domingo, 7 de outubro de 2012

Novo buraco negro em nossa galáxia

O satélite Swift da NASA detectou recentemente uma crescente onda de alta energia de raios X de uma fonte na direção do centro da nossa galáxia, a Via Láctea.

ilustração da emissão de raios X em buraco negro

© NASA (ilustração da emissão de raios X em buraco negro)

A explosão, produzida por uma rara nova de raio X, anunciou a presença de um até então desconhecido buraco negro de massa estelar.
Uma nova de raios X é um curta fonte de raios X que aparece de repente, atinge o seu pico de emissão em alguns dias e depois desaparece ao longo de um período de meses. A explosão ocorre quando uma torrente de gás armazenado, inesperadamente corre em direção a um dos objetos mais compactos conhecidos, uma estrela de nêutrons ou um buraco negro.
O objeto foi nomeado Swift J1745-26 após identificação das coordenadas da sua posição no céu, a nova está localizada a poucos graus do centro de nossa galáxia em direção à constelação de Sagitário. Embora os astrônomos não sabem a sua distância precisa, eles acham que o objeto reside cerca de 20.000 a 30.000 anos-luz de distância, na região interior da galáxia. Observatórios terrestres detectaram emissões de infravermelho e rádio, mas espessas nuvens de poeira que obscurecem o objeto impediram a sua detecção, desde a captura do Swift J1745-26 em luz visível. A nova apresentou pico em raios X de alta energia, acima de 10.000 eV (elétron-volts), ou vários milhares de vezes maior que a luz visível em 18 de setembro, quando atingiu uma intensidade equivalente ao da famosa Nebulosa do Caranguejo, uma remanescente de supernova que serve como um alvo de calibração de alta energia aos observatórios e é considerada uma das mais brilhantes fontes além do sistema solar. Na quarta-feira, o Swift J1745-26 foi 30 vezes mais brilhantes em raios X do que quando foi descoberto e ele continuou a brilhar.

O padrão observado é de uma nova de raios X onde o objeto central é um buraco negro. Uma vez que os raios X desaparecerem, será possível medir a sua massa e confirmar seu status buraco negro. O buraco negro tem de ser membro de um sistema binário de raios X de baixa massa (LMXB), que inclui uma estrela normal como o Sol. Um fluxo de gás flui da estrela normal e entra em um disco de armazenamento em torno do buraco negro. Na maioria dos LMXBs, o gás colapsa para dentro, esquenta enquanto se dirige para o interior do buraco negro, e produz um fluxo constante de raios X. Mas em certas condições, o fluxo estável dentro do disco depende da taxa de matéria que flui a partir da estrela companheira.

Cada explosão limpa o disco interno, e com pouca ou nenhuma matéria caindo em direção ao buraco negro, o sistema deixa de ser uma fonte brilhante de raios X. Décadas mais tarde, depois do gás estiver suficiente acumulado no disco externo, ele envia um dilúvio de gás em direção ao buraco negro, resultando em uma nova explosão de raios X. Esse fenômeno, chamado de ciclo limite térmico viscoso, ajuda os astrônomos explicarem as explosões transitórias em uma ampla gama de sistemas, a partir de discos protoplanetários ao redor de estrelas jovens até buracos negros supermassivos no coração de galáxias distantes.

Fonte: NASA

sábado, 6 de outubro de 2012

A melhor medição da expansão do Universo

Astrônomos usando o telescópio espacial Spitzer da NASA anunciaram a medida mais precisa até agora da constante de Hubble, ou a velocidade com que o nosso Universo se expande.

ilustração da escala de distância cósmica

© NASA (ilustração da escala de distância cósmica)

A constante de Hubble tem o nome do astrônomo Edwin P. Hubble, que surpreendeu o mundo na década de 1920, confirmando que o nosso Universo tem-se expandido desde o Big Bang há 13,7 bilhões de anos atrás. No final da década de 90, foi descoberto que a expansão está acelerando, ou seja, subindo de velocidade ao longo do tempo. A determinação da taxa de expansão é fundamental para a compreensão da idade e tamanho do Universo.

