domingo, 12 de novembro de 2017

Filamentos triangulares na Nebulosa do Véu

Caóticos na aparência, estes filamentos entrelaçados de gás brilhante se espalham pelo céu do planeta Terra na constelação de Cygnus e fazem parte da Nebulosa do Véu.

Nebulosa do Véu

© Sara Wager (Nebulosa do Véu)

A Nebulosa do Véu, é uma grande remanescente de supernova, uma nuvem em expansão que nasceu da morte explosiva de uma estrela massiva. A luz da explosão original da supernova provavelmente atingiu a Terra, a mais de 5.000 anos atrás. Expelida no evento cataclísmico, as ondas de choque interestelares viajam pelo espaço, varrendo e excitando o material que encontra pela frente.

Os filamentos brilhantes são realmente mais parecidos com longas ondulações quando vistas de lado, e onde se pode notar a separação do brilho dos átomos ionizados de hidrogênio, mostrados em vermelho e de oxigênio em azul. Também conhecido como o Laço de Cygnus, a Nebulosa do Véu se espalha por aproximadamente 3 graus, ou seja, cerca de 6 vezes o diâmetro aparente da Lua Cheia. Na distância estimada da nebulosa de 1.500 anos-luz, isso equivale a 70 anos-luz, cujo campo de visão se espalha por menos de um terço desta distância.

Normalmente identificada como Triângulo de Pickering, em homenagem ao diretor do Harvard College Observatory, o complexo de filamentos é catalogado como NGC 6979. Ele também é conhecido com o nome que homenageia a sua descoberta, que foi feita pela astrônoma Williamina Fleming, como Filamentos Triangulares de Fleming.

Fonte: NASA

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Estrela explodiu, sobreviveu, e explodiu novamente um século depois

Uma equipe internacional de astrônomos descobriu uma estrela que explodiu várias vezes ao longo de um período de 50 anos.

ilustração de uma supernova

© NASA/ESA/G. Bacon (ilustração de uma supernova)

A descoberta confunde completamente o conhecimento existente sobre o fim da vida de uma estrela, e a construção de um instrumento desempenhou um papel crucial na análise do fenômeno.

Em setembro de 2014, a equipe de astrônomos da iPTF (intermediate Palomar Transient Factory) detectou uma nova explosão no céu, a que deram o nome iPTF14hls.

A luz emitida pelo evento foi analisada para entender a velocidade e composição química do material ejetado na explosão.

Esta análise indicou que a explosão era o que se chama de supernova do tipo II-P, e tudo sobre a descoberta parecia normal. Até, isto é, alguns meses mais tarde quando a supernova começou novamente a ficar mais brilhante.

As supernovas do tipo II-P geralmente permanecem brilhantes cerca de 100 dias. Mas iPTF14hls permaneceu brilhante por mais de 600 dias! Além disso, os dados de arquivo revelaram uma explosão em 1954 no mesmo local exato.

Descobriu-se que, de alguma forma, esta estrela explodiu há mais de meio século, sobreviveu e explodiu novamente em 2014.

Um instrumento construído por Nick Konidaris, do Instituto Carnegie, foi fundamental para analisar a luz emitida por iPTF14hls, que diminuiu e aumentou pelo menos cinco vezes ao longo de três anos.

Com o nome "SED Machine", a ferramenta de Konidaris é capaz de classificar rapidamente supernovas e outros eventos astronômicos de curta duração. Uma rápida reviravolta na classificação destes tipos de astros chamados objetos transientes no céu era extremamente necessária quando Konidaris e antigos colegas do Caltech construíram a máquina.

As explosões estelares dizem muito acerca das origens de grande parte do material que compõe o nosso Universo. Uma explosão de supernova pode até ter desencadeado a formação do nosso próprio Sistema Solar.

"Mas há não muito tempo atrás, era mais rápido identificar fenômenos celestes de curta duração do que classificá-los e determinar o que poderiam ensinar-nos," explica Konidaris. "É por isso que construímos o SED, mas nunca esperei que nos ajudasse a analisar uma explosão tão estranha quanto esta 'estrela zombie'."

A descoberta foi publicada na revista Nature.

Fonte: W. M. Keck Observatory

Gigante vermelha dá vislumbre surpreendente do futuro do Sol

Uma equipe de astrônomos liderada por Wouter Vlemmings, da Universidade de Tecnologia de Chalmers, na Suécia, usou o ALMA (Atacama Large Millimetre/Submillimetre Array) para obter as mais detalhadas observações, até agora, de uma estrela com a mesma massa inicial que o Sol.

estrela gigante vermelha W Hydrae

© ALMA/W. Vlemmings (estrela gigante vermelha W Hydrae)

As novas imagens mostram pela primeira vez detalhes à superfície da gigante vermelha W Hydrae, a 320 anos-luz de distância na direção da constelação da Hidra.

