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sexta-feira, 2 de maio de 2025

Nova investigação derruba antigas ideias sobre o asteroide Vesta

Durante décadas, os cientistas pensaram que Vesta, um dos maiores objetos do cinturão de asteroides do nosso Sistema Solar, não era apenas um asteroide.

© NASA / Dawn (asteroide Vesta)

Concluíram que Vesta tem uma crosta, um manto e um núcleo, propriedades fundamentais de um planeta. Os astrônomos estudaram-no em busca de pistas sobre o crescimento inicial dos planetas e sobre o aspecto que a Terra poderia ter tido na sua infância. 

Agora, cientistas contribuíram que inverte esta noção. Uma equipa liderada pelo JPL (Jet Propulsion Laboratory) da NASA revela que a estrutura interior de Vesta é mais uniforme do que se pensava. Antes, era assumido que Vesta era um protoplaneta que nunca se tornou num planeta completo.

Qual é a verdadeira identidade de Vesta? Os cientistas  apresentam duas hipóteses que precisam de ser mais exploradas. A primeira possibilidade é que Vesta tenha passado por uma diferenciação incompleta, o que significa que iniciou o processo de fusão necessário para dar ao asteroide camadas distintas, como um núcleo, um manto e uma crosta, mas nunca o terminou. A segunda é uma teoria apresentada numa conferência de astronomia há alguns anos, onde Vesta é um pedaço partido de um planeta em crescimento no nosso Sistema Solar. 

A maioria dos asteroides é feita de um material condrítico muito antigo, parecendo um cascalho sedimentar cósmico. Em contraste, a superfície de Vesta está coberta de rochas basálticas vulcânicas. Estas rochas indicaram aos cientistas que Vesta passou por um processo de fusão chamado diferenciação planetária, em que o metal se afunda para o centro e forma um núcleo.

A NASA lançou a nave espacial Dawn em 2007 para estudar Vesta e Ceres, os dois maiores objetos do cinturão de asteroides. O objetivo era compreender melhor a formação dos planetas. A Dawn passou meses, entre 2011 e 2012, em órbita de Vesta, medindo o seu campo gravitacional e captando imagens de alta resolução para criar um mapa muito pormenorizado da sua superfície. Depois de realizar tarefas semelhantes em Ceres, a missão terminou em 2018 e os cientistas publicaram os resultados obtidos a partir dos dados.

Os cientistas planetários podem estimar a dimensão do núcleo de um corpo celeste medindo o momento de inércia, que descreve a dificuldade de alterar a rotação de um objeto em torno de um eixo. Isso pode ser comparado a um patinador girando no gelo. O patinador altera a sua velocidade puxando os braços para dentro para acelerar e movendo-os para fora para abrandar. O seu momento de inércia é alterado pela mudança de posição dos braços. Da mesma forma, um objeto no espaço com um núcleo maior é como um patinador com os braços puxados para dentro. 

Os corpos celestes com um núcleo denso movem-se de forma diferente de um sem núcleo. Munidos deste conhecimento, os pesquisadores mediram a rotação e o campo gravitacional de Vesta. Os resultados mostraram que Vesta não se comportava como um objeto com um núcleo, desafiando as ideias anteriores sobre a sua formação. 

Nenhuma das hipóteses foi suficientemente explorada para excluir qualquer uma delas, mas ambas têm problemas que requerem mais análise para serem explicados. Embora a diferenciação incompleta seja possível, não está de acordo com os meteoritos que foram recolhidos ao longo do tempo.

A explicação alternativa baseia-se na ideia de que, à medida que os planetas terrestres se foram formando, ocorreram grandes colisões, na sua maioria fazendo crescer os planetas, mas também gerando detritos de impacto. Os materiais ejetados dessas colisões incluiriam rochas resultantes da fusão e, tal como Vesta, não teriam um núcleo.

