Mostrando postagens com marcador Cometas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Cometas. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

ALMA e Rosetta detectam freon-40 no espaço

Observações realizadas com o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) e a missão Rosetta da ESA, revelaram a presença do haloalcano freon-40 no gás ao redor de uma estrela recém-formada e também de um cometa.

ALMA and Rosetta Detect Freon-40 in Space

© NASA/JPL-Caltech/NRAO/B. Saxton (freon-40 no gás de protoestrela)

Os haloalcanos formam-se por processos orgânicos na Terra, mas esta é a primeira vez que são detectados no espaço interestelar. Esta descoberta sugere que os haloalcanos possam não ser tão bons marcadores de vida como se pensava, mas sim componentes significativos do material que forma os planetas. Este resultado sublinha o desafio de encontrar moléculas que possam indicar a presença de vida fora da Terra.

Uma equipe de astrônomos encontrou traços do componente químico freon-40 (CH3Cl), também conhecido por cloreto de metila ou clorometano, em torno tanto da protoestrela IRAS 16293-2422, um sistema estelar binário rodeado por uma nuvem molecular na região de formação estelar Rho Ophiuchi, situado a cerca de 400 anos-luz de distância da Terra, como do famoso cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko no nosso Sistema Solar. Trata-se da primeira detecção de um haloalcano no espaço interestelar.

Os haloalcanos consistem em halógenos, tais como o cloro e o flúor, ligados ao carbono e às vezes a outros elementos. Na Terra, estes componentes são criados por processos biológicos em organismos que vão desde os humanos aos fungos, assim como por processos industriais, tais como a produção de tintas e medicamentos. O freon foi muito usado como gás de refrigeração, mas atualmente encontra-se banido uma vez que tem um poder destrutivo sobre a camada protetora de ozônio da Terra.

A descoberta de um destes compostos, o freon-40 ou solvente R-40, em locais onde ainda não existe vida, pode ser vista como desapontante, uma vez que trabalhos anteriores sugeriam que estas moléculas poderiam indicar a presença de vida.

“Encontrar o haloalcano freon-40 próximo destas estrelas jovens do tipo solar foi surpreendente,” disse Edith Fayolle, uma pesquisadora do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics. “Não tínhamos simplesmente previsto a sua formação e ficamos surpresos por encontrar este composto em concentrações tão significativas. É agora claro que estas moléculas se formam prontamente em maternidades estelares, dando-nos pistas importantes sobre a evolução química dos sistemas planetários, incluindo o nosso.”

O trabalho de investigação relativo aos exoplanetas já avançou para além da descoberta de planetas, atualmente já são conhecidos mais de 3.000 exoplanetas, para a procura de marcadores químicos que poderão indicar a presença de potencial vida. Neste contexto, um passo vital é determinar quais as moléculas que poderão indicar a presença de vida, no entanto estabelecer marcadores viáveis permanece um processo complicado.

“A descoberta de haloalcanos no meio interestelar ajuda-nos também a descobrir as condições de partida da química orgânica nos planetas. Tal química é um passo importante na descoberta da origem da vida,” acrescenta Karin Öberg, uma das co-autora deste estudo. “Com base na nossa descoberta, os haloalcanos são provavelmente um constituinte da chamada sopa primordial, encontrados tanto na Terra jovem como em exoplanetas rochosos em formação.”

Este fato sugere que os astrônomos possam ter visto as coisas ao contrário; em vez de indicarem a presença de vida, os haloalcanos podem antes ser um elemento importante na química, ainda pouco conhecida, da origem da vida.

”Este resultado mostra o poder do ALMA em detectar moléculas com interesse astrobiológico em estrelas jovens onde planetas podem estar se formando. Com o auxílio do ALMA já encontramos açúcares simples e precursores de aminoácidos em torno de estrelas diferentes. Esta descoberta adicional de freon-40 em torno do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko fortalece a ligação entre a química pré-biológica de protoestrelas distantes e o nosso próprio Sistema Solar,” acrescenta Jes Jørgensen, do Instituto Niels Bohr da Universidade de Copenhagen.

Os astrônomos também compararam as quantidades relativas de freon-40 que contêm diferentes isótopos de carbono na protoestrela e no cometa, e encontraram abundâncias semelhantes. Este fato apoia a ideia de que um sistema planetário jovem pode “herdar” a composição química da sua nuvem de formação progenitora, possibilitando assim que os haloalcanos cheguem aos planetas em sistemas jovens durante a formação planetária ou através de impactos de cometas.

“Os nossos resultados mostram que ainda temos muito que aprender sobre a formação dos haloalcanos,” conclui Fayolle. “A procura adicional destes compostos em torno de outras protoestrelas e cometas torna-se crucial para compreendermos esta questão.”

Este trabalho foi descrito no artigo científico intitulado “Protostellar and Cometary Detections of Organohalogens” de E. Fayolle et al., publicado hoje na revista Nature Astronomy.

Fonte: ESO

domingo, 24 de setembro de 2017

Hubble descobre objeto único no Sistema Solar

Com o auxílio do telescópio espacial Hubble, um grupo de astrônomos observou as características intrigantes de um tipo de objeto incomum no cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter: dois asteroides que se orbitam um ao outro e que exibem características semelhantes a cometas, incluindo uma cabeleira brilhante e uma longa cauda.

Image of binary asteroid system 288P

© NASA/ESA/J. Agarwal (movimento aparente da cauda no sistema binário de asteroides)

Este conjunto de imagens obtidas pelo telescópio espacial Hubble revela os dois asteroides. As imagens revelam a atividade no sistema binário. O movimento aparente da cauda é um efeito de projeção devido à mudança do alinhamento relativo entre o Sol, a Terra e 288P entre observações. A orientação da cauda é também afetada por uma alteração no tamanho das partículas. Inicialmente, a cauda apontava na direção onde as comparativamente grandes partículas de poeira (com cerca de 1mm de tamanho) eram emitidas no final de julho. No entanto, a partir de 20 setembro de 2016, a cauda começou a apontar na direção oposta à do Sol onde partículas pequenas (com aproximadamente 10 micrômetros de tamanho) são "sopradas" para longe do núcleo graças à pressão de radiação.

Este é o primeiro asteroide binário, conhecido, também classificado como cometa.

Em setembro de 2016, pouco antes do asteroide 288P fazer a sua maior aproximação ao Sol, estava perto o suficiente da Terra para permitir uma visão detalhada com o telescópio espacial Hubble.

As imagens do 288P, localizado no cinturão de asteroides, revelou que na verdade não era um único objeto, mas dois asteroides quase da mesma massa e mesmo tamanho, orbitando-se um ao outro a uma distância de mais ou menos 100 quilômetros. Considerando que se orbitam um ao outro, as massas dos objetos em tais sistemas conseguem ser medidas.

Mas as observações também revelaram atividade continuada no sistema binário. "Nós detectamos fortes indícios de sublimação de água gelada devido ao aumento do aquecimento solar, semelhante à forma como é criada a cauda de um cometa," explica Jessica Agarwal, do Instituto Max Planck para Pesquisa do Sistema Solar, na Alemanha. Isto torna 288P o primeiro asteroide binário também classificado como um cometa do cinturão principal.

Compreender a origem e evolução dos cometas do cinturão principal, que mostram atividade parecida com a de um cometa, é um elemento crucial na nossa compreensão da formação e evolução do Sistema Solar. Entre as questões que os cometas do cinturão de asteroides podem ajudar a responder, está a forma como a água chegou à Terra. Uma vez que apenas se conhecem alguns objetos deste tipo, o 288P apresenta-se como um sistema extremamente importante para estudos futuros.

As várias características do 288P, grande separação entre os dois componentes, tamanho quase igual, alta excentricidade e atividade semelhante a um cometa, também o tornam único entre os poucos asteroides binários no Sistema Solar. Igualmente, a atividade observada no 288P revela informações sobre o seu passado, realça Agarwal: "o gelo à superfície não consegue sobreviver no cinturão de asteroides durante toda a vida do Sistema Solar, mas pode ser protegido durante bilhões de anos por um manto de poeira refratária, com apenas alguns metros de espessura."

A equipe concluiu que o 288P existe como sistema binário há cerca de 5.000 anos. "O cenário de formação mais provável para o 288P é uma fragmentação devido à rápida rotação. Depois disso, os dois fragmentos podem ter-se afastado graças às forças de sublimação," observa Agarwal.

O fato de que 288P é tão diferente de todos os outros asteroides binários conhecidos levanta algumas questões sobre se algumas das suas propriedades únicas não são apenas coincidências. Dado que a descoberta do 288P envolveu muita sorte, é provável que permaneça como o único exemplo do seu gênero durante muito tempo. "Precisamos de mais trabalho teórico e observacional, bem como mais objetos semelhantes a 288P, para encontrar uma resposta a esta questão," conclui Agarwal.

A pesquisa foi divulgada num artigo publicado na revista Nature.

Fonte: Max Planck Institute for Solar System Research

sábado, 20 de maio de 2017

ALMA vê anel gelado ao redor de sistema planetário jovem

Uma equipe internacional de astrônomos, usando o ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), fez a primeira imagem completa, em comprimentos de onda milimétricos, do anel de detritos empoeirados que cercam a jovem estrela Fomalhaut.

disco de detritos no sistema estelar Fomalhaut

© ALMA (disco de detritos no sistema estelar Fomalhaut)

Esta banda notavelmente bem definida de entulho e gás é provavelmente o resultado de exocometas que colidem uns com os outros perto das orlas externas de um sistema planetário a 25 anos-luz da Terra.

