Usando um novo método e dados do telescópio espacial Gaia, astrônomos da Universidade de Toronto estimaram que a velocidade do Sol, à medida que orbita o centro da Via Láctea, é de aproximadamente 240 km/s. Por sua vez, usaram este resultado para calcular a distância do Sol até o centro da Galáxia.
© Michael Goh (Via Láctea e pináculos)
A imagem mostra em primeiro plano os Pináculos, que são raras formações rochosas presentes no Nambung National Park no oeste da Austrália. Os pináculos rochosos são constituídos de antigas conchas do mar. Ao fundo da imagem se apresenta a Lua crescente. O difuso brilho em volta da Lua é composto principalmente da luz zodiacal, criada pela reflexão dos raios solares nos grãos de poeira que orbitam o espaço interplanetário no Sistema Solar. Em um grande arco no topo da imagem vemos a faixa central da nossa Via Láctea.
Usando dados do telescópio espacial Gaia e do levantamento RAVE (RAdial Velocity Experiment), Jason Hunt e colegas determinaram as velocidades de mais de 200.000 estrelas em relação ao Sol. Hunt é membro do Instituto Dunlap para Astronomia e Astrofísica da Universidade de Toronto.
Os colaboradores encontraram uma distribuição pouco surpreendente de velocidades relativas: havia estrelas movendo-se mais lentamente, mais depressa e à mesma velocidade que o Sol.
Mas também encontraram uma escassez de estrelas com uma velocidade orbital galáctica aproximadamente 240 km/s inferior à do Sol. Os astrônomos concluíram que as estrelas em falta tinham sido estrelas com momento angular zero; isto é, que não orbitam a Galáxia como o Sol e as outras estrelas na Via Láctea.
"Estrelas com um momento angular muito próximo de zero teriam mergulhado em direção ao Centro Galáctico, onde seriam fortemente afetadas pelas forças gravitacionais extremas aí presentes," comenta Hunt. "Isto iria espalhá-las em órbitas caóticas levando-as muito acima do plano Galáctico e para longe da vizinhança Solar."
"Através da medição da velocidade com que as estrelas próximas giram em torno da Galáxia, em relação ao Sol, podemos observar uma falta de estrelas com uma velocidade relativa negativa específica. E como sabemos que este mergulho corresponde a 0 km/s, diz-nos, por sua vez, quão rapidamente nos estamos se movendo," realça Hunt.
Hunt e colegas combinaram esta descoberta com o movimento próprio do buraco negro supermassivo conhecido como Sagitário A* que fica no centro da Galáxia, para calcular a distância do Sol até este centro, obtendo o resultado de aproximadamente 7,9 kiloparsecs, ou quase 26.000 anos-luz.
O movimento próprio é o movimento de um objeto através do céu em relação a distantes objetos de fundo. Eles calcularam a distância da mesma maneira que um cartógrafo triangula a distância a um marco terrestre, observando-o de duas posições diferentes separadas por uma distância conhecida.
O método foi usado pela primeira vez por Hunt, o atual presidente do Departamento de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Toronto, o Prof. Ray Calberg, e pelo colaborador de Carlberg, o Prof. Kimmo Innanen. Mas o resultado a que Carlberg e Innanen chegaram teve por base menos de 400 estrelas.
O Gaia está criando um mapa dinâmico e tridimensional da Via Láctea medindo as distâncias, posições e movimentos próprios das estrelas. Hunt e colegas basearam o seu trabalho no primeiro conjunto de dados do Gaia, que incluiu centenas de milhares de estrelas. No final da sua missão de 5 anos, ela terá mapeado mais de bilhões de estrelas.
Os resultados da velocidade e distância não são significativamente mais precisos do que outras medições. Mas, segundo Hunt, "a divulgação final do Gaia, no final de 2017, deverá permitir-nos aumentar a precisão das nossas medições da velocidade do Sol até aproximadamente 1 km/s, o que por sua vez aumentará drasticamente a precisão da nossa medição da distância ao entro Galáctico."
Os resultados foram publicados na revista Astrophysical Journal Letters.
Fonte: Dunlap Institute for Astronomy & Astrophysics
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