sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

O aglomerado da Escova de Dentes

A maioria das galáxias reside em aglomerados contendo entre alguns até milhares de objetos.

aglomerado da Escova de Dentes

© van Weeren (aglomerado da Escova de Dentes)

Na imagem acima a intensidade do tom vermelho mostra a emissão rádio, o azul é raios X e a cor no plano de fundo é emissão óptica.

A Via Láctea, por exemplo, pertence a um aglomerado composto por cerca de cinquenta galáxias chamado Grupo Local, cujo outro grande membro é a Galáxia de Andrômeda a cerca de 2,3 milhões de anos-luz. Os aglomerados galácticos são os objetos mais massivos do Universo ligados gravitacionalmente e formam-se através da acumulação de pequenas estruturas, que formam grupos maiores mais tarde na história cósmica. A matéria escura desempenha um papel importante neste processo de crescimento. Exatamente como crescem, no entanto, parece depender de vários processos físicos concorrentes, incluindo o comportamento do gás no interior do aglomerado. Há mais massa neste gás do que em todas as estrelas das galáxias de um aglomerado, e o gás pode ter uma temperatura de 10 milhões Kelvin ou até mais. Como resultado, o gás desempenha um papel importante na evolução de um aglomerado galáctico. O quente gás no interior do aglomerado contém partículas carregadas e velozes que irradiam fortemente no rádio, por vezes revelando longas estruturas filamentares.

O aglomerado de galáxias da "Escova de Dentes", 1RXS J0603.3+4214, hospeda três destas estruturas rádio, bem como um grande halo. A característica rádio mais proeminente estende-se por mais de seis milhões de anos-luz, com três componentes distintos que se assemelham à escova e cabo de uma escova de dentes. O cabo é particularmente enigmático porque além de ser grande e muito reto, está desalinhado do eixo do aglomerado. Pensa-se que o halo seja o resultado de turbulência produzida pela fusão de galáxias, embora tenham sido sugeridas algumas outras possibilidades.

Os astrónomos do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics usaram o VLA (Very Large Array) para observar partículas relativistas no aglomerado com imagens rádio precisas e sensíveis, que depois compararam com outros conjuntos de dados do observatório de raios X Chandra. No rádio, a Escova de Dentes tem uma crista muito estreita, criada por um enorme choque resultante da fusão, e pelo menos trinta e duas fontes compactas anteriormente não detectadas. As morfologias rádio e raios X do halo são muito semelhantes e suportam o cenário de fusão. Os astrônomos foram também capazes de estimar a força do campo magnético e de o combinar com outros resultados, concluindo que o cenário de fusão é o mais adequado.

Fonte: Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics

O Quarteto de Robert

O Quarteto de Robert é um grupo de quatro galáxias muito diferentes, localizadas a uma distância de cerca de 160 milhões de anos-luz, perto do centro da constelação de Phoenix.

Quarteto de Robert

© ESO (Quarteto de Robert)

Os seus membros são NGC 87, NGC 88, NGC 89 e NGC 92, descobertos por John Herschel na década de 1830.

O quarteto é um dos mais belos exemplos de grupos compactos de galáxias, que está em processo de fusão.

A NGC 87 (parte superior direita na imagem) é uma galáxia irregular semelhante aos satélites da Via Láctea, as Nuvens de Magalhães. A NGC 88 (no centro da imagem) é uma galáxia espiral com um envelope externo difuso, provavelmente composto de gás. A NGC 89 (no meio inferior da imagem) é outra galáxia espiral com dois grandes braços espirais. O maior membro do sistema, a NGC 92 (à esquerda na imagem), é uma galáxia espiral Sa (com núcleo grande e braços espirais pequenos, bem enrolados, de difícil resolução) com uma aparência incomum. Um dos seus braços, com cerca de 100 mil anos luz, foi distorcido pelas interações e contém uma grande quantidade de poeira.

Sobre o céu, as quatro galáxias estão todas dentro de um círculo de raio de 1,6 arco de minuto, o que corresponde a cerca de 75.000 anos-luz.

