A medição de distância mais precisa, até à data, da galáxia ultradifusa (UDG) NGC 1052-DF2 (DF2) confirma, sem sombra de dúvida, que lhe falta matéria escura.
© STScI/Hubble (estrelas vermelhas velhas na galáxia ultradifusa DF2)
Esta imagem pelo Hubble fornece uma amostra de estrelas vermelhas velhas na galáxia ultradifusa DF2. A ampliação à direita revela as muitas estrelas gigantes vermelhas velhas nos limites da galáxia, usadas como marcadores intergalácticos de distância.
Os pesquisadores calcularam uma distância mais precisa de DF2 usando o Hubble para observar cerca de 5.400 gigantes vermelhas. Estas estrelas mais velhas alcançam todas o mesmo pico de brilho, de modo que são "réguas" confiáveis para medir distâncias a galáxias. Estima-se que a DF2 esteja a 72 milhões de anos-luz da Terra.
Dizem que a medição de distância solidifica a afirmação que DF2 tem matéria escura em falta. A galáxia contém no máximo 1/400 da quantidade de matéria escura que os astrônomos esperavam, com base na teoria e em observações de muitas outras galáxias. Chamada uma galáxia ultradifusa, esta galáxia estranha tem quase o diâmetro da Via Láctea mas contém apenas 1/200 do seu número de estrelas. A galáxia fantasmagórica não parece ter uma região central perceptível, braços espirais ou um disco. As observações foram feitas entre dezembro de 2020 e março de 2021 com o instrumento ACS (Advanced Camera for Surveys) do Hubble.
A distância recentemente medida de 22,1 +/-1,2 megaparsecs foi obtida por uma equipe internacional de pesquisadores liderados por Zili Shen e Pieter van Dokkum da Universidade de Yale e Shany Danieli, ligada ao Hubble no IAS (Institute for Advanced Study). A nova medição relatada neste estudo tem implicações cruciais para estimar as propriedades físicas da galáxia, confirmando assim a sua falta de matéria escura.
Os resultados são baseados em 40 órbitas do telescópio espacial Hubble, com imagens pelo instrumento ACS e uma análise TRGB ("tip of the red giant branch"), o padrão de ouro para estas medições refinadas. Em 2019, a equipe publicou resultados medindo a distância à vizinha UDG NGC 1052-DF4 (DF4) com base em 12 órbitas do Hubble e numa análise TRGB, que forneceu evidências convincentes da ausência de matéria escura.
Este método preferido expande os estudos da equipe de 2018 que se baseavam em "flutuações de brilho da superfície" para medir a distância. Ambas as galáxias foram descobertas com o Dragonfly Telephoto Array no observatório New Mexico Skies.
Além de confirmar as descobertas de distância anteriores, os resultados do Hubble indicaram que as galáxias estavam localizadas um pouco mais longe do que se pensava anteriormente, reforçando o caso de que contêm pouca ou nenhuma matéria escura. Se DF2 estivesse mais perto da Terra, como afirmam alguns astrônomos, seria intrinsecamente mais fraca e menos massiva, e a galáxia precisaria de matéria escura para explicar os efeitos observados da massa total.
A matéria escura é amplamente considerada um ingrediente essencial das galáxias, mas este estudo fornece mais evidências de que a sua presença pode não ser inevitável. Embora a matéria escura ainda não tenha sido observada diretamente, a sua influência gravitacional é como uma cola que mantém as galáxias unidas e governa o movimento da matéria visível.
No caso de DF2 e DF4, foi possível explicar o movimento das estrelas com base apenas na massa estelar, sugerindo uma falta ou ausência de matéria escura. Ironicamente, a detecção de galáxias deficientes em matéria escura provavelmente ajudará a revelar a sua natureza intrigante e fornecerá novas informações sobre a evolução galáctica. Apesar de DF2 e DF4 serem ambas comparáveis em tamanho à Via Láctea, as suas massas totais são apenas cerca de um por cento da massa da nossa Galáxia. Também se descobriu que estas galáxias ultradifusas têm uma grande população de aglomerados globulares especialmente luminosos.
Esta pesquisa gerou um grande interesse acadêmico, bem como um debate energético entre os proponentes de teorias alternativas para a matéria escura, como a teoria MOND (Modified Newtonian Dynamics). No entanto, com as descobertas mais recentes, incluindo as distâncias relativas das duas UDGs a NGC1052, tais teorias alternativas parecem menos prováveis. Além disso, agora há pouca incerteza nas medições de distância, dada a utilização do método TRGB. Com base na física fundamental, este método depende da observação de estrelas gigantes vermelhas que emitem um flash depois de queimar o seu reservatório de hélio que sempre ocorre com o mesmo brilho.
Seguindo em frente, os pesquisadores vão continuar caçando mais destas galáxias estranhas, enquanto consideram uma série de questões: como é que as UDGs são formadas? O que nos dizem sobre os modelos cosmológicos padrão? Quão comuns são estas galáxias, e que outras propriedades únicas têm? Será necessário descobrir muitas mais galáxias sem matéria escura para resolver estes mistérios e a questão final sobre o que realmente é a matéria escura.
Os resultados foram publicados periódico The Astrophysical Journal Letters.
Fonte: Institute for Advanced Study
Nenhum comentário:
Postar um comentário