Esta nova imagem do Observatório Europeu do Sul mostra a estranha galáxia Centaurus A.
© ESO (galáxia Centaurus A)
Com um tempo total de exposição de mais de 50 horas, esta é provavelmente a imagem mais profunda já criada deste espetacular e incomum objeto. A imagem foi produzida com o instrumento Wide Field Imager montado no telescópio MPG/ESO de 2,2 metros, instalado no Observatório de La Silla do ESO, no Chile.
A Centaurus A, também conhecida como NGC 5128, é uma galáxia elíptica peculiar de grande massa com um buraco negro supermassivo no seu centro. A galáxia foi inicialmente documentada pelo astrônomo britânico James Dunlop no Observatório Parramalta na Austrália, a 4 de Agosto de 1826. Esta galáxia é frequentemente chamada Centaurus A porque foi a primeira fonte principal de ondas de rádio descoberta na constelação do Centauro nos anos 1950.
A galáxia situa-se a cerca de 12 milhões de anos-luz de distância na constelação do Centauro e distingue-se por ser a rádiogaláxia mais forte do céu. Os astrônomos pensam que o núcleo brilhante, a forte emissão de rádio e os jatos da Centaurus A são produzidos por um buraco negro central com uma massa de cerca de 100 milhões de vezes a massa do Sol. A matéria situada nas regiões centrais densas da galáxia liberta enormes quantidades de energia à medida que cai em direção ao buraco negro.
Esta imagem do Wide Field Imager permite-nos apreciar a natureza elíptica da galáxia, que aparece na forma alongada das regiões exteriores mais tênues. O brilho que enche a maior parte da imagem vem de centenas de bilhões de estrelas velhas e frias. Contrariamente à maioria das galáxias elípticas, a forma homogênea da Centaurus A é perturbada por uma faixa larga e "remendada" de material escuro, que obscurece o centro da galáxia.
A faixa escura contém grandes quantidades de gás, poeira e estrelas jovens. Os aglomerados de estrelas jovens brilhantes situados nas extremidades superior direita e inferior esquerda da faixa apresentam o brilho vermelho característico de nuvens de hidrogênio onde se formam estrelas, enquanto que algumas nuvens de poeira isoladas podem ser vistas contrastando com o fundo de estrelas. Estas características, juntamente com a emissão de rádio intensa, apontam para o fato provável da Centaurus A ter resultado da fusão entre duas galáxias. A faixa de poeira é provavelmente os restos desfeitos de uma galáxias espiral a ser rasgada pela atração gravitacional da galáxia elíptica gigante.
O novo conjunto de imagens do WFI inclui exposições de longa duração com os filtros vermelho, verde e azul, além de filtros especialmente concebidos para isolarem a radiação emitida pelo hidrogênio e oxigênio brilhantes. Estes últimos ajudam-nos a localizar os conhecidos jatos ópticos situados em volta da Centaurus A, jatos esses que eram praticamente invisíveis numa imagem obtida anteriormente pelo Wide Field Imager, vista abaixo.
© ESO (galáxia Centaurus A desprovida de jatos)
Estendendo-se desde a galáxia até ao canto superior esquerdo da nova imagem encontram-se dois grupos de filamentos avermelhados, mais ou menos alinhados com os enormes jatos proeminentes nas imagens em rádio. Ambos os conjuntos de filamentos são na realidade maternidades estelares que contêm estrelas quentes jovens. A origem de ambos os filamentos não é clara e os astrônomos debatem ainda se estes são o resultado da ionização produzida pela radiação que vem do núcleo ou se são o resultado de choques que se originam nos nós de gás. Por cima do lado esquerdo da faixa de poeira, encontramos os filamentos interiores, a cerca de 30.000 anos-luz de distância do núcleo. Mais para o exterior, a cerca de 65. 000 anos-luz de distância do núcleo da galáxia e próximo do canto superior esquerdo da imagem, os filamentos exteriores podem ser observados. Existem também muito provavelmente, traços de um contra-jato muito mais tênue, que se estende para a direita e para baixo.
Centaurus A foi já extensivamente estudada em comprimentos de onda que se vão desde o rádio até aos raios gama. Em particular, observações em rádio e raios X foram cruciais no estudo das interações entre a emissão altamente energética vinda do buraco negro de grande massa e os seus arredores; veja imagem a seguir.
© ESO (emissões em rádio e raios X obtidas na Centaurus A)
Estudos da Centaurus A feitos com o ALMA estão no seu início. Muitas das observações da Centaurus A utilizadas na criação desta imagem foram obtidas no intuito de ver se era possível usar rastreios terrestres para detectar e estudar estrelas variáveis em galáxias fora do nosso Grupo Local, tais como Centaurus A. Foram descobertas mais de 200 novas estrelas variáveis em Centaurus A.
Fonte: ESO