Ao contrário do telescópio espacial Hubble, que observa o Universo no visível, o Spitzer explora um longo comprimento de onda infravermelho para fazer a sua nova medição. Esta medição melhora por um fator de 3 um estudo semelhante do telescópio Hubble e desce a incerteza até 3%, um salto de gigante na precisão para medições cosmológicas. O novo valor apurado para a constante de Hubble é 74,3 ± 2,1 quilômetros por segundo por megaparsec [(km/s)/Mpc]. Um megaparsec é cerca de 3,26 milhões de anos-luz.

Os resultados obtidos pelo Spitzer foram combinados com dados publicados da sonda WMAP (Wilkinson Microwave Anisotropy Probe) da NASA para obter uma medição independente da energia escura, um dos maiores mistérios do Cosmos. Pensa-se que a energia escura esteja vencendo uma batalha contra a gravidade, puxando o tecido do Universo. Pesquisas com base nesta aceleração foram premiadas com o Nobel da Física em 2011.

A visão infravermelha, que consegue penetrar a poeira para proporcionar melhores vistas de estrelas variáveis chamadas cefeidas, permitiu ao Spitzer melhorar as medições anteriores da constante de Hubble. Estas estrelas pulsantes são de importância vital para o que os astrônomos chamam de escala de distância cósmica: um conjunto de objetos com distâncias conhecidas que, quando combinados com a velocidade a que os objetos se afastam de nós, revelam a velocidade de expansão do Universo.

As cefeidas são cruciais para os cálculos, pois as suas distâncias da Terra podem ser medidas facilmente. Em 1908, Henrietta Leavitt descobriu que estas estrelas pulsam a uma taxa diretamente relacionada com o seu brilho intrínseco.

Para visualizar o porquê de isto ser tão importante, imagine alguém que se afasta com uma vela na mão. Quanto mais distante está, mais fraca será a sua luz. O seu brilho aparente revelaria a sua distância. O mesmo princípio aplica-se às cefeidas, as "velas" padrão do nosso Cosmos. Ao medir quão brilhantes aparecem no nosso céu, e ao comparar este brilho com o seu brilho conhecido se estivessem perto, os astrônomos podem calcular a sua distância à Terra.

relação período de variabilidade-luminosidade das cefeidas

© NASA (relação período de variabilidade-luminosidade das cefeidas)

O Spitzer observou 10 cefeidas na nossa própria Galáxia, a Via Láctea, e 80 noutra galáxia vizinha chamada Grande Nuvem de Magalhães. Sem a poeira cósmica bloqueando a nossa visão, a equipe do Spitzer foi capaz de obter medidas mais precisas do brilho aparente das estrelas, e portanto das suas distâncias. Estes dados abrem o caminho para uma estimativa nova e melhorada da velocidade de expansão do nosso Universo.

O estudo foi publicado na revista Astrophysical Journal.

Fonte: NASA

Último suspiro da Nebulosa da Hélice

Uma estrela anã branca que está morrendo foi detectada em uma imagem combinada dos telescópios Spitzer e WISE, da agência espacial americana (NASA), e Galaxy Evolution Explorer (GALEX), do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), em Pasadena.

Nebulosa da Hélice

© Nasa/JPL-Caltech (Nebulossa da Hélice)

O astro, chamado Nebulosa da Hélice ou NGC 7293, expele material cósmico e, em enquanto sua vida termina, tem um brilho potencializado pela intensa radiação ultravioleta do núcleo. O objeto fica a 650 anos-luz da Terra, na Constelação de Aquário.

Os dados infravermelhos do Spitzer aparecem, na foto acima, em verde e vermelho na parte central; os do WISE estão em verde e vermelho nas áreas externas; e as informações ultravioleta do GALEX são observadas em azul.

O brilhante círculo roxo no centro da imagem é uma combinação de registros do disco de poeira que circula a anã branca. Esse pó foi provavelmente lançado por cometas que sobreviveram à morte de sua estrela original.

A Nebulosa da Hélice é um exemplo típico de nebulosas planetárias, que foram descobertas no século 18 e batizadas assim de forma incorreta, por sua semelhança com planetas gasosos gigantes. Esses corpos celestes são, na verdade, restos de estrelas que um dia se pareceram com o nosso Sol.

