terça-feira, 23 de junho de 2020

Existem até seis bilhões de planetas semelhantes à Terra na nossa Galáxia

De acordo com novas estimativas de astrônomos da Universidade da Columbia Britânica, Canadá, usando dados da missão Kepler da NASA, pode haver até um planeta semelhante à Terra para cada cinco estrelas parecidas com o Sol na Via Láctea.


© NASA/W. Stenzel (planetas transitando uma estrela)

Para ser considerado parecido à Terra, um planeta deve ser rochoso, ter aproximadamente o tamanho da Terra e orbitar uma estrela parecida com o Sol (tipo-G). Também tem que orbitar na zona habitável da sua estrela, ou seja, o intervalo de distâncias na qual um planeta rochoso pode hospedar água líquida, e potencialmente vida, à sua superfície.

"Os meus cálculos estabelecem um limite superior de 0,18 planetas parecidos com a Terra por cada estrela do tipo-G," diz a pesquisadora Michelle Kunimoto, da Universidade da Columbia Britânica. "Estimar quão comuns são os diferentes tipos de planetas, em torno de estrelas diferentes, pode fornecer restrições importantes às teorias de formação e evolução planetária, e ajudar a otimizar futuras missões dedicadas a encontrar a exoplanetas."

"A nossa Via Láctea tem até 400 bilhões de estrelas, sendo 7% do tipo-G. Isso significa que menos de seis bilhões de estrelas podem ter planetas parecidos com a Terra na nossa Galáxia," disse o astrônomo Jaymie Matthews, da Universidade da Columbia Britânica.

Estimativas anteriores da frequência de planetas parecidos com a Terra variam de aproximadamente 0,02 planetas potencialmente habitáveis por cada estrela parecida com o Sol, a mais de um por cada estrela parecida com o Sol.

Normalmente, planetas como a Terra têm mais probabilidade de não serem descobertos por um levantamento planetário do que outros tipos, pois são muito pequenos e orbitam muito longe das suas estrelas. Isso significa que um catálogo planetário representa apenas um pequeno subconjunto dos planetas que estão realmente em órbita das estrelas examinadas. Kunimoto usou uma técnica de modelagem avançada para superar estes desafios.

"Comecei por simular toda a população de exoplanetas em torno das estrelas que o Kepler analisou," explicou. "Marquei cada planeta como 'detectado' ou 'perdido' dependendo da probabilidade do meu algoritmo de busca planetária os encontrar. Depois, comparei os planetas detectados com o meu catálogo real de planetas. Se a simulação produzisse uma correspondência íntima, então a população inicial era uma boa representação da população real de planetas que orbitam estas estrelas."

A pesquisa de Kunimoto também forneceu informações sobre uma das questões mais salientes da ciência exoplanetária hoje em dia: o "hiato de raio" dos planetas. O hiato de raio demonstra que é incomum que planetas com períodos orbitais inferiores a 100 dias tenham um tamanho entre 1,5 e 2 vezes o da Terra. Ela descobriu que o hiato de raio existe numa gama muito mais estreita de períodos orbitais do que se pensava anteriormente. Os seus resultados observacionais podem fornecer restrições aos modelos de evolução planetária que explicam as características do hiato de raio.

Anteriormente, Kunimoto pesquisou dados de arquivo de 200.000 estrelas da missão Kepler da NASA. Descobriu 17 novos planetas localizados além do Sistema Solar, e também recuperou milhares de planetas já conhecidos.

novo estudo foi publicado no periódico The Astronomical Journal. 

Fonte: University of British Columbia

segunda-feira, 22 de junho de 2020

Novas imagens impressionantes do Hubble revelam transformação estelar

O telescópio espacial Hubble demonstra toda a sua gama de recursos com duas novas imagens de nebulosas planetárias.


© Hubble (NGC 6302)

As imagens retratam duas nebulosas planetárias jovens próximas, NGC 6302 e NGC 7027. Ambas estão entre as nebulosas planetárias mais empoeiradas conhecidas e contêm massas de gás incomumente grandes, o que as tornou um par interessante para estudo em paralelo por uma equipe de pesquisadores.

Como motores de fusão nuclear, a maioria das estrelas vive vidas plácidas por centenas de milhões a bilhões de anos. Mas perto do fim de suas vidas, elas podem se transformar em redemoinhos confusos, inflando conchas e jatos de gás quente. Os astrônomos usaram o telescópio espacial Hubble para dissecar esses fogos de artifício acontecendo nessas duas nebulosas planetárias. Foram descobertos níveis sem precedentes de complexidade e rápidas mudanças nos jatos e nas bolhas de gás que explodem das estrelas no centro de cada nebulosa. Agora, o telescópio espacial Hubble está permitindo convergir à compreensão dos mecanismos subjacentes desse caos.

O telescópio espacial Hubble já fotografou esses objetos antes, com o instrumento Wide Field Camera 3 em toda a sua faixa de comprimento de onda, fazendo observações sob luz ultravioleta a infravermelho próximo.



© Hubble (NGC 7027)

As novas imagens do Hubble revelam com detalhes vívidos como as duas nebulosas se dividem em escalas de tempo extremamente curtas, permitindo o visão das mudanças nas últimas décadas. Em particular, as amplas vistas de vários comprimentos de onda de cada nebulosa estão ajudando no rastreamento do histórico de ondas de choque nelas. Tais choques são tipicamente gerados quando ventos estelares rápidos atingem e varrem mais lentamente o gás e a poeira ejetados pela estrela em seu passado recente, gerando cavidades semelhantes a bolhas com paredes bem definidas.

Os pesquisadores suspeitam que no centro de cada nebulosa havia duas estrelas orbitando uma à outra. A evidência para uma "dupla dinâmica" tão central vem das formas bizarras dessas nebulosas. Cada nebulosa tem uma cintura apertada e empoeirada e lóbulos ou saídas polares, além de outros padrões simétricos mais complexos.

