sábado, 29 de março de 2025

Galáxia no nevoeiro misteriosamente limpo do Universo primitivo

Utilizando a sensibilidade única ao infravermelho do telescópio espacial James Webb, foi possível examinar galáxias antigas para sondar os segredos do Universo primitivo.

©  (localização da galáxia JADES-GS-z13-1)

Agora, astrônomos identificaram emissões brilhantes de hidrogênio de uma galáxia num período inesperadamente precoce da história do Universo. A descoberta surpreendente propõe o desafio: como é que esta luz pode ter atravessado a espessa névoa de hidrogênio neutro que preenchia o espaço nesse momento?

A extraordinária sensibilidade do Webb à luz infravermelha abre também novas vias de investigação sobre quando e como estas galáxias se formaram, e os seus efeitos no Universo na aurora cósmica. O Webb descobriu a galáxia incrivelmente distante JADES-GS-z13-1, observada apenas 330 milhões de anos após o Big Bang, em imagens obtidas pelo instrumento NIRCam (Near-Infrared Camera) do Webb no âmbito do programa JADES.

Os pesquisadores utilizaram o brilho da galáxia em diferentes filtros infravermelhos para estimar o seu desvio para o vermelho, que mede a distância de uma galáxia à Terra com base na forma como a sua luz foi esticada durante a sua viagem através do espaço em expansão. As imagens do NIRCam produziram uma estimativa de um desvio para o vermelho de 13. Isto equivale a uma galáxia vista apenas 330 milhões de anos após o Big Bang, uma pequena fração da idade atual do Universo, que é de 13,8  bilhões de anos.

Mas também se destacou uma característica inesperada: um comprimento de onda de luz específico e nitidamente brilhante, identificado como a emissão Lyman-α irradiada por átomos de hidrogênio, uma emissão muito mais forte nesta fase inicial do desenvolvimento do Universo. O Universo primitivo estava banhado por uma espessa névoa de hidrogênio neutro. A maior parte desta névoa foi levantada num processo chamado reionização, que se completou cerca de um bilhão de anos após o Big Bang.

Antes e durante a época da reionização, o imenso nevoeiro de hidrogênio neutro que rodeava as galáxias bloqueava qualquer luz ultravioleta energética que estas emitissem, tal como o efeito de filtragem de um vidro colorido. Até que um número suficiente de estrelas se formou e foi capaz de ionizar o gás hidrogênio, nenhuma luz, incluindo a emissão de Lyman-α, poderia escapar destas novas galáxias e chegar à Terra. A confirmação da radiação Lyman-α desta galáxia tem, portanto, grandes implicações para a nossa compreensão do Universo primitivo.

A fonte da radiação Lyman-α desta galáxia ainda não é conhecida, mas pode incluir a primeira luz da primeira geração de estrelas se formando no Universo. A grande bolha de hidrogênio ionizado que rodeia esta galáxia pode ter sido criada por uma população peculiar de estrelas, muito mais massivas, mais quentes e mais luminosas do que as estrelas formadas em épocas posteriores, e possivelmente representativa da primeira geração de estrelas. Outra possibilidade seria um poderoso núcleo galáctico ativo, impulsionado por um dos primeiros buracos negros supermassivo.

A equipe planeja continuar as observações da GS-z13-1, com o objetivo de obter mais informações sobre a natureza desta galáxia e sobre a origem da sua forte radiação Lyman-α.

Um artigo foi publicado na revista Nature.

Fonte: University of Cambridge

As auroras de Netuno foram captadas pela primeira vez

Pela primeira vez, o telescópio espacial James Webb captou uma brilhante atividade auroral em Netuno.

© NASA (aurora em Netuno)

As auroras ocorrem quando partículas energéticas, muitas vezes provenientes do Sol, ficam presas no campo magnético de um planeta e eventualmente atingem a atmosfera superior. A energia liberada durante estas colisões cria o brilho característico.

No passado, os astrônomos viram indícios tentadores de atividade auroral em Netuno, por exemplo, na passagem da Voyager 2 da NASA em 1989. No entanto, a obtenção de imagens e a confirmação das auroras em Netuno há muito que escapavam aos astrônomos, apesar das detecções bem-sucedidas em Júpiter, Saturno e Urano.

