uma explicação possível para estas estranhas estruturas tem a ver com as erupções da estrela. A AU Mic é uma estrela com uma alta atividade de erupções, lançando frequentemente enormes quantidades de energia da sua superfície ou perto dela,” explica o co-autor Glenn Schneider do Steward Observatory, EUA. “Uma destas erupções poderia ter dado origem a algum fenômeno num dos planetas, se houver planetas, como um violento arrancar de matéria que poderia agora estar se propagando ao longo do disco, impulsionada pela força da erupção.”
“É muito satisfatório que o SPHERE se tenha revelado extremamente capaz de estudar discos como este no seu primeiro ano de operações,” acrescenta Jean-Luc Beuzit,  co-autor do novo estudo e que liderou também o desenvolvimento do SPHERE.
A equipe planeja continuar observando o sistema AU Mic com o SPHERE e outras infraestruturas, incluindo o ALMA, no intuito de tentar compreender o que se está se passando. Mas por agora, estas curiosas estruturas permanecem um mistério por resolver.

Este trabalho foi descrito no artigo científico intitulado “Fast-Moving Structures in the Debris Disk Around AU Microscopii” que será publicado amanhã na revista Nature.

Fonte: ESO

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Uma nova perspectiva sobre um extraordinário aglomerado galáctico

Os aglomerados galácticos são muitas vezes descritos com superlativos. Afinal de contas, são aglomerados enormes de galáxias, gás quente e matéria escura e representam as maiores estruturas no Universo, unidas pela gravidade.

Aglomerado da Fênix

© Chandra/Hubble (Aglomerado da Fênix)

Os aglomerados de galáxias tendem a ser pobres na produção de estrelas novas nos seus centros. Geralmente, têm uma galáxia gigante no meio que forma estrelas a uma taxa significativamente mais lenta do que a maioria das galáxias, incluindo a nossa Via Láctea. A galáxia central contém um buraco negro supermassivo com cerca de mil vezes a massa do buraco negro no centro da Via Láctea. Sem o aquecimento gerado pelos surtos deste buraco negro, as grandes quantidades de gás quente encontrado na galáxia quente devem arrefecer, permitindo a formação de estrelas a uma taxa elevada. Pensa-se que o buraco negro central age como um termostato, impedindo o arrefecimento rápido do gás quente e a formação estelar.

Novos dados fornecem mais detalhes sobre o aglomerado galáctico SPT-CLJ2344-4243, apelidado de Aglomerado da Fênix (nome da constelação onde se encontra), que desafia esta tendência. O aglomerado já quebrou vários recordes no passado: em 2012, os cientistas anunciaram que o Aglomerado da Fênix tinha a maior taxa de arrefecimento de gás quente e formação estelar jamais vista no centro de um aglomerado de galáxias e, de todos os aglomerados conhecidos, é o produtor mais poderoso de raios X. A taxa a que o gás quente arrefece no centro do aglomerado é também a mais alta já observada.

Novas observações deste aglomerado galáctico em raios X, no ultravioleta e no visível pelo observatório de raios X Chandra, pelo telescópio espacial Hubble e pelo telescópio Clay-Magalhães localizado no Chile, estão ajudando os astrônomos a melhor compreender este objeto notável. Os dados ópticos do Clay-Magalhães revelam filamentos estreitos no centro do aglomerado onde as estrelas se estão formando. Estes gigantescos filamentos cósmicos de gás e poeira, a maioria dos quais nunca tinham sido detectados antes, estendem-se entre 160.000 e 330.000 anos-luz. Estes valores são superiores ao diâmetro da Via Láctea, o que os torna os filamentos mais longos alguma vez vistos num aglomerado de galáxias.

