Novas observações do asteroide 2024 YR4 efetuadas com o Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO) e com outras infraestruturas do mundo inteiro excluíram quase por completo a possibilidade de um impacto deste asteroide com o nosso planeta.
© ESO / VLT (asteroide 2024 YR4)
O 2024 YR4 tem sido monitorado de perto nos últimos meses, uma vez que a sua probabilidade de colidir com a Terra em 2032 aumentou para cerca de 3%, o que corresponde à maior probabilidade de impacto alguma vez calculada para um asteroide de grandes dimensões. Após estas últimas observações, a probabilidade de impacto desceu para 0,28%. Com isso, o objeto celeste passou a ser classificado na categoria 1 da Escala de Torino, indicando baixo risco.
A Escala de Torino é uma ferramenta usada para avaliar o risco de impacto de pequenos corpos na Terra, variando de 0 a 10, onde 0 indica nenhuma chance de colisão ou impacto insignificante, e 10 representa uma colisão certa, com potencial para causar uma catástrofe global.
O asteroide 2024 YR4, que se estima ter cerca de 40 a 90 metros de diâmetro, foi descoberto no final de Dezembro do ano passado numa órbita que o poderia fazer colidir com a Terra a 22 de Dezembro de 2032. Devido ao seu tamanho e probabilidade de impacto, o asteroide subiu rapidamente para o topo da lista de risco da Agência Espacial Europeia (ESA), um catálogo de todas as rochas espaciais que têm qualquer hipótese de impactar com a Terra.
Um asteroide na faixa menor (40 a 60 metros) poderia causar uma explosão atmosférica, quebrando janelas e causando pequenos danos estruturais em áreas urbanas. Já um asteroide maior (até 90 metros) poderia causar danos mais graves, como o colapso de estruturas residenciais e danos em áreas maiores. Se o impacto ocorrer sobre o oceano, é improvável que cause um tsunami significativo. A última vez que um asteroide com mais de 30 metros de tamanho representou um risco tão significativo foi o Apophis, em 2004, quando teve uma chance de 2,7% de atingir a Terra em 2029. Mas a possibilidade foi descartada posteriormente por observações adicionais.
Em meados de Janeiro, e com o auxílio do VLT do ESO, os astrônomos observaram o asteroide 2024 YR4 e obtiveram dados cruciais para calcular com maior precisão a sua órbita. Em combinação com dados de outros observatórios, as medições muito precisas do VLT melhoraram o nosso conhecimento da órbita do asteroide, levando a uma probabilidade de impacto superior a 1%, um limiar fundamental para desencadear a mitigação de desastres.
Foram feitas mais observações e a Rede Internacional de Alerta de Asteroides emitiu uma notificação de potencial impacto do asteroide, alertando os grupos de defesa planetária, incluindo o Grupo Consultivo de Planejamento de Missões Espaciais, para o possível impacto. Com vários telescópios em todo o mundo observando o asteroide e com a modelagem da sua órbita, a probabilidade de impacto subiu para cerca de 3% em 18 de Fevereiro, a maior probabilidade de impacto alguma vez registada para um asteroide com mais de 30 metros.
No entanto, logo no dia seguinte, novas observações efetuadas com o VLT do ESO reduziram o risco de impacto para metade. Esta subida e descida da probabilidade de impacto do asteroide segue um padrão que é esperado e compreendido. Para saberem onde estará o asteroide em 2032, os astrônomos extrapolam a partir da pequena parte da órbita medida até agora.
As novas observações do VLT, juntamente com dados de outros observatórios, permitiram aos astrônomos restringir a órbita o suficiente para excluir a possibilidade de um impacto com a Terra em 2032. No momento, a probabilidade de impacto comunicada pelo Centro de Coordenação de Objetos Próximos da Terra da ESA é de cerca de 0,002% e o asteroide já não está no topo da lista de risco da ESA.
À medida que o 2024 YR4 se afasta da Terra, torna-se cada vez mais tênue e difícil de observar com todos os telescópios, exceto os maiores. O VLT do ESO tem sido fundamental nas observações deste asteroide, devido ao tamanho do seu espelho e à sua grande sensibilidade, bem como ao excelente céu escuro do Observatório do Paranal no Chile, onde o telescópio está localizado. Isto torna-o ideal para seguir objetos tênues como o 2024 YR4 e outros asteroides potencialmente perigosos.
Infelizmente, os céus escuros e límpidos do Paranal, que tornaram possíveis estas medições cruciais, estão atualmente ameaçados pelo megaprojeto industrial INNA da AES Andes, uma subsidiária da empresa americana de energia AES Corporation. O projeto poderá cobrir uma área semelhante à de uma pequena cidade e localizar-se, no ponto mais próximo, a cerca de 11 km do VLT. Devido à sua dimensão e proximidade, o INNA teria efeitos devastadores na qualidade do céu do Paranal, especialmente devido à poluição luminosa das suas instalações industriais.
Com um céu mais brilhante, telescópios como o VLT perderão a sua capacidade de detectar alguns dos alvos cósmicos mais tênues, o que faria uma enorme diferença na capacidade de prever um impacto e preparar medidas de mitigação para proteger a Terra.
No Brasil, o Observatório Nacional (ON) lidera as pesquisas nesta área com o Projeto IMPACTON (Iniciativa de Mapeamento e Pesquisa de Asteroides nas Cercanias da Terra no Observatório Nacional). O projeto foi criado pelo grupo de Ciências Planetárias com o intuito de inserir o Brasil nas pesquisas científicas relacionadas aos pequenos corpos do Sistema Solar. Para isto, foi construído o Observatório Astronômico do Sertão de Itaparica (OASI), localizado em Itacuruba, Pernambuco, que conta com um telescópio com espelho de um metro de diâmetro, o segundo maior instalado em solo brasileiro.
Fonte: ON e ESO
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