Para além da imagem do planeta, foi obtido um espectro para caracterizar a composição e a temperatura da atmosfera superior do planeta (a ionosfera). Pela primeira vez, foi encontrado uma linha de emissão extremamente proeminente que significa a presença do cátion trihidrogênio (H3+), que pode ser criado nas auroras. Nas imagens de Netuno pelo Webb, a aurora brilhante aparece como manchas representadas em ciano. O H3+ tem sido um sinal claro de atividade auroral em todos os gigantes gasosos: Júpiter, Saturno, Urano e agora em Netuno.

A atividade auroral observada em Netuno é também visivelmente diferente da que estamos habituados a ver aqui na Terra, ou mesmo em Júpiter ou Saturno. Em vez de estarem confinadas aos polos norte e sul do planeta, as auroras de Netuno estão localizadas nas latitudes médias geográficas do planeta, como se fosse a localização da América do Sul na Terra. Isto deve-se à estranha natureza do campo magnético de Netuno, originalmente descoberto pela Voyager 2 em 1989, que está inclinado 47 graus em relação ao eixo de rotação do planeta.

Uma vez que a atividade auroral se baseia onde os campos magnéticos convergem para a atmosfera do planeta, as auroras de Netuno estão longe dos seus polos de rotação. A detecção pioneira das auroras de Netuno vai ajudar-nos a compreender como o campo magnético de Netuno interage com as partículas que fluem do Sol para os confins distantes do nosso Sistema Solar, uma janela totalmente nova na ciência atmosférica dos gigantes gelados.

A partir das observações do Webb, foi medida a temperatura do topo da atmosfera de Netuno pela primeira vez desde o sobrevoo da Voyager 2. Os resultados sugerem a razão pela qual as auroras de Netuno permaneceram escondidas durante tanto tempo. A atmosfera superior de Netuno arrefeceu várias centenas de graus. Ao longo dos anos, os astrônomos têm previsto a intensidade das auroras de Netuno com base na temperatura registrada pela Voyager 2. Uma temperatura substancialmente mais fria resultaria em auroras muito mais fracas. Esta temperatura fria é provavelmente a razão pela qual as auroras de Netuno não foram detectadas durante tanto tempo. O arrefecimento dramático também sugere que esta região da atmosfera pode sofrer grandes alterações, apesar de o planeta se situar 30 vezes mais longe do Sol do que a Terra.

Os astrônomos esperam agora estudar Netuno com o Webb durante um ciclo solar completo, um período de 11 anos de atividade impulsionado pelo campo magnético do Sol. Os resultados poderão fornecer informações sobre a origem do bizarro campo magnético de Netuno e até explicar porque é que está tão inclinado.

Um artigo foi publicado na revista Nature Astronomy

Fonte: Space Telescope Science Institute

quarta-feira, 26 de março de 2025

Revelados novos pormenores das erupções de Proxima Centauri

A pouco mais de quatro anos-luz, Proxima Centauri é a estrela que está mais perto do nosso Sol, conhecida por ser uma anã M muito ativa.

© NRAO (ilustração de uma erupção estelar na estrela Proxima Centauri)

As suas erupções são bem conhecidas dos astrônomos que utilizam comprimentos de onda visíveis da luz. No entanto, um novo estudo utilizando observações com o ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array) realça a atividade extrema desta estrela em comprimentos de onda rádio e no milimétrico, oferecendo informações excitantes sobre a natureza destas erupções, bem como sobre os potenciais impactos na habitabilidade dos seus planetas terrestres da zona habitável.

Conhecida por abrigar um planeta potencialmente habitável, a estrela exibe uma grande atividade no visível. Tal como as erupções do nosso Sol, estes surtos liberam energia em todo o espectro eletromagnético e partículas energéticas estelares. Dependendo da energia e da frequência destas erupções, os planetas na zona habitável podem tornar-se inabitáveis, uma vez que as erupções retiram às atmosferas planetárias ingredientes necessários, como o ozônio e a água.