A W Hydrae é um exemplo de uma estrela AGB (Asymptotic Giant Branch). Estas estrelas são frias, brilhantes, velhas e perdem massa através de ventos estelares. O nome deriva da sua posição no famoso diagrama Hertzsprung-Russell, que classifica as estrelas consoante o seu brilho e temperatura.

"Para nós, é importante estudar não apenas o aspeto das gigantes vermelhas, mas como mudam e como semeiam a Galáxia com os elementos que são os ingredientes da vida. Usando as antenas do ALMA na sua configuração de maior resolução, podemos agora fazer as observações mais detalhadas destas estrelas frias e excitantes," comenta Wouter Vlemmings.

As estrelas como o Sol evoluem ao longo de escalas de tempo de bilhões de anos. Quando atingem a velhice, incham e ficam maiores, mais frias e são mais propensas a perder massa sob a forma de ventos estelares. As estrelas fabricam elementos importantes como o carbono e nitrogênio. Quando atingem a fase de gigante vermelha, estes elementos são lançados para o espaço, prontos a serem usados em gerações subsequentes de novas estrelas.

As imagens do ALMA fornecem a visão mais nítida, até agora, da superfície de uma gigante vermelha com uma massa parecida à do Sol. As imagens anteriores já tinham mostrado detalhes em estrelas supergigantes vermelhas muito mais massivas como Betelgeuse e Antares.

A presença de uma mancha inesperadamente compacta e brilhante fornece evidências de que a estrela tem gás surpreendentemente quente numa camada acima da superfície estelar: uma cromosfera.

As medições da mancha brilhante sugerem a existência de poderosas ondas de choque na atmosfera da estrela que atingem temperaturas mais altas do que as previstas pelos modelos teóricos atuais para as estrelas AGB.

Uma possibilidade alternativa é, pelo menos, igualmente surpreendente: que a estrela possuía, no momento das observações, uma grande proeminência.

Os cientistas estão agora realizando novas observações, tanto com o ALMA como com outros instrumentos, a fim de melhor compreender a atmosfera surpreendente da W Hydrae.

"Torna-nos humildes, olhar para a nossa imagem de W Hydrae e ver o seu tamanho em comparação com a órbita da Terra. Nós nascemos a partir do material produzido em estrelas como esta, de modo que para nós é emocionante ter o desafio de entender algo que nos diz mais sobre as nossas origens e sobre o nosso futuro," disse Elvire De Beck, também da Universidade de Tecnologia de Chalmers.

Fonte: Chalmers University of Technology

Registrada uma colisão de aglomerados de galáxias

Uma gigantesca colisão de alguns aglomerados de galáxias, cada um contendo centenas de galáxias, produziu um espetacular panorama de ondas de choque e de energia.

Abell 2744

© Chandra/Subaru/VLA/VLT (Abell 2744)

As colisões geraram ondas de choque que produziram fogos de artifício celestes no comprimento de ondas de rádio, vistos na imagem acima, nas cores vermelho e laranja. No centro da imagem, a cor roxa indica os raios X produzidos pelo extremo calor da região.

A região é conhecida de forma coletiva como Abell 2744, e está localizada a cerca de 4 bilhões de anos-luz de distância da Terra. Os dados refrentes às ondas de rádio mostrados na imagem são provenientes do Karl G. Jansky Very Large Array (VLA), sendo estes dados combinados com os dados obtidos anteriormente pelo observatório de raios X Chandra da NASA. Ambos os dados foram sobrepostos a uma imagem feita nos comprimentos de onda da luz visível com dados obtidos pelo telescópio Subaru e pelo Very Large Telescope (VLT). As novas observações feitas com o VLA revelam regiões anteriormente não detectadas onde ondas de choque aceleram partículas subatômicas causando a emissão nas ondas de rádio.

Os astrônomos estão estudando a imagem combinada na tentativa de decifrar a sequência de colisões de aglomerados de galáxias. Atualmente, as evidências indicam uma colisão no sentido norte-sul e colisões de subaglomerados no sentido leste-oeste. Existe uma possível terceira colisão.

A descoberta foi relatada no periódico Astrophysical Journal.

Fonte: National Radio Astronomy Observatory

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

A Nebulosa Variável de Hubble

O que faz com que a Nebulosa Variável de Hubble varie?

