Astrônomos, liderados pela Universidade de Warwick, identificaram a estrela mais antiga na nossa Galáxia que está acretando detritos de planetesimais em órbita, um dos mais antigos sistemas planetários rochosos e gelados descobertos na Via Láctea.
© M. Garlick (antigas anãs brancas rodeadas por detritos planetários)
Os seus achados concluem que uma tênue anã branca localizada a 90 anos-luz da Terra, bem como os remanescentes do seu sistema planetário em órbita, têm mais de 10 bilhões de anos.
O destino da maioria das estrelas, incluindo aquelas como o nosso Sol, é tornarem-se uma anã branca. Uma anã branca é uma estrela que queimou todo o seu combustível e liberou as suas camadas exteriores e está agora sofrendo um processo de encolhimento e arrefecimento. Durante este processo, quaisquer planetas em órbita serão perturbados e, em alguns casos, destruídos, restando os seus detritos que acretam para a superfície da anã branca.
Para este estudo, os astrônomos modelaram duas anãs brancas incomuns que foram detectadas pelo observatório espacial Gaia da ESA. Ambas as estrelas estão poluídas por detritos planetários, tendo uma delas sido encontrada com um tom azul, enquanto a outra é a mais tênue e vermelha encontrada até à data na nossa vizinhança galáctica.
Usando dados espectroscópicos e fotométricos do Gaia, do DES (Dark Energy Survey) e do instrumento X-Shooter no ESO para determinar há quanto tempo está arrefecendo, os astrônomos descobriram que a estrela "vermelha" WDJ2147-4035 tem cerca de 10,7 bilhões de anos, dos quais 10,2 bilhões foram passados arrefecendo como uma anã branca. A espectroscopia envolve a análise da luz estelar em diferentes comprimentos de onda, que pode detectar quando os elementos da atmosfera da estrela estão absorvendo luz com cores diferentes e ajuda a determinar quais são estes elementos e em que quantidade.
Ao analisar o espectro de WDJ2147-4035, a equipe encontrou a presença dos metais sódio, lítio, potássio e tentativamente carbono, fazendo desta a anã branca mais antiga, poluída por metais, descoberta até agora. A segunda estrela "azul", WDJ1922+0233, é apenas ligeiramente mais nova que WDJ2147-4035 e foi poluída por detritos planetários de composição semelhante à da crosta continental da Terra.
Os astrônomos concluíram que a cor azul de WDJ1922+0233, apesar da sua fria temperatura superficial, é provocada pela sua incomum atmosfera mista de hélio-hidrogênio. Os detritos encontrados na atmosfera de hélio quase puro e de alta gravidade da estrela vermelha WDJ2147-4035 são de um antigo sistema planetário que sobreviveu à evolução da estrela em anã branca, levando os astrônomos a concluir que este é o mais antigo sistema planetário em torno de uma anã branca descoberta na Via Láctea.
Estas estrelas poluídas por metais mostram que a Terra não é única, existem por aí outros sistemas planetários com corpos semelhantes à Terra, onde 97% de todas as estrelas se tornarão anãs brancas e são tão omnipresentes no Universo que são muito importantes de compreender, especialmente estas extremamente frias. Formadas a partir das estrelas mais antigas, as anãs brancas frias fornecem informações sobre a formação e evolução dos sistemas planetários em torno das estrelas mais antigas da Via Láctea. Nota-se que estes planetas morreram muito antes mesmo da Terra ter sido formada.
Os astrônomos também podem utilizar os espectros da estrela para determinar a rapidez com que estes metais afundam no núcleo da estrela, o que lhes permite olhar para trás no tempo e determinar a abundância de cada um destes metais no corpo planetário original. Ao comparar destas abundâncias com corpos astronômicos e material planetário encontrado no nosso próprio Sistema Solar, é possível adivinhar como teriam sido estes planetas antes da estrela morrer e se tornar uma anã branca, mas no caso de WDJ2147-4035, isto provou ser um desafio.
A estrela vermelha WDJ2147-4035 é um mistério, uma vez que os detritos planetários que acretou são muito ricos em lítio e potássio, ao contrário de qualquer objeto conhecido no nosso próprio Sistema Solar. Esta é uma anã branca muito interessante, uma vez que a sua temperatura superficial ultrafria, os metais que a poluem, a sua idade, e o fato de ser magnética, a tornam extremamente rara.
Quando estas estrelas velhas se formaram, há mais de 10 bilhões de anos, o Universo era menos rico em metais do que é agora, uma vez que os metais são formados em estrelas evoluídas e em explosões estelares gigantescas. As duas anãs brancas observadas proporcionam uma janela excitante para a formação planetária num ambiente pobre em metais e rico em gás que era diferente das condições quando o Sistema Solar foi formado.
Um artigo foi publicado no periódico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.
Fonte: University of Warwick