Os cientistas podem ajustar a forma como estudam os meteoritos de Vesta para aprofundar qualquer uma das hipóteses. Podem também fazer mais estudos com as novas abordagens aos dados da missão Dawn. Poderá mudar para sempre a forma como os cientistas olham para os mundos diferenciados.

Um artigo foi publicado na revista Nature Astronomy.

Fonte: Michigan State University

sábado, 26 de abril de 2025

Lucy fotografa o asteroide Donaldjohanson

No seu segundo encontro com um asteroide, a sonda espacial Lucy da NASA conseguiu observar de perto um fragmento de um asteroide com um aspecto único, formado há cerca de 150 milhões de anos.

© NASA / Lucy (asteroide Donaldjohanson)

O asteroide Donaldjohanson visto pelo instrumento L'LORRI (Long-Range Reconnaissance Imager) da sonda Lucy durante o seu sobrevoo. Este pequeno vídeo mostra imagens captadas aproximadamente a cada 2 segundos, quando a sonda espacial começou a transmitir imagens que foram recolhidas do asteroide Donaldjohanson no passado dia 20 de abril. O asteroide gira muito lentamente; a sua rotação aparente aqui deve-se ao movimento da nave espacial enquanto passa por Donaldjohanson a uma distância de 1.600 a 1.100 km. A maior aproximação foi 960 km, mas as imagens aqui mostradas foram obtidas cerca de 40 segundos antes, as mais próximas a uma distância de 1.100 km.

O asteroide foi anteriormente observado como tendo grandes variações de brilho ao longo de um período de 10 dias, pelo que algumas das expectativas dos membros da equipe da Lucy foram confirmadas quando as primeiras imagens mostraram o que parecia ser um binário de contato alongado (um objeto formado quando dois corpos menores colidem). No entanto, a equipe ficou surpreendida com a forma estranha do pescoço estreito que liga os dois lóbulos, que se assemelha a dois cones de sorvete aninhados.

A partir de uma análise preliminar das primeiras imagens disponíveis obtidas pelo instrumento L'LORRI da nave espacial, o asteroide parece ser maior do que o inicialmente estimado, com cerca de 8 km de comprimento e 3,5 km de largura no ponto mais largo. Neste primeiro conjunto de imagens de alta resolução transmitidas pela sonda espacial, não é visível o asteroide por completo, uma vez que é maior do que o campo de visão da câmara. A equipa demorará mais alguns dias para receber os restantes dados do encontro; este conjunto de dados vai fornecer uma imagem mais completa da forma geral do asteroide.

Tal como o primeiro sobrevoo da Lucy, por Dinkinesh, Donaldjohanson não é um alvo científico primário da missão. Como planejado, a passagem por Dinkinesh foi um teste dos sistemas da missão, enquanto que este sobrevoo foi um ensaio geral, no qual a equipe realizou uma série de observações densas para maximizar o recolhimento de dados. Os dados recolhidos pelos outros instrumentos científicos da Lucy, a câmara a cores e o espectrômetro infravermelho, chamado L'Ralph, e o espectrômetro térmico, chamado L'TES (Thermal Emission Spectrometer), serão recebidos e analisados nas próximas semanas.

A sonda Lucy passará a maior parte do que resta de 2025 viajando pelo cinturão principal de asteroides. Irá encontrar o primeiro alvo principal da missão, o asteroide troiano de Júpiter Euríbates, em agosto de 2027. O potencial para realmente abrir uma nova janela para a história do nosso Sistema Solar quando a Lucy chegar aos asteroides troianos é imenso.

Fonte: NASA

sábado, 12 de abril de 2025

Os segredos de asteroide próximo da Terra

O asteroide 2024 YR4, um objeto próximo da Terra com cerca de 60 metros de diâmetro, tem sido alvo de estudos astronômicos recentes devido ao seu potencial risco de impacto e às suas características físicas únicas.