NGC 2261

© Hubble (NGC 2261)

A nebulosa incomum apresentada aqui altera sua aparência visivelmente em apenas algumas semanas. Descoberta há mais de 200 anos e posteriormente catalogada como NGC 2261, a notável nebulosa é assim chamada em homenagem a Edwin Hubble, que a estudou no início do século passado. A imagem em destaque foi tirada por outro homônimo do Hubble: o telescópio espacial.

A Nebulosa Variável de Hubble é uma nebulosa de reflexão feita de gás e poeira fina que se destaca da estrela R Monocerotis (R Mon). A nebulosa fraca tem cerca de um ano-luz e está a cerca de 2.500 anos-luz de distância da constelação do Unicórnio (Monocerotis),e estende-se por 1 ano-luz. A principal explicação de variabilidade para a Nebulosa Variável de Hubble detém que nódulos de poeira opaca passam perto de R Mon e lançam sombras em movimento sobre a poeira refletora vista no restante da nebulosa.

Fonte: NASA

Relíquia cósmica

Esta imagem obtida pelo telescópio espacial Hubble parece mergulhar nas profundezas escuras do Universo primordial. Aglomerados de galáxias massivos, como este evidenciado na imagem, o Abell 1300, nos ajuda a entender melhor o cosmos.

Abell 1300

© Hubble (Abell 1300)

Eles são essencialmente gigantescos telescópios naturais, ampliando a luz de qualquer galáxia situada atrás deles e propiciando a ver cada vez mais distante, e mais longe no tempo.

Este tipo bizarro de viagem no tempo é possível devido ao fenômeno de lente gravitacional, onde a influência gravitacional de um objeto massivo como o Abell 1300 age como uma lente, dobrando o próprio tecido do espaço ao seu redor e fazendo com que uma luz mais distante se mova numa trajetória curva. Para o observador, a fonte da luz, um objeto de fundo, como uma galáxia primordial, por exemplo, aparece distorcida e ampliada. O poder de lente gravitacional dos alomerados massivos nos ajudou a descobrir algumas das galáxias mais distantes conhecidas no Universo. O Hubble observou este fenômeno muitas vezes.

Esta imagem foi efetuada pela Advanced Camera for Surveys e a Wide Field Camera 3 como parte de um programa de observação denominado RELICS. O programa criou 41 aglomerados de galáxias massivos ao longo de 390 órbitas do Hubble e 100 horas de observação do telescópio espacial Spitzer, com o objetivo de encontrar as galáxias distantes mais brilhantes. Estudar estas galáxias com mais detalhes com ambos os telescópios atuais e o futuro telescópio espacial James Webb (JWST), auxiliará no entendimento sobre nossas origens cósmicas.

Fonte: NASA

domingo, 5 de novembro de 2017

NuSTAR examina mistério dos jatos dos buracos negros

Os buracos negros são famosos por serem devoradores vorazes, mas eles não se abastecem de tudo que cai na sua direção.

ilustração de buraco negro com disco de acreção e jato de plasma

© NASA/JPL-Caltech (ilustração de buraco negro com disco de acreção e jato de plasma)

Uma pequena porção de material é lançado sobre a forma de poderosos jatos de gás quente, chamado plasma, que podem causar estragos nos arredores. Ao longo do caminho, este plasma de alguma forma fica energizado o suficiente para irradiar luz fortemente, formando duas colunas brilhantes ao longo do eixo de rotação do buraco negro. Os cientistas há muito que discutem onde e como isto acontece no jato.

Os astrônomos têm novas pistas acerca deste mistério. Usando o telescópio espacial NuSTAR da NASA e uma câmara rápida chamada ULTRACAM acoplada ao Observatório William Herschel em La Palma, Espanha, cientistas conseguiram medir a distância que as partículas nos jatos viajam antes de se "ligarem" e se tornarem fontes brilhantes de luz. Essa distância é chamada "zona de aceleração".

Os cientistas examinaram dois sistemas na Via Láctea chamados de "binários de raios X", cada um com um buraco negro alimentando-se de uma estrela normal. Eles estudaram estes sistemas em diferentes ocasiões durante períodos de explosão, que é quando o disco de acreção, uma estrutura achatada de material em órbita do buraco negro, acende-se devido à queda do material.