Uma teoria importante para a geração de tais estruturas nas nebulosas planetárias é que a estrela que perde massa é uma das duas estrelas em um sistema binário. As duas estrelas orbitam uma à outra o suficiente para que eventualmente interajam, produzindo um disco de gás em torno de uma ou de ambas as estrelas. O disco lança jatos de gás que inflam os lobos direcionados para os polos.

Outra hipótese popular relacionada é que a estrela menor do par pode se fundir com sua companheira estelar inchada e em rápida evolução. Essa configuração de estrela binária de "envelope comum" de vida muito curta também pode gerar jatos oscilantes, formando as saídas bipolares da marca registrada comumente vistas em nebulosas planetárias. No entanto, as estrelas companheiras nessas nebulosas planetárias não foram diretamente observadas. Os pesquisadores sugerem que isso pode acontecer porque essas companheiras estão próximas ou já foram engolidas por estrelas gigantes vermelhas muito maiores e mais brilhantes.

A NGC 6302, vulgarmente conhecida como Nebulosa da Borboleta, exibe um padrão distinto em forma de S, visto em laranja avermelhado na imagem. Imagine um aspersor de gramado girando loucamente, jogando dois jatos de água em forma de S. Nesse caso, não é água no ar, mas gás soprado em alta velocidade por uma estrela. E o “S” só aparece quando captado pelo filtro da câmera do telescópio espacial Hubble que registra emissão no infravermelho próximo de átomos de ferro ionizados. Essa emissão de ferro é indicativa de colisões energéticas entre ventos lentos e velozes, o que é mais comumente observado nos núcleos galácticos ativos e nos remanescentes de supernovas.

Nota-se na imagem das emissões de ferro que ventos rápidos e fora do eixo penetram muito longe na nebulosa como tsunamis, obliterando antigos aglomerados em seus caminhos e deixando apenas longas caudas de detritos.

A imagem que acompanha a NGC 7027 indica que ela estava lentamente inflando sua massa com padrão esférico simétrico ou talvez espirais por séculos. Algo recentemente deu errado no centro, produzindo um novo padrão de folha de trevo, com jatos de material disparando em direções específicas.

Um artigo foi publicado no periódico Galaxies.

Fonte: ESA

Espiando o pulsar mais jovem descoberto até agora

Uma campanha de observação liderada pelo observatório espacial XMM-Newton da ESA revela o pulsar mais jovem alguma vez visto, o remanescente de uma estrela anteriormente massiva, que também é um magnetar, ostentando um campo magnético cerca de 100 milhões de vezes mais forte do que os imãs mais poderosos já construídos por humanos.


© ESA (ilustração de um magnetar)

Os pulsares são alguns dos objetos mais exóticos do Universo. Formam-se quando estrelas massivas terminam as suas vidas por meio de poderosas explosões de supernova e deixam para trás remanescentes estelares extremos: quentes, densos e altamente magnetizados. Às vezes, os pulsares também passam por períodos de atividade bastante alta, durante os quais emitem enormes quantidades de radiação energética em escalas de tempo de milissegundos a anos.

As explosões menores geralmente assinalam o início de um maior surto, quando a emissão de raios X se pode tornar mil vezes mais intensa. Uma campanha de vários instrumentos liderada pelo XMM-Newton captou agora uma explosão emanando do pulsar mais jovem alguma vez descoberto: Swift J1818.0−1607, que foi originalmente descoberto pelo Observatório Swift da NASA em março.

Este pulsar não é apenas o mais jovem dos 3.000 conhecidos na nossa Via Láctea, mas também pertence a uma categoria muito rara de pulsares: magnetares, os objetos cósmicos com os campos magnéticos mais fortes já medidos no Universo.

"Swift J1818.0−1607 fica a cerca de 15.000 anos-luz de distância, dentro da Via Láctea," diz o autor principal Paolo Esposito da Escola Universitária de Estudos Superiores de Pavia, Itália.

"Identificar algo tão jovem, logo após se formar no Universo, é extremamente empolgante. As pessoas na Terra poderiam ver a explosão de supernova que formou este magnetar jovem há cerca de 240 anos, bem no meio das revoluções americana e francesa."

Este magnetar é um dos objetos do seu tipo com mais rápida rotação conhecida, girando uma vez a cada 1,36 segundos, apesar de conter a massa de dois sóis num remanescente estelar que mede apenas 25 km de diâmetro.

Imediatamente após a descoberta, os astrônomos examinaram este objeto em mais detalhe com o XMM-Newton, com os satélites Swift e NuSTAR da NASA e com o Radiotelescópio da Sardenha na Itália.

Ao contrário da maioria dos magnetares, que são observáveis apenas em raios X, as observações revelaram que Swift J1818.0−1607 é um dos poucos que também mostra emissão pulsada no rádio.

O fato de poder ser observado tanto em raios X como no rádio fornece uma pista importante para um debate científico em andamento sobre a natureza de um tipo específico de remanescente estelares: os pulsares.

Um tipo de pulsar especialmente magnetizado, pensa-se que os magnetares sejam incomuns no Universo, sendo detectados apenas cerca de 30 deles, e supõe-se que sejam distintos de outros tipos de pulsar que aparecem fortemente nas emissões de rádio.

Mas os pesquisadores de raios X suspeitam há muito tempo que os magnetares podem ser bem mais comuns do que esta visão sugere. Esta nova descoberta apoia a ideia de que, em vez de serem exóticos, podem formar uma fração substancial dos pulsares encontrados na Via Láctea.

Além disso, pode não haver uma diversidade de pulsares tão ampla quanto se pensava inicialmente. Os fenômenos distintos mostrados pelos magnetares também podem ocorrer em outros tipos de pulsares, assim como Swift J1818.0−1607 exibe características (emissão de rádio) geralmente não atribuídas aos magnetares.