© NOIRLab (asteroide 2024 YR4 passando próximo da Lua e da Terra)

Inicialmente, havia alguma preocupação devido a uma possível colisão com a Terra em 2032; no entanto, observações atualizadas excluíram efetivamente esta ameaça. Porém, continua existindo uma probabilidade de 3,8% de o asteroide embater na Lua no dia 22 de dezembro de 2032. 

Observações com o telescópio Gemini South, no Chile, revelaram que 2024 YR4 tem uma forma incomum, achatada, semelhante a um disco de hóquei. Isto distingue-o das formas esféricas ou alongadas mais comuns de outros asteroides. O asteroide 2024 YR4 gira rapidamente, completando uma rotação aproximadamente a cada 20 minutos. A análise espectral indica que é rico em materiais de silicato, sugerindo que é originário do cinturão principal de asteroides entre Marte e Júpiter.

Observações complementares pelo telescópio espacial James Webb forneceram informações adicionais sobre as propriedades de 2024 YR4. Recorrendo ao instrumento NIRCam (Near-Infrared Camera) e ao instrumento MIRI (Mid-Infrared Instrument), os cientistas mediram as emissões térmicas do asteroide para determinar o seu tamanho e as características da sua superfície. Os dados sugerem que a superfície do asteroide não tem grãos finos, sendo possivelmente constituído por rochas maiores, o que, combinado com a sua rápida rotação, afeta o seu comportamento térmico. 

Embora o potencial impacto lunar de 2024 YR4 não represente uma ameaça direta para a Terra, poderá ser uma oportunidade científica única. Um impacto na Lua poderia fornecer dados valiosos sobre a formação de crateras e os efeitos de tais colisões na geologia lunar.

Os astrônomos planejam continuar monitorando o asteroide durante as suas aproximações, que ocorrem de quatro em quatro anos, para aperfeiçoar as previsões da trajetória e melhorar a nossa compreensão de objetos semelhantes próximos da Terra.

Um artigo foi publicado no periódico Research Notes of the American Astronomical Society.

Fonte: National Optical-Infrared Astronomy Research Laboratory

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

O impacto do asteroide 2024 YR4 é excluído quase por completo

Novas observações do asteroide 2024 YR4 efetuadas com o Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO) e com outras infraestruturas do mundo inteiro excluíram quase por completo a possibilidade de um impacto deste asteroide com o nosso planeta.

© ESO / VLT (asteroide 2024 YR4)

O 2024 YR4 tem sido monitorado de perto nos últimos meses, uma vez que a sua probabilidade de colidir com a Terra em 2032 aumentou para cerca de 3%, o que corresponde à maior probabilidade de impacto alguma vez calculada para um asteroide de grandes dimensões. Após estas últimas observações, a probabilidade de impacto desceu para 0,28%. Com isso, o objeto celeste passou a ser classificado na categoria 1 da Escala de Torino, indicando baixo risco.

A Escala de Torino é uma ferramenta usada para avaliar o risco de impacto de pequenos corpos na Terra, variando de 0 a 10, onde 0 indica nenhuma chance de colisão ou impacto insignificante, e 10 representa uma colisão certa, com potencial para causar uma catástrofe global.

O asteroide 2024 YR4, que se estima ter cerca de 40 a 90 metros de diâmetro, foi descoberto no final de Dezembro do ano passado numa órbita que o poderia fazer colidir com a Terra a 22 de Dezembro de 2032. Devido ao seu tamanho e probabilidade de impacto, o asteroide subiu rapidamente para o topo da lista de risco da Agência Espacial Europeia (ESA), um catálogo de todas as rochas espaciais que têm qualquer hipótese de impactar com a Terra.