Ao longo da vida, astros como esse transformam gás hidrogênio em hélio, em reações de fusão nuclear dentro deles. Esse processo é o mesmo que nos fornece a luz e o calor necessários para a vida na Terra, por exemplo. Assim como a Nebulosa da Hélice, o Sol também terá este destino, como uma nebulosa planetária, quando morrer após 5 bilhões de anos.

Assim que o combustível de hidrogênio necessário para a reação se esgota, a estrela usa apenas o hélio como fonte de combustível, queimando-o em uma mistura de carbono, nitrogênio e oxigênio.

Finalmente, o hélio também se esgota e a estrela morre, desprendendo suas camadas gasosas externas. Sobra apenas o núcleo pequeno, denso e quente, chamado de anã branca, que tem mais ou menos o tamanho da Terra, mas uma massa próxima ao da estrela original.

Antes de essa estrela morrer, seus cometas e possivelmente planetas teriam estado em sua órbita de forma ordenada. Quando ela deixou de queimar hidrogênio e explodiu suas camadas exteriores, corpos celestes gelados e planetas externos teriam sido jogados uns contra os outros, levantando uma tempestade de poeira cósmica. Qualquer outro planeta dentro do sistema também teria sido queimado ou engolido durante a evolução do astro.

Fonte: NASA

No coração da Nebulosa de Órion

Perto do centro desse nítido retrato cósmico, no coração da Nebulosa de Órion, estão quatro estrelas quentes e massivas que formam um conjunto conhecido como Trapezium.

Trapezium e Nebulosa de Órion

© Robert Gendler (Trapezium e Nebulosa de Órion)

Agrupadas dentro de uma região de aproximadamente 1,5 anos-luz de raio, elas dominam o núcleo do denso aglomerado de estrelas da Nebulosa de Órion. A radiação ionizante ultravioleta das estrelas do Trapezium, na sua maior parte proveniente da estrela mais brilhante, conhecida como Theta 1 Orionis C, energiza o brilho visível de toda a região do complexo de formação de estrelas. Com aproximadamente 3 milhões de anos de idade, o aglomerado da Nebulosa de Órion já foi mais compacto quando era mais jovem e um recente estudo dinâmico indicam que colisões estelares em idades anteriores podem ter formado um buraco negro com uma massa 100 vezes maior que o Sol. A presença de um buraco negro dentro do aglomerado poderia explicar as altas velocidades observadas nas estrelas do Trapezium. Se esse estudo for confirmado e com a distância da Nebulosa de Órion estimada em 1.500 anos-luz esse seria o buraco negro mais próximo da Terra já conhecido.

Fonte: NASA

O maior radiotelescópio do planeta

O radiotelescópio Australian Square Kilometre Array Pathfinder (Askap) do Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation (CSIRO), o maior e mais avançado do planeta, foi inaugurado ontem em uma área desértica da Austrália com o objetivo de investigar a origem das estrelas, quasares e pulsares, e fazer um censo de todas as galáxias.

antenas do radiotelescópio implantado na Austrália

© CSIRO (antenas do radiotelescópio implantado na Austrália)

Com um custo de mais de 1,5 bilhão de euros, o Askap também contará com antenas e instalações na Nova Zelândia e África do Sul.

O Askap está situado no deserto do estado da Austrália Ocidental, em uma área de 126 quilômetros quadrados que conta com o Observatório Radioastronómico de Murchison e 36 antenas SKA (Square Kilometre Array), de 12 metros de diâmetro cada uma.

Embora ainda não esteja completo, a primeira parte do projeto começará a operar no ano 2020, o Askap começará a enviar dados hoje mesmo ao observatório, onde está previsto que se maneje diariamente uma informação equivalente a 124 milhões de discos Blu-ray.

Para que as ondas das cidades não causem interferências, o radiotelescópio foi instalado um lugar remoto e desértico da Austrália.

O avançado aparelho também fornecerá imagens detalhadas sobre o Universo em suas origens, adentrando com velocidade e precisão em muitas áreas do espaço que ainda são desconhecidas para os astrônomos.

