sábado, 22 de junho de 2019

Planetas gigantes e anãs marrons têm origens bem distintas

Com base nos resultados preliminares de uma nova pesquisa do Observatório Gemini, que examinou 531 estrelas com o instrumento Gemini Planet Imager (GPI), parece cada vez mais provável que planetas gigantes e estrelas do tipo anã marrom tenham raízes muito diferentes.


© Caltech/C. Carter/G. Hallinan (ilustração de uma anã marrom)

A Pesquisa de Exoplanetas do GPI (GPIES), um dos maiores e mais sensíveis levantamentos de imagens diretas de exoplanetas até hoje, ainda está em andamento no telescópio Gemini South, no Chile.

Em novembro de 2014, o pesquisador principal do GPI, Bruce Macintosh, da Universidade de Stanford, e sua equipe internacional se dispuseram a observar quase 600 jovens estrelas próximas com o novo instrumento.

Retratar um planeta em torno de outra estrela é um desafio técnico difícil, possível apenas com alguns poucos instrumentos. Os exoplanetas são pequenos, de brilho fraco e muito próximos de sua estrela hospedeira; distinguir um planeta de sua estrela é como calcular a largura de uma moeda a vários quilômetros de distância. Mesmo os planetas mais brilhantes tem luminosidade dez mil vezes mais fraca do que suas estrelas progenitoras. O GPI consegue ver planetas com brilho até um milhão de vezes mais fracos, uma capacidade muito maior do que a dos instrumentos anteriores de imageamento de planetas.

A GPIES está agora chegando ao fim. A partir das primeiras 300 estrelas, a pesquisa detectou seis planetas gigantes e três anãs marrons. As anãs marrons têm mais massa do que planetas, mas não são grandes o suficiente para fundir hidrogênio, como fazem as estrelas.

O estudo avança na ideia de que planetas gigantes se formam devido ao lento acúmulo de material em torno de uma jovem estrela, enquanto as anãs marrons surgem de um rápido colapso gravitacional.

Esta descoberta pode responder a uma longa questão: se as anãs marrons, que são objetos de massa intermediária, nascem mais como estrelas ou como planetas. As estrelas se formam pelo colapso gravitacional de grandes nuvens primordiais de gás e poeira, enquanto pensa-se que planetas sejam formados pelo acúmulo de pequenos corpos rochosos que então crescem e ficam grandes, em um processo denominado “acreção planetária”.

Enquanto as anãs marrons mais massivas superam em número as anãs marrons menos volumosas, para os planetas gigantes a tendência é inversa: os planetas menores superam os massivos. Além disso, as anãs marrons tendem a ser encontradas longe de suas estrelas hospedeiras, enquanto planetas gigantes se concentram bem perto delas.

Das 300 estrelas pesquisadas até então, 123 têm uma massa pelo menos 1,5 vezes maior que a do nosso Sol. Um dos resultados mais notáveis do estudo é que todas as estrelas hospedeiras dos planetas detectados estão entre essas estrelas de maior massa, embora seja mais fácil ver um planeta gigante orbitando uma estrela mais fraca e mais parecida com o Sol. Os astrônomos suspeitam desse fato há anos, mas a pesquisa GPIES finalmente confirmou sem ambiguidade.

Uma das maiores surpresas do estudo tem sido a forma como os outros sistemas planetários são diferentes dos nossos. Nosso Sistema Solar tem pequenos planetas rochosos nas partes internas e planetas gigantes de gás nas partes externas. Mas os primeiros exoplanetas descobertos reverteram essa tendência, com planetas gigantes aproximando-se mais de suas estrelas do que Mercúrio, por exemplo, que tem o tamanho da Lua. Além disso, estudos de velocidade radial, que se baseiam no fato de que uma estrela experimenta uma “oscilação” gravitacionalmente induzida quando é orbitada por um planeta, mostraram que o número de planetas gigantes aumenta com a distância da estrela até cerca da distância da órbita de Júpiter. Mas os resultados preliminares da equipe, que sondam distâncias ainda maiores, mostraram que os planetas gigantes se tornam menos numerosos.