Fonte: ESO

O Sistema Solar pode ter sido formado numa bolha em torno de estrela

Apesar das muitas descobertas feitas sobre o Universo, os cientistas ainda não têm certeza sobre a história do nascimento do nosso Sistema Solar.

simulação de ventos estelares numa estrela gigante

© V. Dwarkadas/D. Rosenberg (simulação de ventos estelares numa estrela gigante)

A imagem acima mostra uma simulação de como os ventos estelares transportam massa de uma estrela gigante ao longo de milhões de anos, formando bolhas em seu redor, que podem ter servido como as origens do nosso Sistema Solar.

Cientistas da Universidade de Chicago estabeleceram uma teoria abrangente sobre o modo como o nosso Sistema Solar pode ter-se formado em bolhas sopradas por ventos em torno de uma estrela gigante e há muito tempo morta. O estudo aborda um desconcertante mistério cósmico acerca da abundância de dois elementos no nosso Sistema Solar em comparação com o resto da Galáxia.

A teoria geral dominante afirma que o nosso Sistema Solar se formou há bilhões de anos atrás perto de uma supernova. Mas o novo cenário começa, ao invés, com um tipo de estrela gigante chamada estrela Wolf-Rayet, que tem 40 a 50 vezes o tamanho do nosso Sol. São as estrelas mais quentes, produzindo muitos elementos expulsos para fora da superfície num intenso vento estelar. À medida que a estrela Wolf-Rayet perde a sua massa, o vento estelar escava o material em seu redor, formando uma estrutura de bolha com uma concha densa.

A concha de uma bolha deste gênero é um bom local para produzir estrelas, porque a poeira e o gás ficam presos no interior podendo se condensar. Os pesquisadores estimam que 1 a 16% de todas as estrelas parecidas com o Sol podem ser formadas em berçários estelares deste tipo.

Esta configuração difere da hipótese de supernova para dar sentido a dois isótopos que ocorrem em proporções estranhas no Sistema Solar inicial, em comparação com o resto da galáxia. Os meteoritos deixados para trás no Sistema Solar inicial induz que havia muito alumínio (26Al). Além disso, estudos anteriores sugerem cada vez mais que haviam menos quantidades do isótopo de ferro (60Fe).

Porém, as supernovas produzem ambos os isótopos. Por que é que um elemento foi inserido no Sistema Solar e o outro não?

Isto levou-os às estrelas Wolf-Rayet, que liberam grandes quantidades de 26Al, mas nenhum 60Fe.

A ideia é que o alumínio-26 lançado pela estrela Wolf-Rayet foi transportado para fora em grãos de poeira formados em torno da estrela. Estes grãos têm impulso suficiente para perfurar um lado da concha, onde são em grande parte destruídos, prendendo o alumínio dentro da concha. Eventualmente, parte da concha colapsa para dentro devido à gravidade, formando o nosso Sistema Solar.

No que se refere ao destino da gigante estrela Wolf-Rayet que nos abrigou: a sua vida terminou há muito, provavelmente numa explosão de supernova ou num colapso direto para um buraco negro. Um colapso direto para buraco negro produziria pouco 60Fe; para uma supernova, o 60Fe produzido na explosão pode não ter penetrado as paredes da bolha, ou foi distribuído de forma não uniforme.

O estudo foi publicado na revista The Astrophysical Journal.

Fonte: University of Chicago

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Descoberta pode elucidar a natureza da matéria escura

Uma interpretação inovadora de dados de raios X de um aglomerado de galáxias pode ajudar na determinação da natureza da matéria escura.

aglomerado de galáxias de Perseu

© Chandra/XMM-Newton/Hitomi (aglomerado de galáxias de Perseu)

A descoberta envolve uma nova explicação para um conjunto de resultados obtidos com o observatório de raios X Chandra da NASA, com o XMM-Newton da ESA e com o Hitomi, um telescópio de raios X japonês. Se confirmada com observações futuras, poderá representar um avanço na compreensão da natureza da substância misteriosa e invisível no Universo.

A história deste trabalho começou em 2014 quando uma equipe de astrônomos liderada por Esra Bulbul, do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics, encontrou um pico de intensidade numa energia muito específica em observações de gás quente no aglomerado galáctico de Perseu com o Chandra e com o XMM-Newton.

