Foi descoberto um sistema planetário que se formou numa fase ainda jovem do Universo, a cerca de 11 bilhões de anos.
© Tiago Campante/Peter Devine (ilustração do sistema solar Kepler-444)
O sistema denominado Kepler-444 está localizado a 117 anos-luz e é constituído por cinco planetas rochosos. Mas estão próximo demais da estrela e consequentemente são muito quentes.
É o mais antigo sistema solar conhecido com planetas terrestres, ou seja, com uma superfície rochosa como a Terra. Ter-se-á formado há 11,2 bilhões de anos, o que evidencia bem a sua longevidade, uma vez que o próprio Universo surgiu há 13,8 bilhões de anos. E agora uma equipe internacional, composta por vários astrofísicos portugueses, anunciou a descoberta destes cinco planetas no sistema solar Kepler-444. O astrofísico português Tiago Campante, da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, liderou o grupo de cientistas responsável pelo estudo. “O que torna isto tão especial é a hipótese da existência de vida anciã na Via Láctea. Eu não estou me referindo a vida neste sistema específico, mas nada impossibilita a possível existência de vida em planetas que orbitem outras estrelas com uma idade semelhante”, diz o cientista.
Revelada em comunicado do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, com pólos em Lisboa e no Porto, a descoberta tem outra particularidade ligada à longevidade dos planetas. O nosso Sistema Solar formou-se há cerca de 4,5 bilhões de anos, por isso o sistema solar onde se encontram os cinco planetas é 2,5 vezes mais antigo do que o nosso. E mesmo o Universo tinha, nesse momento, “apenas” 2,6 bilhões de anos.
O recorde anterior do sistema solar com planetas terrestres mais antigo pertencia ao Kepler-10, com 10,4 bilhões de anos, a 564 anos-luz de distância da Terra.
“A descoberta de um sistema com planetas do tipo terrestre tão antigo como o Kepler-444 confirma que os primeiros planetas se formaram muito cedo na vida da nossa galáxia, o que nos dá uma indicação de quando terá começado a era da formação planetária”, diz o armênio Vardan Adibekyan, da Universidade do Porto e também do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, do qual fazem parte outros dois elementos da equipe, Nuno Santos e Sérgio Sousa.
“Nunca tínhamos visto nada assim: é uma estrela tão antiga e o grande número de planetas torna-a muito especial”, sublinha outro autor do artigo, Daniel Huber, da Universidade de Sydney, na Austrália, num comunicado desta instituição. “É extraordinário que um sistema de planetas terrestres tão antigo se tenha formado quando o Universo estava apenas no início, com um quinto da idade atual. Estamos em melhores condições de compreender exatamente quando é que este tipo de planetas começou a formar-se”, acrescenta Daniel Huber.
Muito se tem avançado na descoberta de exoplanetas em outros sistemas solares. O primeiro foi detetado em 1995, por Michel Mayor e Didier Queloz, do Observatório de Genebra, na Suíça, ao redor da estrela Pégaso 51, a 50 anos-luz de distância da Terra. Era um gigante composto por gases, com metade do tamanho de Júpiter e muito perto da sua estrela, e muitos dos que se lhe seguiram eram também monstros gasosos.
O número atual de exoplanetas é impressionante: 1885, indo desde gigantes gasosos a pequenos rochosos. Neste último caso, as suas superfícies são firmes como as Mercúrio, Vênus e a Terra, e não gasosas como Júpiter ou Saturno.
Além de rochosos, os planetas do sistema Kepler-444 são menores do que a Terra e contêm menos massa. Têm um tamanho entre Mercúrio e Vênus. Não sendo isto já propriamente inédito, não deixa de ser raro.
Foram descobertos com o telescópio espacial Kepler através do método dos trânsitos. A presença de um planeta em órbita de uma estrela é detectada quando passa à frente dela. Rouba-lhe regularmente um pouco de brilho, denunciando que está ali.
Mas o método dos trânsitos tem limitações: só permite determinar o tamanho dos planetas em relação ao da estrela. Para determinar a dimensão dos próprios planetas, a equipe analisou as características físicas da estrela, utilizando a técnica de sismologia estelar. Tal como as diferentes vibrações de um sismo permitem estudar o interior da Terra, as oscilações observadas à superfície de uma estrela, provocadas pela propagação de ondas acústicas, podem ser usadas para conhecer a sua estrutura interna, composição, idade, tamanho e massa.
Esta descoberta tem assim implicações profundas nas teorias de formação planetária.
Um artigo científico que anuncia a descoberta está na última edição da revista The Astrophysical Journal.
Fonte: Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço
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