Os astrônomos utilizaram dados de arquivo e novas observações do ALMA para estudar a atividade dos surtos nos comprimentos de onda milimétricos de Proxima Centauri. O pequeno tamanho da estrela e o seu forte campo magnético indicam que toda a sua estrutura interna é convectiva (ao contrário do Sol, que tem camadas convectivas e não convectivas), o que torna a estrela muito mais ativa. Os seus campos magnéticos ficam torcidos, desenvolvem tensão e acabam por se romper, enviando fluxos energéticos e partículas para o exterior naquilo que é observado como erupções.

A atividade do nosso Sol não remove a atmosfera da Terra e, em vez disso, provoca belas auroras porque temos uma atmosfera espessa e um forte campo magnético para proteger o nosso planeta. Mas as erupções de Proxima Centauri são muito mais poderosas e sabemos que tem planetas rochosos na zona habitável.

O que é que estas erupções estão fazendo às suas atmosferas? Haverá um fluxo tão grande de radiação e partículas que a atmosfera está sendo quimicamente modificada, ou talvez completamente destruída?

Esta pesquisa representa o primeiro estudo multicomprimento de onda que utiliza observações milimétricas para desvendar um novo olhar sobre a física das erupções. Combinando 50 horas de observações do ALMA, utilizando tanto o conjunto completo de 12 metros como o ACA (Atacama Compact Array) de 7 metros, foi registado um total de 463 eventos eruptivos com energias entre 1.024 e 1.027 erg, e com uma duração breve entre 3 e 16 segundos.

A equipe caracterizou a chamada distribuição de frequência das erupções da estrela para mapear o número de surtos em função da sua energia. Tipicamente, a inclinação desta distribuição tende a seguir uma função de lei de potência: as erupções menores (menos energéticas) ocorrem com mais frequência, enquanto as maiores e mais energéticas ocorrem com menos regularidade.

A Proxima Centauri tem tantas erupções que foram detectadas muitas dentro de cada intervalo de energia. Além disso, foi quantificada a assimetria das erupções mais energéticas da estrela, descrevendo como a fase de decaimento dos surtos era muito mais longa do que a fase inicial da explosão. As observações no rádio e nos comprimentos de onda milimétricos ajudam a determinar as energias associadas a estas explosões e às partículas.

Um artigo foi publicado no periódico The Astrophysical Journal.

Fonte: National Radio Astronomy Observatory

Um alinhamento casual na constelação Lupus

A imagem obtida pelo telescópio espacial Hubble mostra a impressionante galáxia espiral NGC 5530.

© Hubble (NGC 5530)

A NGC 5530 está situada a 40 milhões de anos-luz de distância na constelação de Lupus (O Lobo). Esta galáxia é classificada como uma espiral "floculenta", o que significa que seus braços espirais são irregulares e indistintos.

Enquanto algumas galáxias têm centros extraordinariamente brilhantes onde hospedam um buraco negro supermassivo, a fonte brilhante perto do centro da NGC 5530 não é um buraco negro ativo, mas sim uma estrela dentro da nossa própria galáxia, a apenas 10 mil anos-luz da Terra. Este alinhamento casual dá a aparência de que a estrela está no coração denso da NGC 5530.

Se você tivesse apontado um telescópio caseiro para a NGC 5530 na noite de 13 de setembro de 2007, teria visto outro ponto brilhante de luz adornando a galáxia. Naquela noite, o astrônomo amador australiano Robert Evans descobriu uma supernova, chamada SN 2007IT, comparando a aparência da NGC 5530 através do telescópio a uma foto de referência da galáxia. Embora seja notável descobrir até mesmo uma supernova usando esse método meticuloso, Evans de fato descobriu mais de 40 supernovas dessa forma!

Essa descoberta em particular foi realmente fortuita: é provável que a luz da supernova tenha completado sua jornada de 40 milhões de anos até a Terra poucos dias antes da explosão ser descoberta.

Fonte: ESA

domingo, 23 de março de 2025

Descoberto oxigênio na galáxia mais distante conhecida

Duas equipes diferentes de astrônomos detectaram oxigênio na galáxia mais distante conhecida, a JADES-GS-z14-0.

© ESO (ilustração da galáxia JADES-GS-z14-0)

A descoberta, descrita em dois estudos separados, foi possível graças ao Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), do Observatório Europeu do Sul (ESO).