O estudo das ondas de rádio oferecerá informações sobre o gás que formam as estrelas e corpos exóticos como os quasares e os pulsares, que estão nos limites do conhecimento sobre as leis físicas no Universo.

Enquanto se completam as obras na Austrália, o Askap trabalhará em uma dezena de projetos de pesquisa nos quais participarão 350 cientistas de 130 organizações nos próximos cinco anos.

Os programas selecionados está o censo de todas as galáxias existentes há trilhões de anos da Terra, o estudo da formação da Via Láctea, assim como os campos magnéticos do Universo e seu papel na formação das estrelas e galáxias. Outro projeto se centrará nos buracos negros do Universo. Existe também a perspectiva de pesquisa, como objetivo secundário, sobre a existência de vida extraterrestre.

A organização internacional SKA (Square Kilometre Array) anunciou no último dia 25 de maio, na cidade britânica de Manchester, que Austrália, Nova Zelândia e África do Sul acolheriam o supertelescópio. Neste caso, o plano é construir 3 mil rádios-antena conectadas por fibra óptica de banda larga alta.

Segundo a Organização Científica e de Investigação Industrial da Austrália, as antenas trabalharão conjuntamente com o telescópio e tomarão dados em uma área de um quilômetro quadrado, sendo que suas imagens serão 50 vezes mais sensíveis que as dos telescópios atuais.

Fonte: CSIRO

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A nebulosa Elmo de Thor

Hoje, 5 de outubro de 2012, o Observatório Europeu do Sul (ESO) celebra 50 anos desde a assinatura da sua convenção fundadora.

nebulosa Elmo de Thor

© ESO (nebulosa Elmo de Thor)

Durante o último meio século, o ESO tornou-se o observatório astronômico terrestre mais produtivo do mundo. Esta manhã foram feitas, pela primeira vez, observações de um objeto escolhido pelo público, com o Very Large Telescope (VLT) do ESO. A vencedora de um concurso de aniversário apontou o VLT para a espetacular nebulosa Elmo de Thor, sendo que as observações foram transmitidas ao vivo pela internet. Para assinalar a ocasião, o ESO e os seus parceiros estão organizando muitas outras atividades nos 15 Estados Membros do ESO.

A assinatura da Convenção do ESO a 5 de outubro de 1962 e a fundação do ESO foi o culminar do sonho dos astrônomos líderes de cinco países europeus - Alemanha, Bélgica, França, Holanda e Suécia. Estes países resolveram unir forças no sentido de construírem um telescópio grande que lhes desse acesso ao magnifico e rico céu austral.

"Cinquenta anos depois, as esperanças originais dos cinco membros fundadores não só se tornaram realidade, como também foram largamente ultrapassadas," diz Tim de Zeeuw, Diretor Geral do ESO. "O ESO embarcou completamente no desafio de conceber, construir e operar as infraestruturas de observação terrestres mais poderosas do planeta."

Operando três locais de observação únicos e de vanguarda no Chile - La Silla, Paranal e Chajnantor - o ESO tornou-se um líder no seio da comunidade de investigação astronômica.

No Paranal, o ESO opera o VLT, o observatório óptico terrestre mais avançado do mundo, o qual, desde a primeira luz em 1998, tem sido o grande motor por trás de uma nova era de descobertas. No Planalto do Chajnantor, no norte do Chile, o ESO e os seus parceiros internacionais estão construindo um telescópio astronômico revolucionário - ALMA, o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array, que ajudará a descobrir os mistérios do Universo frio.

O observatório original do ESO em La Silla é ainda muito produtivo e permanece na vanguarda da pesquisa astronômica. Em particular, o instrumento HARPS, montado no telescópio de 3,6 metros, é o descobridor de exoplanetas mais bem sucedido do mundo.

O próximo grande telescópio do ESO encontra-se apenas a alguns anos de distância. O European Extremely Large Telescope (E-ELT) de 39 metros, será o "maior olho no céu do mundo". Com as primeiras observações previstas para o início da próxima década, o E-ELT abordará os maiores desafios científicos da nossa época e poderá revolucionar a nossa percepção do Universo, do mesmo modo que o telescópio de Galileu o fez há mais de 400 anos atrás.

Para celebrar o 50º aniversário, o ESO e os seus parceiros estão organizando muitos eventos e iniciativas públicas durante 2012. Uma série de eventos públicos especiais coordenados estão acontecendo hoje nos 15 Estados Membros, assim como muitas exposições do Universo Deslumbrante.

Como parte das celebrações de aniversário, e pela primeira vez, esta manhã o VLT apontou para um objeto no céu escolhido por membros do público - a nebulosa Elmo de Thor. Esta nebulosa foi escolhida no recente concurso Escolha o que o VLT vai observar. As observações foram feitas por Brigitte Bailleul - vencedora do concurso Tuíte até ao VLT! - e foram transmitidas ao vivo pela internet a a partir do observatório do Paranal. Esta imagem, obtida sob excelentes condições de observação, típicas do Paranal, é a mais detalhada até hoje deste objeto.

"Com o VLT, o ALMA e o futuro E-ELT, o ESO está entrando numa nova era, uma que nem mesmo os iniciais sonhos ambiciosos dos membros fundadores do ESO poderiam ter previsto. A todos os que tornaram isto possível, obrigado da parte do ESO!" conclui Tim de Zeeuw.

Isto não é tudo, muitas contribuições virão até o primeiro século do ESO!

Fonte: ESO

Estrela de menor período no centro galáctico

Descoberta uma estrela que orbita o buraco negro no centro da Via Láctea a uma distância recorde.

órbitas das estrelas S0-2 e S0-102

© UCLA/Andrea Ghez (órbitas das estrelas S0-2 e S0-102)

O objeto demora "apenas" 11,5 anos para dar uma volta ao redor do buraco negro; para se ter ideia, é apenas a segunda estrela conhecida com uma órbita menor que 20 anos, a maioria leva mais de seis décadas. Os dados foram obtidos  de 1995 a 2012 através dos telescópios W. M. Keck, localizados em Mauna Kea, no Havaí.

Os cientistas nomearam a nova estrela de S0-102. Antes dela, a estrela de menor órbita conhecida (16 anos) era a S0-2. Esses dois objetos podem ajudar agora os pesquisadores a testar uma das mais bem sucedidas teorias da ciência.

"O teste da Teoria Geral da Relatividade de Albert Einstein é o próximo objetivo", afirma o artigo. Segundo os pesquisadores, as previsões do físico alemão passaram nos experimentos realizados no Sistema Solar, mas nunca foram testadas em um objeto de massa tão grande quanto um buraco negro supermassivo.

"O potencial gravitacional da região onde S0-102 e S0-2 estão é duas ordens de magnitude maior que os testes de gravidade anteriores, como os testes no Sistema Solar ou do pulsar binário de Hulse-Taylor", diz Andrea Ghez, cientista da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e autora do estudo. Ela explica que dois experimentos podem ser realizados.

"Estes dois testes poderão ser feitos com as duas estrelas de curto período ao redor do buraco negro central: nós poderemos testar o desvio gravitacional para o vermelho impresso na luz emitida por uma estrela que está dentro da região do buraco negro. O desvio para o vermelho testa o princípio da equivalência de Einstein, segundo o qual, a massa gravitacional e inercial são iguais", diz a pesquisadora.

O desvio gravitacional para o vermelho ocorre quando a luz, ao deixar um campo gravitacional forte, perde energia (não se deve confundir com o efeito Doppler, que ocorre devido ao movimento). Já o princípio da equivalência diz que não conseguimos distinguir, sem um referencial, entre o efeito da gravidade e de um objeto em aceleração. Por exemplo, em um foguete sem janelas, não saberíamos dizer se estamos parados no chão ou acelerando a uma velocidade equivalente. Ou seja, não há distinção entre a massa gravitacional e a inercial.

"O redshift (desvio para o vermelho) gravitacional também é uma consequência direta deste princípio da equivalência. Como o campo gravitacional nas vizinhanças do buraco negro é muito intenso, as observações dos corpos presentes nessas regiões podem fornecer informações sobre o fenômeno em um regime que ainda não foi testado. Essa é a grande importância desse estudo", explica Gustavo Rojas, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFScar) e representante no Brasil do Observatório Europeu do Sul (ESO).