Observações anteriores de Fomalhaut pelo ALMA, obtidas em 2012, quando o telescópio ainda estava em construção, revelaram apenas cerca de metade do disco de detritos. Embora esta primeira imagem fosse meramente um teste das capacidades únicas do ALMA, forneceu, no entanto, pistas tentadoras sobre a natureza e possível origem do disco.

As novas observações ALMA fornecem uma visão incrivelmente completa desta banda brilhante de detritos e sugerem a existência de semelhanças químicas entre os seus conteúdos gelados e os cometas no nosso próprio Sistema Solar.

"O ALMA deu-nos esta imagem incrivelmente clara de um disco de detritos totalmente formado," afirma Meredith MacGregor, astrônoma do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics em Cambridge, no estado norte-americano de Massachusetts. "Podemos finalmente ver a forma bem definida do disco, o que nos pode dizer muito sobre o sistema planetário subjacente responsável pela sua aparência altamente distintiva."

Fomalhaut é um sistema estelar relativamente próximo e um de apenas cerca de 20 em que os planetas foram fotografados diretamente. Todo o sistema tem aproximadamente 440 milhões de anos, cerca de um-décimo da idade do nosso Sistema Solar.

Conforme revelado na nova imagem ALMA, formou-se uma banda brilhante de poeira gelada com cerca de 2 bilhões de quilômetros de espessura e a aproximadamente 20 bilhões de quilômetros da estrela.

Os discos de detritos são características comuns em torno de estrelas jovens e representam um período muito dinâmico e caótico na história de um sistema solar. Provavelmente são formados pelas colisões em curso de cometas e outros planetesimais nas fronteiras exteriores de um sistema planetário recém-formado. Os detritos remanescentes destas colisões absorvem luz da sua estrela central e irradiam esta energia como um leve brilho no comprimento de onda milimétrico que pode ser estudado com o ALMA.

Usando os novos dados ALMA e detalhados modelos de computador, os pesquisadores puderam calcular a localização precisa, largura e geometria do disco. De acordo com MacGregor, estes parâmetros confirmam que tal anel estreito é provavelmente produzido pela influência gravitacional de planetas no sistema.

As novas observações do ALMA são também as primeiras a mostrar, definitivamente, o "brilho do apocentro", um fenômeno previsto num artigo de 2016 da autora principal Margaret Pan, cientista do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Tal como todos os objetos com órbitas alongadas, o material empoeirado no disco de Fomalhaut viaja mais lentamente quando está mais distante da estrela. À medida que a poeira abranda de velocidade, acumula-se, formando concentrações mais densas nas porções mais distantes do disco. Estas regiões densas podem ser observadas pelo ALMA como uma emissão mais brilhante nos comprimentos de onda milimétricos.

Usando o mesmo conjunto de dados ALMA, mas focando-se em sinais distintos em comprimentos de onda milimétricos naturalmente emitidos por moléculas no espaço, foi também detectado vastas reservas do gás monóxido de carbono precisamente no mesmo local que o disco de detritos.

"Estes dados permitem-nos determinar que a abundância relativa do monóxido de carbono, juntamente com o dióxido de carbono em torno de Fomalhaut, é aproximadamente a mesma encontrada em cometas no nosso próprio Sistema Solar," comenta Luca Matrà da Universidade de Cambridge, Reino Unido. "Este parentesco químico poderá indicar uma semelhança nas condições de formação dos cometas entre as regiões exteriores deste sistema planetário e o nosso." Matrà e colegas pensam que este gás ou é liberado por colisões contínuas entre cometas ou é o resultado de um impacto único e gigante entre supercometas centenas de vezes mais massivos que o Cometa Hale-Bopp.

A presença deste disco de detritos bem definido, em torno de Fomalhaut, juntamente com a sua composição química curiosamente familiar, poderá indicar que este sistema está passando pela sua própria versão do Último Grande Bombardeamento, um período há aproximadamente 4 bilhões de anos atrás em que a Terra e os outros planetas eram rotineiramente atingidos por enxames de asteroides e cometas deixados para trás pela formação do Sistema Solar.

"Há vinte anos atrás, os melhores telescópios de comprimentos de onda milimétricos deram-nos os primeiros mapas difusos dos grãos de poeira em órbita de Fomalhaut. Agora, com as plenas capacidades do ALMA, conseguimos fotografar todo o anel de material de Fomalhaut," conclui Paul Kalas, astrônomo da Universidade da Califórnia em Berkeley. "Um dia esperamos detectar os planetas que influenciam as órbitas destes grãos."

Dois artigos foram aceitos para publicação no periódico The Astrophysical Journal.

Fonte: Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Um objeto parecido com o cometa Halley próximo de uma anã branca

Cientistas através do telescópio espacial Hubble observaram, pela primeira vez, um objeto gigantesco semelhante a um cometa que foi dilacerado e espalhado na atmosfera de uma anã branca.

ilustração de um cometa caindo numa anã branca

© Z. Levy/STScI (ilustração de um cometa caindo numa anã branca)

A equipe internacional de astrônomos observou a anã branca WD 1425+540, localizada a cerca de 170 anos-luz da Terra na constelação Boötes (o Pastor). A anã branca foi encontrada pela primeira vez em 1974 e faz parte de um amplo sistema binário, com uma estrela companheira separada por 2.000 vezes a distância que a Terra é do Sol. Enquanto estudava a atmosfera da anã branca usando o telescópio espacial Hubble e o observatório W. M. Keck, a equipe encontrou evidências de que um objeto, como um cometa massivo, estava caindo sobre a estrela, que foi despedaçado.

A equipe determinou que o objeto tinha uma composição química similar ao famoso cometa de Halley, mas era 100.000 vezes mais massivo e teve duas vezes a proporção da água. A análise espectral mostrou que o objeto destruído era rico em elementos essenciais para a vida, incluindo carbono, oxigênio, enxofre e até mesmo nitrogênio. As medições de carbono, nitrogênio, oxigênio, silício, enxofre, ferro, níquel e hidrogênio foram obtidas pelo Cosmic Origins Spectrograph (COS), instalado no telescópio espacial Hubble, enquanto que os telescópios do observatório W. M. Keck forneceram as medições de cálcio, magnésio e hidrogênio.

Isto faz com que seja a primeira detecção de nitrogênio nos detritos caindo sobre uma anã branca. O autor principal Siyi Xu do Observatório Europeu do Sul (ESO), Alemanha, explica a importância da descoberta: "O nitrogênio é um elemento muito importante para a vida como a conhecemos. Este objeto particular é bastante rico em nitrogênio, mais do que qualquer objeto observado em nosso Sistema Solar."

Existem mais de uma dúzia de anãs brancas conhecidas por serem poluídas com restos de objetos rochosos semelhantes a asteroides, mas esta é a primeira vez que um corpo feito de material gelado semelhante a um cometa tem sido visto poluindo a atmosfera de uma anã branca. Estes achados são evidências de um cinturão de corpos parecidos a um cometa, semelhante ao Cinturão de Kuiper do Sistema Solar, orbitando a anã branca. Estes corpos gelados, aparentemente, sobreviveram à evolução da estrela na sequência principal, semelhante ao nosso Sol, se tornando uma gigante vermelha e após seu colapso final gerando uma pequena e densa anã branca.

A equipe que fez esta descoberta também considerou como este objeto massivo efetuou sua órbita original e distante em um curso de colisão com sua estrela progenitora. A equipe calculou que o objeto originalmente residiu cerca de 300 UA (unidades astronômicas - 300 vezes a distância Terra-Sol) longe da anã branca. Isto é sete vezes mais longe do que os objetos do Cinturão de Kuiper no Sistema Solar.

A mudança na órbita poderia ter sido causada pela distribuição gravitacional de planetas sobreviventes que ainda não haviam sido detectados, que perturbaram o cinturão de cometas. Outra explicação poderia ser que a estrela companheira da anã branca perturbou o cinturão e fez com que objetos viajassem em direção à anã branca. A mudança na órbita poderia também ter sido causada por uma combinação destes dois cenários.

O Cinturão de Kuiper no Sistema Solar, que se estende para fora da órbita de Netuno, é o lar de muitos planetas anões, cometas e outros pequenos corpos deixados pela formação do Sistema Solar. As novas descobertas agora fornecem evidências observacionais para apoiar a ideia de que os corpos gelados também estão presentes em outros sistemas planetários e sobreviveram ao longo da história da evolução da estrela.

Fonte: ESA & Astronomy

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Hubble detecta exocometas mergulhando numa estrela jovem

Previsão meteorológica interestelar para uma estrela próxima: chuva de cometas!

cometas viajando por um disco protoplanetário rumo à jovem estrela

© A. Feild/G. Bacon (cometas viajando por um disco protoplanetário rumo à jovem estrela)

O telescópio espacial Hubble da NASA/ESA descobriu cometas que mergulham na estrela HD 172555, que tem apenas 23 milhões de anos e reside a 95 anos-luz da Terra.

Os exocometas - cometas fora do nosso Sistema Solar - não foram observados diretamente ao redor da estrela, mas a sua presença foi inferida pela detecção de gás que é provavelmente o remanescente vaporizado dos seus núcleos gelados.

A HD 172555 representa o terceiro sistema extrassolar onde os cometas "condenados" e instáveis foram detectados. Todos estes sistemas são jovens, com menos de 40 milhões de anos.

A presença destes cometas condenados à morte fornece evidências circunstanciais da "agitação gravitacional" por um planeta do tamanho de Júpiter, ainda não visto, onde os cometas são desviados pela sua gravidade e catapultados para a estrela. Estes eventos também fornecem novas informações sobre a atividade passada e presente dos cometas no nosso Sistema Solar. É um mecanismo onde cometas em "queda" podem ter transportado água até à Terra e a outros planetas interiores do nosso Sistema Solar.

