Na reunião da Agência Espacial Europeia (ESA) foi decidido que a missão espacial PLATO (PLAnetary Transits and Oscillations of stars) passasse à fase de desenvolvimento. Esta missão, que conta com a participação do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), junta-se agora às duas outras missões já adotadas, o Euclid e o Solar Orbiter.
© ESA/C. Carreau (exploração de estrelas e seus exoplanetas)
A missão PLATO irá fazer um levantamento completo das estrelas na vizinhança do Sol, fornecendo a possibilidade de detectar dezenas de planetas semelhantes à Terra orbitando tais estrelas. Este observatório espacial deverá ser lançado em 2026 para o Ponto de Lagrange L2. Os Pontos de Lagrange são as cinco zonas entre dois quaisquer corpos, onde a força da gravidade de ambos se equilibra. No caso da Terra e do Sol, são usados para manter sondas espaciais em órbitas estáveis, que acompanham sempre a translação da Terra. A nova geração de missões espaciais preferencialmente ocupa o L2, o ponto a 1,5 milhões de km atrás da Terra. Neste ponto as sondas estão sempre viradas para o lado oposto ao Sol, garantindo assim observações ininterruptas.
Esta missão tem como objetivo principal descobrir se a formação de planetas como a Terra é comum, e posteriormente, usar estes dados para determinar se estes planetas têm as condições essenciais para o aparecimento de vida. A missão PLATO vai ainda medir oscilações nas estrelas- progenitoras destes exoplanetas, com técnicas de asterossismologia. A Asterossismologia é o estudo do interior das estrelas, através da sua atividade sísmica medida à superfície. Em sismologia, os diferentes modos de vibração de um tremor de Terra podem ser usados para estudar o interior da Terra, de forma a obter dados acerca da composição e profundidade das diversas camadas. De uma forma semelhante, as oscilações observadas à superfície de uma estrela também podem ser usadas para inferir dados sobre a estrutura interna e composição da estrela.
A missão PLATO vai observar, durante vários anos consecutivos e com grande precisão, milhares de estrelas brilhantes relativamente próximas. Nestas, através do método dos trânsitos, irá procurar em particular por super-terras e planetas do tipo terreste, que orbitem na zona de habitabilidade de estrelas do tipo solar. O Método dos Trânsitos consiste na medição da diminuição da luz de uma estrela, provocada pela passagem de um exoplaneta à frente desta estrela. Através de um trânsito é possível determinar apenas o raio do planeta. Este método é complicado de usar, porque exige que o planeta e a estrela estejam exatamente alinhados com a linha de visão do observador.
Estas observações irão fornecer dados acerca destes planetas, além de tentar perceber a arquitetura dos sistemas planetários onde estes se encontram. A partir das curvas de luz obtidas será também possível determinar as frequências de oscilação em algumas destas estrelas.
A análise das curvas de luz da missão PLATO vai permitir determinar com precisão, recorrendo à asterossismologia, os raios, massas e idades das estrelas em torno das quais os planetas orbitam. Essa determinação é essencial para a inferência da massa e do raio dos planetas que orbitam em torno das mesmas, bem como para a caracterização dos sistemas exoplanetários como um todo.
A missão PLATO pretende ainda construir um catálogo com as características de exoplanetas confirmados, como raio, densidade, composição, atmosfera e em que estágio da sua evolução está. No total, espera-se que o catálogo contenha características de milhares de exoplanetas (incluindo gêmeos da Terra), mas também as massas e idades muito precisas de mais de 85 mil estrelas e 1 milhão de curvas de luz de alta precisão, que ficarão à disposição da comunidade científica.
Este catálogo de planetas potencialmente habitáveis servirá assim de base para futuros estudos, utilizados pela próxima geração de instrumentos, como o ESPRESSO (VLT), HIRES (ELT), ou dos grandes telescópios da próxima geração, como o Extremely Large Telescope (ELT) do ESO ou o telescópio espacial James Webb (NASA/ESA).
Fonte: Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço