A nova imagem abaixo mostra a concentração de galáxias conhecida por Aglomerado da Fornalha, que se situa na constelação da Fornalha no hemisfério sul.
© ESO/VST (carta celeste com a localização do Aglomerado de Galáxias da Fornalha)
O aglomerado comporta uma quantidade de galáxias de todas as formas e tamanhos, algumas das quais escondem alguns segredos.
Galáxias parecem ser "sociais", gostando de se juntar em grupos grandes, a que chamamos aglomerados. Na realidade é a gravidade que mantém as galáxias unidas num aglomerado, como se de uma única identidade se tratassem, com a força gravitacional a ser exercida tanto por grandes quantidades de matéria escura invisível como por galáxias que podemos ver. Os aglomerados contêm entre cerca de 100 a 1.000 galáxias e podem ter dimensões que vão desde os 5 aos 30 milhões de anos-luz.
Os aglomerados de galáxias não têm formas claramente definidas, por isso é difícil determinar exatamente quando começam e quando acabam. No entanto, os astrônomos estimam que o centro do aglomerado da Fornalha se encontra numa região situada a 65 milhões de anos-luz de distância da Terra. O que sabemos com mais precisão é que este aglomerado contém quase 60 galáxias grandes e um número semelhante de galáxias anãs menores. Os aglomerados de galáxias como este são bastante comuns no Universo e ilustram bem a influência poderosa que a gravidade exerce ao longo de grandes distâncias, conseguindo juntar as massas enormes de galáxias individuais numa só região.
No centro deste aglomerado, no meio dos três glóbulos difusos brilhantes que podem ser vistos à esquerda da imagem, encontra-se uma galáxia cD (canibal galáctica). As galáxias cD como esta, chamada NGC 1399, parecem-se com galáxias elípticas mas são maiores e possuem envelopes extensos e tênues. Isto acontece porque se formaram ao “engolir” galáxias menores, trazidas para o centro do aglomerado pela força da gravidade. A imagem capta apenas as regiões centrais do Aglomerado da Fornalha, que na realidade se estende ao longo de uma maior região no céu. A galáxia central é geralmente a mais brilhante do aglomerado, mas neste caso a galáxia mais brilhante, NGC 1316, situa-se na periferia do agloemrado, fora da área coberta por esta imagem. Também conhecida por Fornax A, esta galáxia é uma das mais poderosas fontes de ondas de rádio no céu. As ondas de rádio, que podem ser observadas por radiotelescópios, sensíveis a este tipo de radiação, emanam de dois enormes lóbulos que se estendem até muito longe no espaço, de cada lado da galáxia visível. A energia que dá origem a esta emissão rádio vem de um buraco negro supermassivo que se encontra no centro da galáxia e que emite dois jatos opostos de partículas de alta energia. Estes jatos produzem ondas rádio quando atingem o gás rarefeito que ocupa o espaço entre as galáxias do aglomerado.
Há na realidade evidências deste processo estar ocorrendo bem na nossa frente. Um trabalho recente feito por uma equipe de astrônomos liderada por Enrichetta Iodice (INAF - Osservatorio di Capodimonte, Nápoles, Itália), que fez uso de dados do VST do ESO, revelou uma ponte de luz muito tênue entre NGC 1399 e a galáxia menor que se encontra à sua direita, NGC 1387. Esta ponte, que não tinha sido ainda observada (e é fraca demais para poder ser vista na imagem), é ligeiramente mais azul que qualquer das galáxias, indicando que é constituída por estrelas formadas a partir de gás retirado de NGC 1387 pela atração gravitacional de NGC 1399. Apesar de haver, de modo geral, poucas evidências de interação no aglomerado da Fornalha, parece que pelo menos a NGC 1399 ainda continua se abastecendo das suas vizinhas.
Em baixo à direita na imagem podemos ver uma enorme galáxia espiral barrada, NGC 1365, que se trata de um belo exemplar de galáxias deste tipo, com uma barra proeminente passando através do núcleo central e os braços espirais saindo das pontas da barra. Refletindo a natureza das galáxias do aglomerado, a NGC 1365 também é mais do que parece. Esta galáxia foi classificada como uma galáxia do tipo Seyfert, possuindo um núcleo ativo brilhante que contém um buraco negro supermassivo no seu interior.
Esta imagem foi obtida com o Telescópio de Rastreio do VLT (VST) montado no Observatório do Paranal do ESO no Chile. Com 2,6 metros de diâmetro, o VST não é de modo nenhum um telescópio grande pelos padrões atuais, no entanto foi concebido especificamente para fazer rastreios do céu a larga escala. O que o torna especial é o seu enorme campo de visão corrigido e a sua câmera de 256 megapixels, a OmegaCAM, que foi especialmente desenvolvida para mapear o céu. Com esta câmera, o VST consegue produzir imagens profundas de grandes áreas no céu muito rapidamente, deixando a exploração dos detalhes de objetos individuais para telescópios realmente grandes, como o Very Large Telescope do ESO (VLT).
Um artigo científico intitulado “The Fornax Deep Survey with VST. I. The extended and diffuse stellar halo of NGC1399 out to 192 kpc” foi publicado na revista especializada Astrophysical Journal.
Fonte: ESO
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