Os astrônomos encontraram mergulhos semelhantes no nosso próprio Sistema Solar. Os cometas rasantes ao Sol caem rotineiramente na nossa estrela. "A observação destes cometas suicidas no nosso Sistema Solar e em três sistemas extrassolares significa que esta atividade poderá ser comum em sistemas estelares jovens," afirma a líder do estudo Carol Grady da organização Eureka Scientific, em Oakland, no estado norte-americano da Califórnia, e do Goddard Spaceflight Center da NASA em Greenbelt, no estado norte-americano de Maryland. "Esta atividade, no seu pico, representa a adolescência ativa de uma estrela. A observação destes eventos dá-nos uma visão do que provavelmente ocorreu nos primeiros dias do nosso Sistema Solar, quando os cometas atacavam os corpos do Sistema Solar interior, incluindo a Terra. De fato, estes cometas que passam perto da estrela poderão até tornar a vida possível, porque transportam água e outros elementos necessários à vida, como carbono, para planetas terrestres."

Grady apresentou os resultados da sua equipe na reunião de inverno da Sociedade Astronômica Americana em Grapevine, Texas, EUA.

A estrela faz parte do Grupo Móvel de Beta Pictoris, uma coleção de estrelas nascidas do mesmo berçário estelar. É o segundo membro do grupo que se sabe abrigar tais cometas. Beta Pictoris, o homônimo da associação, também se abastece de exocometas que viajam demasiado perto. E já foi observado um gigante gasoso no vasto disco de detritos da estrela.

É importante estudar este grupo estelar porque é a coleção de estrelas jovens mais próxima da Terra. Pelo menos 37,5% das estrelas mais massivas do Grupo Móvel de Beta Pictoris ou têm um planeta já fotografado diretamente, como 51 Eridani b no sistema 51 Eridani, ou têm corpos que raspam e caem na estrela, ou, no caso de Beta Pictoris, ambos os tipos de objetos. O grupo está aproximadamente na idade de criar planetas terrestres, comenta Grady.

Uma equipe de astrônomos franceses descobriu pela primeira vez exocometas que transitavam HD 172555 em dados de arquivo recolhidos entre 2004 e 2011 pelo espectrógrafo caçador de planetas HARPS (High Accuracy Radial velocity Planet Searcher) do ESO. Um espectrógrafo divide a luz nas suas cores componentes, permitindo a detecção da composição química de um objeto. O espectrógrafo HARPS detectou as impressões digitais químicas do cálcio impressas na luz estelar, evidência do suicídio de objetos cometários na estrela.

Como seguimento desta descoberta, em 2015 a equipe de Grady usou o instrumento STIS (Space Telescope Imaging Spectrograph) e o instrumento COS (Cosmic Origins Spectrograph), ambos do Hubble, para efetuar uma análise espectrográfica na luz ultravioleta, que permite com que o telescópio espacial identifique a assinatura de vários elementos. O Hubble fez duas observações, separadas por seis dias.

O Hubble detectou os gases silício e carbono na luz estelar. Moviam-se a cerca de ‪580.000 km/h através da face da estrela. A explicação mais provável para estes gases velozes é que o Hubble estava observando material de objetos parecidos com cometas que se fragmentaram depois de passar pela estrela.

Os detritos gasosos dos cometas em desintegração são largamente dispersados em frente da estrela. "No que toca a características em trânsito, este material vaporizado é fácil de ver porque contém estruturas muito grandes," salienta Grady. "Isto contrasta bastante bem com a tentativa de encontrar um pequeno exoplaneta em trânsito, quando estamos à procura de minúsculas diminuições no brilho da estrela."

O Hubble recolheu esta informação porque o disco de detritos que rodeia a estrela HD 172555 está ligeiramente inclinado em relação à perspetiva do Hubble, dando ao telescópio uma visão clara da atividade cometária.

A equipe de Grady espera usar novamente o STIS para fazer observações de acompanhamento e procurar oxigênio e hidrogênio, o que confirmaria a identidade dos objetos desintegrantes como cometas.

"O Hubble mostra que estes objetos parecem-se e movem-se como cometas, mas até que determinemos a sua composição, não podemos confirmar que são cometas," realça Grady. "Precisamos de dados adicionais para determinar se estes objetos rasantes são gelados como os cometas ou mais rochosos como os asteroides."

Fonte: Space Telescope Science Institute

domingo, 1 de janeiro de 2017

Dois astros são detectados próximos da Terra

A missão NEOWISE descobriu recentemente dois novos objetos com características peculiares em órbitas próximas da Terra.

ilustração do 2016 WF9

© NASA/JPL-Caltech (ilustração do 2016 WF9)

O primeiro recebeu a designação provisória de 2016 WF9 e deverá aproximar-se do nosso planeta no dia 25 de fevereiro de 2017, a uma distância de 51 milhões de quilômetros. O segundo é o cometa C/2016 U1 NEOWISE, um pequeno objeto escuro que viaja numa trajetória hiperbólica, o que sugere que poderá estar numa primeira incursão através do Sistema Solar interior.

O 2016 WF9 foi descoberto a 27 de novembro de 2016 e tem aproximadamente 0,5 a 1,0 km de diâmetro. A sua órbita transporta-o através do Cinturão de Asteroides, desde as proximidades da órbita de Júpiter até ao interior da órbita da Terra. A sua superfície é bastante escura, refletindo apenas uma pequena percentagem da luz solar incidente. Objetos com estas características poderão ter múltiplas origens. A maioria são antigos membros das populações de asteroides ricos em carbono que habitam as regiões mais exteriores do Cinturão de Asteroides. Uma pequena fração são provavelmente antigos cometas que perderam a maioria dos compostos voláteis que originalmente se encontravam depositados junto à superfície.

cometa C2016 U1 NEOWISE

© Michael Jäger (cometa C/2016 U1 NEOWISE)

O C/2016 U1 NEOWISE foi detectado a 21 de outubro de 2016 e, ao contrário do 2016 WF9, exibe uma coma bem definida. Nas próximas duas semanas deverá aumentar consideravelmente o seu brilho, podendo tornar-se visível através de uns bons binóculos. Neste momento é possível observar o C/2016 U1 NEOWISE pouco antes do nascer do Sol, na direção da constelação do Ofiúco. Nos próximos dias, o cometa irá mover-se cada vez mais para sul, até alcançar o periélio da sua órbita no dia 14 de janeiro, momento em que o seu brilho deverá ultrapassar a 6ª magnitude.

As trajetórias dos dois objetos são já suficientemente bem conhecidas para excluir qualquer possibilidade de colisão com a Terra num futuro próximo.

Fonte: Astronomy Now

domingo, 2 de outubro de 2016

A despedida da sonda Rosetta

Depois de seguir de perto o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko por 786 dias, à medida que ele passeava ao redor do Sol, o impacto controlado da sonda Rosetta com a superfície do cometa foi confirmado pela perda de sinal da sonda no dia 30 de Setembro de 2016.

cometa 67P Churyumov-Gerasimenko

© ESA/Rosetta (cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko)

A imagem acima de alta resolução obtida durante a descida, mostra a bela paisagem do cometa. A cena se espalha por mais de 600 metros e foi registrada quando a sonda Rosetta estava a cerca de 16 quilômetros da superfície do cometa.

A descida da sonda Rosetta no cometa representou o fim da fase operacional de uma das missões mais espetaculares da exploração espacial. A Rosetta lançou o módulo Philae que pousou na superfície de um dos mundos mais primordiais do Sistema Solar e testemunhou em primeira mão como o cometa muda quando está sujeito ao aumento da intensidade da radiação do Sol.

A decisão de terminar a missão na superfície é um resultado da órbita do cometa que agora começará a ficar apagado à medida que chegará além da órbita de Júpiter, onde a a energia solar não será suficiente para que a sonda se mantenha operacional. Os operadores da missão enfrentaram problemas de comunicação com a sonda quando ela passou perto do Sol em 13 de Agosto de 2015, e o alinhamento entre a Rosetta e a Terra era cada vez mais difícil.

O cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko estará brevemente de volta em nossa vizinhança, pois possui um período de 6,44 anos.

Outras informações acesse o blog Cometas.

Fonte: NASA & ESA

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Uma fauna de corpos menores do VISTA

Uma equipe de astrônomos europeus usou dados do telescópio de rastreio VISTA do ESO para catalogar uma população variada de corpos menores, que são pequenos objetos do Sistema Solar, nos comprimentos de onda do infravermelho próximo.

ilustração de núcleos de gelo no Cinturão de Kuiper

© ESO/M. Kornmesser (ilustração de núcleos de gelo no Cinturão de Kuiper)

Após a órbita  de Netuno existe um enorme disco de pequenos objetos chamado Cinturão de Kuiper, e ainda mais além dele está a nuvem de Oort, local onde habitam os cometas. A ilustração acima mostra uma parte do Cinturão de Kuiper, povoada de núcleos gelados pertencentes a potenciais cometas. Esta imagem fará parte da exposição "O Universo Vivo", que estará disponível ao público no Supernova do ESO.