No outro teste, os pesquisadores pretendem estudar o momento de maior aproximação dessas estrelas ao buraco negro (periapse), o que leva a um desvio da órbita para uma elipse perfeita. Isso vai testar a forma quantitativa da teoria, isto é, as equações de Einstein.

Um dos primeiros testes bem sucedidos da Teoria da Relatividade Geral foi explicar a precessão do periélio (ponto de maior aproximação do Sol) de Mercúrio, a mudança da posição do periélio ao longo do tempo, que a mecânica newtoniana não conseguia prever com precisão. A precessão da periapse é mais acentuada quando há um objeto muito massivo envolvido, o que é o caso de um buraco negro. Novamente, as observações destas estrelas são importantes, pois fornecem informações desse fenômeno em um campo gravitacional muito intenso, constituindo um teste adicional da teoria em um regime gravitacional extremo.

Contudo, esses testes não devem ocorrer tão cedo. Segundo a pesquisadora, o primeiro deles deve acontecer somente em 2018, quando S0-2 chega ao ponto mais próximo do buraco negro. Para o outro, contudo, ainda não há tecnologia suficiente. "Nós teremos que aguardar a próxima geração de telescópios ópticos, como o Telescópio de 30 metros (previsto para ser concluído na próxima década), para conseguir a precisão necessária".

Fonte: Terra e Science

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Dupla de buracos negros desafia teoria

Cientistas americanos encontraram um agrupamento de estrelas, dentro da Via Láctea, no qual foram detectados dois buracos negros ao invés de um.

ilustração da coexistência de dois buracos negros

© B. Bivort (ilustração da coexistência de dois buracos negros)

O aglomerado globular M22, formado por até 1 milhão de estrelas, contém pelo menos dois buracos negros, uma descoberta que modifica a teoria mais sólida até o momento. Segundo esta mesma teoria, nestes agrupamentos de estrelas são gerados centenas de buracos negros, mas a maioria deles é expulso para o exterior por conta da força gravitacional, fazendo com que só um permaneça dentro do aglomerado.

"Os processos físicos que esperamos que aconteçam estão, de fato, tendo um lugar no aglomerado. Os buracos negros são mais massivos que as estrelas, o que faz com que migrem ao centro do aglomerado e interajam entre eles, o que por sua vez faz com que muitos buracos negros sejam expulsos do agrupamento", explicou o astrônomo Jay Strader, da Michigan State University (EUA).

No entanto, a descoberta de dois buracos negros em um aglomerado demonstra que seu processo de expulsão não é tão eficiente como diz a maioria das teorias. "Quando restam poucos buracos negros, não acho que interajam e se expulsem entre eles tão rapidamente, por isso que alguns permanecem mais tempo do que se pensava até agora", acrescentou o pesquisador.

De fato, Strader estima que este agrupamento, situado na constelação de Sagitário e que orbita em torno da Via Láctea como se fosse um satélite, poderia abrigar uma população de cerca de 5 a 100 buracos negros.

localização dos buracos negros

© NOAO/A. Block (localização dos buracos negros)

A descoberta aconteceu a partir de imagens da M22, um dos aglomerados de estrelas mais próximos da Terra, obtidas pelo Very Large Array (VLA), um observatório radio-astronômico situado no Novo México (EUA). A equipe de Strader calculou, além disso, que a massa de cada um destes buracos negros variaria entre 10 e 20 vezes a do Sol.

Outros pesquisadores tinham detectado a coexistência de mais de um buraco negro em outros agrupamentos, mas até agora tinha sido impossível determinar suas massas.

Strader ressaltou que estes são os primeiros buracos negros, situados em um agrupamento, que são detectados por emissões de rádio ao invés de raios X, o que significa que estariam aumentando de tamanho.

