Uma nova técnica desenvolvida em parte pelo astrônomo Nader Haghighipour da Universidade do Havaí permitiu que os cientistas detectassem rapidamente um planeta em trânsito com dois sóis.
© PSI (ilustração do exoplaneta TIC 172900988b)
Denominados planetas circumbinários, estes objetos orbitam um par de estrelas. Durante anos, estes planetas foram meramente objeto de ficção científica, como Tatooine na saga "Guerra das Estrelas".
No entanto, graças ao sucesso das missões Kepler e TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite), uma equipe de astrônomos, incluindo Haghighipour, encontrou 14 destes corpos até agora. As missões Kepler e TESS detectam planetas por meio do método de trânsito, onde é possível medir a minúscula queda de brilho de uma estrela à medida que um planeta passa em frente, bloqueando parte da luz estelar. Normalmente, os astrônomos precisam de ver pelo menos três destes trânsitos para definir a órbita do planeta. Isto torna-se um desafio quando há duas estrelas hospedeiras.
A detecção de planetas circumbinários é muito mais complicada do que a de planetas em órbita de estrelas individuais. Quando um planeta orbita um sistema estelar duplo, os trânsitos da mesma estrela não ocorrem em intervalos consistentes. O planeta pode transitar uma estrela, e depois transitar a outra, antes de transitar pela primeira estrela novamente, e assim por diante.
Acrescentando ao desafio, os períodos orbitais dos planetas circumbinários são sempre muito mais longos do que o período orbital da estrela binária. Isso significa que, para observar três trânsitos, os cientistas precisam de observar o binário por muito tempo. Embora isso não tenha sido um problema com o telescópio espacial Kepler (este telescópio observou apenas uma região do céu durante 3,5 anos), torna-se complexo usar o telescópio TESS para detectar planetas circumbinários, porque o TESS observa uma porção do céu por apenas 27 dias antes de apontar para outro lugar, tornando impossível observar três trânsitos de um planeta com o TESS.
Em 2020, Haghighipour e a sua equipe encontraram uma maneira de contornar esta limitação. Uma nova técnica foi empregada para detectar planetas circumbinários usando o TESS, desde que o planeta transitasse ambas as estrelas hospedeiras dentro da janela de observação de 27 dias. Agora, eles encontraram efetivamente o primeiro planeta circumbinário nos dados do TESS, demonstrando que a técnica funciona.
O binário alvo é conhecido pela sua designação de catálogo TIC 172900988, e foi observado num único setor pelo TESS, onde a sua curva de luz mostrava sinais de dois trânsitos, um em cada estrela, separados por apenas cinco dias, durante a mesma conjunção.
A órbita deste planeta leva quase 200 dias, com o método de trânsito tradicional, é necessário esperar mais de um ano para detectar dois trânsitos adicionais. A nova técnica reduziu este tempo para apenas cinco dias, mostrando que, apesar da sua curta janela de observação, o TESS pode ser usado para detectar planetas circumbinários.
O exoplaneta TIC 172900988b é também muito grande, é um gigante gasoso do tamanho de Júpiter (Júpiter é aproximadamente 10 vezes maior do que a Terra em termos de diâmetro) e o planeta circumbinário mais massivo já descoberto até à data.
A descoberta do primeiro planeta circumbinário do TESS, usando esta nova técnica, foi publicada no periódico The Astronomical Journal.
Fonte: SETI Institute
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