Este estudo deu origem a uma coleção de medições de milhares de objetos, dados estes que poderão ajudar a responder a questões chave sobre o Sistema Solar primordial.
Sabe-se que o Sistema Solar contém cerca de 700 mil objetos pequenos, desde asteroides rochosos a cometas gelados. Ao estudar estes objetos, os astrônomos esperam compreender como é que o Sistema Solar se formou e evoluiu e, ao mesmo tempo, reunir informações importantes sobre possíveis impactos com a Terra.
A equipe examinou um subconjunto de dados do rastreio do VISTA (Visible and Infrared Survey Telescope for Astronomy), o VISTA Hemisphere Survey, que cobriu cerca de 40% do hemisfério sul do céu. Ao examinar de forma cuidada a enorme quantidade de dados deste rastreio, os pesquisadores conseguiram determinar a posição e o brilho de quase 40 mil objetos, obtendo ainda informação de cor para cerca de 35 mil deles. Esta é a primeira vez que dados de um rastreio são analisados para revelar informação sobre um tão grande número de pequenos corpos do Sistema Solar.
Os dados de cor, em particular, podem ser usados para classificar os objetos, ao derivar informação sobre a sua composição à superfície. A diversidade de objetos identificados no catálogo inclui exemplos de todas as categorias conhecidas de corpos deste tipo: asteroides próximos da Terra, objetos que cruzam a órbita de Marte, asteroides Hungaria, asteroides do cinturão principal, asteroides Cybele, asteroides Hilda, Troianos, cometas, objetos do Cinturão de Kuiper, entre outros.
O VISTA é o maior telescópio de rastreio do mundo, com um espelho de 4,1 metros de diâmetro. O seu enorme campo de visão, juntamente com os seus detectores muito sensíveis, dá aos astrônomos uma visão completamente nova do céu austral. Os rastreios do céu são uma ferramenta poderosa nos dias de hoje, em que existem detectores tão grandes e sensíveis, permitindo aos astrônomos catalogar de modo rápido um grande número de objetos celestes e fazer análises estatísticas sobre os mesmos. São ideais para os astrônomos que procuram, como neste caso, objetos próximos em movimento, tais como asteroides e cometas.

Este trabalho foi descrito no artigo científico intitulado “Near-infrared colors of minor planets recovered from VISTA - VHS survey (MOVIS)”, de M. Popescu et al., que foi publicado na revista especializada Astronomy & Astrophysics.

Fonte: ESO

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Novas descobertas nos discos de restos

Com o auxílio de 39 das 66 antenas do Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), situado a 5.000 metros de altitude no planalto do Chajnantor nos Andes chilenos, os astrônomos conseguiram detectar monóxido de carbono (CO) no disco de restos situado em torno de uma estrela de tipo F.

HD 181327

© ESO/ALMA (HD 181327)

Embora o monóxido de carbono seja a segunda molécula mais comum no meio interestelar, depois do hidrogénio molecular, esta é a primeira vez que foi detectado CO em torno de uma estrela deste tipo. A estrela, chamada HD 181327, é um membro do grupo em movimento Beta Pictoris, localizado a quase 170 anos-luz de distância da Terra.

Até agora, a presença de CO tinha sido apenas detectada em torno de algumas estrelas de tipo A, as quais são substancialmente mais massivas e luminosas que a HD 181327. Utilizando a excelente resolução espacial e sensibilidade oferecidas pelo observatório ALMA, os astrônomos foram agora capazes de capturar este extraordinário anel de gás e mapear a densidade de CO no interior do disco.

O estudo de discos de restos é um dos modos de caracterizar sistemas planetários e os resultados da formação planetária. Descobriu-se que o gás de CO se encontra no mesmo local que os grãos de poeira no anel de restos e que este gás  foi produzido recentemente.

Colisões destrutivas de planetesimais gelados existentes no disco são fontes possíveis do reabastecimento contínuo de gás de CO. Para que haja colisões nos discos de restos é normalmente necessário que os corpos gelados sofram perturbações gravitacionais por parte de objetos maiores, de modo a atingirem velocidades de colisão suficientes. Adicionalmente, a composição de CO encontrada nos planetesimais gelados do disco é consistente com a dos cometas do nosso Sistema Solar. Esta possível segunda origem para o gás de CO sugere que os cometas gelados possam ser comuns em torno de estrelas semelhantes ao nosso Sol, o que tem fortes implicações para a adaptabilidade da vida em exoplanetas do tipo terrestre.

Estes resultados foram publicados num artigo intitulado “Exocometary gas in the HD 181327 debris ring” na revista da especialidade Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

Fonte: ESO

sábado, 21 de maio de 2016

Cinturão de cometas ao redor de sistema multiplanetário

Usando o observatório ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array) no Chile, os astrónomos fizeram a primeira imagem de alta-resolução do cinturão de cometas (uma região análoga ao Cinturão de Kuiper no nosso próprio Sistema Solar, onde Plutão e muitos outros objetos mais pequenos se encontram) em torno de HR 8799, a única estrela onde vários planetas foram fotografados diretamente.

estrela HR 8799

© NRAO/ESO/NAOJ/ALMA (estrela HR 8799)

A imagem acima obtida pelo ALMA mostra a estrela HR 8799 (centro) e dos seus arredores. A inserção mostra a estrela e os quatro exoplanetas observados diretamente. O disco, juntamente com as suas irregularidades recentemente descobertas, pode ser visto em tons de azul. A linha branca indica uma distância de 100 UA (unidade astronômica), em que 1 UA é a distância média entre a Terra e o Sol.

A forma deste disco de poeira, particularmente a sua orla interna, é surpreendentemente inconsistente com as órbitas dos planetas, sugerindo que ou mudaram de posição com o passar do tempo ou que existe pelo menos mais um planeta ainda por descobrir.

"Estes dados permitem-nos ver, pela primeira vez, a margem interna deste disco," explica Mark Booth da Pontificia Universidad Católica do Chile e autor principal do estudo. "Ao estudarmos as interações entre os planetas e o disco, esta nova observação mostra que ou os planetas que vemos já tiveram órbitas diferentes no passado, ou que existe pelo menos um outro planeta no sistema que é demasiado pequeno para ser detectado."

O disco, que cobre uma região entre 150 a 420 vezes a distância Sol-Terra, é produzido pelas colisões de corpos cometários nos confins deste sistema estelar. O ALMA foi capaz de obter imagens da emissão de pedaços de detritos milimétricos no disco; segundo os cientistas, o pequeno tamanho destes grãos de poeira sugere que os planetas no sistema são maiores que Júpiter. As observações anteriores com outros telescópios não detectaram esta discrepância no disco.

Não se sabe se esta diferença é devida à baixa resolução das observações anteriores ou se devida aos diferentes comprimentos de onda que são sensíveis aos diferentes tamanhos dos grãos, que seriam distribuídos de forma ligeiramente diferente. A HR 8799 é uma estrela jovem com aproximadamente 1,5 vezes a massa do Sol localizada a 129 anos-luz da Terra na direção da constelação de Pégaso.

"Esta é a primeira vez que um sistema multiplanetário com poeira em órbita é fotografado, permitindo a comparação direta com a formação e dinâmica do nosso próprio Sistema Solar," explica Antonio Hales, do NRAO (National Radio Astronomy Observatory) em Charlottesville, no estado americano de Virginia.

Os seus resultados foram divulgados num artigo publicado na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

Fonte: Royal Astronomical Society

sábado, 30 de abril de 2016

Fragmento da Nuvem de Oort traz pistas sobre a origem do Sistema Solar

Astrônomos descobriram um objeto peculiar que parece ser formado de matéria do Sistema Solar interior originária da época da formação da Terra, e que estava preservado na Nuvem de Oort há bilhões de anos.

ilustração do cometa rochoso C2014 S3 PANSTARRS

© ESO/M. Kornmesser (ilustração do cometa rochoso C2014 S3 PANSTARRS)

Observações obtidas com o Very Large Telescope (VLT) do ESO e com o Canada-France-Hawaii Telescope (CFHT) mostram que o C/2014 S3 (PANSTARRS) é o primeiro objeto a ser descoberto numa órbita cometária de longo período, com as características imaculadas de um asteroide do Sistema Solar interior. Seu estudo pode dar pistas importantes sobre a formação do Sistema Solar.

A pesquisadora Karen Meech, do Instituto de Astronomia da Universidade do Havaí, e colegas concluem que o C/2014 S3 (PANSTARRS) se formou no Sistema Solar interior na mesma época que a própria Terra, mas que foi ejetado numa fase muito inicial.
As observações indicam que se trata de um corpo rochoso antigo e não de um asteroide contemporâneo que se afastou. Como tal, é um dos potenciais blocos constituintes dos planetas rochosos (como a Terra), que foi expelido para fora do Sistema Solar interno e preservado em congelamento profundo na Nuvem de Oort durante bilhões de anos. A Nuvem de Oort é uma região enorme que rodeia o Sol como uma espessa bolha gigante. Estima-se que contenha trilhões de pequenos corpos gelados. Ocasionalmente, um destes corpos é empurrado para o Sistema Solar interno, onde o calor do Sol o transforma num cometa. Pensa-se que estes corpos gelados tenham sido ejetados a partir da região dos planetas gigantes, quando estes se estavam se formando, no início do Sistema Solar.

  trajetória do cometa C2014 S3 PANSTARRS na Nuvem de Oort

© ESO/L. Calçada (trajetória do cometa C2014 S3 PANSTARRS na Nuvem de Oort)