Este pico, ou linha de emissão, encontra-se a uma energia de 3,5 keV (quilo elétons-volt). A intensidade da linha de emissão com esta energia é muito difícil, se não impossível, de explicar em termos de características previamente observadas ou previstas de objetos astronômicos e, portanto, foi sugerida uma origem relacionada com a matéria escura. Os pesquisadores também anunciaram a existência da linha de 3,5 keV num estudo de outros 73 aglomerados de galáxias usando o XMM-Newton.

O enredo desta história da matéria escura ficou mais complexo quando apenas uma semana após a equipe de Bulbul ter submetido o seu trabalho, um grupo diferente, liderado por Alexey Boyarksy da Universidade de Leiden, Holanda, relatou evidências de uma linha de emissão a 3,5 keV nas observações da galáxia M31 e dos arredores do aglomerado de Perseu com o XMM-Newton, confirmando o resultado anterior.

No entanto, estes dois resultados eram controversos, pois outros astrônomos detectaram a mesma linha de 3,5 keV ao observar outros objetos, e outros não a conseguiram detectar.

O debate parecia estar resolvido em 2016 quando o Hitomi, especialmente contruído para observar características detalhadas, como a emissão nos espectros de raios X de fontes cósmicas, não conseguiu detectar a linha de 3,5 keV no aglomerado de Perseu.

O telescópio Hitomi tinha imagens muito mais desfocadas do que o Chandra, de modo que os seus dados do aglomerado de Perseu são na realidade uma mistura de sinais de raios X de duas fontes: um componente difuso de gás quente que envolve a grande galáxia no centro do aglomerado e uma emissão de raios X de perto do buraco negro supermassivo nesta galáxia. A visão mais nítida do Chandra pode separar a contribuição das duas regiões. Então, o sinal de raios X do gás quente foi isolado, removendo fontes pontuais da sua análise, incluindo raios X do material perto do buraco negro supermassivo.

A fim de testar se esta diferença era importante, foram analisados novamente os dados do Chandra próximos do buraco negro no centro do aglomerado de Perseu obtidos em 2009. Foram encontrados algo surpreendente: evidências de um déficit em vez de um excesso de raios X a 3,5 keV. Isto sugere que algo em Perseu está absorvendo raios X nesta energia. Quando os pesquisadores simularam o espectro do Hitomi adicionando esta linha de absorção à linha de emissão do gás quente vista com o Chandra e com o XMM-Newton, não encontraram evidências no espectro somado para a absorção ou para a emissão de raios X a 3,5 keV, consistente com as observações do Hitomi.

O desafio é explicar este comportamento: detectar absorção de raios X quando se observa o buraco negro e emissão de raios X, à mesma energia, quando observando o gás quente a ângulos maiores longe do buraco negro.

Realmente, tal comportamento é bem conhecido no estudo de estrelas e nuvens de gás com telescópios ópticos. A luz de uma estrela rodeada por uma nuvem de gás geralmente mostra linhas de absorção produzidas quando a luz estelar de uma energia específica é absorvida pelos átomos na nuvem de gás. A absorção empurra os átomos de um estado baixo de energia para um estado de alta energia. O átomo rapidamente volta ao estado de baixa energia com a emissão de luz de uma energia específica, mas a luz é reemitida em todas as direções, produzindo uma perda líquida de luz na energia específica, ou seja, uma linha de absorção, no espectro observado da estrela. Em contraste, uma observação de uma nuvem na direção oposta à da estrela apenas detectaria a luz reemitida numa energia específica, que apareceria como uma linha de emissão.

Os pesquisadores sugerem que as partículas de matéria escura podem ser como átomos, tendo dois estados de energia separados por 3,5 keV. Se assim for, pode ser possível detectar uma linha de absorção a 3,5 keV quando observando a ângulos próximos da direção do buraco negro, e a linha de emissão quando observando o gás quente do aglomerado em grandes ângulos, longe do buraco negro.

Para escrever o próximo capítulo desta história, os astrônomos vão precisar de mais observações do aglomerado de Perseu e de outros como ele. Por exemplo, são necessários mais dados para confirmar a realidade do mergulho energético e para excluir a possibilidade de uma combinação de um efeito instrumental inesperado e uma queda estatisticamente improvável em raios X com energia de 3,5 keV. O Chandra, o XMM-Newton e as futuras missões de raios X vão continuar observando aglomerados de galáxias para abordar o mistério da matéria escura.