Exemplos de eventos transientes incluem explosões de raios gama, explosões de supernova superluminosas e os misteriosos FRBs (Fast Radio Bursts). Estes eventos energéticos estão potencialmente ligados à formação e existência de objetos jovens e fortemente magnetizados, como Swift J1818.0−1607.

"Para inferir a idade deste magnetar, os pesquisadores precisaram de medições de alta resolução a longo prazo, tanto do ritmo de rotação, tanto de como a rotação muda ao longo do tempo," acrescenta o cientista Norbert Schartel, do projeto XMM-Newton da ESA.

"O instrumento EPIC (European Photon Imaging Camera) do XMM-Newton observou Swift J1818.0−1607 apenas três dias após a sua descoberta, permitindo a extração de uma imagem precisa da sua emissão de raios X e propiciando a caracterização com mais detalhe de suas propriedades espectrais e de rotação."

"Este tipo de investigação é extremamente importante para entender mais sobre o conteúdo estelar da Via Láctea e para revelar a complexidade dos fenômenos que ocorrem em todo o Universo."

Um artigo foi publicado no periódico The Astrophysical Journal Letters.

Fonte: ESA

domingo, 21 de junho de 2020

Atmosfera supergigante de Antares revelada por radiotelescópios

Uma equipe internacional de astrônomos criou o mapa mais detalhado até agora da atmosfera da supergigante vermelha Antares.


© NRAO (ilustração da atmosfera de Antares)

A sensibilidade e a resolução sem precedentes do ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array) e do VLA (Karl G. Jansky Very Large Array) revelaram o tamanho e a temperatura da atmosfera de Antares logo acima da superfície da estrela, em toda a sua cromosfera e até à região dos ventos.

As estrelas supergigantes vermelhas, como Antares e a sua prima mais conhecida, Betelgeuse, são estrelas enormes e relativamente frias no final da sua vida. Estão ficando sem combustível, para colapsar e se tornarem supernovas. Através dos seus vastos ventos estelares, lançam elementos pesados para o espaço, desempenhando assim um papel importante no fornecimento de elementos essenciais para a vida no Universo. Mas o modo como estes ventos enormes são lançados permanece um mistério. Um estudo detalhado da atmosfera de Antares, a estrela supergigante mais próxima da Terra, fornece um passo crucial em direção a uma resposta.

O mapa de Antares pelo ALMA e pelo VLA é o mapa de rádio mais detalhado alguma vez feito para qualquer estrela, à exceção do Sol. O ALMA observou Antares perto da sua superfície (a sua fotosfera óptica) em comprimentos de onda mais curtos, e os comprimentos de onda mais longos observados pelo VLA revelaram a atmosfera ainda mais distante da estrela. Vista no visível, o diâmetro de Antares é aproximadamente 700 vezes maior que o Sol. Mas quando o ALMA e o VLA revelaram a sua atmosfera no rádio, a supergigante tornou-se ainda mais gigantesca.

"O tamanho de uma estrela pode variar drasticamente, dependendo do comprimento de onda da luz observada," explicou Eamon O'Gorman do Instituto de Estudos Avançados de Dublin, na Irlanda. "Os comprimentos de onda mais longos do VLA revelaram que a atmosfera da supergigante tem quase 12 vezes o raio da estrela."

Os radiotelescópios mediram a temperatura da maior parte do gás e do plasma na atmosfera de Antares. O mais notável foi a temperatura na cromosfera. Esta é a região acima da superfície da estrela que é aquecida por campos magnéticos e ondas de choque criadas pela vigorosa convecção à superfície estelar, parecida ao movimento de bolhas numa panela com água fervendo. Não se sabe muito sobre cromosferas e é a primeira vez que esta região é detectada no rádio.

Graças ao ALMA e ao VLA, os cientistas descobriram que a cromosfera da estrela se estende até 2,5 vezes o raio de Antares (a cromosfera do nosso Sol tem apenas 1/200 vezes o seu raio). Também descobriram que a temperatura da cromosfera é mais baixa do que as observações ópticas e ultravioletas anteriores sugeriram. A temperatura atinge um pico de 3.500 ºC, após o qual diminui gradualmente. Como comparação, a cromosfera do Sol atinge temperaturas de quase 20.000 ºC.

"Descobrimos que a cromosfera é 'morna' e não quente, em temperaturas estelares," disse O'Gorman. "A diferença pode ser explicada porque as nossas medições de rádio são um termômetro sensível para a maior parte do gás e do plasma na atmosfera da estrela, enquanto observações ópticas e ultravioletas anteriores eram sensíveis apenas a gás e plasma muito quentes."

"Pensamos que as estrelas supergigantes vermelhas, como Antares e Betelgeuse, têm uma atmosfera não homogênea," disse Keiichi Ohnaka, da Universidade Católica do Norte no Chile, que anteriormente observou a atmosfera de Antares no infravermelho. "Imagine que as suas atmosferas são pinturas feitas de muitos pontos de cores diferentes, representando temperaturas diferentes. A maior parte da pintura contém pontos de gás morno que os radiotelescópios podem ver, mas também existem pontos frios que só os telescópios infravermelhos podem observar, e pontos quentes que os telescópios ultravioletas veem. De momento, não podemos observar estes pontos individualmente, mas queremos tentar fazer isso em estudos futuros."

Nos dados do ALMA e do VLA, os astrônomos viram pela primeira vez uma clara distinção entre a cromosfera e a região onde os ventos começam a formar-se. Na imagem do VLA, é visível um enorme vento, ejetado de Antares e iluminado pela sua estrela companheira menor, porém mais quente, Antares B.

"A nossa compreensão inata do céu noturno é que as estrelas são apenas pontos de luz. O fato de podermos mapear as atmosferas destas estrelas supergigantes em detalhe é um verdadeiro testemunho dos avanços tecnológicos da interferometria. Estas potentes observações aproximam-nos do Universo," disse Chris Carilli do NRAO (National Radio Astronomy Observatory), que esteve envolvido nas primeiras observações de Betelgeuse em vários comprimentos de onda de rádio com o VLA em 1998.