Karen Meech explica a observação inesperada: “Conhecemos a existência de muitos asteroides, no entanto todos eles já foram “cozidos” pelos bilhões de anos que passaram perto do Sol. Este é o primeiro asteroide “cru” que observamos, tendo sido preservado no melhor congelador que existe!”
O C/2014 S3 (PANSTARRS) foi originalmente identificado pelo telescópio Pan-STARRS1 como sendo um tênue cometa ativo, quando estava um pouco mais afastado do que duas vezes a distância da Terra ao Sol. O seu atual período orbital longo (cerca de 860 anos) sugere que a sua fonte é a Nuvem de Oort e que teria sido empurrado há relativamente pouco tempo para uma órbita que o traz próximo do Sol.
A equipe reparou imediatamente que C/2014 S3 (PANSTARRS) era diferente, uma vez que não possui a cauda característica que a maioria dos cometas de longo período desenvolvem quando se aproximam muito do Sol. Foi assim que ele ganhou o nome de cometa Manx, em homenagem ao gato sem cauda. Algumas semanas após a sua descoberta, a equipe obteve espectros do fraco objeto com o VLT.
Um estudo cuidadoso da luz refletida por C/2014 S3 (PANSTARRS) indica que se trata de um asteroide típico do tipo S, encontrado geralmente no cinturão principal interno de asteroides. Não é parecido com um cometa típico, objetos que se pensa serem formados no Sistema Solar exterior e que são gelados em vez de rochosos. O material parece ter sido pouco processado, indicando que esteve congelado durante um longo período de tempo. A atividade de tipo cometário extremamente fraca associada ao C/2014 S3 (PANSTARRS) é consistente com a sublimação do gelo d'água, e é cerca de um milhão de vezes menor que nos cometas ativos de longo período que se encontram a distâncias semelhantes do Sol.
Os pesquisadores concluem que este objeto é provavelmente constituído por material do Sistema Solar interno que esteve guardado durante muito tempo na Nuvem de Oort e que agora encontrou o seu caminho de volta ao Sistema Solar interior.
Vários modelos teóricos conseguem reproduzir a maior parte da estrutura que vemos no Sistema Solar. Uma diferença importante entre estes modelos são as previsões relativas aos objetos que constituem a Nuvem de Oort. Os diferentes modelos prevêem razões significativamente diferentes entre objetos gelados e rochosos. Por isso, esta primeira descoberta de um objeto rochoso na Nuvem de Oort é um teste importante das diferentes previsões dos modelos. Os autores estimam que serão necessárias observações de 50 a 100 destes cometas Manx para se distinguir entre os atuais modelos, abrindo assim um caminho importante no estudo das origens do Sistema Solar.
O pesquisador Olivier Hainaut (ESO, Garching, Alemanha) conclui: “Descobrimos o primeiro cometa rochoso e estamos à procura de outros. Dependendo de quantos encontrarmos, saberemos se os planetas gigantes “dançaram” ao longo do Sistema Solar quando eram jovens, ou se cresceram pacatamente sem grandes deslocamentos.”

Este trabalho foi descrito no artigo científico intitulado “Inner Solar System Material Discovered in the Oort Cloud”, de Karen Meech et al., que foi publicado na revista especializada Science Advances.

Fonte: ESO

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

A ameça de gigantescos cometas do Sistema Solar externo

A descoberta de centenas de imensos cometas, denominados centauros, na parte externa do Sistema Solar nos últimos 20 anos, significa que estes antigos objetos representam uma ameaça real para a nossa civilização, conforme pesquisa de um grupo de astrônomos liderados por Bill Napier da Universidade de Buckingham.

Phoebe 

  © NASA/Cassini (Phoebe)

A  lua Phoebe de Saturno, mostrada nesta imagem, parece provável que seja um centauro que foi capturado pela gravidade do planeta em algum momento no passado.

Os centauros têm entre 50 e 100 km de diâmetro, ou até mesmo são maiores. Eles se movem em órbitas instáveis cruzando a órbita dos gigantes gasosos do Sistema Solar: Júpiter, Saturno, Urano e Netuno.

Os campos gravitacionais planetários, podem ocasionalmente desviarem estes antigos cometas colocando-os na direção do nosso planeta.

Cálculos da taxa com as quais os centauros entram no Sistema Solar interno, indicam que um é defletido na direção da órbita da Terra, uma vez a cada 40.000 a 100.000 anos.

Quando estiverem no espaço próximo da Terra, espera-se que eles se desintegrem em poeira e fragmentos maiores, inundando o Sistema Solar interno com detritos cometários fazendo com que os impactos com a Terra sejam inevitáveis.

“A desintegração destes cometas gigantes produziriam períodos intermitentes mas prolongados de bombardeios durando cerca de 100.000 anos,” disse o professor Napier e seus colegas da Universidade de Buckingham e do Observatório Armagh no Reino Unido.

“Eventos de extinção em massa e divisões de períodos geológicos na Terra, mostram um determinado padrão, do mesmo modo que os níveis de poeira e meteoroides na atmosfera superior,” acrescentou o professor Napier.

Episódios específicos ambientais ocorridos por volta de 10.800 a.C. e 2.300 a.C. são também consistentes com esse novo entendimento das populações de cometas.

Nos últimos 10.000 anos, a Terra experimentou a chegada intermitente de poeira, meteoroides e fragmentos da desintegração do cometa 2P/Encke, confinado dentro da órbita de Júpiter.

Sistema Solar exterior

© Duncan Steel (Sistema Solar exterior)

A imagem acima mostra o Sistema Solar exterior. No centro do mapa está o Sol, e próximo a ele as pequenas órbitas dos planetas terrestres: Mercúrio, Vênus, Terra e Marte. Movendo-se para o exterior e mostrados em azul claro estão as trajetórias quase circular dos planetas gigantes: Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. A órbita de Plutão é mostrada em branco. Ficando perpetuamente além de Netuno estão os objetos transnetunianos (TNOs), em amarelo: dezessete órbitas de TNOs são mostrados aqui, cuja população total descoberta atualmente ser de mais de 1.500. Mostrados em vermelho estão as órbitas de 22 centauros (de cerca de 400 objetos conhecidos), e estes são essencialmente cometas gigantes. Por causa dos centauros cruzarem os caminhos dos grandes planetas, suas órbitas são instáveis, alguns acabarão por ser ejetados do sistema solar, mas outros serão lançados em trajetórias trazendo-os para dentro, representando um perigo para a civilização e a vida na Terra.

O Professor Napier e outros pesquisadores também descobriram evidências de campos distantes da ciência para suportar este modelo.

Por exemplo, a idade das crateras submilimétricas identificadas nas rochas lunares trazidas pelas missões Apollo são quase todas com idade inferior a 30.000 anos, indicando um vasto aumento na quantidade de poeira no Sistema Solar interno desde então.

“Nosso trabalho sugere que nós precisamos olhar além da nossa vizinhança imediata também, e olhar além da órbita de Júpiter para encontrar os centauros,” disse o professor Napier.

“Se nós estivermos corretos, então estes distantes cometas poderiam representar uma séria ameaça e este é o momento de entendermos melhor estes objetos.”

Um artigo foi publicado na revista Astronomy & Geophysics.

Fonte: Royal Astronomical Society

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Sinal de luz de estrela diminui por causa de fragmentos de exocometa

Novas observações feitas da estrela incomum KIC 8462852 efetuadas através do telescópio espacial Spitzer da NASA sugerem que seu estranho sinal de luz provavelmente é causado por fragmentos de um cometa extrassolar.

ilustração de estrela e fragmentos de cometa

© NASA/JPL-Caltech (ilustração de estrela e fragmentos de cometa)

A KIC 8462852, também conhecida como TYC 3162-665-1 ou 2MASS J20061546+4427248, é uma estrela da sequência principal, localizada na constelação de Cygnus, a cerca de 1.480 anos-luz de distância da Terra.

O telescópio espacial Kepler da NASA tem monitorado a estrela por alguns anos, observando incidentes incomuns em 2011 e 2013, quando a luz da estrela diminuiu de uma maneira nunca antes observada. A estrela apresentou quedas no brilho de cerca de 22%. Seu brilho também mudou irregularmente, algumas vezes por dias, e até mesmo meses.

Alguma coisa passou na frente da KIC 8462852 e bloqueou sua luz, mas o que?

Foi uma Esfera de Dyson, construída por uma civilização alienígena avançada para coletar energia da estrela? Foi uma colisão ocorrida no cinturão de asteroide da KIC 8462852? Foi uma nuvem empoeirada de rochas e detritos? Foi um impacto gigante que destruiu um exoplaneta próximo da estrela? Ou foi uma família de exocometas que se colapsou ao passar perto da estrela?

Em Setembro de 2015, a Dra. Tabetha Boyajian da Universidade de Yale e seus co-autores sugeriram que uma família de cometas seria a explicação mais provável.

Um novo estudo usando os dados do telescópio espacial Spitzer focou no mistério da KIC 8462852, descobrindo mais evidências para o cenário envolvendo exocometas.

“O cenário no qual a diminuição no brilho da luz da KIC 8462852 foi causado pela destruição de uma família de cometas permanece sendo a melhor explicação”, disse o Dr. Massimo Marengo, da Universidade do Estado de Iowa.

O Dr. Marengo, o Dr. Alan Hulsebus do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics e a Dra. Sarah Willis do MIT Lincoln Laboratory estudaram a estrela com os dados infravermelhos do Spitzer.

Os astrônomos observaram dois comprimentos de onda diferentes do infravermelho: um mais curto foi consistente com uma estrela típica e um mais longo mostrou algumas emissões de infravermelho, mas não o suficiente para alcançar o limite de detecção.

Eles concluíram que não existe excesso de emissões de infravermelho e assim, não existe um sinal de uma colisão no cinturão de asteroide da estrela, não existe um impacto gigante ou um exoplaneta, ou uma nuvem empoeirada de detritos e rochas.