Um asteroide na faixa menor (40 a 60 metros) poderia causar uma explosão atmosférica, quebrando janelas e causando pequenos danos estruturais em áreas urbanas. Já um asteroide maior (até 90 metros) poderia causar danos mais graves, como o colapso de estruturas residenciais e danos em áreas maiores. Se o impacto ocorrer sobre o oceano, é improvável que cause um tsunami significativo. A última vez que um asteroide com mais de 30 metros de tamanho representou um risco tão significativo foi o Apophis, em 2004, quando teve uma chance de 2,7% de atingir a Terra em 2029. Mas a possibilidade foi descartada posteriormente por observações adicionais.

Em meados de Janeiro, e com o auxílio do VLT do ESO, os astrônomos observaram o asteroide 2024 YR4 e obtiveram dados cruciais para calcular com maior precisão a sua órbita. Em combinação com dados de outros observatórios, as medições muito precisas do VLT melhoraram o nosso conhecimento da órbita do asteroide, levando a uma probabilidade de impacto superior a 1%, um limiar fundamental para desencadear a mitigação de desastres.

Foram feitas mais observações e a Rede Internacional de Alerta de Asteroides emitiu uma notificação de potencial impacto do asteroide, alertando os grupos de defesa planetária, incluindo o Grupo Consultivo de Planejamento de Missões Espaciais, para o possível impacto. Com vários telescópios em todo o mundo observando o asteroide e com a modelagem da sua órbita, a probabilidade de impacto subiu para cerca de 3% em 18 de Fevereiro, a maior probabilidade de impacto alguma vez registada para um asteroide com mais de 30 metros.

No entanto, logo no dia seguinte, novas observações efetuadas com o VLT do ESO reduziram o risco de impacto para metade. Esta subida e descida da probabilidade de impacto do asteroide segue um padrão que é esperado e compreendido. Para saberem onde estará o asteroide em 2032, os astrônomos extrapolam a partir da pequena parte da órbita medida até agora.

As novas observações do VLT, juntamente com dados de outros observatórios, permitiram aos astrônomos restringir a órbita o suficiente para excluir a possibilidade de um impacto com a Terra em 2032. No momento, a probabilidade de impacto comunicada pelo Centro de Coordenação de Objetos Próximos da Terra da ESA é de cerca de 0,002% e o asteroide já não está no topo da lista de risco da ESA.

À medida que o 2024 YR4 se afasta da Terra, torna-se cada vez mais tênue e difícil de observar com todos os telescópios, exceto os maiores. O VLT do ESO tem sido fundamental nas observações deste asteroide, devido ao tamanho do seu espelho e à sua grande sensibilidade, bem como ao excelente céu escuro do Observatório do Paranal no Chile, onde o telescópio está localizado. Isto torna-o ideal para seguir objetos tênues como o 2024 YR4 e outros asteroides potencialmente perigosos.

Infelizmente, os céus escuros e límpidos do Paranal, que tornaram possíveis estas medições cruciais, estão atualmente ameaçados pelo megaprojeto industrial INNA da AES Andes, uma subsidiária da empresa americana de energia AES Corporation. O projeto poderá cobrir uma área semelhante à de uma pequena cidade e localizar-se, no ponto mais próximo, a cerca de 11 km do VLT. Devido à sua dimensão e proximidade, o INNA teria efeitos devastadores na qualidade do céu do Paranal, especialmente devido à poluição luminosa das suas instalações industriais.

Com um céu mais brilhante, telescópios como o VLT perderão a sua capacidade de detectar alguns dos alvos cósmicos mais tênues, o que faria uma enorme diferença na capacidade de prever um impacto e preparar medidas de mitigação para proteger a Terra.

No Brasil, o Observatório Nacional (ON) lidera as pesquisas nesta área com o Projeto IMPACTON (Iniciativa de Mapeamento e Pesquisa de Asteroides nas Cercanias da Terra no Observatório Nacional). O projeto foi criado pelo grupo de Ciências Planetárias com o intuito de inserir o Brasil nas pesquisas científicas relacionadas aos pequenos corpos do Sistema Solar. Para isto, foi construído o Observatório Astronômico do Sertão de Itaparica (OASI), localizado em Itacuruba, Pernambuco, que conta com um telescópio com espelho de um metro de diâmetro, o segundo maior instalado em solo brasileiro.