Um artigo foi publicado no periódico Astronomy & Astrophysics.

Fonte: National Radio Astronomy Observatory

sábado, 20 de junho de 2020

Quatro exoplanetas recém-nascidos são "torrados" pela sua estrela

Cientistas do Instituto Leibniz para Astrofísica de Potsdam, Alemanha, examinaram o destino da jovem estrela V1298 Tau e os seus quatro exoplanetas em órbita.


© AIP/J. Fohlmeister (sistema exoplanetário em torno da estrela V1298 Tau)

Os resultados mostram que estes planetas recém-nascidos são "torrados" pela intensa radiação de raios X de sua jovem estrela, o que leva à vaporização do seu invólucro gasoso. Os planetas mais interiores podem ser evaporados até aos seus núcleos rochosos, de modo que não resta nenhuma atmosfera.

Os exoplanetas jovens vivem num ambiente de alto risco: a sua estrela produz uma grande quantidade de radiação energética de raios X, tipicamente mil a dez mil vezes mais do que o nosso próprio Sol. Esta radiação de raios X pode aquecer as atmosferas dos exoplanetas e, às vezes, até evaporá-las. A porcentagem de evaporação da atmosfera de um exoplaneta, ao longo do tempo, depende das propriedades do planeta, ou seja, a sua massa, densidade e distância à estrela. Mas quanto é que a estrela pode influenciar o que acontece ao longo de bilhões de anos? Esta é uma questão que os astrônomos decidiram abordar no seu artigo mais recente.

O recém-descoberto sistema de quatro planetas em torno da jovem estrela V1298 Tau é uma base de teste perfeita para esta pergunta. A estrela central tem mais ou menos o tamanho do nosso Sol. No entanto, tem apenas cerca de 25 milhões de anos, muito mais jovem do que o Sol, com 4,6 bilhões de anos. Hospeda dois planetas menores, com aproximadamente o tamanho de Netuno, próximos da estrela, além de dois planetas do tamanho de Saturno mais distantes. "Observamos o espectro de raios X da estrela com o telescópio espacial Chandra para ter uma ideia de quão fortemente as atmosferas planetárias são irradiadas," explica Katja Poppenhäger, autora principal do estudo.

Os cientistas determinaram os possíveis destinos dos quatro exoplanetas. À medida que o sistema estrela-planeta envelhece, a rotação da estrela diminui. A rotação é o fator determinante para o magnetismo e para a emissão de raios X, de modo que uma rotação mais lenta acompanha uma emissão mais fraca de raios X. "A evaporação dos exoplanetas depende do tempo em que a rotação diminui, se demora pouco tempo ou bilhões de anos, quanto mais rápida esta diminuição, menos atmosfera se perde," diz a estudante de doutoramento Laura Ketzer, que desenvolveu código disponível ao público para calcular como os planetas evoluem ao longo do tempo.

Os cálculos mostram que os dois planetas mais interiores do sistema podem perder completamente a sua atmosfera de gás para se tornarem meramente núcleos rochosos caso a estrela diminua lentamente a sua rotação, enquanto o planeta mais exterior continuará a ser gigante gasoso. "Para o terceiro planeta, depende realmente da sua massa, o que ainda não conhecemos. A medição do tamanho dos exoplanetas, com a técnica de trânsito, funciona bem, mas a determinação das massas planetárias é muito mais complexa," explica Matthias Mallonn, que atualizou as propriedades de trânsito do sistema usando observações com o telescópio terrestre STELLA do instituto.

"As observações de raios X de estrelas com planetas são uma peça fundamental para aprender mais sobre a evolução a longo prazo das atmosferas exoplanetárias," conclui Katja Poppenhäger. "Estou particularmente empolgada com as possibilidades que podemos obter através das observações de raios X com o eROSITA durante os próximos anos." 

O telescópio de raios X eROSITA, que foi desenvolvido em parte pelo Instituto Leibniz para Astrofísica, está realizando observações de todo o céu e produzirá propriedades de raios X para centenas de estrelas que hospedam exoplanetas.

Fonte: Leibniz-Institut für Astrophysik Potsdam

terça-feira, 16 de junho de 2020

Novas medições de distância reforçam desafio ao modelo do Universo

Um novo conjunto de medições precisas de distância, feitas com uma coleção internacional de radiotelescópios, aumentou muito a probabilidade de os teóricos precisarem de rever o "modelo padrão" que descreve a natureza fundamental do Universo.


© NRAO (disco contendo água em órbita de buraco negro)

As novas medições de distância permitiram aos astrônomos refinar o seu cálculo da Constante de Hubble, o ritmo de expansão do Universo, um valor importante para testar o modelo teórico que descreve a composição e evolução do Universo. O problema é que as novas medições exacerbam uma discrepância entre os valores medidos anteriormente da Constante de Hubble e o valor previsto pelo modelo quando aplicado a medições da radiação cósmica de fundo em micro-ondas feitas pelo satélite Planck.

"Descobrimos que as galáxias estão mais próximas do que o previsto pelo modelo padrão cosmológico, corroborando um problema identificado  em outros tipos de medições de distância. Tem havido um debate sobre se este problema está no próprio modelo ou nas medições usadas para o testar. O nosso trabalho utiliza uma técnica de medição de distância completamente independente de todas as outras, e reforçamos a disparidade entre valores medidos e previstos. É provável que o modelo cosmológico básico envolvido nas previsões seja o problema," disse James Braatz, do NRAO (National Radio Astronomy Observatory).

Braatz lidera o MCP (Megamaser Cosmology Project), um esforço internacional para medir a Constante de Hubble, encontrando galáxias com propriedades específicas que possibilitam produzir distâncias geométricas precisas. O projeto utilizou o VLBA (Very Long Baseline Array), o VLA (Karl G. Jansky Very Large Array) e o GBT (Green Bank Telescope), juntamente com o telescópio Effelsberg na Alemanha.