“Assim, a destruição de uma família de cometas perto da estrela é a explicação mais provável, para o misterioso apagamento da estrela”, disse o Dr. Marengo.

“Os fragmentos do cometa viajam rapidamente numa órbita bem inclinada e elíptica que poderia criar uma grande nuvem de detritos que poderia apagar o brilho da estrela. Quando a nuvem passasse, o brilho da estrela voltaria ao normal e não deixaria traços de excesso na luz infravermelha”.

De acordo com a equipe, mais observações são necessárias para ajudar a entender definitivamente o que acontece com a KIC 8462852.

O estudo foi publicado no periódico Astrophysical Journal Letters.

Fonte: Scientific American

terça-feira, 2 de junho de 2015

Estrela Polar e o cometa Lovejoy

Um destes dois objetos brilhantes do céu está se movendo mais acentuadamente.

Estrela Polar e o cometa Lovejoy

© Rogelio Bernal Andreo (Estrela Polar e o cometa Lovejoy)

À direita está a famosa Estrela Polar. Embora seja apenas a 45ª estrela mais brilhante no céu, a Estrela Polar é famosa por parecer estacionária. Uma vez que ela é encontrada, sempre aparece na mesma direção, toda a noite e todos os dias. Isso ocorre porque o prologamento do eixo de rotação da Terra no polo norte, o chamado Pólo Celeste Norte, aponta para perto da Estrela Polar.

À esquerda, cerca de dez milhões de vezes mais perto, está o cometa Lovejoy, que notavelmente muda a sua posição no céu a cada hora. A imagem apresentada foi tomada na semana passada. Oficialmente designado C/2014 Q2 (Lovejoy), esta bola de neve em desintegração está numa visita ao Sistema Solar exterior e só vai aparecer perto da Estrela Polar por mais algumas semanas. Porém, isso deve ser longo o suficiente para os nortistas com binóculos ou um pequeno telescópio, afim de ver a coma esverdeada deste passageiro recém-chegado, talvez com a ajuda de um bom mapa estelar, por exemplo, Cartes du Ciel ou Stellarium.

Fonte: NASA

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Descobertas moléculas orgânicas complexas num sistema estelar jovem

Astrônomos detectaram pela primeira vez a presença de moléculas orgânicas complexas, os blocos constituintes da vida, num disco protoplanetário que rodeia uma estrela jovem.

ilustração do disco protoplanetário que rodeia a jovem estrela MWC 480

© NRAO/B. Saxton (ilustração do disco protoplanetário que rodeia a jovem estrela MWC 480)

A descoberta, feita com o auxílio do Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), confirma que as condições que deram origem à Terra e ao Sol não são únicas no Universo.

As novas observações do ALMA revelam que o disco protoplanetário que rodeia a estrela jovem MWC 480 contém enormes quantidades de cianeto de metila ou acetonitrila (CH3CN), uma molécula complexa baseada no carbono. Encontrou-se em torno de MWC 480 cianeto de metila em quantidade suficiente para encher todos os oceanos da Terra. Esta estrela tem apenas um milhão de anos. Em termos de comparação, o Sol tem mais de quatro bilhões de anos de idade. O nome MWC 480 faz referência ao Catálogo do Mount Wilson de estrelas B e A com linhas brilhantes de hidrogênio nos seus espectros.
Tanto esta molécula como a sua prima mais simples, o cianeto de hidrogênio (HCN), foram encontradas nas regiões periféricas mais frias do disco recém formado da estrela, numa região que os astrônomos pensam ser análoga ao Cinturão de Kuiper, o reino dos planetesimais gelados e dos cometas no nosso Sistema Solar, situado depois da órbita de Netuno.
Os cometas retêm informação inalterada da química primordial do Sistema Solar, do período da formação planetária. Pensa-se que os cometas e asteroides do Sistema Solar exterior trouxeram para a jovem Terra água e moléculas orgânicas, o que ajudou a preparar o terreno para o desenvolvimento da vida primordial.
“Os estudos de cometas e asteroides mostram que a nebulosa que deu origem ao Sol e aos planetas era rica em água e componentes orgânicos complexos”, diz Karin Öberg, astrônoma no Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, Cambridge, Massachusetts, EUA e autora principal de um artigo científico que descreve estes resultados.
“Temos agora mais evidências de que a mesma química existe em outros lugares do Universo, em regiões que poderão eventualmente formar sistemas solares parecidos ao nosso”. Isto é particularmente intrigante, diz Öberg, uma vez que as moléculas encontradas em MWC 480 têm concentrações semelhantes às dos cometas do Sistema Solar.
A estrela MWC 480, que tem cerca de duas vezes a massa do Sol, situa-se a 455 anos-luz de distância na região de formação estelar do Touro. O disco que a rodeia encontra-se numa fase inicial de evolução, tendo coalescido recentemente a partir de uma nebulosa fria e escura de gás e poeira. Estudos feitos com o ALMA e com outros telescópios ainda não detectaram nenhum sinal óbvio de formação planetária no disco, embora observações a resoluções mais elevadas possam eventualmente revelar estruturas semelhantes às da estrela HL Tauri, a qual é essencialmente da mesma idade.
Os astrônomos sabem já há algum tempo que as nuvens interestelares frias e escuras são fábricas muito eficientes de formação de moléculas orgânicas complexas, incluindo um grupo de moléculas conhecidas por cianetos. Os cianetos, e mais particularmente o cianeto de metila, são importantes porque contêm ligações carbono-nitrogênio, as quais são essenciais à formação de aminoácidos, a base das proteínas e os blocos constituintes da vida.
Até agora, não era evidente se estas mesmas moléculas orgânicas complexas se formariam de forma natural e sobreviveriam ao ambiente energético de um novo sistema estelar em formação, onde choques e radiação podem facilmente quebrar as ligações químicas.
Tirando o máximo partido da sensibilidade do ALMA, os astrônomos puderam verificar nestas últimas observações que estas moléculas não só sobrevivem nestes ambientes como também prosperam.
O ALMA consegue detectar a fraca radiação milimétrica emitida de forma natural pelas moléculas no espaço. Para estas observações mais recentes os astrônomos utilizaram apenas uma parte das 66 antenas do ALMA, numa época em que o telescópio estava na sua configuração de mais baixa resolução. Estudos posteriores deste e de outros discos protoplanetários com o ALMA nas suas capacidades máximas revelarão pormenores adicionais acerca da evolução química e estrutural de estrelas e planetas.

Um aspecto importante é que as moléculas detectadas pelo ALMA são muito mais abundantes do que as descobertas em nuvens interestelares. Este fato mostra que os discos protoplanetários são extremamente eficientes na formação de moléculas orgânicas complexas e que as conseguem formar em escalas de tempo relativamente curtas. Esta formação rápida é essencial para superar as forças que, de outro modo, quebrariam as moléculas. Adicionalmente, estas moléculas foram detectadas numa parte relativamente calma do disco, numa região que vai de 4,5 a 15 bilhões de quilômetros de distância da estrela central. Apesar de muito distante quando comparada ao tamanho do nosso Sistema Solar, esta região corresponde à zona de formação de cometas nas dimensões de MWC 480.
À medida que o sistema continua evoluindo, os astrônomos pensam que é provável que as moléculas orgânicas existentes nos cometas e em outros corpos gelados sejam levadas para meios mais propícios ao desenvolvimento de vida.
“A partir do estudo de exoplanetas, sabemos que o Sistema Solar não é único no seu número de planetas ou em abundância de água”, conclui Öberg. “Sabemos agora que não somos únicos em química orgânica. Uma vez mais, aprendemos que não somos especiais. Do ponto de vista da vida no Universo, isto são excelentes notícias”.

Este trabalho foi descrito no artigo científico intitulado “The Cometary Composition of a Protoplanetary Disk as Revealed by Complex Cyanides” de K.I. Öberg et al., cujos resultados foram publicados hoje na revista Nature.

Fonte: ESO

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

O cometa Lovejoy diante de um aglomerado globular

O cometa Lovejoy tornou-se visível a olho nu em locais de céu muito limpo e escuro.

cometa Lovejoy

© Dieter Willasch (cometa Lovejoy)

O cometa C/2014 Q2 Lovejoy foi captado no dia 28 de dezembro de 2014 brilhando na 5ª magnitude e passando quase em frente ao M79, o aglomerado globular de estrelas visível como o ponto brilhante ligeiramente acima e à esquerda da coma verde do cometa. O núcleo do cometa Lovejoy é um iceberg sujo gigante que está espalhando o gás numa cauda de íons longa e intrincada, que se estende através da imagem, uma vez que se aproxima do Sol. Na parte superior da imagem também está a galáxia espiral NGC 1886, vista com magnitude 12,7.

Este astro foi o 5º cometa descoberto pelo astrônomo amador australiano Terry Lovejoy no dia 17 de agosto de 2014, quando o objeto estava com magnitude 14,8. O objeto foi confirmado algumas horas depois pelo astrônomo brasileiro Cristovão Jacques, a partir do observatório SONEAR, localizado em Oliveira (Minas Gerais, Brasil). O cometa C/2014 Q2 Lovejoy é de longo período, antes de entrar na região planetária, ele completava uma volta ao redor do Sol em 11.500 anos, mas quando deixar esta região seu período orbital ficará ligeiramente mais curto, com tempo estimado em 8.000 anos.

Para ver o cometa, basta observá-lo mais de uma hora depois do pôr do Sol e procurar uma mancha difusa à direita do cinturão de Órion. Com o auxílio de binóculos (7x50 ou 10x50) e um mapa celeste, tais como, Stellarium ou Cartes du Ciel, podem ajudar. Através de instrumentos, o cometa se parece com um ponto esverdeado, coloração essa causada pela presença abundante de cianogênio CN e carbono biatômico C2, que quando submetidos à luz solar emitem luz verde no comprimento de onda em torno de 550 nanômetros.