Esta detecção recorde faz com que os astrônomos tenham que repensar sobre quão rápido é que as galáxias se formaram no Universo primordial. Descoberta no ano passado, a JADES-GS-z14-0 é a galáxia mais distante confirmada alguma vez observada: está tão longe da Terra que a sua luz demorou 13,4 bilhões de anos a chegar até nós, o que significa que a vemos tal como era quando o Universo tinha menos de 300 milhões de anos, o que corresponde a cerca de 2% da sua idade atual.

A nova detecção de oxigênio efetuada com o auxílio do ALMA, uma rede de telescópios instalada no deserto chileno do Atacama, sugere que esta galáxia é quimicamente muito mais madura do que se esperava. Os resultados mostram que esta galáxia se formou muito rapidamente, estando também evoluindo muito depressa, o que a coloca num conjunto cada vez maior de provas de que a formação de galáxias no Universo primordial ocorreu muito mais depressa do que esperávamos.

As galáxias começam normalmente as suas vidas repletas de estrelas jovens, as quais são principalmente constituídas por elementos leves como o hidrogênio e o hélio. À medida que as estrelas evoluem, são formados no seu interior elementos mais pesados como o oxigênio, que acabam dispersos pela galáxia quando as estrelas morrem.

Os pesquisadores pensavam que, com 300 milhões de anos, o Universo era ainda demasiado jovem para ter galáxias repletas de elementos pesados. No entanto, os dois estudos realizados com o ALMA indicam que a galáxia JADES-GS-z14-0 tem cerca de 10 vezes mais elementos pesados do que o esperado.

A prova de que uma galáxia está já bastante madura num Universo ainda muito primordial levanta questões sobre quando e como é que as galáxias se formaram. A detecção de oxigênio também permitiu aos astrónomos fazer medições da distância à JADES-GS-z14-0 com muito mais precisão. Esta detecção do ALMA dá-nos uma medição extraordinariamente precisa da distância a que esta galáxia se encontra, com uma incerteza de apenas 0,005 %. Este nível de precisão, que corresponde a uma exatidão de 5 cm numa distância de 1 km, ajuda-nos a compreender melhor as propriedades das galáxias distantes.

Os astrônomos utilizam uma medida conhecida como desvio para o vermelho para determinar a distância a que se encontram objetos extremamente distantes. Medições anteriores indicavam que a galáxia JADES-GS-z-14-0 tinha um desvio para o vermelho entre 14,12 e 14,4. Agora, com estas detecções de oxigênio, ambas as equipes apontam para uma distância correspondente a um desvio para o vermelho de cerca de 14,18.

Este trabalho foi apresentado em dois artigos científicos que foram publicados no periódico The Astrophysical Journal.

Fonte: ESO

Gases podem esconder sinais de vida extraterrestre

Cientistas identificaram uma nova e promissora forma de detectar vida em planetas longínquos, dependendo de mundos que não se parecem nada com a Terra e em gases raramente considerados na procura por extraterrestres.

© NASA (ilustração de exoplaneta com sinais de vida)

Pesquisadores da Universidade da Califórnia, Riverside (UCR), descrevem estes gases, que poderão ser detectados nas atmosferas de exoplanetas com o telescópio espacial James Webb. 

Os gases são compostos por um grupo metilo, chamados haletos de metilo, que tem um átomo de carbono e três de hidrogênio, ligado a um átomo do grupo dos halogêneos, como o cloro ou o bromo. São produzidos na Terra principalmente por bactérias, algas marinhas, fungos e algumas plantas. 

Um aspecto fundamental da procura por haletos de metilo é que os exoplanetas semelhantes à Terra são demasiado pequenos e tênues para serem vistos com o Webb, o maior telescópio atualmente no espaço. Ao invés, o Webb teria de procurar exoplanetas maiores que orbitassem pequenas estrelas vermelhas, com oceanos globais profundos e atmosferas espessas de hidrogênio, chamados planetas Hiceanos. Os seres humanos não poderiam respirar ou sobreviver nestes mundos, mas certos micróbios anaeróbicos poderiam prosperar nestes ambientes. 

Ao contrário de um planeta semelhante à Terra, onde o ruído atmosférico e as limitações do telescópio tornam difícil a detecção de bioassinaturas, os planetas Hiceanos fornecem um sinal muito mais claro. Os pesquisadores pensam que a procura de haletos de metilo em mundos Hiceanos é uma estratégia ótima para o momento atual.