Um sistema, chamado V404 Cygni, atingiu quase o seu brilho máximo quando os cientistas o observaram em junho de 2015. Neste momento, foi considerada a explosão mais brilhante de um binário de raios X vista no século XXI. O outro, chamado GX 339-4, tinha menos de 1% do seu brilho máximo esperado quando observado. A estrela e o buraco negro de GX 339-4 estão muito mais próximos um do outro do que os objetos homólogos do sistema V404 Cygni.

Apesar das suas diferenças, os sistemas mostraram atrasos de tempo semelhantes, cerca de um-décimo de segundo, entre o momento que o NuSTAR detectou pela primeira vez os raios X e o momento que a ULTRACAM detectou explosões no visível. Este atraso é inferior a um piscar de olhos, mas significativo para a física dos jatos dos buracos negros.

"Uma possibilidade é que a física do jato não é determinada pelo tamanho do disco, mas sim pela velocidade, temperatura e outras propriedades das partículas na base do jato," afirma Poshak Gandhi, astrônomo da Universidade de Southampton, Reino Unido.

A melhor teoria que os cientistas têm para explicar estes resultados é que os raios X têm origem no material muito próximo do buraco negro. Campos magnéticos fortes impulsionam parte deste material a altas velocidades ao longo do jato. Isto resulta em partículas que colidem quase à velocidade da luz, energizando o plasma até que começa a emitir a corrente de radiação óptica captada pela ULTRACAM.

Onde é que isto ocorre no jato? O desfasamento medido entre os raios X e a radiação visível explica isto. Ao multiplicar este tempo pela velocidade das partículas, que é quase a velocidade da luz, os cientistas determinam a distância máxima percorrida.

Esta extensão de aproximadamente 30.000 quilômetros representa a zona de aceleração interna no jato, onde o plasma sente a aceleração mais forte e "acende" a luz. Este valor corresponde a pouco menos de três vezes o diâmetro da Terra, mas é minúsculo em termos cósmicos, especialmente considerando que o buraco negro no sistema V404 Cygni tem uma massa correspondente a 3 milhões de Terras.

Fazer estas medições não foi tarefa fácil. Os telescópios de raios X no espaço e os telescópios ópticos em terra têm que observar binários de raio X exatamente ao mesmo tempo durante as explosões para que seja possível calcular o pequeno atraso entre as detecções dos telescópios. Esta coordenação requer um planejamento complexo entre as equipes dos observatórios. Na verdade, a coordenação entre o NuSTAR e a ULTRACAM só foi possível durante cerca de uma hora durante a explosão de 2015, mas isso foi suficiente para calcular os resultados inovadores acerca da zona de aceleração.

Os resultados também parecem relacionar-se com a compreensão dos buracos negros supermassivos, muito maiores do que os deste estudo. Num sistema supermassivo chamado BL Lacertae, com 200 milhões de vezes a massa do nosso Sol, os cientistas inferiram desfasamentos de tempo milhões de vezes maiores do que os que este estudo encontrou. Isto significa que o tamanho da zona de aceleração dos jatos está provavelmente relacionado com a massa do buraco negro.

"Estamos entusiasmados porque parece que encontrámos um padrão característico relacionado com o funcionamento interno dos jatos, não apenas nos buracos negros de massa estelar como V404 Cygni, mas também nos buracos negros supermassivos," explica Gandhi.

Os próximos passos são a confirmação deste atraso medido em observações de outros binários de raios X e o desenvolvimento de uma teoria que possa ligar os jatos dos buracos negros de todos os tamanhos.

"Os telescópios espaciais e terrestres, trabalhando em conjunto, foram a chave para esta descoberta. Mas ainda há muito para aprender. O futuro é promissor para a compreensão da física extrema dos buracos negros," realça Fiona Harrison, pesquisadora principal do NuSTAR e professora de astronomia no Caltech em Pasadena.

O estudo foi publicado na revista Nature Astronomy.

Fonte: University of Southampton

Encontrado resquício de um antigo oceano em Ceres

Ceres está repleto de minerais que contêm água, sugerindo que o planeta anão poderá ter tido um oceano global no passado.

animação mostra o planeta anão Ceres

© NASA/JPL-Caltech/Dawn (animação mostra o planeta anão Ceres)

Esta animação mostra o planeta anão Ceres, visto pela sonda Dawn da NASA. O mapa sobreposto à direita dá aos cientistas pistas sobre a estrutura interna de Ceres, graças a medições de gravidade.

O que aconteceu a esse oceano? Será que Ceres ainda tem água líquida hoje? Dois novos estudos da missão Dawn da NASA lançaram luz sobre estas questões.