Fonte: EFE e Nature

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Uma colisão galáctica na NGC 6745

As galáxias normalmente não se parecem com o formato da galáxia NGC 6745, que na verdade mostra o resultado de duas galáxias que estão num processo de colisão que dura centenas de milhões de anos.

galáxia NGC 6745

© Hubble/Roger Lynds (galáxia NGC 6745)

Já fora da imagem acima, no canto inferior direito pode-se ver uma pequena parte da galáxia menor se movendo para longe. A galáxia maior, que antes era uma galáxia espiral normal, devido a colisão se apresenta com uma forma peculiar. A gravidade tem distorcido a forma das duas galáxias. Embora, muito provavelmente nenhuma estrela das duas galáxias tenham colidido diretamente, o gás, a poeira, e os campos magnéticos ambientais se interagem de forma direta. De fato, um nó de gás puxado para fora da galáxia maior na parte inferior direita da imagem agora está formando novas estrelas. A NGC 6745 se espalha por aproximadamente 80 mil anos-luz de diâmetro e está localizada a aproximadamente 200 milhões de anos-luz de distância.

Fonte: NASA

domingo, 30 de setembro de 2012

União de duas estrelas originou a supernova mais brilhante

A união de duas estrelas anãs brancas, estágio final da vida de um astro como o Sol, deu origem à supernova mais brilhante já observada até hoje, aponta um novo estudo feito pelo Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC) dos EUA.

supernova SN1006

© NASA (supernova SN1006)

Uma supernova é, em geral, uma explosão resultante da transferência de matéria entre duas estrelas – uma anã branca e outra normal, como o Sol, por exemplo. Uma anã branca tem massa de até 1,4 vez a do Sol e vai esfriando lentamente, pois seu combustível acabou.

A explosão que gerou a supernova SN1006 ocorreu no ano de 1006 e ficou visível pelos três anos seguintes, em diferentes partes do mundo. Relatos históricos dizem que o objeto – localizado a 7 mil anos-luz da Terra, na constelação do Lobo – era três vezes mais brilhante que o planeta Vênus e tinha um quarto do brilho da Lua.

Essa supernova é do tipo Ia, ou seja, gerada por dois objetos astronômicos ligados pela força gravitacional entre eles. Mas, como os astrônomos não identificaram, no lugar onde a SN1006 se formou, nenhum candidato a companheira da anã branca original, eles supõem que duas estrelas semelhantes se uniram, e que o material delas foi expulso sem deixar vestígios.

"Essa é a grande novidade, pois normalmente – em mais de 80% dos casos – há uma anã branca que explode, e a estrela companheira continua na órbita da supernova, não desaparece", diz o pesquisador da divisão de astrofísica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Carlos Alexandre Wuensche.

De acordo com a pesquisadora Pilar Ruiz-Lapuente, do CSIC, existem geralmente três tipos de estrelas no local das explosões: gigantes, subgigantes e anãs. E as atuais observações apontaram apenas a presença de quatro gigantes na região onde se encontram os remanescentes da SN1006. Isso indica que não há estrelas companheiras que sobreviveram à explosão, pois as gigantes não participam desse processo.

A equipe usou um equipamento de alta resolução do Very Large Telescope, que tem quase oito metros de altura e pertence ao Observatório Europeu do Sul, no norte do Chile. Colaboraram também pesquisadores da Universidade de San Fernando de la Laguna, nas Ilhas Canárias, da Universidade de Barcelona, da Universidade Complutense de Madri, na Espanha, e do Observatório Astronômico de Padova, na Itália.

Fonte: G1 e Nature

sábado, 29 de setembro de 2012

A Nebulosa da Íris

Como delicadas pétalas cósmicas, essas nuvens de poeira e gás interestelar estão brilhando a 1.300 anos-luz de distância, no fértil campo de estrelas da constelação de Cepheus.

Nebulosa da Íris

© Tony Hallas (Nebulosa da Íris)

Algumas vezes denominada de Nebulosa Íris e catalogada como NGC 7023, essa não é a única nebulosa localizada no céu e que tem o nome que evoca flores. Essa imagem mostra todas as variações de cores da Íris além de sua simetria em detalhe impressionante. Dentro da nebulosa, um material nebular empoeirado circunda uma estrela quente e jovem. A cor dominante da nebulosa de reflexão mais brilhante é azul, característica dos grãos de poeira que refletem a luz das estrelas. Os filamentos centrais das nuvens empoeiradas brilham com uma fraca fotoluminescência vermelha convertendo de forma efetiva a radiação ultravioleta invisível da estrela em luz visível vermelha.  Observações em infravermelho indicam que essa nebulosa pode conter complexas moléculas de carbono chamadas de PAHs (polycyclic aromatic hydrocarbons). A porção azul brilhante da Nebulosa da Íris tem aproximadamente seis anos luz de diâmetro.