É esperado que o cometa se torne ainda mais fácil de ser detectado para os observadores do norte durante o mês de janeiro, à medida que aparece mais cedo e, esperançosamente, continue a ficar mais brilhante. Visto da região sudeste, pode ser encontrado no quadrante sudeste a cerca de 40º de elevação. Com o passar das horas, o movimento da Terra faz o objeto subir e caminhar em direção ao quadrante sul onde as 2:00 hs atinge seu ponto máximo de altura, a 75º de elevação, nas coordenadas celestes 06h44m16s e -39h40m23s.

Seu máximo brilho deve alcançar a 4ª magnitude na primeira semana de janeiro. No dia 7 de janeiro deverá atingir o ponto de maior aproximação da Terra, quando estará a apenas 70,2 milhões de quilômetros de distância. No dia 9 de janeiro cruzará o equador celeste e se tornará um objeto mais favorável a ser visto no hemisfério norte, mas ainda poderá ser observado até o final de janeiro, quando estará se aproximando da estrela gama de Andrômeda. O seu periélio ocorrerá no dia 30 de janeiro de 2014, quando estará a cerca de 192 milhões de quilômetros do Sol.

Fonte: NASA

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Chuva de meteoros recorrente em Mercúrio

O planeta mais próximo do Sol parece ser atingido por uma chuva de meteoros periódica, possivelmente associada com um cometa que produz anualmente vários eventos na Terra.

Mercúrio atravessa uma chuva de meteoros

© Goddard Space Flight Center (Mercúrio atravessa uma chuva de meteoros)

As pistas que apontam para a chuva de Mercúrio foram descobertas no halo muito fino de gases que compõem a exosfera do planeta, atualmente sendo estudada pela sonda MESSENGER (MErcury Surface, Space ENvironment, GEochemistry, and Ranging) da NASA.

"A possível descoberta de uma chuva de meteoros em Mercúrio é realmente emocionante e especialmente importante porque o ambiente de plasma e poeira ao redor de Mercúrio é relativamente inexplorado," afirma Rosemary Killen, cientista planetária do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA e autora principal do estudo.

Uma chuva de meteoros ocorre quando um planeta passa por uma faixa de detritos derramados por um cometa, ou às vezes por um asteroide. Os pedaços mais pequenos de poeira, rocha ou gelo recebem a força da radiação solar, o que os empurra para longe do Sol, criando a cauda, por vezes deslumbrante, do cometa. Os pedaços maiores são depositados como um rasto de migalhas ao longo da órbita do cometa, um campo que produz meteoroides minúsculos.

Aqui na Terra, podemos ver várias chuvas de meteoros por ano, incluindo as Perseidas de Verão no Hemisfério Norte, relativo ao cometa Swift-Tuttle, e as confiáveis Geminídeas de Dezembro, um dos poucos eventos associados com um asteroide. O Cometa Encke deixou para trás vários campos de detritos no Sistema Solar interior, dando origem às Táuridas do Sul e do Norte, chuvas de meteoros que atingem o pico em Outubro e Novembro, e às Beta Táuridas em Junho e Julho.

A principal característica de uma chuva de meteoros em Mercúrio é um aumento regular de cálcio na exosfera. As medições efetuadas pelo instrumento MASCS (Mercury Atmospheric and Surface Composition Spectrometer) da MESSENGER revelaram picos sazonais de cálcio que ocorreram regularmente durante os primeiros nove anos mercurianos desde que a sonda começou a orbitar o planeta em Março de 2011.

A causa suspeita destes níveis de cálcio é uma chuva de pequenas partículas de poeira que atinge o planeta e liberta moléculas que contêm cálcio a partir da superfície. Este processo, chamado vaporização por impacto, renova continuamente os gases na exosfera de Mercúrio à medida que a poeira interplanetária e os meteoroides caem sobre o planeta. No entanto, o contexto geral da poeira interplanetária no Sistema Solar interior não pode, por si só, explicar os aumentos periódicos de cálcio. Isto sugere uma fonte periódica adicional de poeira, por exemplo, um campo de detritos de cometa. A examinação do punhado de cometas em órbitas que permitiriam a passagem destes detritos pela órbita de Mercúrio indicou que a fonte provável do evento no planeta é o Encke.

"Se o nosso cenário estiver correto, Mercúrio é um coletor gigante de poeira," afirma Joseph Hahn, do Instituto de Ciência Espacial, em Austin, e co-autor do estudo. "O planeta está sob cerco constante de poeira interplanetária e passa regularmente por esta tempestade de poeira, que nós pensamos ser do cometa Encke."

Os pesquisadores criaram simulações de computador detalhadas para testar a hipótese do cometa Encke. No entanto, os picos de cálcio encontrados nos dados da MESSENGER desviam-se um pouco dos resultados esperados. Este desvio é provavelmente devido a mudanças na órbita do cometa ao longo do tempo, devido à atração gravitacional de Júpiter e de outros planetas.

"A variação de cálcio na exosfera de Mercúrio com a posição do planeta na sua órbita é conhecida há vários anos a partir de observações da MESSENGER, mas a proposta de que a fonte dessa variação é uma chuva de meteoros associada com um cometa em específico é nova," acrescenta Sean Solomon, pesquisador principal da MESSENGER, do Observatório da Terra Lamont-Doherty da Universidade de Columbia, em Nova Iorque. "Este estudo deverá fornecer uma base para pesquisas de mais evidências da influência das chuvas de meteoros na interacção de Mercúrio com o seu ambiente do Sistema Solar."

Um artido da pesquisa está disponível online na revista Icarus.

Fonte: NASA

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Encontradas duas famílias de cometas em torno de estrela próxima

O instrumento HARPS, em operação no Observatório de La Silla do ESO no Chile, foi utilizado no censo mais completo feito até hoje de cometas em torno de outra estrela.

ilustração de exocometas em torno de Beta Pictoris

© ESO/L. Calçada (ilustração de exocometas em torno de Beta Pictoris)

Uma equipe de astrônomos franceses estudaram quase 500 cometas individuais que orbitam a estrela Beta Pictoris e descobriram que estes objetos pertencem a duas famílias distintas de exocometas: exocometas velhos que fizeram já várias passagens próximo da estrela e exocometas mais jovens que se formaram provavelmente da recente destruição de um ou mais objetos maiores.

Beta Pictoris é uma estrela jovem situada a cerca de 63 anos-luz de distância do Sol. Tem apenas 20 milhões de anos de idade e encontra-se rodeada por um disco de material enorme, um sistema planetário jovem muito ativo onde o gás e a poeira são produzidos tanto pela evaporação de cometas como pela colisão de asteroides.
Flavien Kiefer (IAP/CNRS/UPMC), autor principal do novo estudo explica: ”Beta Pictoris é um alvo muito interessante! Observações detalhadas dos seus exocometas fornecem pistas que nos ajudam a compreender que processos ocorrem neste tipo de sistemas planetários jovens”.
Durante quase 30 anos os astrônomos observaram variações sutis na radiação emitida por Beta Pictoris, que se pensava serem causadas pela passagem de cometas em frente da própria estrela. Os cometas são corpos pequenos, com alguns quilômetros de tamanho, ricos em gelos que se evaporam quando o corpo se aproxima da estrela, produzindo enormes caudas de gás e poeira, que podem absorver alguma da radiação que passa através delas. A fraca luz emitida pelos exocometas é ofuscada pela radiação da estrela brilhante e por isso não se conseguem obter imagens diretas destes objetos a partir da Terra.
Para estudar os exocometas de Beta Pictoris, a equipe analisou mais de 1.000 observações obtidas entre 2003 e 2011 com o instrumento HARPS, montado no telescópio de 3,6 metros do ESO, no Observatório de La Silla, no Chile.
Os pesquisadores selecionaram uma amostra de 493 exocometas diferentes. Alguns exocometas foram observados por diversas vezes e durante algumas horas. Uma análise detalhada permitiu obter medições da velocidade e tamanho das nuvens de gás. Foram também deduzidas algumas das propriedades orbitais de cada um dos cometas, como a forma e orientação da órbita e a distância à estrela.
Este tipo de análise efetuada em várias centenas de exocometas pertencentes a um único sistema exoplanetário é única. O trabalho revelou a presença de dois tipos distintos de famílias de exocometas: uma família de exocometas cujas órbitas são controladas por um planeta de grande massa e outra família, provavelmente originada pela destruição recente de um ou mais objetos maiores. Um planeta gigante, Beta Pictoris b, foi descoberto em órbita a cerca de um bilhão de quilômetros da estrela e estudado através de imagens de alta resolução obtidas com ótica adaptativa. Diferentes famílias de cometas existem igualmente no Sistema Solar.
Os exocometas da primeira família apresentam uma variedade de órbitas e mostram atividade relativamente fraca com baixas taxas de produção de gás e poeira, o que sugere que estes cometas gastaram já o seu conteúdo em gelo durante múltiplas passagens perto de Beta Pictoris. Mais ainda, as órbitas destes cometas (excentricidade e orientação) são exatamente as previstas para cometas apanhados em ressonância orbital com um planeta de elevada massa. As propriedades dos cometas da primeira família mostram que este planeta em ressonância deve estar a cerca de 700 milhões de quilômetros da estrela, perto do local onde o planeta Beta Pictoris b foi descoberto.
Os exocometas da segunda família encontram-se muito mais ativos e deslocam-se em órbitas quase idênticas, o que sugere que os membros desta família têm todos a mesma origem: provavelmente a destruição de um objeto maior cujos fragmentos se encontram numa órbita rasante da estrela Beta Pictoris. O que os torna semelhantes aos cometas da família Kreutz do Sistema Solar, ou aos fragmentos do Cometa Shoemaker-Levy 9, que chocou com o planeta Júpiter em julho de 1994.
Flavien Kiefer conclui: “Esta é a primeira vez que um estudo estatístico determina a física e órbitas de um grande número de exocometas. Este trabalho dá-nos um olhar fantástico sobre os mecanismos que estavam presentes no Sistema Solar logo após a sua formação, há cerca de 4,5 bilhões de anos atrás”.

