Dois cientistas da Arizona State University fizeram as primeiras medições de água presente em amostras obtidas da superfície do asteroide Itokawa e foram recolhidas pela sonda espacial japonesa Hayabusa.
© JAXA/Hayabusa (asteroide Itokawa)
A imagem do asteroide Itokawa, obtida em 2005 pela sonda Hayabusa da agência espacial japonesa JAXA a 8 km de distância.
As descobertas da equipe sugerem que os impactos iniciais na história da Terra, por asteroides semelhantes, podem ter fornecido até metade da água dos oceanos do planeta.
A ideia da equipe de procurar água nas amostras do Itokawa foi uma surpresa para o projeto Hayabusa.
Em duas das cinco partículas, a equipe identificou o mineral piroxênio. Em amostras terrestres, as piroxenas possuem água na sua estrutura cristalina. Os pesquisadores suspeitavam que as partículas do Itokawa também pudessem ter traços de água, mas queriam saber exatamente quanto. Itokawa teve uma história difícil envolvendo aquecimento, múltiplos impactos, choques e fragmentação. Estes eventos teriam aumentado a temperatura dos minerais e expulsado a água.
Para estudar as amostras, cada uma com cerca de metade da espessura de um fio de cabelo humano, a equipe usou o espectrômetro NanoSIMS (Nanoscale Secondary Ion Mass Spectrometer) da Arizona State University, que pode medir grãos minúsculos com grande sensibilidade.
As medições do NanoSIMS revelaram que as amostras eram inesperadamente ricas em água. Também sugerem que até asteroides nominalmente secos, como o Itokawa, podem realmente abrigar mais água do que os cientistas supunham.
O Itokawa é um asteroide em forma de amendoim com cerca de 550 metros de comprimento e 210 a 300 de largura. Orbita a nossa estrela a cada 18 meses a uma distância média 1,3 vezes a distância entre a Terra o Sol. Parte do percurso do Itokawa leva-o para dentro da órbita da Terra e, na sua parte mais distante, alcança um pouco além da de Marte.
Com base no espectro do Itokawa, obtido a partir de telescópios terrestres, os cientistas planetários colocam-no na classe S. Isto liga-os aos meteoritos rochosos, que se pensa serem fragmentos de asteroides do tipo S quebrados em colisões. Os asteroides do tipo S são dos objetos mais comuns no cinturão de asteroides. Formaram-se originalmente a uma distância do Sol de aproximadamente um-terço a três vezes a distância da Terra.
Na estrutura, o Itokawa assemelha-se a um par aglomerado de destroços. Tem dois lóbulos principais, cada um repleto de pedregulhos, mas com densidades gerais diferentes, enquanto entre os lóbulos está uma secção mais estreita.
O Itokawa de hoje é o remanescente de um corpo maior com pelo menos 19 km de diâmetro que, em algum momento, foi aquecido entre 530 a 815 graus Celsius. O corpo principal sofreu vários choques grandes de impactos, com um último evento que finalmente o fragmenta. No rescaldo, dois dos fragmentos fundiram-se e formaram o Itokawa de hoje, que atingiu o seu tamanho e forma atuais há cerca de 8 milhões de anos.
Os pesquisadores obervaram que apesar da catastrófica fragmentação do corpo maior, da exposição dos grãos da amostra à radiação e aos impactos por micrometeoritos à superfície, os minerais ainda mostram evidências de água que não foi perdida para o espaço. Além disso, os minerais têm composições isotópicas de hidrogênio que são indistinguíveis da Terra.
Outra missão japonesa, Hayabusa2, está atualmente no asteroide Ryugu, onde vai recolher amostras e transportá-las para a Terra em dezembro de 2020.
Para os cientistas planetários que estão construindo uma imagem de como o Sistema Solar se formou, os asteroides são um grande recurso. Como restos dos materiais de construção do sistema planetário, variam muito entre si enquanto preservam materiais do início da história do Sistema Solar. Há possibilidade de serem encontrados mecanismos similares de produção de água para exoplanetas rochosos em torno de outras estrelas.
Um artigo foi publicado na revista Science Advances.
Fonte: Arizona State University