Edwin Hubble, que o telescópio espacial Hubble homenageia com o seu nome, foi o primeiro a calcular o ritmo de expansão do Universo (a Constante de Hubble) em 1929, medindo distâncias de galáxias e as suas velocidades de recessão. Quanto mais distante estiver uma galáxia, maior será a sua velocidade de recessão da Terra. Hoje, a Constante de Hubble continua sendo uma propriedade fundamental da cosmologia observacional e foco de muitos estudos modernos.

A medição da velocidade de recessão das galáxias é relativamente simples. Determinar distâncias cósmicas, no entanto, tem sido uma tarefa difícil para os astrônomos. Para objetos na nossa própria Via Láctea, é possível obter distâncias medindo a aparente mudança na posição do objeto quando visto de lados opostos da órbita da Terra em torno do Sol, um efeito chamado paralaxe. A primeira medição da paralaxe de uma estrela ocorreu em 1838.

Para além da nossa Galáxia, as paralaxes são demasiado pequenas para serem medidas, de modo que os astrônomos confiam em objetos denominados "velas padrão", assim chamados porque o seu brilho intrínseco é presumivelmente conhecido. A distância de um objeto de brilho conhecido pode ser calculada com base em quão tênue o objeto parece ser na Terra. Estas velas padrão incluem uma classe de estrelas chamada variáveis Cefeidas e um tipo específico de explosão estelar de nome supernova do Tipo Ia.

Outro método para estimar o ritmo de expansão envolve a observação de quasares distantes cuja luz é dobrada pelo efeito gravitacional de uma galáxia em primeiro plano em várias imagens. Quando o quasar varia de brilho, a alteração aparece nas diferentes imagens em momentos diferentes. A medição desta diferença de tempo, juntamente com os cálculos da geometria da curvatura da luz, produz uma estimativa do ritmo de expansão.

As determinações da Constante de Hubble com base nas velas padrão e nos quasares que sofrem efeito de lente gravitacional produziram valores de 73-74 km/s/Mpc (quilômetros por segundo por megaparsec).

No entanto, as previsões da Constante de Hubble a partir do modelo cosmológico padrão, quando aplicadas a medições da radiação cósmica de fundo em micro-ondas - a radiação remanescente do Big Bang - produzem um valor de 67,4, uma diferença significativa e preocupante. Esta diferença, provavelmente está acima dos erros experimentais nas observações, tem sérias implicações para o modelo padrão.

O modelo é chamado Modelo Lambda-CDM (Cold Dark Matter), onde "Lambda" refere-se à constante cosmológica de Einstein e é uma representação da energia escura. O modelo divide a composição do Universo principalmente entre matéria comum, matéria escura e energia escura, e descreve como o Universo evoluiu desde o Big Bang.

O MCP concentra-se em galáxias com discos de gás molecular, contendo água, que orbitam buracos negros supermassivos nos seus centros. Se o disco em órbita for visto quase de lado, a partir da perspetiva da Terra, pontos brilhantes de emissão de rádio, chamados masers - análogos a lasers visíveis, mas no rádio -, podem ser usados para determinar o tamanho físico do disco e a sua extensão angular e, portanto, através da geometria, a sua distância. A equipe do projeto usa uma coleção mundial de radiotelescópios para fazer as medições de precisão necessárias para esta técnica.

No seu trabalho mais recente, a equipe refinou as suas medições de distância para quatro galáxias, a distâncias entre 168 milhões de anos-luz e 431 milhões de anos-luz. Combinadas com medições de distância anteriores de duas outras galáxias, os seus cálculos produziram um valor para a Constante de Hubble de 73,9 km/s/Mpc.

"Testar o modelo padrão da cosmologia é um problema realmente complexo, que requer as melhores medições da Constante de Hubble. A discrepância entre os valores previstos e medidos da Constante de Hubble aponta para um dos problemas mais fundamentais de toda a física, de modo que gostaríamos de ter várias medições independentes que corroboram o problema e testam o modelo. O nosso método é geométrico e completamente independente de todos os outros, e reforça a discrepância," disse Dom Pesce, pesquisador do Centro Harvard-Smithsonian para Astrofísica.

"O método de maser para a medição do ritmo de expansão do Universo é elegante e, ao contrário dos outros, baseia-se na geometria. Ao medir posições e dinâmicas extremamente precisas de pontos maser no disco de acreção em torno de um buraco negro distante, podemos determinar a distância à galáxia hospedeira e, em seguida, o ritmo de expansão. O nosso resultado desta técnica única reforça o argumento de um problema-chave na cosmologia observacional," disse Mark Reid, do Centro Harvard-Smithsonian para Astrofísica, membro da equipa do MCP.

"A nossa medição da Constante de Hubble está muito próxima de outras medições recentes e é estatisticamente muito diferente das previsões com base na radiação cósmica de fundo em micro-ondas e no modelo cosmológico padrão. Tudo indica que o modelo padrão precisa de revisão," disse Braatz.

Os astrônomos têm várias maneiras de ajustar o modelo para resolver a discrepância. Algumas incluem alterar pressupostos sobre a natureza da energia escura, afastando-se da constante cosmológica de Einstein. Outras analisam mudanças fundamentais na física de partículas, como por exemplo a mudança de números ou tipos de neutrinos ou as possibilidades de interações entre eles. Existem outras possibilidades, ainda mais exóticas.

"Este é um caso clássico de interação entre observação e teoria. O Modelo Lambda-CDM tem funcionado muito bem durante anos, mas agora as observações apontam claramente para um problema que precisa de ser resolvido, e parece que o problema está no modelo," conclui Pesce.

Os resultados foram relatados no periódico The Astrophysical Journal Letters.

Fonte: National Radio Astronomy Observatory

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Um achado brilhante

Visto aqui com detalhes incríveis, graças ao telescópio espacial Hubble, está a galáxia de explosão estelar formalmente conhecida como PLCK G045.1+61.1.