Os novos resultados serão publicados amanhã na revista Nature.

Fonte: ESO

sexta-feira, 7 de março de 2014

Choque de cometas explica caroço de gás em torno de estrela jovem

Astrônomos anunciaram a descoberta de um caroço inesperado de monóxido de carbono gasoso no disco de poeira que circunda a estrela Beta Pictoris.

ilustração de Beta Pictoris

© Goddard Space Flight Center/F. Reddy (ilustração de Beta Pictoris)

A descoberta, feita com observações obtidas pelo Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) situado no norte do Chile, é surpreendente uma vez que se espera que tal gás seja rapidamente destruído pela radiação estelar. Algo, provavelmente colisões frequentes entre objetos pequenos e gelados, como cometas, faz com que o gás esteja sendo constantemente criado.

A Beta Pictoris, uma estrela próxima facilmente observável a olho nu no céu austral, já é tida como sendo o arquétipo dos sistemas planetários jovens. Sabe-se que abriga um planeta que orbita a estrela a uma distância de 1,2 bilhões de quilômetros e foi uma das primeiras estrelas que se descobriu rodeada por um enorme disco de poeira. Há muitas estrelas que se encontram envolvidas por nuvens de poeira em movimento, os chamados detritos de poeira. Trata-se dos restos de uma colisão em cascata de rochas em torno da estrela, um pouco como a destruição colisional da estação espacial que aparece no filme Gravity (mas a uma escala muito maior).
As novas observações do ALMA mostram que o disco está permeado de gás de monóxido de carbono. Paradoxalmente, a presença deste gás, tão prejudicial aos humanos na Terra, poderá indicar que o sistema planetário Beta Pictoris se tornará eventualmente passível de abrigar vida. O bombardeamento de cometas que os seus planetas sofrem atualmente está muito provavelmente fornecendo-lhes água indispensável à vida. Os cometas contêm gelos de monóxido de carbono, dióxido de carbono, amônia e metano, no entanto a sua componente majoritária é uma mistura de poeira e gelo de água.

ALMA image of carbon monoxide around Beta Pictoris (infographic)

© ESO/NASA (diagrama da concentração de monóxido de carbono em torno de Beta Pictoris)

No entanto, o monóxido de carbono é rápida e facilmente destruído pela radiação estelar, que dura apenas cerca de 100 anos no local onde se encontra no disco de Beta Pictoris. Observá-lo num disco com 20 milhões de anos de idade é realmente uma surpresa. A pergunta é então: de onde é que este gás vem e porque é que ainda lá se encontra?
“A não ser que estejamos observando Beta Pictoris num momento muito particular, o monóxido de carbono deve estar sendo continuamente criado” diz Bill Dent, um astrônomo do ESO trabalhando no Escritório do ALMA em Santiago, Chile, e autor principal do artigo científico. “A fonte mais abundante de monóxido de carbono num sistema estelar jovem é a colisão de objetos gelados, desde cometas a objetos maiores do tamanho de planetas”.
Mas a taxa de destruição tem que ser muito elevada: “Para que haja a quantidade de monóxido de carbono que estamos observando, a taxa de colisões tem de ser verdadeiramente espantosa; uma colisão de um cometa grande a cada cinco minutos”, diz Aki Roberge, astrônomo no Goddard Research Center da NASA, em Greenbelt, EUA e co-autor do artigo. “E para termos este número de colisões, terá que haver uma enorme concentração de cometas”.
O ALMA mostrou ainda outra surpresa, já que as observações revelaram não apenas o monóxido de carbono mas permitiram também mapear a sua localização no disco, devido à capacidade única do ALMA em medir simultaneamente posições e velocidades: o gás concentra-se num único caroço compacto. Esta concentração situa-se a 13 bilhões de quilômetros de distância da estrela, o que corresponde a cerca de três vezes a distância de Netuno ao Sol. A razão por que o gás se concentra neste pequeno caroço tão longe da estrela permanece um mistério.
“Este caroço de gás é uma importante pista sobre o que se passa nas regiões mais externas deste sistema planetário jovem”, diz Mark Wyatt, astrônomo da Universidade de Cambridge, RU, e co-autor do artigo. Mark explica que existem dois processos pelos quais este caroço se pode ter formado: “Ou a atração gravitacional de um planeta ainda não detectado, com massa semelhante à de Saturno, concentra as colisões cometárias nesta pequena região, ou o que estamos vendo são os resquícios de uma colisão catastrófica entre dois planetas gelados com massas semelhantes à de Marte”.
Ambas estas hipóteses dão aos astrônomos razões para esperar descobrir vários outros planetas em torno de Beta Pictoris. “Este monóxido de carbono é apenas o início, podem haver outras moléculas pré-orgânicas mais complexas libertadas por estes corpos gelados”, acrescenta Roberge.
Estão previstas mais observações com o ALMA, que ainda não alcançou sua capacidade máxima, para se continuar estudando este intrigante sistema planetário e consequentemente ajudar-nos a compreender quais as condições que existiam durante a formação do nosso Sistema Solar.

Os novos resultados foram publicados na revista Science.

Fonte: ESO

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Misteriosos centauros podem ser cometas

A verdadeira identidade dos centauros, os pequenos corpos celestes que orbitam o Sol entre Júpiter e Netuno, é um dos grandes mistérios persistentes da astrofísica. Eles são asteroides ou cometas?

ilustração de Centauro com asteroides e cometas

© NASA/JPL (ilustração de Centauro com asteroides e cometas)

Um novo estudo de observações feitas com o Wide-field Infrared Survey Explorer (WISE) da NASA indica que a maior parte dos objetos centauros são cometas.

Até agora, os astrônomos não tinham certeza se os centauros são asteroides expulsos da parte interna do Sistema Solar, ou cometas viajando em direção ao Sol de muito longe. Devido a sua natureza dúbia, eles receberam o nome da criatura da mitologia grega que tem cabeça e dorso humano e pernas de cavalo.

“Como as criaturas místicas, os objetos centauros parecem ter uma vida dupla”, disse James Bauer do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, em Pasadena, na Califórnia. “Nossos dados apontam para uma origem cometária para a maior parte dos objetos, sugerindo que eles veem dos locais mais profundos do Sistema Solar”.

A origem cometária significa que um objeto provavelmente é feito do mesmo material de um cometa, que pode ter sido um cometa ativo no passado e que pode voltar a ser ativo no futuro.

As descobertas vieram da maior pesquisa em infravermelho já realizada até a data dos centauros e de seus primos mais distantes, chamados de objetos dispersos de disco. A NEOWISE, a porção da missão WISE que caça asteroides, adquiriu imagens infravermelhas de 52 centauros e objetos dispersos de disco. Quinze dos 52 são novas descobertas. Os Centaurus e os objetos dispersos de disco orbitam em um cinturão instável. A gravidade dos planetas gigantes levarão esses objetos para mais perto do Sol ou para mais distante de suas posições atuais.

Embora os astrônomos já tivessem observado anteriormente alguns dos objetos centauros com halos empoeirados, uma característica comum de cometas, e o telescópio espacial Spitzer da NASA também tivesse encontrado evidências para cometas no grupo, eles não eram capazes de estimar o número de cometas e asteroides.

Dados infravermelhos da missão NEOWISE fornecem informações sobre o albedo dos objetos, ou seja, sua refletividade, para ajudar os astrônomos a vasculharem a população. A missão NEOWISE pode dizer se um objeto centauro tem uma superfície escura ou uma superfície brilhante e que reflete mais luz. As peças do quebra-cabeça começam a fazer sentido quando os astrônomos combinam as informações de albedo com o que já se sabia sobre as cores dos objetos. Observações na luz visível têm mostrado que os objetos centauros normalmente têm tonalidades azul acinzentadas ou mais avermelhadas. Um objeto azul acinzentado poderia ser um asteroide ou um cometa. A missão NEOWISE mostrou que a maior parte dos objetos azul acinzentados são escuros, uma assinatura dos cometas. Um objeto mais avermelhado é mais provável que seja um asteroide.

“Os cometas têm uma superfície congelada coberta por material escuro, fazendo com que eles sejam mais escuros do que a maior parte dos asteroides”, disse o co-autor do estudo, Tommy Grav do Planetary Science Institute em Tucson, no Arizona. “As superfícies dos cometas tendem a ser mais escuras, enquanto que as dos asteroides são mais brilhantes como a da Lua”.

Os resultados indicam que aproximadamente dois terços da população dos objetos centauros são cometas, que vieram das regiões frígidas do nosso Sistema Solar. Não é claro se o restante dos objetos são asteroides. Os corpos centauros não perderam sua mística inteiramente, mas futuras pesquisas da missão NEOWISE podem revelar seus segredos mais escondidos.

Um artigo foi publicado online esta semana no periódico The Astrophysical Jornal.

Fonte: NASA