Duas equipes de astrônomos utilizaram o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) instalado no Chile para detectar a molécula orgânica complexa prebiótica de isocianato de metila no sistema estelar múltiplo IRAS 16293-2422.
© ESO/DSS 2 (detectado isocianato de metilo em torno de estrelas jovens do tipo solar)
Em astroquímica, uma molécula orgânica complexa é definida como sendo constituída por seis ou mais átomos, sendo pelo menos um dos átomos de carbono. O isocianato de metila contém átomos de carbono, hidrogênio, nitrogênio e oxigênio na configuração química C2H3NO. Esta substância muito tóxica foi a causa principal das mortes em decorrência do trágico acidente industrial de Bhopal em 1984.
Uma das equipes foi liderada por Rafael Martín-Doménech, do Centro de Astrobiología de Madrid, Espanha, e por Víctor M. Rivilla, do INAF-Osservatorio Astrofisico di Arcetri, Florença, Itália, e a outra foi liderada por Niels Ligterink do Observatório de Leiden, Holanda e por Audrey Coutens do University College London, Reino Unido.
“Este sistema estelar não pára de nos surpreender! Depois da descoberta de moléculas de açúcar simples (glicoaldeído), descobrimos agora isocianato de metila. Esta família de moléculas orgânicas está ligada à síntese de peptídeos e aminoácidos, os quais formam, sob a forma de proteínas, a base biológica da vida tal como a conhecemos,” explicam Niels Ligterink e Audrey Coutens.
As capacidades do ALMA permitiram às duas equipes observar esta molécula ao longo do espectro rádio, a vários comprimentos de onda diferentes e bem característicos. As equipes descobriram as impressões digitais químicas únicas desta molécula nas regiões internas densas do casulo de gás e poeira que rodeia as estrelas jovens nas suas fases mais iniciais de evolução. Cada equipe identificou e isolou as assinaturas da molécula orgânica complexa de isocianato de metila. Em seguida, fizeram modelos químicos de computador e experiências em laboratório com o intuito de compreender ao máximo a maneira como esta molécula se forma.
O IRAS 16293-2422 é um sistema múltiplo de estrelas muito jovens situado a cerca de 400 anos-luz de distância na enorme região de formação estelar Rho Ophiuchi, na constelação do Ofiúco, ou Serpentário. Estes novos resultados do ALMA mostram que gás de isocianato de metila rodeia cada uma destas estrelas jovens.
A Terra e os outros planetas do nosso Sistema Solar formaram-se a partir de material que restou da formação do Sol. O estudo de protoestrelas do tipo solar pode, por isso, abrir aos astrônomos uma janela para o passado, permitindo-lhes observar condições semelhantes àquelas que levaram à formação do nosso Sistema Solar há cerca de 4,5 bilhões de anos atrás.
Rafael Martín-Doménech e Víctor M. Rivilla comentam: “Estamos particularmente entusiasmados com estes resultados porque estas protoestrelas são muito semelhantes ao Sol no início da sua vida, apresentando o tipo de condições propícias à formação de planetas do tamanho da Terra. Ao encontrarmos moléculas prebióticas, temos agora outra peça do quebra-cabeças que é compreender como é que a vida começou no nosso planeta.”
Niels Ligterink complementa: “Além de detectarmos moléculas, queremos também compreender como é que elas se formam. As nossas experiências laboratoriais mostram que o isocianato de metila pode efetivamente formar-se em partículas geladas sob condições de frio extremo, semelhantes às encontradas no espaço interestelar, o que implica que esta molécula, e por conseguinte, a base das ligações dos peptídeos, tem efetivamente uma grande probabilidade de estar presente próximo da maioria das estrelas jovens do tipo solar.”
Esta descoberta ajuda os astrônomos a entenderem melhor a origem da vida na Terra.
Dois artigos deste trabalho serão publicados na mesma edição da revista especializada Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.
Fonte: ESO
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