Fonte: ON e ESO

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Um híbrido único entre asteroide e cometa

Embora o nosso Sistema Solar tenha bilhões de anos, só recentemente  conhecemos melhor um dos seus habitantes mais dinâmicos e cativantes, conhecido como (2060) Quíron.

© W. G. Sierra (ilustração do centauro ativo Quíron)

Quíron pertence à classe de objetos chamada "Centauros". Os centauros são objetos espaciais que orbitam o Sol entre Júpiter e Netuno. São semelhantes à criatura mitológica que lhes dá o nome, na medida em que são híbridos, possuindo características tanto de asteroides como de cometas. 

Utilizando o telescópio espacial James Webb, cientistas da UCF (University of Central Florida) lideraram recentemente uma equipe que descobriu, pela primeira vez, que Quíron tem uma química de superfície diferente da dos outros centauros. A sua superfície tem gelo de dióxido de carbono e de monóxido de carbono, bem como dióxido de carbono e metano na sua coma (cabeleira), o invólucro de poeira e gás que o rodeia. 

As observações estão a criando conhecimentos fundamentais para compreender a formação do nosso Sistema Solar, uma vez que estes objetos permaneceram praticamente inalterados desde a formação do Sistema Solar.  Uma vez que Quíron possui características de asteroide e de cometa, é um bom local para estudar muitos processos que podem ajudar a compreendê-los. 

 O que é único acerca de Quíron é o fato de ser possível observar tanto a superfície, onde se encontra a maior parte dos gelos, como a coma, onde estão os gases que têm origem na superfície ou logo abaixo dela. Os objetos transnetunianos não têm este tipo de atividade porque estão muito longe e são muito frios. Os asteroides não têm este tipo de atividade porque não têm gelo. Os cometas, por outro lado, mostram atividade como os centauros, mas são normalmente observados mais perto do Sol e as suas comas são tão espessas que complicam a interpretação das observações dos gelos à superfície. 

Descobrir quais os gases que fazem parte da coma e as suas diferentes relações com os gelos à superfície ajuda-nos a conhecer as propriedades físicas e químicas, tais como a espessura e a porosidade da camada de gelo, a sua composição e a forma como a irradiação a afeta. Os astrônomos analisaram o gás metano da coma e determinaram que o fluxo detectado era consistente com a sua origem numa área de superfície que estava exposta ao maior aquecimento do Sol. 

Quíron, descoberto pela primeira vez em 1977, está muito melhor caracterizado do que a maioria dos centauros. Ele é originário da região dos objetos transnetunianos e tem viajado em torno do Sistema Solar desde a sua formação. A informação recentemente analisada ajuda os cientistas a compreender melhor o processo termofísico que está decorrendo em Quíron e que produz gás metano. Tem períodos em que se comporta como um cometa, tem anéis de material ao seu redor e potencialmente um campo de detritos de pequenas poeiras ou material rochoso orbitando à sua volta. Assim, surgem muitas questões acerca das propriedades de Quíron que permitem estes comportamentos únicos. O estudo também destacou a presença de subprodutos irradiados de metano, monóxido de carbono e dióxido de carbono, que exigirão mais análise. 

As órbitas de Quíron e de muitos outros objetos não planetários de grandes dimensões sofrem ocasionalmente encontros próximos com um dos planetas gigantes, onde a atração gravitacional do planeta altera a órbita do objeto menor, levando-o por todo o Sistema Solar e expondo-o a muitos ambientes diferentes. Sabe-se que foi ejetado da população de objetos transnetunianos e só agora está a transitar pela região dos planetas gigantes, onde não permanecerá por muito tempo. Após cerca de 1 milhão de anos, centauros como Quíron são tipicamente ejetados da região dos planetas gigantes, onde podem terminar as suas vidas como cometas da família de Júpiter ou podem regressar à região dos objetos transnetunianos.