Estes filamentos rodeiam grandes cavidades, regiões com emissões de raios X muito reduzida, no gás quente. As cavidades de raios X podem ser vistas na imagem composta, que mostra os dados do Chandra em azul e os dados ópticos do telescópio espacial Hubble (vermelho, verde e azul). Os astrônomos pensam que as cavidades de raios X foram esculpidas a partir do gás circundante por jatos de partículas altamente energéticas emanadas perto de um buraco negro supermassivo da galáxia central do aglomerado. À medida que a matéria espirala em direção a um buraco negro, é libertada uma grande quantidade de energia gravitacional. Observações de buracos negros supermassivos em outros aglomerados galácticos, no rádio e em raios X, mostraram que uma fração significativa desta energia é liberada como jatos de manifestações intensas que podem chegar a durar milhões de anos. O tamanho observado das cavidades de raios X em SPT-CLJ2344-4243 indica que o surto que as produziu foi um dos eventos mais energéticos já registados.

No entanto, o buraco central no Aglomerado da Fênix está sofrendo de uma espécie de crise de identidade, partilhando propriedades com "quasares", objetos muito brilhantes alimentados por material que cai para um buraco negro supermassivo, e com "galáxias de rádio" que contêm jatos de partículas energéticas que brilham no rádio, também alimentadas por buracos negros gigantes. Metade da produção de energia deste buraco negro surge dos jatos empurrarem mecanicamente o gás ao redor (modo rádio) e a outra metade de radiação óptica, UV e raios X provenientes de um disco de acreção (modo quasar). Os astrônomos sugerem que o buraco negro pode estar no processo de alternar entre estes dois estados.

As cavidades de raios X localizadas mais longe do centro do aglomerado fornecem evidências de surtos fortes do buraco negro central há cerca de cem milhões de anos atrás (desprezando o tempo de viagem da luz até ao aglomerado). Isto implica que o buraco negro pode ter estado no modo rádio, com surtos, há cerca de cem milhões de anos atrás, depois mudou para o modo quasar, e depois mudou novamente para o modo rádio.

Pensa-se que pode ter ocorrido um rápido arrefecimento entre estes dois surtos, desencadeando a formação estelar em grupos e filamentos por toda a galáxia central a uma taxa de 610 massas solares por ano. Em comparação, apenas um par de novas estrelas se formam a cada ano na nossa Via Láctea. As propriedades extremas do sistema do Aglomerado da Fênix estão fornecendo novas informações sobre vários problemas astrofísicos, incluindo a formação de estrelas, o crescimento das galáxias e dos buracos negros, e a coevolução dos buracos negros e do seu ambiente.

O artigo que descreve estes resultados, liderado por Michael McDonald, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, foi aceito para publicação na revista The Astrophysical Journal e está disponível online.

Fonte: Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics

Uma microlente gravitacional misteriosa

O campo estrelado abaixo mostra o aglomerado globular NGC 6553, que se situa a aproximadamente 19.000 anos-luz de distância na constelação do Sagitário.

aglomerado globular NGC 6553 e uma microlente gravitacional

© ESO/VISTA (aglomerado globular NGC 6553 e uma microlente gravitacional)

Neste campo, as astrônomos descobriram um misterioso evento de microlente gravitacional. A microlente é uma forma de lente gravitacional, na qual a radiação emitida por uma fonte de fundo se curva devido ao campo gravitacional de um objeto que se encontra em primeiro plano, dando origem a uma imagem amplificada do objeto de fundo. O objeto pertencente ao NGC 6553 que causa a microlente gravitacional faz curvar a radiação emitida por uma estrela gigante vermelha que se encontra no campo de fundo (marcada com uma seta). Se este objeto se situar realmente no aglomerado, poderia ser um buraco negro com uma massa duas vezes a do Sol, o que o tornaria o primeiro objeto deste tipo a ser descoberto num aglomerado globular. Seria também o buraco negro de massa estelar mais velho descoberto até hoje. No entanto, são necessárias mais observações para determinar a verdadeira natureza deste objeto.
Esta curiosidade cosmológica foi detectada pelo telescópio VISTA do ESO instalado no Observatório do Paranal no Chile, no âmbito do rastreio VVV (Variáveis VISTA na Via Láctea), um rastreio no infravermelho próximo que mapeia as regiões centrais da Via Láctea.

