Um novo estudo estatístico de planetas encontrados através de microlente gravitacional sugere que os mundos com a massa de Netuno são provavelmente o tipo mais comum de planeta para se formar nos reinos exteriores dos sistemas planetários.
© NASA/Francis Reddy (ilustração de um exoplaneta com a massa de Netuno)
O estudo fornece a primeira indicação dos tipos de planetas à espera de ser encontrados longe de uma estrela hospedeira, onde os cientistas suspeitam que os planetas se formam de modo mais eficiente.
"Encontramos o aparente ponto ideal nos tamanhos de planetas frios. Ao contrário de algumas previsões teóricas, inferimos a partir das nossas detecções atuais que os mais numerosos têm massas parecidas com a de Netuno, e que não parece haver o aumento esperado no número a massas mais baixas," afirma Daisuke Suzuki, pesquisador de pós-doutorado do Goddard Space Flight Center e da Universidade de Maryland. "Nós concluímos que os planetas com a massa de Netuno nestas órbitas externas são cerca de dez vezes mais comuns do que os planetas com a massa de Júpiter em órbitas semelhantes à de Júpiter."
As microlentes gravitacionais tiram proveito dos efeitos de flexão da luz de objetos massivos previstos pela teoria geral da relatividade de Einstein. Ocorrem quando uma estrela de primeiro plano, a lente, alinha aleatoriamente com uma distante estrela de fundo, a fonte, a partir do ponto de vista da Terra. À medida que a estrela "lente" percorre a sua órbita em torno da Galáxia, o alinhamento muda ao longo de dias até semanas, alterando o brilho aparente da fonte. O padrão preciso dessas mudanças fornece pistas sobre a natureza da estrela da lente, incluindo quaisquer planetas que possa abrigar.
"Nós determinamos principalmente a massa do planeta em relação à estrela progenitora e sua separação," realça o astrofísico David Bennett, astrofísico do Goddard Space Flight Center. "Para cerca de 40% dos planetas de microlentes, podemos determinar a massa da estrela hospedeira e, portanto, a massa do planeta."
Foram descobertos mais de 50 exoplanetas usando microlentes, em comparação com os milhares detectados por outras técnicas, como a detecção do movimento ou diminuição do brilho de uma estrela provocada pela presença de planetas. Dado que os alinhamentos necessários entre as estrelas são raros e ocorrem aleatoriamente, os astrônomos precisam de monitorar milhões de estrelas em busca das mudanças de brilho que assinalam um evento de microlente.
No entanto, as microlentes possuem um grande potencial. Podem detectar planetas centenas de vezes mais distantes do que a maioria dos outros métodos, permitindo a investigação de uma ampla faixa da Via Láctea. A técnica pode localizar exoplanetas com massas menores e a maiores distâncias das suas estrelas hospedeiras e é sensível o suficiente para encontrar planetas flutuando sozinhos pela Via Láctea, sem ligação a estrelas.
As missões Kepler e K2 da NASA têm sido extraordinariamente bem-sucedidas a encontrar planetas que diminuem o brilho das suas estrelas, tendo até à data confirmado mais de 2.500 descobertas. Essa técnica é sensível a planetas mais íntimos, mas não a mais distantes. Os levantamentos de microlentes são complementares, são mais eficientes nas partes exteriores dos sistemas planetários com uma menor sensibilidade a planetas mais próximos das suas estrelas.
"A combinação das microlentes com outras técnicas fornece-nos uma visão geral mais clara do conteúdo planetário da nossa Galáxia," afirma o membro da equipe Takahiro Sumi da Universidade de Osaka, no Japão.
De 2007 a 2012, o grupo MOA (Microlensing Observations in Astrophysics), uma colaboração entre pesquisadores do Japão e da Nova Zelândia, emitiu 3.300 alertas informando a comunidade astronômica sobre eventos de microlentes em curso. A equipe de Suzuki identificou 1.474 eventos de microlentes bem observados, 22 deles mostrando sinais planetários claros. Isto inclui quatro planetas nunca antes divulgados.
Para estudar estes eventos em maior detalhe, a equipe inclui dados do outro grande projeto de microlentes que operava durante o mesmo período, o OGLE (Optical Gravitational Lensing Experiment), bem como observações adicionais de outros projetos.
A partir desta informação, os cientistas determinaram a frequência de planetas em comparação com a taxa da massa do planeta/massa da estrela, juntamente com as distâncias que os separam. Para uma típica estrela que abriga um planeta, com 60% da massa do Sol, o típico planeta de microlente é um mundo que tem entre 10 e 40 vezes a massa da Terra. Para comparação, Netuno no nosso próprio Sistema Solar, tem o equivalente a 17 Terras.
Os resultados implicam que os mundos frios com a massa de Netuno são provavelmente os tipos mais comuns de planetas além da chamada "linha de neve", o ponto onde a água permanece congelada durante a formação planetária. No Sistema Solar, pensa-se que a linha de neve estivesse localizada a cerca de 2,7 vezes a distância média entre a Terra e o Sol, colocando-a, hoje em dia, no meio d cinturão de asteroides.
"Para além da linha de neve, os materiais que seriam gasosos mais perto da estrela condensam-se em corpos sólidos, aumentando a quantidade de material disponível para iniciar o processo de construção planetária," acrescenta Suzuki. "É aqui que pensamos que a formação planetária seja mais eficiente e é também a região onde a técnica de microlentes é mais sensível."
O WFIRST (Wide Field Infrared Survey Telescope) da NASA, com lançamento previsto para meados da década de 2020, finalizará uma extensa pesquisa de microlentes. Espera-se que forneça determinações da massa e da distância para milhares de exoplanetas, completando o trabalho iniciado pelo Kepler e fornecendo o primeiro censo galáctico das propriedades planetárias.
O artigo que divulga estas descobertas foi publicado na revista The Astrophysical Journal.
Fonte: Goddard Space Flight Center
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