Nota-se a multiplicidade de gelos de Quíron com diferentes volatilidades e os seus processos de formação. Alguns destes gelos, como o metano, o dióxido de carbono e a água, podem ser componentes primordiais de Quíron, herdados da nebulosa pré-solar. Outros, como o acetileno, o propano, o etano e o óxido de carbono, podem ter-se formado à superfície devido a processos de redução e oxidação.

Quíron vai aproximar-se da Terra onde propiciará melhores leituras sobre as quantidades e a natureza dos gelos, silicatos e material orgânico, possibilitando compreender melhor como as variações sazonais da insolação e os diferentes padrões de iluminação podem afetar o seu comportamento e o seu reservatório de gelo.

Os resultados foram recentemente publicados no periódico Astronomy & Astrophysics.

Fonte: University of Central Florida

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Descobertos os menores asteroides no cinturão principal

Estima-se que o asteroide que levou à extinção dos dinossauros tinha cerca de 10 quilômetros de diâmetro.

© MIT (pequenos asteroides do cinturão principal)

A imagem mostra o telescópio espacial James Webb revelando, no infravermelho, uma população de pequenos asteroides do cinturão principal.

Prevê-se que um objeto tão massivo atinja a Terra raramente, uma vez em cada 100 milhões a 500 milhões de anos. Em contraste, asteroides muito menores, do tamanho de um carro, podem atingir a Terra com maior frequência, de poucos em poucos anos. 

Estes asteroides decamétricos, com apenas dezenas de metros de diâmetro, têm maior probabilidade de escapar do cinturão principal de asteroides e migrar para se tornarem objetos próximos da Terra. Em caso de impacto, estas pequenas mas poderosas rochas espaciais podem provocar ondas de choque em regiões inteiras, como foi o caso do impacto de 1908 em Tunguska, na Sibéria, e do asteroide de 2013 que se fragmentou no céu sobre Chelyabinsk, nos Urais. 

A possibilidade de observar asteroides decamétricos do cinturão principal forneceria uma janela para a origem dos meteoritos. Agora, uma equipe internacional liderada por físicos do MIT (Massachusetts Institute of Technology) descobriu uma forma de detectar asteroides decamétricos no cinturão principal, um campo de destroços entre Marte e Júpiter onde orbitam milhões de asteroides. 

Até agora, os asteroides menores que os cientistas conseguiam distinguir tinham cerca de um quilômetro de diâmetro. Com a nova abordagem, os cientistas podem agora detectar asteroides com apenas 10 metros de diâmetro. Foram detectados mais de 100 novos asteroides decamétricos no cinturão principal. 

O novo estudo utilizou dados do observatório mais poderoso do mundo, o telescópio espacial James Webb da NASA, que é particularmente sensível ao infravermelho em vez da luz visível. Acontece que os asteroides que orbitam no cinturão principal são muito mais brilhantes nos comprimentos de onda infravermelhos do que nos comprimentos de onda visíveis. Após o processamento das imagens, os pesquisadores conseguiram detectar oito asteroides conhecidos no cinturão principal. Depois, foram mais longe e descobriram 138 novos asteroides nesta região, todos com dezenas de metros de diâmetro, os menores asteroides do cinturão principal detectados até à data. Suspeita-se que alguns asteroides estão a caminho de se tornarem objetos próximos da Terra, enquanto um é provavelmente um troiano, ou seja, um asteroide que segue Júpiter.

Um artigo foi publicado na revista Nature.

Fonte: Massachusetts Institute of Technology

sábado, 14 de dezembro de 2024

Um cinturão de asteroides inesperadamente lotado

Astrônomos descobriram uma população inesperadamente grande de pequenos asteroides do cinturão principal graças a uma nova análise de imagens do telescópio espacial James Webb.