Fonte: ESO

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Caronte revela uma história colorida e violenta

A sonda New Horizons da NASA transmitiu a melhor imagem a cores e de alta resolução, até agora, da maior lua de Plutão, Caronte, cujas fotografias mostram uma história surpreendentemente complexa e violenta.

Caronte_New Horizons

© NASA/JHUAPL/SwRI (Caronte)

A imagem acima mostra Caronte em cores reforçadas e resolve detalhes tão pequenos quanto 2,9 km. A sonda New Horizons captou esta imagem a cores e em alta-resolução de Caronte antes da maior aproximação do dia 14 de julho de 2015. O mosaico combina imagens azuis, vermelhas e infravermelhas obtidas pelo instrumento Multispectral Visual Imaging Camera (Ralph/MVIC); as cores foram processadas para melhor realçar as propriedades da superfície em Caronte. A paleta de cores não é tão diversa como a de Plutão; o tom mais avermelhado é o da região polar norte, informalmente conhecida como Mordor Macula.

Com metade do diâmetro de Plutão, Caronte mede 1.214 km de diâmetro e é o maior satélite do Sistema Solar em tamanho relativo, quando comparado com o seu planeta anão. Muitos cientistas da New Horizons esperavam que Caronte fosse monótono, um mundo assolado por crateras; em vez disso, estão descobrindo uma paisagem coberta por montanhas, desfiladeiros, deslizamentos de terra, variações de cor à superfície e muito mais.

"Nós pensávamos que a probabilidade de ver essas características tão interessantes neste satélite de um mundo tão distante no nosso Sistema Solar era baixa," afirma Ross Beyer, da equipe Geology, Geophysics and Imaging (GGI) do Instituto SETI e do Centro de Pesquisa Ames da NASA em Mountain View, no estado americano da Califórnia.

As imagens de alta resolução do hemisfério de Caronte voltado para Plutão, obtidas pela New Horizons enquanto a sonda passava pelo sistema de Plutão no dia 14 de julho e transmitidas para a Terra no dia 21 de setembro, revelam detalhes de um cinturâo de fraturas e desfiladeiros mesmo para norte do equador da lua. Este grande sistema de desfiladeiros estende-se por mais de 1.600 km em toda a face de Caronte e provavelmente até para o outro lado do satélite. Quatro vezes maior que o Grande Canyon nos EUA, e em locais duas vezes mais profundo, estas fendas e desfiladeiros indicam uma perturbação geológica titânica no passado de Caronte.

"Parece que toda a crosta de Caronte foi rasgada," comenta John Spencer, vice-líder da equipe GGI no Southwest Research Institute (SwRI) em Boulder, no estado americano da Califórnia. "No que diz respeito ao seu tamanho em relação a Caronte, esta característica geológica é muito parecida com o vasto sistema de desfiladeiros Valles Marineris em Marte."

A equipe também descobriu que as planícies ao sul dos desfiladeiros de Caronte, informalmente conhecidas como Vulcan Planum, têm menos crateras grandes do que as regiões para norte, indicando que são visivelmente mais jovens. A suavidade das planícies, bem como as suas ranhuras e sulcos leves, são sinais claros de material que retornou à superfície em larga-escala.

Uma possibilidade para a superfície lisa é um tipo de atividade vulcânica fria, chamada criovulcanismo. "A equipe está discutindo a possibilidade que um oceano interno de água pode ter congelado há muito tempo atrás, e que a resultante mudança de volume pode ter levado Caronte a rasgar-se, permitindo com que estas lavas à base de água alcançassem a superfície nessa época," explica Paul Schenk, membro da equipe da New Horizons e do Instituto Lunar e Planetário de Houston, EUA.

Imagens com ainda mais resolução e dados de composição de Caronte estão ainda por chegar à medida que a New Horizons transmite os dados armazenados na sua memória digital durante o próximo ano. A sonda New Horizons está atualmente a 5 bilhões de quilômetros da Terra e todos os sistemas estão operando normalmente.

O cientista Hal Weaver, participante do projeto da missão e do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins, em Laurel, no estado americano de Maryland, exclama: "Eu prevejo que a história de Caronte se torne ainda mais espetacular!"

Fonte: NASA