A equipe da Dawn descobriu que a crosta de Ceres é uma mistura de gelo, sais e materiais hidratados que foram submetidos a atividades geológicas passadas e possivelmente recentes, e que esta crosta representa a maior parte deste antigo oceano. O segundo estudo baseia-se no primeiro e sugere que existe uma camada mais macia e facilmente deformável sob a crosta da superfície rígida de Ceres, que também pode ser a assinatura do líquido residual do oceano.

"Mais e mais, estamos aprendendo que Ceres é um mundo dinâmico e complexo que pode ter hospedado muita água líquida no passado, e ainda pode ter alguma água subterrânea," comenta Julie Castillo-Rogez, cientista do projeto Dawn, no JPL (Jet Propulsion Laboratory) da NASA.

Aterrizar em Ceres para prospectar o seu interior seria um desafio técnico e arriscaria contaminar o planeta anão. Em vez disso, os cientistas usam as observações orbitais da Dawn para medir a gravidade de Ceres, a fim de estimar a sua composição e estrutura interior.

O primeiro dos dois estudos, liderado por Anton Ermakov, pesquisador de pós-doutorado no JPL, usou medições da forma e dados de gravidade da missão Dawn para determinar a estrutura interna e composição de Ceres. As medições foram obtidas pela observação dos movimentos da nave com a DSN (Deep Space Network) da NASA para rastrear pequenas mudanças na órbita da sonda. Este estudo foi publicado na revista Journal of Geophysical Research: Planets.

A pesquisa apoia a possibilidade de que Ceres é geologicamente ativo, se não atualmente, então talvez tenha sido no passado recente. Três crateras - Occator, Kerwan e Yalod - e a solitária montanha de Ceres, Ahuna Mons, estão associadas com "anomalias gravitacionais". Isto significa que as discrepâncias entre os modelos da gravidade de Ceres feitos pelos cientistas e o que a Dawn observou nestes quatro locais podem ser associadas com estruturas subterrâneas.

"Ceres tem uma abundância de anomalias gravitacionais associadas com características geológicas excepcionais," comenta Ermakov. Nos casos de Ahuna Mons e Occator, as anomalias podem ser usadas para melhor entender a origem destas características, que se pensa serem expressões diferentes de criovulcanismo.

O estudo descobriu que a densidade da crosta é relativamente baixa, mais próxima da do gelo do que das rochas. No entanto, um estudo pelo pesquisador convidado da Dawn, Michael Bland do U.S. Geological Survey (USGS), indicou que o gelo é demasiado suave para ser o componente dominante da crosta forte de Ceres. Então, como pode a crosta de Ceres ser tão leve quanto o gelo em termos de densidade, mas simultaneamente muito mais forte? Para responder a esta questão, outra equipe modelou como a superfície de Ceres evoluiu com o tempo.

O segundo estudo, liderado por Roger Fu da Universidade de Harvard em Cambridge, Massachusetts, pesquisou a força e composição da crosta de Ceres e o interior mais profundo ao estudar a topografia do planeta anão. Este estudo foi publicado na revista Earth and Planetary Science Letters.

Ao estudar como a topografia evoluiu num corpo planetário, os cientistas podem entender a composição do seu interior. Uma crosta forte e dominada por rocha pode permanecer inalterada ao longo dos 4,5 bilhões de anos do Sistema Solar, enquanto uma crosta fraca, rica em gelos e sais, deformar-se-ia ao longo deste período.

Ao modelar a forma como a crosta de Ceres flui, Fu e colegas descobriram que é provavelmente uma mistura de gelo, sais, rocha e um componente adicional que se pensa ser hidrato de clatrato. Um hidrato de clatrato é uma "jaula" de moléculas de água que rodeiam uma molécula de gás. Esta estrutura é 100 a 1.000 vezes mais forte do que a água gelada, apesar de ter quase a mesma densidade.

Os cientistas pensam que Ceres já teve características de superfície mais pronunciadas, mas que suavizaram com o passar do tempo. Este tipo de achatamento de montanhas e vales requer uma crosta de alta resistência descansando por cima de uma camada mais deformável, que provavelmente pode conter um pouco de líquido.

A equipe pensa que a maior parte do oceano antigo de Ceres está agora congelado e preso na crosta sob a forma de gelo, hidratos de clatrato e sais. Assim permanece há mais de 4 bilhões de anos. Mas se existir líquido residual por baixo, este oceano ainda não está completamente congelado. Isso é consistente com os vários modelos de evolução térmica de Ceres publicados antes da chegada da Dawn, apoiando a ideia de que o interior mais profundo de Ceres contém o líquido restante do seu antigo oceano.