O oxigênio é atualmente difícil ou impossível de detectar num planeta semelhante à Terra. No entanto, os haletos de metilo nos mundos Hiceanos fornecem uma oportunidade única de detecção com a tecnologia existente. Encontrar estes gases pode ser mais fácil do que procurar outros tipos de bioassinaturas, gases indicativos de vida. Uma das grandes vantagens da procura por haletos de metilo é o fato de poderem ser encontrados em apenas 13 horas com o Webb. 

Embora as formas de vida produzam haletos de metilo na Terra, o gás encontra-se em baixas concentrações na nossa atmosfera. Uma vez que os planetas Hiceanos têm uma composição atmosférica tão diferente e orbitam um outro tipo de estrela, os gases podem acumular-se nas suas atmosferas e ser detectáveis a anos-luz de distância.

O estudo baseia-se em pesquisas anteriores que estudaram diferentes bioassinaturas, incluindo o dimetilsulfureto, outro potencial sinal de vida. No entanto, os haletos de metilo parecem particularmente promissores devido às suas fortes características de absorção no infravermelho, bem como ao seu potencial para uma elevada acumulação numa atmosfera dominada pelo hidrogênio. 

No futuro, os pesquisadores planejam expandir este trabalho para outros tipos de planetas e outros gases. Por exemplo, efetuaram medições de gases provenientes do Lago Salton, nos EUA, que parece produzir gases halogenados como o clorofórmio.

Um artigo foi publicado no periódico The Astrophysical Journal Letters.

Fonte: University of California

Uma super-Terra na zona habitável de uma anã vermelha próxima

Astrônomos detectaram uma super-Terra orbitando na zona habitável de GJ 3998, uma anã vermelha próxima situada a 59 anos-luz de distância.

© IAC (ilustração do exoplaneta GJ 3998 d e sua estrela hospedeira)

O novo planeta, chamado GJ 3998 d, é o terceiro encontrado no sistema. O planeta recentemente descoberto possui uma massa 6 vezes superior à da Terra e completa uma órbita a cada 41,8 dias. A esta distância, GJ 3998 d recebe apenas mais 20% de irradiação estelar do que a que a Terra recebe do Sol. GJ 3998 é significativamente menor e mais fria do que o Sol, o que faz com que a zona habitável se aproxime da estrela. Embora seja certamente diferente da Terra, se o planeta for rochoso, pode ser capaz de abrigar água líquida na sua superfície.

A proximidade deste sistema ao Sol faz de GJ 3998 d um candidato atrativo para a caracterização atmosférica. Deverá ser possível verificar a presença de uma atmosfera e sondar a presença de oxigênio usando o futuro espectrógrafo ANDES do ELT (Extremely Large Telescope) do ESO. O exoplaneta GJ 3998 d seria também um bom alvo para o futuro telescópio ELF (Exo Life Finder) de 50 metros, liderado pelo IAC (Instituto de Astrofísica de Canarias), que procurará bioassinaturas em atmosferas exoplanetárias.

A descoberta faz parte do programa HADES, um esforço internacional para explorar sistemas planetários em torno de anãs vermelhas através do TNG (Telescopio Nazionale Galileo) no Observatório Roque de los Muchachos, em La Palma.

As anãs vermelhas são estrelas menores e mais frias do que o Sol, e constituem quase três-quartos da população estelar da nossa Galáxia. As suas baixas massas e abundância tornam-nas alvos privilegiados na procura de planetas de baixa massa. A GJ 3998, uma dessas anãs vermelhas, tem sido atrativa para a comunidade devido à sua proximidade e à sua atividade estelar bastante moderada. Usando o espetrógrafo HARPS-N do TNG, foi possível detectar pequenas oscilações no movimento da estrela, causadas pela atração gravitacional de planetas em órbita.

Um estudo anterior, realizado em 2016, já tinha detectado dois planetas. A presença de um sinal adicional nos dados motivou a continuação das observações e a reanálise do conjunto de dados. Com três planetas conhecidos agora detectados no sistema, GJ 3998 destaca mais uma vez como os sistemas multiplanetários são comuns.

Um artigo foi publicado no periódico Astronomy & Astrophysics

Fonte: Instituto de Astrofísica de Canarias