© Hubble (PLCK G045.1+61.1)

A galáxia aparece como vários pontos avermelhados perto do centro da imagem e está sendo ampliada através de lente gravitacional por um aglomerado de galáxias mais próximo que também é visível nessa imagem.

As lentes gravitacionais ocorrem quando uma grande distribuição de matéria, como um aglomerado de galáxias, fica entre a Terra e uma fonte de luz distante. Como o espaço é distorcido por objetos massivos, a luz do objeto distante se dobra à medida que viaja até nós. Esse efeito foi previsto pela teoria geral da relatividade de Einstein.

De 2009 a 2013, o observatório espacial Planck da Agência Espacial Europeia (ESA) efetuou várias análises em todo o céu. Durante essas pesquisas, com observações complementares do observatório espacial Herschel, o Planck descobriu algumas das galáxias mais brilhantes de alto desvio para o vermelho com lentes gravitacionais no céu noturno.

Foi durante o estudo dessas fontes selecionadas do Planck-Herschel usando o telescópio espacial Hubble que a luz estelar emitida por essa galáxia ultra brilhante foi encontrada.

Fonte: ESA

sexta-feira, 12 de junho de 2020

A pedra angular da Teoria da Relatividade Geral de Einstein

Uma colaboração internacional de cientistas registou a confirmação mais precisa, até agora, de uma das pedras angulares da Teoria da Relatividade Geral de Einstein, "a universalidade da queda livre".


© Guillaume Voisin (ilustração do pulsar com duas anãs brancas)

A nova pesquisa mostra que a teoria é válida para objetos fortemente autogravitantes, como estrelas de nêutrons. Usando um radiotelescópio, os cientistas podem observar com muita precisão o sinal produzido pelos pulsares, um tipo de estrela de nêutrons e testar a validade da teoria da gravidade de Einstein para estes objetos extremos. Em particular, a equipe analisou os sinais de um pulsar chamado PSR J0337+1715 registados pelo grande radiotelescópio de Nançay, localizado no coração de Sologne (França).

A universalidade do princípio de queda livre afirma que dois corpos ao caírem num campo gravitacional sofrem a mesma aceleração independentemente da sua composição. Isto foi demonstrado pela primeira vez por Galileu, que teria largado objetos de diferentes massas do topo da Torre de Pisa para verificar se ambos alcançavam o chão simultaneamente.

Este princípio também está no cerne da teoria da relatividade geral de Einstein. No entanto, algumas dicas, como a inconsistência entre a mecânica quântica e a relatividade geral, ou o enigma do domínio da matéria escura e da energia escura na composição do Universo, levaram muitos físicos a pensar que a relatividade geral pode não ser, afinal, a teoria final da gravidade.

As observações do Pulsar J0337+1715, que é uma estrela de nêutrons com um núcleo estelar que tem 1,44 vezes a massa do Sol e que colapsou numa esfera com apenas 25 km de diâmetro, mostra que orbita duas anãs brancas que são muito mais fracas em termos de campo gravitacional. As descobertas demonstram que a universalidade do princípio da queda livre está correta.

O Dr. Guillaume Voisin, da Universidade de Manchester, que liderou o estudo, disse: "O pulsar emite um feixe de ondas de rádio que varre o espaço. A cada volta, cria um flash de rádio que é registado com alta precisão pelo radiotelescópio de Nançay. À medida que o pulsar se move na sua órbita, o tempo de chegada da luz à Terra muda. É a medição precisa e a modelagem matemática, com uma precisão de nanossegundos, desses tempos de chegada, que permite aos cientistas inferir com precisão requintada o movimento da estrela de nêutrons.

"Acima de tudo, é a configuração única desse sistema, semelhante ao sistema Terra-Lua-Sol, com a presença de uma segunda companheira (desempenhando o papel do Sol) em direção à qual as duas outras estrelas orbitam, que permitiu executar uma versão estelar da famosa experiência de Galileu na Torre de Pisa. Dois corpos de composições diferentes caem com a mesma aceleração no campo gravitacional de um terceiro corpo."

As medições foram obtidas por uma equipe colaborativa da Universidade de Manchester, do Observatório de Paris, do CNRS Francês (Centre National de la Recherche Scientifique), do LPC2E (Laboratoire de Physique et de Chimie de l'Environnement et de l'Espace), e do Instituto Max Planck para Radioastronomia. O pulsar orbita duas anãs brancas, uma das quais orbita o pulsar em apenas 1,6 dias a uma distância cerca de 10 vezes inferior à distância Mercúrio-Sol. Esse sistema binário, um pouco como a Terra e a Lua no Sistema Solar, orbita uma terceira estrela, uma anã branca com 40% da massa do Sol, localizada pouco mais da distância que separa o sistema Terra-Lua do Sol.

No Sistema Solar, a Lunar-laser ranging experiment permitiu verificar que a Lua e a Terra são identicamente afetadas pelo campo de gravidade do Sol, conforme previsto pela universalidade da queda livre (o movimento orbital é uma forma de queda livre). No entanto, sabe-se que alguns desvios à universalidade podem ocorrer apenas para corpos fortemente autogravitantes, como estrelas de nêutrons, que são objetos cuja massa é composta significativamente da sua própria energia gravitacional graças à famosa relação E=mc² de Einstein. A nova experiência de pulsar realizada pela equipe preenche a lacuna deixada pelos testes do Sistema Solar, onde nenhum objeto é fortemente autogravitante, nem mesmo o Sol.

Demonstrou-se que o campo gravitacional extremo do pulsar não pode diferir em mais de 1,8 partes por milhão (com um nível de confiança de 95%) da previsão da relatividade geral. Esse resultado é a confirmação mais precisa de que a universalidade da queda livre é válida mesmo na presença de um objeto cuja massa é em grande parte devida ao seu próprio campo de gravidade, apoiando assim a Teoria da Relatividade Geral de Einstein.

As descobertas foram publicadas no periódico Astronomy & Astrophysics.