Fonte: Jet Propulsion Laboratory

A visita de pequeno asteroide ou cometa ao Sistema Solar

Um pequeno asteroide recentemente descoberto, ou talvez um cometa, parece ter origens extrassolares. Se assim for, seria o primeiro "objeto interestelar" observado e confirmado.

animação mostra o percurso do asteroide A72017 U1

© NASA/JPL-Caltech (animação mostra o percurso do asteroide A72017 U1)

Este objeto incomum, designado A/2017 U1, tem menos de 400 metros em diâmetro e move-se incrivelmente depressa. Os astrônomos estão trabalhando urgentemente para apontar telescópios de todo o mundo e no espaço. Assim que estes dados sejam obtidos e combinados será possível saber mais sobre a origem e possivelmente sobre a composição do objeto.

O A/2017 U1 foi descoberto no dia 19 de outubro pelo telescópio Pan-STARRS 1 da Universidade do Havaí, em Haleakala, durante o curso da sua observação noturna por objetos próximos da Terra para a NASA. Rob Weryk, pesquisador de pós-doutorado do Instituto de Astronomia da Universidade do Havaí, foi o primeiro a identificar o objeto em movimento e a submetê-lo ao Minor Planet Center. Weryk subsequentemente vasculhou o arquivo de imagens Pan-STARRS e descobriu que também estava em imagens obtidas na noite anterior, mas não tinha sido inicialmente identificado pelo processamento de objeto em movimento.

O movimento do A/2017 U1 não podia ser explicado usando uma órbita de asteroide ou cometa normal do Sistema Solar. Este objeto veio de fora do nosso Sistema Solar.

A equipe do CNEOS traçou a atual trajetória do objeto e até analisou o seu futuro. O A/2017 U1 surgiu da direção da constelação de Lira, viajando através do espaço interestelar com velocidade de 25,5 km/s.

O objeto aproximou-se do nosso Sistema Solar quase diretamente "acima" da eclíptica, o plano aproximado no espaço onde os planetas e a maioria dos asteroides orbitam o Sol, de modo que não teve encontros próximos com os oito planetas principais durante o seu mergulho em direção ao Sol. No dia 2 de setembro, o pequeno corpo cruzou o plano da eclíptica apenas dentro da órbita de Mercúrio e fez a sua aproximação máxima ao Sol no dia 9 do mesmo mês. Puxado pela gravidade do Sol, o objeto fez uma curva apertada no Sistema Solar, passando por baixo da órbita da Terra no dia 14 de outubro a uma distância de aproximadamente 24 milhões de quilômetros, cerca de 60 vezes a distância à Lua. Atualmente, já passou novamente para cima do plano dos planetas e, viajando a 44 km/s em relação ao Sol, o objeto está acelerando na direção da constelação de Pégaso.

"Percebemos há muito que estes objetos deviam existir, porque durante o processo de formação planetária muitos materiais devem ser expelidos dos sistemas planetários. O que é mais surpreendente é que nunca tínhamos visto objetos interestelares passando por aqui," comenta Karen Mecch, astrônoma do Instituto de Astronomia da Universidade do Havaí, especialista em corpos pequenos e na sua relação com a formação do Sistema Solar.

"Há muito tempo que teorizamos acerca da existência destes objetos que movem entre as estrelas e ocasionalmente passam pelo nosso Sistema Solar, mas esta é a primeira destas detecções. Até agora, tudo indica que este é provavelmente um objeto interestelar, mas mais dados podem ajudar à sua confirmação," comenta Paul Chodas, gestor do CNEOS.

O pequeno objeto recebeu a designação temporária A/2017 U1 pelo Minor Planet Center em Cambridge, Massachusetts, EUA, onde todas as observações de pequenos corpos no nosso Sistema Solar são recolhidas.

Tendo em conta que este é o primeiro objeto encontrado do seu tipo, as regras de nomenclatura têm ainda que ser estabelecidas pela União Astronômica Internacional.

Fonte: University of Hawaii Institute for Astronomy

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

ALMA descobre poeira fria em torno da estrela mais próxima

O observatório ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array) no Chile detectou poeira em torno da estrela mais próxima do Sistema Solar, Proxima Centauri.

ilustração dos cinturões de poeira em torno de Proxima Centauri

© ESO/M. Kornmesser (ilustração dos cinturões de poeira em torno de Proxima Centauri)

Estas novas observações revelam o brilho emitido pela poeira fria numa região situada a uma distância da Proxima Centauri entre uma a quatro vezes a distância entre a Terra e o Sol. Os dados indicam também a presença de um cinturão de poeira mais exterior e ainda mais frio, o que poderá apontar para a presença de um sistema planetário elaborado. Estas estruturas são semelhantes aos cinturões maiores do Sistema Solar, estimando-se que sejam igualmente constituídas por partículas de rocha e gelo que não conseguiram formar planetas.