Fonte: NASA

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Estrutura de jatos emitidos por buraco negro

Um estudo que envolveu instituições de diversos países conseguiu observar pela primeira vez a estrutura de jatos que são emitidos por um buraco negro supermassivo no centro de uma galáxia.

simulações mostram jatos do buraco negro

© U. Waterloo (simulações mostram jatos do buraco negro)

Simulações mostram jatos do buraco negro supermassivo no centro da galáxia M87. As imagens mostram modelos para três frequências diferentes: de 0,5 a 0,99 vezes o limite teórico para a velocidade de rotação de um buraco negro.

As observações indicam que esses buracos negros estão girando e a matéria que cai dentro deles gira no mesmo sentido. Acredita-se que esses jatos são emitidos devido à queda de matéria nos buracos negros através de um disco de acreção. Eles se estendem por milhares de anos-luz e podem ter grande influência na evolução das galáxias.

Segundo os pesquisadores, uma recente medida da massa e a posição do buraco negro no centro da galáxia M87 permitiram a melhor oportunidade já conhecida para fazer esse tipo de estudo. Os astrônomos usaram quatro telescópios - no Havaí, Arizona e dois na Califórnia - para poder fazer o registro.

jato emitido no centro da galáxia M87

© Hubble (jato emitido no centro da galáxia M87)

A união dos quatro instrumentos permitiu aos cientistas ter resolução suficiente para registrar a base de um jato na M87. O que mais chamou a atenção é que a base, o ponto de partida das moléculas ejetadas, era muito pequena que, de acordo com a teorias da geração desses jatos, o buraco negro teria que estar rodando, e a matéria que o orbita teria que seguir no mesmo sentido.

O estudo ajuda a entender melhor esses jatos, que provavelmente possuem função importante em reprocessar a matéria e energia do centro das galáxias para sua periferia. Os pesquisadores acreditam que entender como esses jatos extraem energia da região do buraco negro pode ajudar a elucidar como as galáxias evoluem.

Fonte: Science

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Halo de gás gigante ao redor de nossa galáxia

Observações realizadas pelo telescópio Chandra da NASA, do satélite japonês Suzaku e do observatório XMM-Newton da ESA indicam que a Via Láctea está rodeada por um gigantesco halo de gás quente que teria massa comparável às de todas as estrelas de nossa galáxia somadas.

ilustração do halo envolvendo a Via Láctea

© NASA (ilustração do halo envolvendo a Via Láctea)

A ilustração mostra o halo, e no centro a Via Láctea e suas vizinhas - a Grande e a Pequena Nuvem de Magalhães.

Se o tamanho e a massa do halo forem confirmados, ele poderia explicar o problema dos "bárions desaparecidos". Os bárions mais conhecidos são os prótons e os nêutrons (os elétrons, que também compõem os átomos, fazem parte do grupo dos léptons).

Essas partículas compõem mais de 99,9% da massa dos átomos no Universo. Observações de galáxias e halos de gás muito distantes indicam que existiam os bárions nos primórdios do Universo que representavam uma parcela maior da massa neste época. Ou seja, hoje, cerca de metade dessas partículas está "desaparecida".

O novo estudo indica que as partículas desaparecidas podem estar nesse halo. Segundo a pesquisa, o objeto tem oito fontes brilhantes de raios X a centenas de milhões de anos-luz de distância da Terra. Essas fontes têm temperatura entre cerca de 1 milhão e 2,5 milhão de graus Celsius - centenas de vezes mais quente que a superfície do Sol.

Os pesquisadores estimam que a massa desse gás é equivalente a 10 bilhões de vezes a do Sol, talvez até 60 bilhões de vezes. Eles acreditam ainda que ele pode ter "algumas centenas de milhares de anos-luz". A densidade é tão baixa que halos parecidos em outras galáxias podem ter escapado do registro dos pesquisadores.

Fonte: NASA e ESA