Fonte: Max Planck Institute for Radio Astronomy

quarta-feira, 10 de junho de 2020

Observando a desintegração de um exoplaneta?

Com observações iniciais em 2015, o Dispersed Matter Planet Project (DMPP) executou uma abordagem inovadora para a caça de exoplanetas que orbitam de perto suas estrelas hospedeiras.


© Mark Garlick (ilustração do sistema planetário DMPP-2)

Usando medições de velocidade radial de alta cadência e alta precisão, o projeto tem como alvo estrelas brilhantes próximas que mostram assinaturas de estar envolto em gás circunstelar quente. Ao procurar pequenas oscilações de velocidade radial no sinal da estrela, a equipe do DMPP espera detectar pequenos planetas que estão perdendo massa enquanto orbitam perto de seus anfitriões quentes.

Em dezembro de 2019, o DMPP anunciou suas primeiras descobertas: seis planetas orbitando em torno de três estrelas-alvo diferentes. Agora, em um novo estudo liderado pelo cientista Mark Jones (The Open University, Reino Unido), a equipe revisitou o primeiro desses sistemas, o DMPP-1, com fotometria de acompanhamento do Transiting Exoplanet Survey Satellite (TESS).

Curiosamente, os planetas detectados pela velocidade radial não são os únicos sinais desse sistema.

O DMPP-1 é uma estrela de 2 bilhões de anos localizada a pouco mais de 200 anos-luz de distância. As observações de velocidade radial desse sistema revelaram os rebocadores gravitacionais de quatro planetas todos orbitando com períodos inferiores a 19 dias. Os dados de velocidade radial sugerem que esse sistema provavelmente está próximo do limite e contém três super-Terras e um planeta semelhante a Netuno.

Jones e colaboradores começaram seu acompanhamento fotométrico pesquisando os dados do TESS em busca de evidências desses quatro planetas transitando pela face da estrela anfitriã. Curiosamente, eles não encontraram sinal de trânsitos nos períodos previstos, indicando que os quatro planetas de velocidade radial são menores que o esperado ou que o sistema não está totalmente no limite, afinal, para que os planetas não passem diretamente frente da estrela.

Os autores, no entanto, encontraram um novo sinal: uma fraca detecção de trânsito com um período de apenas ~ 3,3 dias. Este sinal não corresponde a nenhum dos planetas conhecidos de velocidade radial.

O que poderia ser essa detecção marginal? Suas profundidades de trânsito variáveis, período curto e tamanho aparente pequeno são consistentes com um exoplaneta catastroficamente desintegrador, ou seja, um planeta rochoso próximo e pequeno que é tão irradiado por seu hospedeiro que sua superfície rochosa está sendo sublimada. Com o passar do tempo, esse planeta acabará se desintegrando em nada.

Esse sinal de trânsito ainda precisa ser confirmado com observações fotométricas adicionais de acompanhamento. Supondo que seja uma verdadeira detecção, no entanto, um planeta rochoso em desintegração orbitando uma estrela brilhante próxima forneceria uma verdadeira mina de ouro de informações.

Explorando os sinais de trânsito do DMPP-1 com tecnologia futura como o telescópio espacial James Webb, será possível examinar a composição do material ablado, potencialmente revelando pistas sobre como os planetas internos rochosos e quentes se formam e evoluem.

Um artigo foi publicado no periódico The Astrophysical Journal Letters.

Fonte: Sky & Telescope

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Uma entre milhões de galáxias

Olhando profundamente no Universo, o telescópio espacial Hubble tem um vislumbre de passagem das inúmeras estruturas semelhantes a braços que varrem essa galáxia espiral barrada, conhecida como NGC 2608.


© Hubble/A. Riess (NGC 2608)

Aparecendo como uma versão menor e ligeiramente esticada de nossa Via Láctea, os braços espirais azuis e vermelhos apimentados são ancorados juntos pela proeminente barra central horizontal da galáxia.

Nas fotos do telescópio espacial Hubble, as estrelas brilhantes da Via Láctea às vezes aparecem como pontos de luz com reflexos de lentes proeminentes. Uma estrela com esses recursos é vista no canto inferior direito da imagem e outra pode ser vista logo acima do centro pálido da galáxia. A maioria dos pontos mais fracos em torno da galáxia NGC 2608 não possui esses recursos e, após uma inspeção mais detalhada, eles revelam ser milhares de galáxias distantes. A  NGC 2608 é apenas um dentre um número incontável de estruturas afins.

Extensões semelhantes de galáxias podem ser observadas em outras imagens do telescópio espacial Hubble, como o Hubble Deep Field, que registrou mais de 3.000 galáxias em um campo de visão.

Fonte: ESA

sábado, 6 de junho de 2020

Fonte de raios X desperta perto de uma galáxia não tão distante

Uma nova fonte ultravioleta de raios X despertou entre nossos vizinhos galácticos, as Nuvens de Magalhães, depois de 26 anos adormecida.


© NASA/JPL-Caltech (ilustração de um pulsar de raios X ultra luminoso)

Este é o segundo objeto mais próximo conhecido até hoje, com um brilho superior a um milhão de sóis.    O objeto, conhecido como RX J0209.6-7427, foi detectado pela primeira vez em 1993 durante uma explosão com a duração de 6 meses. Embora tenha sido inicialmente identificado como um binário de raio X de tipo Be, a sua verdadeira natureza permaneceu um mistério, já que se manteve em estado adormecido durante os 26 anos seguintes, voltando a brilhar em novembro do ano passado.

Uma equipe de cientistas indianos usou o AstroSat, o primeiro observatório espacial dedicado da Índia, para revelar a natureza extrema da fonte e detectou pela primeira vez pulsações de raios X no objeto. Isto permitiu classificar o objeto como um pulsar de raios X ultra luminoso (ULXP).

