De forma inédita, uma equipe totalmente composta por cientistas brasileiros anunciou a descoberta de um novo planeta.
© OPAH (ilustração do planeta CoRoT ID 223977153-b)
A equipe de cientistas é formada por sete pesquisadores de instituições de diferentes regiões do Brasil: Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Universidade de São Paulo (USP), Observatório Nacional do Rio de Janeiro (ON) e Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Localizado na direção da constelação de Monoceros e distante cerca de 1.200 anos-luz (um ano-luz equivale a cerca de 9,5 trilhões de quilômetros), o planeta descoberto possui o tamanho aproximado de Saturno, mas com metade de sua massa. Trata-se de um corpo celeste gasoso, assim como Júpiter em nosso Sistema Solar. O planeta orbita uma estrela parecida com o Sol: sua massa é 8% maior, seu raio é 21% menor e sua temperatura, 200°C mais quente. As medidas indicam que a densidade do planeta é menor do que a densidade da água. Apenas para exemplificar, se existisse um oceano grande suficiente para conter o planeta, ele flutuaria. Entretanto mais observações são necessárias para confirmar a medida da densidade.
“A órbita do planeta é muito próxima da estrela. A distância entre eles é cinco vezes menor que a de Mercúrio ao Sol, o que o torna muito quente. Estimamos que a temperatura do planeta esteja em torno de 1.100°C e que possua ventos de milhares de quilômetros por hora”, explica o professor Marcelo Emilio (UEPG), orientador da tese de doutoramento de Rodrigo Carlos Boufleur, defendida no Observatório Nacional no último dia 28 de agosto, e que deu origem ao trabalho científico.
A técnica utilizada para encontrar o planeta é chamada “trânsito planetário”. É semelhante ao fenômeno dos trânsitos de Mercúrio e Vênus em frente ao nosso Sol. Observa-se a diminuição do brilho da estrela pelo fato do planeta ter passado em frente à estrela. Para fazer a medida foram analisadas observações feitas pelo satélite CoRoT (COnvection ROtation and planetary Transits). Este satélite foi construído e operado pela Agência Espacial Francesa, pela Agência Espacial Europeia e pelo Brasil. A confirmação da existência do planeta foi realizada utilizando a técnica de espectroscopia com um dos melhores instrumentos para este fim, chamado HARPS (High Accuracy Radial velocity Planet Searcher), localizado em La Silla, Chile.
Outros dois planetas do tamanho de Júpiter foram também encontrados no mesmo trabalho, e necessitam de mais observações para que se possa determinar melhor suas massas. A descoberta de novos mundos é um dos campos mais interessantes e promissores na área da astronomia. O número de planetas descobertos ainda é pequeno em relação ao que deve existir em nossa Galáxia. Mais descobertas são necessárias para entendermos como sistemas solares são formados. Seria o nosso Sistema Solar uma exceção? Em nosso Sistema Solar planetas gigantes e gasosos estão distantes do Sol. No entanto planetas gasosos são encontrados em grande número perto de suas estrelas progenitoras em outros sistemas.
Para o pesquisador Jorge Marcio Carvano, coordenador do Programa de Pós-Graduação do Observatório Nacional, a tese representa um grande avanço na astrofísica brasileira. "Este trabalho mostra o grau de maturidade da ciência brasileira. Os pesquisadores melhoraram algoritmos para tentar identificar planetas em outros sistemas. Isso é importante porque este processo pode ser usado em outros conjuntos de dados e com isso melhorar aspectos da identificação de exoplanetas, um tema muito importante nas pesquisas", explica Carvano.
O trabalho científico sobre o novo astro foi aceito na prestigiada revista britânica Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.
Fonte: Observatório Nacional
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