sexta-feira, 1 de abril de 2022

A morte misteriosa de uma estrela de carbono

Cientistas que estudavam V Hydrae (V Hya) testemunharam o misterioso "leito de morte" da estrela em detalhes sem precedentes.


© NRAO (ilustração da estrela V Hydrae)

Usando o ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array) e dados do telescópio espacial Hubble, a equipe descobriu seis anéis em expansão lenta e duas estruturas em forma de ampulheta provocadas pela ejeção de matéria em alta velocidade para o espaço.

V Hya é uma estrela AGB (Asymptotic Giant Branch) rica em carbono localizada a aproximadamente 1.300 anos-luz da Terra na direção da constelação de Hidra. Mais de 90% das estrelas com uma massa igual ou superior à do Sol evoluem para estrelas AGB à medida que o combustível necessário para alimentar os processos nucleares é removido. 

Entre estes milhões de estrelas, V Hya tem sido de particular interesse para os cientistas devido aos seus comportamentos e características tão singulares, incluindo erupções de plasma a escalas extremas que ocorrem aproximadamente a cada 8,5 anos e a presença de uma estrela companheira quase invisível que contribui para o comportamento explosivo de V Hya.

"O nosso estudo confirma dramaticamente que o modelo tradicional de como as estrelas AGB morrem - através da ejeção em massa de combustível via um vento lento, relativamente estável e esférico ao longo de 100.000 anos ou mais - está, na melhor das hipóteses, incompleto, ou na pior, incorreto," disse Raghvendra Sahai, astrônomo no Jet Propulsion Laboratory (JPL) da NASA e pesquisador principal do estudo. 

No caso de V Hya, a combinação de uma estrela companheira próxima e de uma hipotética companheira distante é responsável, pelo menos em certa medida, pela presença dos seus anéis e pelos fluxos velozes que estão provocando a morte miraculosa da estrela. V Hydra foi apanhada no processo de libertação da sua atmosfera, com a maior parte da sua massa, o que é algo que a maioria das estrelas gigantes vermelhas em fase final fazem.

Os seis anéis expandiram-se para longe de V Hya ao longo de mais ou menos 2.100 anos, acrescentando matéria e impulsionando o crescimento de uma estrutura de alta densidade em forma de disco deformado à volta da estrela. 

Para além de um conjunto completo de anéis em expansão e de um disco deformado, o ato final de V Hya apresenta duas estruturas em forma de ampulheta, e uma estrutura adicional em forma de jato, que estão se expandindo com velocidades elevadas de mais de 240 km/s. Estas estruturas em forma de ampulheta já tinham sido observadas anteriormente em nebulosas planetárias, incluindo MyCn 18, também chamada de Nebulosa da Ampulheta, uma jovem nebulosa de emissão localizada a cerca de 8.000 anos-luz da Terra na direção da constelação do hemisfério sul da Mosca, e na mais conhecida Nebulosa Caranguejo do Sul, uma nebulosa de emissão localizada a aproximadamente 7.000 anos-luz da Terra na direção da constelação de Centauro.

Devido tanto à distância como à densidade da poeira que envolve a estrela, o estudo de V Hya exigiu um instrumento único com o poder de ver claramente a matéria que está ao mesmo tempo muito longe e é também difícil ou impossível de detectar com a maioria dos telescópios ópticos. A equipe alistou os receptores de Banda 6 (1,23 mm) e Banda 7 (0,85 mm) do ALMA, que revelaram os múltiplos anéis e os fluxos da estrela com grande clareza.

Os resultados do estudo foram publicados no periódico The Astrophysical Journal.

Fonte: National Radio Astronomy Observatory

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