O pulsar está localizado na Ponte de Magalhães, um fluxo de gás e de estrelas que liga as nuvens de Magalhães (duas das galáxias mais próximas da Terra e que são dos objetos mais distantes visíveis a olho nu). A nova fonte de raios X é o segundo ULXP mais próximo, a seguir a um outro descoberto na Via Láctea em 2018, e é apenas o oitavo objeto deste tipo que se conhece.

As fontes de raios X ultra luminosas observam-se como pontos únicos no céu, mas têm um brilho que se pode comparar ao de uma galáxia. “Segundo a teoria convencional, para brilharem com tanta intensidade, os ULXPs devem ser discos de acreção brilhantes em torno de buracos negros”, disse Amar Deo Chandra, principal autor deste estudo. “No entanto, as recentes descobertas de pulsações nestes objetos sugerem que eles podem possuir estrelas de nêutrons no núcleo.”

Uma estrela de nêutrons é o remanescente de uma estrela morta que contém tanta matéria como o Sol, mas compactada num raio minúsculo de apenas 10 km. Calcula-se que a estrela de nêutrons deste objeto deva girar muito rapidamente, cerca de 100 vezes por segundo, emitindo pulsos de raios X energéticos a partir dos seus polos magnéticos, conduzindo-o a uma nova classificação de pulsar de raios X.

O grupo de astrônomos, do IISER Kolkata, do IUCAA Pune e do UM-DAE CEBS (Center for Excellence in Basic Sciences) de Mumbai, descobriu ainda que o pulsar pode até estar acelerando, disparando fulgurações de raios X. Considera-se que isto acontece quando a estrela de nêutrons captura material de uma estrela companheira, injetando energia no sistema e acelerando a rotação.    A escassez de fontes semelhantes torna essencial a detecção e o estudo de novos ULXPs.

“Este é apenas o oitavo ULXP detectado e o primeiro próximo das nuvens de Magalhães,” acrescenta Chandra. “Isto levanta a interessante possibilidade de uma fração significativa das fontes de raios X ultra luminosas poderem ser estrelas de nêutrons em acreção a taxas acima do limite de Eddington, e não buracos negros, como se pensava.”

A descoberta foi publicada no periódico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

Fonte: Royal Astronomical Society

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Hubble faz descoberta surpreendente no Universo primitivo

Novos resultados do telescópio espacial Hubble sugerem que a formação das primeiras estrelas e galáxias no início do Universo ocorreu mais cedo do que se pensava anteriormente.



© Hubble (aglomerado de galáxias MACSJ0416)

Não foram encontradas evidências da primeira geração de estrelas, conhecida como População III, até um momento no passado em que o Universo tinha apenas 500 milhões de anos.

A exploração das primeiras galáxias continua a ser um desafio significativo na astronomia moderna. Não sabemos quando ou como as primeiras estrelas e galáxias do Universo se formaram. Estas perguntas podem ser abordadas com o telescópio espacial Hubble através de observações profundas, que permite perscrutar o Universo até 500 milhões de anos após o Big Bang.

Uma equipe de pesquisadores europeus, liderada por Rachana Bhatawdekar da ESA, decidiu estudar a primeira geração de estrelas no início do Universo. Conhecidas como estrelas de População III (cujo nome surgiu porque os astrônomos já tinham classificado estrelas da Via Láctea como População I, estrelas como o Sol, ricas em elementos mais pesados, e População II, estrelas mais velhas com um conteúdo baixo de elementos pesados, encontradas no bojo e no halo da Via Láctea e em aglomerados globulares), estas estrelas foram forjadas a partir do material primordial que emergiu do Big Bang. As estrelas de População III devem ter sido formadas exclusivamente com hidrogênio, hélio e lítio, os únicos elementos que existiam antes dos processos nos núcleos destas estrelas produzirem elementos mais pesados, como oxigênio, nitrogênio, carbono e ferro.

Os astrônomos analisaram o Universo primitivo cerca de 500 milhões a um bilhão de anos após o Big Bang estudando o aglomerado de galáxias MACSJ0416 e o seu campo paralelo com o telescópio espacial Hubble, com dados de suporte do telescópio espacial Spitzer da NASA e do Very large Telescope (VLT) do ESO.

Isto foi alcançado usando o instrumento WFC3 (Wide Field Camera 3) e o instrumento ACS (Advanced Camera for Surveys) do telescópio espacial Hubble, como parte do programa Frontier Fields do Hubble. Este programa (que observou seis distantes aglomerados de galáxias de 2012 a 2017) produziu as observações mais profundas alguma vez feitas de aglomerados de galáxias e das galáxias localizadas atrás deles que foram ampliadas pelo efeito das lentes gravitacionais, revelando galáxias 10 a 100 vezes mais tênues do que as observadas anteriormente. As massas dos aglomerados de galáxias em primeiro plano são grandes o suficiente para curvar e ampliar a luz dos objetos mais distantes atrás deles. Isto permite que o telescópio espacial Hubble use estas lupas cósmicas para estudar objetos que estão localizados além das suas capacidades operacionais nominais.

Os astrônomos desenvolveram uma nova técnica que remove a luz das galáxias brilhantes em primeiro plano que constituem estas lentes gravitacionais. Isto permitiu-lhes descobrir galáxias com massas mais baixas do que as observadas anteriormente com o Hubble, a uma distância correspondente a quando o Universo tinha menos de um bilhão de anos. Neste instante cósmico, a falta de evidências para populações estelares exóticas e a identificação de muitas galáxias de baixa massa suporta a sugestão de que estas galáxias são os candidatos mais prováveis à reionização do Universo. Este período de reionização no início do Universo é quando o meio intergaláctico neutro foi ionizado pelas primeiras estrelas e galáxias.

"Estes resultados têm profundas consequências astrofísicas, pois mostram que as galáxias devem ter-se formado muito antes do que pensávamos," disse Bhatawdekar. "Isto também apoia fortemente a ideia de que galáxias de baixa massa/tênues no início do Universo são responsáveis pela ionização."

Estes resultados serão publicados no periódico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

Fonte: Space Telescope Science Institute