A Proxima Centauri é a estrela mais próxima do Sol. Trata-se de uma anã vermelha situada a apenas 4 anos-luz de distância na constelação austral do Centauro. Em sua órbita encontra-se um planeta temperado do tipo terrestre, Proxima b, descoberto em 2016, o planeta mais próximo do Sistema Solar. No entanto, este sistema revela-se agora muito mais complexo. As novas observações do ALMA mostram radiação emitida pelas nuvens de poeira cósmica fria que rodeiam a estrela.

“A poeira que rodeia a Proxima Centauri é importante porque, no seguimento da descoberta do planeta terrestre Proxima b, se trata da primeira indicação da presença de um sistema planetário elaborado, e não apenas de um único planeta, em torno da estrela mais próxima do nosso Sol,” explica Guillem Anglada, do Instituto de Astrofísica de Andalucía (CSIC), Granada, Espanha.

Os cinturões de poeira são restos de material que não formou corpos maiores, tais como planetas. As partículas de rocha e gelo nestes cinturões variam em tamanho, desde os mais minúsculos grãos de poeira, menores que um milímetro, até a corpos do tipo de asteroides com muitos km de diâmetro.

A Proxima Centauri é uma estrela bastante velha, com idade semelhante à idade do Sistema Solar. Os cinturões de poeira em sua volta são provavelmente semelhantes à poeira residual do cinturão de Kuiper e do cinturão de asteroides do Sistema Solar e à poeira que dá origem à luz zodiacal. Os discos observados pelo ALMA em torno de estrelas muito mais jovens, como é o caso da HL Tauri, contêm muito mais material que está no processo de formar planetas.

A poeira parece situar-se num cinturão que se estende ao longo de algumas centenas de km além de Proxima Centauri e tem uma massa total de cerca de um centésimo da da Terra. Estima-se que este cinturão tenha uma temperatura de cerca de —230 graus Celsius, ou seja, tão fria quanto o Cinturão de Kuiper no Sistema Solar exterior.

Os dados do ALMA parecem também indicar a existência de outro cinturão de poeira ainda mais frio e situado cerca de dez vezes mais longe. Se confirmado, a natureza deste cinturão mais exterior é intrigante, dado o meio muito frio onde se encontra, isto é, situa-se muito afastado de uma estrela mais fria e mais tênue que o Sol. Ambos os cinturões encontram-se muito mais longe da Proxima Centauri do que o planeta Proxima b, o qual orbita a apenas 4 milhões de km de distância da sua estrela progenitora.

”Este resultado sugere que a Proxima Centauri possa ter um sistema planetário múltiplo com uma história rica de interações que terão resultada na formação de um cinturão de poeira. Estudos adicionais poderão fornecer informação sobre as localizações destes planetas adicionais ainda não identificados,” disse Guillem Anglada.

O sistema planetário de Proxima Centauri é também particularmente interessante porque existem planos, como o projeto Starshot, para a futura exploração direta do sistema por meio de microsondas ligadas a velas impulsionadas a laser.

Este trabalho será publicado na revista da especialidade Astrophysical Journal Letters.

Fonte: ESO

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

A nebulosa de emissão Elmo de Thor

Esta nuvem cósmica em forma de capacete com apêndices semelhantes a asas é popularmente chamada Elmo de Thor.

Nebulosa Elmo de Thor

© Adam Block (Nebulosa Elmo de Thor)

Com um dimensão que faz mesmo lembrar o deus nórdico, o Elmo de Thor abrange cerca de 30 anos-luz de diâmetro. De fato, o capacete é na verdade uma bolha interestelar, soprada por ventos rápidos, gerados por uma estrela brilhante localizada perto do centro da região azulada da bolha, varrendo através de uma nuvem molecular circundante.

Esta estrela é uma Wolf-Rayet, massiva e extremamente quente,  que está num estágio breve de pré-supernova em evolução. Catalogada como NGC 2359, a nebulosa de emissão está localizada a cerca de 12 mil anos-luz de distância da Terra em direção à constelação de Canis Major.

A imagem nítida, feita com filtros de banda larga e banda estreita, capta detalhes impressionantes das estruturas filamentares de gás e poeira da nebulosa. A cor azulada é originada pela forte emissão de átomos de oxigênio presentes na nebulosa.

