Há um ano atrás, Plutão era apenas um pontinho brilhante nas câmaras a bordo da sonda New Horizons da NASA, não muito diferente do seu aspeto telescópico desde que Clyde Tombaugh descobriu o então nono planeta em 1930.
© NASA/JHUAPL/SwRI/New Horizons (camadas de neblina no limbo de Plutão)
Mas esta semana, cientistas da New Horizons divulgam o primeiro conjunto compreensivo de artigos que descrevem os resultados da passagem por Plutão do verão passado. "Estes cinco documentos detalhados transformam completamente a nossa visão de Plutão, revelando que o antigo planeta é um mundo com geologia ativa e diversa, química superficial exótica, uma atmosfera complexa, uma interação misteriosa com o Sol e um sistema intrigante de pequenas luas," afirma Alan Stern, pesquisador principal da New Horizons do SwRI (Southwest Research Institute) em Boulder, no estado americano do Colorado.
Após uma viagem de 9,5 anos e 4,82 bilhões de quilômetros, lançada mais rápida e mais longe do que qualquer outra sonda para atingir o seu objetivo principal, a New Horizons passou por Plutão no dia 14 de julho de 2015. Os sete instrumentos científicos da New Horizons recolheram 50 gigabits (6,25 gigabytes) de dados digitais.
As primeiras imagens revelaram uma grande característica em forma de coração esculpida à superfície de Plutão, dizendo aos cientistas que este "novo" tipo de mundo planetário - o maior, o mais brilhante e o primeiro a ser explorado da distante "terceira zona" do nosso Sistema Solar conhecida como Cinturão de Kuiper - seria ainda mais interessante e intrigante do que os modelos previam.
Os artigos recém-publicados confirmam isso mesmo.
"A observação de Plutão e Caronte de perto levou-nos a reavaliar completamente que tipo de atividade geológica pode ser sustentada em corpos planetários isolados nesta distante região do Sistema Solar, mundos que anteriormente se pensava serem relíquias pouco alteradas desde a formação do Cinturão de Kuiper," afirma Jeff Moore, autor principal do artigo de geologia do Centro de Pesquisa Ames da NASA em Moffett Field, Califórnia.
Os cientistas que estudam a composição de Plutão dizem que a diversidade da sua paisagem resulta de eras de interação entre o metano altamente volátil e móvel, gelos de nitrogênio e monóxido de carbono com água gelada inerte e resistente. "Vemos variações na distribuição dos gelos voláteis de Plutão que apontam para ciclos fascinantes de evaporação e condensação," afirma Will Grundy do Observatório Lowell, em Flagstaff, Arizona, autor principal do artigo sobre a composição. "Estes ciclos são muito mais ricos do que os da Terra, onde há basicamente apenas um material que se condensa e evapora, a água. Em Plutão, existem pelo menos três materiais, e enquanto estes interagem de formas que ainda não compreendemos totalmente, vemos definitivamente os seus efeitos em toda a superfície de Plutão."
Acima da superfície, os cientistas descobriram que a atmosfera de Plutão contém neblinas em camadas e é mais fria e compacta do que se esperava. Isto afeta o modo como a atmosfera superior de Plutão é perdida para o espaço e como interage com o fluxo de partículas carregadas do Sol conhecido como vento solar. "Nós descobrimos que as estimativas anteriores obtidas pela New Horizons sobrestimaram em muito a perda de material da atmosfera de Plutão," afirma Fran Bagenal, da Universidade do Colorado, Boulder, autora principal dos artigos de partículas e plasma. "O pensamento era que a atmosfera de Plutão escapava como um cometa, mas na verdade escapa a um ritmo muito mais parecido com o da atmosfera da Terra."
Randy Gladstone, do SwRI em San Antonio é o autor principal do artigo científico sobre as descobertas atmosféricas. Ele salienta, "nós também descobrimos que o metano, não o nitrogênio, é o principal gás que escapa de Plutão. Isto é muito surpreendente, dado que perto da superfície de Plutão a atmosfera é mais de 99% nitrogênio."
Os cientistas também estão analisando as primeiras imagens de perto das pequenas luas Styx, Nix, Kerberos e Hydra. Descobertas entre 2005 e 2012, as quatro luas variam, em diâmetro, entre os 40 km para Nix e Hidra até 10 km para Styx e Kerberos. Os cientistas da missão observaram ainda que os pequenos satélites têm velocidades de rotação anômalas e orientações polares uniformemente invulgares, bem como superfícies geladas com brilhos e cores distintamente diferentes das de Plutão e Caronte.
Encontraram evidências de que algumas das luas resultaram da fusão de corpos ainda mais pequenos, e que as suas superfícies têm pelo menos 4 bilhões de anos. "Estes dois últimos resultados reforçam a hipótese de que as luas pequenas foram formadas na sequência de uma colisão que produziu o sistema binário Plutão-Caronte," afirma Hal Weaver, cientista do projeto New Horizons do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins em Laurel, no estado americano de Maryland, e autor principal do artigo científico sobre as pequenas luas de Plutão.
Cerca de metade dos dados recolhidos durante o voo rasante da New Horizons já foram transmitidos a partir de distâncias onde os sinais de rádio, à velocidade da luz, levam quase cinco horas para chegar à Terra, e espera-se que os dados sejam todos enviados até ao final de 2016.
"É por isto que exploramos," afirma Curt Niebur, cientista do programa New Horizons na sede da NASA em Washington. "As muitas descobertas da New Horizons representam o melhor da humanidade e inspiram-nos a continuar a viagem de exploração ao Sistema Solar e mais longe."
Os artigos foram publicados na revista Science.
Fonte: Ames Research Center