© NASA / JPL-Caltech (ilustração do cinturão de asteroides)

A descoberta pode mudar os cálculos da taxa de impacto na Terra de tais corpos, que variam do tamanho de uma casa ao tamanho de um estádio. Esses são de longe os menores objetos já fotografados tão longe. Artem Burdanov, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), e colegas aplicaram um método de deslocamento e empilhamento computacionalmente intensivo às imagens de arquivo do Webb. A partir dos detectores infravermelhos sensíveis do telescópio, a equipe foi capaz de determinar com precisão os tamanhos de pequenos objetos, variando de cerca de 10 a 500 metros de diâmetro. 

Asteroides maiores do cinturão principal, cujas órbitas estão entre as de Marte e Júpiter, tendem a permanecer em órbitas relativamente estáveis. No entanto, as interações gravitacionais perturbam com mais frequência os menores, que podem entrar no Sistema Solar interno para se tornarem potenciais impactadores. O alto número de pequenos objetos agora encontrados no cinturão principal, pelo menos cinco vezes mais do que o esperado, pode afetar os cálculos da frequência de tais impactos. 

A abordagem de processamento de deslocamento e empilhamento é usada por astrônomos profissionais e amadores para fornecer imagens de objetos tênues e em movimento rápido, como asteroides e cometas. Neste caso, os astrônomos usaram esse método com asteroides. 

Normalmente, a ideia é mover o telescópio precisamente na direção e na taxa de movimento de um objeto com uma órbita conhecida. Cada quadro mantém o alvo no centro, enquanto as estrelas de fundo se movem de quadro para quadro. Assim, mesmo que uma imagem individual não capture o objeto, dezenas ou mesmo centenas de quadros podem ser adicionados juntos, permitindo que o objeto emerja do ruído de fundo aleatório que muda de quadro para quadro. Mas o processo geralmente depende do conhecimento da órbita. 

E se você não souber? É aí que entra o aproveitamento de muito poder de processamento. A equipe minerou um arquivo de imagens do Webb que foram coletadas para um propósito diferente: estudar os planetas ao redor da estrela próxima TRAPPIST-1. Como essas imagens envolviam olhar para o mesmo pequeno pedaço do céu por longos períodos de até 8 horas, elas também se mostraram úteis para encontrar objetos em movimento, como asteroides. 

Para descobrir asteroides em órbitas desconhecidas, foi usado essencialmente um método de força bruta, mudando em todas as direções possíveis e faixas de velocidade razoáveis para potenciais alvos em movimento, e então empilhando essas imagens. A busca cega inicial produziu mais de 1.000 candidatos, onde foram destacados 138 asteroides até então desconhecidos, bem como oito conhecidos.

O Webb é particularmente bom em encontrar asteroides, porque eles são muito mais brilhantes em comprimentos de onda infravermelhos. Os astrônomos restringiram seus diâmetros a 10 a 20%, enquanto estimativas de tamanho baseadas em observações de luz visível podem variar em mais de uma ordem de magnitude. Isso ocorre porque a luz visível vem do reflexo da luz solar de um asteroide e, portanto, de quão escura é sua superfície, uma qualidade que pode variar muito de objeto para objeto. A luz infravermelha, por outro lado, resulta principalmente da emissão térmica, que não mudará muito para um determinado objeto. Medições infravermelhas também poderiam fornecer o formato dos objetos, já que quaisquer variações no brilho seriam devidas à forma, e não a variações na refletividade da superfície. No entanto, as observações iniciais examinadas foram muito curtas para fornecer tais informações.

Encontrar tantos asteroides pequenos por acaso, a partir de um conjunto de observações de uma estrela tiradas para um propósito diferente, abre a perspectiva de minerar muito mais de outros conjuntos de dados semelhantes.

Um artigo foi publicado na revista Nature.

Fonte: Sky & Telescope