Com o auxílio do Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO), os astrônomos caracterizaram um quasar brilhante, descobrindo que é não só o mais brilhante do seu tipo, mas também o objeto mais luminoso alguma vez observado.
© ESO (ilustração do quasar mais brilhante)
Os quasares são os núcleos brilhantes de galáxias distantes, alimentados por buracos negros supermassivos. O buraco negro deste quasar recordista está crescendo em massa o equivalente a um Sol por dia, o que faz dele o buraco negro com o crescimento mais rápido descoberto até à data.
Os buracos negros que alimentam os quasares retiram matéria do meio que os rodeia por um processo tão energético que faz com que o objeto emita enormes quantidades de luz. É por isso que os quasares são dos objetos mais brilhantes do nosso céu, sendo que mesmo os mais distantes são visíveis a partir da Terra. Regra geral, os quasares mais luminosos indicam os buracos negros supermassivos com o mais rápido crescimento.
O quasar, chamado J0529-4351, tem uma massa de 17 bilhões de sóis, chamado J0529-4351, está tão longe da Terra que a sua luz demorou mais de 12 bilhões de anos para chegar até nós. A matéria que está sendo puxada em direção ao buraco negro, sob a forma de um disco, emite tanta energia que faz com que o quasar seja mais de 500 trilhões de vezes mais luminoso do que o Sol. Toda essa luz vem de um disco de acreção quente que mede sete anos-luz de diâmetro (correspondem a cerca de 15.000 vezes a distância do Sol à órbita de Netuno); este deve ser o maior disco de acreção do Universo.
Há alguns anos, a NASA e a ESA (Agência Espacial Europeia) divulgaram uma notícia que dizia que o telescópio espacial Hubble tinha descoberto um quasar, J043947.08+163415.7, tão brilhante como 600 trilhões de sóis. No entanto, o brilho desse quasar estava sendo ampliado por uma lente gravitacional, na forma de uma galáxia localizada entre nós e o quasar longínquo. Estima-se que a luminosidade real de J043947.08+163415.7 seja equivalente a cerca de 11 trilhões de sóis.
O quasar aparecia já em imagens do ESO Schmidt Southern Sky Survey datadas de 1980, mas que só foi reconhecido como sendo um quasar décadas mais tarde. Encontrar quasares requer dados observacionais precisos de grandes áreas do céu. As bases de dados resultantes deste tipo de observações são tão extensas que os pesquisadores utilizam frequentemente modelos de aprendizagem de máquina para as analisar e distinguir os quasares de outros objetos celestes. No entanto, estes modelos são treinados com base em dados existentes, o que limita os potenciais candidatos a quasares a serem identificados como objetos semelhantes aos que já conhecemos. Se um novo quasar for mais luminoso do que qualquer outro anteriormente observado, o programa pode rejeitá-lo e classificá-lo simplesmente como sendo uma estrela próxima da Terra.
Uma análise dos dados do satélite Gaia, da ESA, rejeitou o J0529-4351 como sendo um quasar por este ser demasiado brilhante, sugerindo antes que se tratava de uma estrela. Os astrônomos identificaram-no como um quasar distante apenas o ano passado, utilizando observações do telescópio de 2,3 metros da Australian National University (ANU), instalado no Observatório de Siding Spring, na Austrália.
No entanto, para descobrir que se tratava do quasar mais luminoso alguma vez observado, foi necessário um telescópio maior e medições efetuadas por um instrumento mais preciso. O espectrógrafo X-shooter do VLT do ESO, situado no deserto chileno do Atacama, forneceu os dados cruciais. O buraco negro de crescimento mais rápido alguma vez observado será também um alvo perfeito para a atualização do GRAVITY+ montado no Interferômetro do VLT (VLTI) do ESO, que foi concebido para medir com precisão a massa dos buracos negros, incluindo os que se encontram a grande distância da Terra. Adicionalmente, o Extremely Large Telescope (ELT) do ESO, um telescópio de 39 metros em construção também no deserto chileno do Atacama, tornará ainda mais viável a identificação e caracterização destes objetos elusivos.
A descoberta e o estudo de buracos negros supermassivos distantes poderá esclarecer alguns dos mistérios do Universo primordial, incluindo a forma como estes e as suas galáxias hospedeiras se formaram e evoluíram.
Um artigo foi publicado na revista Nature Astronomy.
Fonte: ESO
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