Fonte: NASA

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Novo rastreio de exoplanetas descobre o seu primeiro objeto

A rede NGTS (Next Generation Transit Survey) instalada no Observatório do Paranal do ESO, no norte do Chile, descobriu o seu primeiro exoplaneta, um Júpiter quente em órbita de uma estrela anã do tipo M, à qual se deu o nome de NGTS-1.

ilustração do exoplaneta NGTS-1b

© University of Warwick/Mark Garlick (ilustração do exoplaneta NGTS-1b)

Uma anã do tipo M é uma estrela pequena e tênue com aproximadamente 8 a 50% da massa do Sol e com uma temperatura de superfície menor que 3.700 ºC. Pensa-se que 50 das 60 estrelas mais próximas do nosso Sistema Solar são anãs do tipo M, embora nenhuma delas seja suficientemente brilhante para poder ser vista a olho nu a partir da Terra.

O planeta chamado NGTS-1b é apenas o terceiro planeta gigante que se observou transitando uma estrela deste tipo, depois de Kepler-45b e HATS-6b. O NGTS-1b é o maior e o mais massivo dos três, com um raio de 130% e uma massa de 80%, relativamente a Júpiter.

O NGTS é constituído por uma rede de doze telescópios de 20 cm e procura pequenos decréscimos no brilho de uma estrela causados quando um planeta em sua órbita passa à sua frente (o chamado trânsito), bloqueando parte da sua luz. Assim que o NGTS-1b foi descoberto, a sua existência foi confirmada por observações de acompanhamento feitas no Observatório de La Silla do ESO: observações fotométricas obtidas com a EulerCam montada no telescópio suíço de 1,2 metros Leonhard Euler; e observações espectroscópicas feitas com o instrumento HARPS montado no telescópio de 3,6 metros do ESO.

Planetas pequenos são relativamente comuns em torno de estrelas anãs do tipo M, no entanto gigantes gasosos como o NGTS-1b aparecem mais raramente em torno destas estrelas do que em torno de estrelas mais parecidas com o Sol. Este fato é consistente com as atuais teorias da formação planetária, no entanto precisamos de mais observações de estrelas anãs do tipo M antes de termos um conhecimento mais aprofundado do número de planetas gigantes que se encontram em sua órbita. O NGTS foi especificamente concebido para obter dados melhores relativos a planetas em órbita de estrelas anãs do tipo M e, uma vez que estas estrelas correspondem a cerca de 75% de todas as estrelas na Via Láctea, estudá-las ajudará a compreender melhor a principal população de planetas na Galáxia.

O futuro pode revelar-se bem interessante referente a este sistema exoplanetário, uma vez que poderá ser estudado com grande detalhe pelo complemento de instrumentos que serão colocados a bordo do telescópio espacial James Webb (JWST) da NASA/ESA/CSA, o qual deverá ser lançado em 2019.

Este trabalho será publicado na revista especializada Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

Fonte: ESO

terça-feira, 31 de outubro de 2017

A distribuição da matéria escura numa simulação do Universo

Será que o nosso Universo é um lugar assombrado? Pode parecer que sim se você olhar para este mapa, que é uma representação da distribuição da matéria escura no Universo.

matéria escura numa simulação do Universo

© Tom Abel/Ralf Kaehler (matéria escura numa simulação do Universo)

A gravidade da matéria escura é a principal explicação de porque as galáxias giram tão rápidas dentro dos aglomerados, porque as lentes gravitacionais defletem tão intensamente a luz e porque a matéria visível é distribuída como é tanto no Universo local como na radiação cósmica de fundo de micro-ondas. A imagem acima é do Sapce Show Dark Universe que acontece no Hayden Planetarium do American Museum of Natural History e destaca um exemplo de quão penetrante a matéria escura pode ser e pode assombrar o Universo.

Esta imagem é uma simulação computacional, que mostra os complexos filamentos de matéria escura, mostrados em preto, espalhados sobre o Universo como se fossem teia de aranha, enquanto que aglomerações relativamente raras de matéria bariônica familiar são coloridas de laranja. Essas simulações têm um bom ajuste estatístico com as observações astronômicas.

Numa mudança de eventos talvez mais assustadora ainda, a matéria escura, embora seja muito estranha, não é considerada como sendo a fonte de gravidade mais estranha do Universo. Esta honra agora pertence à chamada energia escura, uma fonte mais uniforme de gravidade repulsiva que parece dominar a expansão do Universo.

Fonte: NASA