Mas uma surpresa de todos os levantamentos de exoplanetas é o quão intrinsecamente raros parecem ser os planetas gigantes ao redor de estrelas similares ao Sol, e quão diferentes são os outros sistemas solares. A missão Kepler descobriu planetas muito menores e mais próximos, dois ou mais planetas “super-terrestres” por estrela parecida com o Sol, densamente compactados em sistemas solares internos muito mais cheios do que os nossos. A extrapolação de modelos simples sugeria que o GPI encontraria uma dúzia de planetas gigantes ou mais, mas só seis foram vistos. Ou seja, planetas gigantes podem estar presentes em torno de apenas uma minoria de estrelas como a nossa.

Em janeiro de 2019, a GPIES detectou sua 531ª e última nova estrela, e a equipe está atualmente acompanhando os candidatos restantes para determinar quais são verdadeiramente planetas e quais são estrelas de fundo distantes fazendo o papel de planetas gigantes.

O GPI é projetado especificamente para procurar planetas e anãs marrons ao redor de outras estrelas, usando uma máscara conhecida como coronógrafo para bloquear parcialmente a luz de uma estrela. Em conjunto com a óptica adaptativa para a turbulência na atmosfera da Terra e com o processamento avançado de imagens, os pesquisadores podem procurar na vizinhança da estrela por exoplanetas semelhantes a Júpiter e anãs marrons até um milhão de vezes mais fracas em termos de brilho do que a estrela hospedeira.

Em nosso Sistema Solar, Júpiter é o maior planeta, sendo cerca de 318 vezes mais massivo que a Terra e localizando-se cerca de cinco vezes mais distante do Sol do que a Terra. As anãs marrons variam de 13 a 90 vezes a massa de Júpiter; e embora elas possam ter até um décimo da massa do Sol, não têm fusão nuclear em seu núcleo para queimar como uma estrela; então, a classificação delas está em algum lugar entre uma estrela pequena e um super planeta.

Um sucesso inicial da GPIES foi a descoberta do 51 Eridani b, em dezembro de 2014, um planeta cerca de duas vezes e meia maior que Júpiter, que orbita sua estrela além da distância que Saturno orbita em nosso próprio Sol. A estrela anfitriã, 51 Eridani, está a apenas 97 anos-luz de distância e tem apenas 26 milhões de anos (próxima e jovem, nos padrões astronômicos). A estrela havia sido observada por várias pesquisas de imagens do planeta com uma variedade de telescópios e instrumentos, mas seu planeta não foi detectado até que a instrumentação superior da GPI fosse capaz de suprimir a luz da estrela o suficiente para que o planeta fosse visível.

A GPIES também descobriu a anã marrom HR 2562 B, que está em uma separação similar àquela entre o Sol e Urano, e é 30 vezes maior que Júpiter.

A maioria dos exoplanetas descobertos até agora, incluindo aqueles encontrados pela sonda Kepler da NASA, são encontrados através de métodos indiretos, como observar um escurecimento na luz da estrela quando o planeta orbita eclipsa sua estrela hospedeira, ou observando a oscilação da estrela enquanto a gravidade do planeta puxa a estrela. Esses métodos foram muito bem-sucedidos, mas eles apenas investigam as regiões centrais dos sistemas planetários. Aquelas regiões fora da órbita de Júpiter, onde os planetas gigantes estão em nosso Sistema Solar, estão geralmente fora de seu alcance. O GPI, no entanto, esforça-se para detectar diretamente os planetas neste espaço, tirando uma foto deles ao lado de suas estrelas hospedeiras.

Os resultados do Gemini reforçam aqueles que vieram de outras técnicas, incluindo um estudo recente de exoplanetas descobertos por uma método de velocidade radial, que descobriu que a separação mais provável para um planeta gigante ao redor de estrelas parecidas com o Sol é de cerca 3 UA (unidade astronômica). A descoberta de que anãs marrons ocorrem com a frequência de cerca de apenas 1%, independentemente da massa estelar, também é condizente com resultados anteriores de pesquisas com imagens diretas.

A pesquisa foi publicada na revista The Astronomical Journal.

Fonte: Scientific American

Nenhum comentário:

Postar um comentário