O artigo que descreve estes resultados foi publicado na revista Physical Review D.

Fonte: Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics

Filamento cósmico perto do buraco negro da Via Láctea

O centro da Via Láctea é intensamente estudado há já muitos anos, mas ainda reserva surpresas. Uma estrutura semelhante a uma cobra que serpenteia perto do buraco negro supermassivo da nossa Galáxia é a descoberta mais recente que atrai os astrônomos.

imagem rádio do centro da Via Láctea

© VLA/UCLA/M. Morris (imagem rádio do centro da Via Láctea)

O misterioso filamento é a linha curva localizada perto do centro da imagem e o buraco negro supermassivo (Sgr A*) pode ser visto como a fonte brilhante na parte de baixo da imagem.

Em 2016, Farhad Yusef-Zadeh da Universidade Northwestern divulgou a descoberta de um filamento incomum, perto do centro da Via Láctea, usando o VLA (Karl. G. Jansky Very Large Array). O filamento mede aproximadamente 2,3 anos-luz e curva para apontar para o buraco negro supermassivo, de nome Saggitarius A* (Sgr A*), localizado no Centro Galáctico.

Agora, outra equipe de astrônomos empregou uma técnica pioneira para produzir a imagem de mais alta qualidade já obtida deste objeto curvo.

Os cientistas consideraram três explicações principais para o filamento. A primeira é que é provocado por partículas velozes expulsas pelo buraco negro supermassivo. Um buraco negro giratório, acoplado com gás que espirala para dentro, pode produzir uma torre vertical de campos magnéticos que se aproximam ou até rodeiam o horizonte de eventos, o ponto de em que não há retorno para a matéria em queda. Dentro desta torre, as partículas são aceleradas e produzem emissões de rádio à medida que espiralam em torno das linhas do campo magnético e se afastam do buraco negro.

A segunda possibilidade, mais fantástica, é que o filamento é uma "corda" cósmica, teórica, de objetos ainda não detectados, objetos estes longos e extremamente finos que transportam massa e correntes elétricas. Anteriormente, os teóricos previram que estas cordas cósmicas, se existirem, migrariam para os centros das galáxias. Se a corda se aproximar o suficiente do buraco negro central, pode ser capturada quando parte da corda atravessa o horizonte de eventos.

A opção final é que a posição e a direção do filamento estão alinhadas com o buraco negro meramente por coincidência, e que não existe uma associação real entre os dois objetos. Isto implicaria ser como dezenas de outros filamentos conhecidos encontrados mais longe do centro da Galáxia. No entanto, é bastante improvável que tal coincidência aconteça por acaso.

Cada um dos cenários forneceria uma visão intrigante caso comprovados. Por exemplo, se o filamento for provocado por partículas ejetadas por Sgr A*, isso revelaria informações importantes sobre o campo magnético neste ambiente especial, mostrando que é suave e ordenado em vez de caótico.

A segunda opção, a "corda" cósmica, proporcionaria a primeira evidência de uma ideia altamente especulativa com profundas implicações para a compreensão da gravidade, do espaço-tempo e do próprio Universo.

As evidências para a ideia de que as partículas estão sendo magneticamente expulsas para longe do buraco negro resultariam da observação de que as partículas mais longe de Sgr A* são menos energéticas do que aquelas mais perto. Um teste para a ideia da corda cósmica aproveitaria a previsão teórica de que esta deve mover-se a uma fração alta da velocidade da luz. Observações de acompanhamento com o VLA devem ser capazes de detectar o deslocamento correspondente na posição do filamento.

Mesmo que o filamento não esteja fisicamente ligado a Sgr A*, a sua curvatura permanece incomum. A curva poderia ser provocada por uma onda de choque, semelhante a um "boom" sônico, onde a onda explosiva de uma estrela moribunda colide com os poderosos ventos soprados por estrelas massivas que rodeiam o buraco negro central.

O artigo que descreve estes resultados foi publicado na revista The Astrophysical Journal Letters.

Fonte: Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

HAWK-I e Hubble exploram um aglomerado de galáxias

Esta imagem mostra algo de espectacular: um aglomerado de galáxias massivo que está distorcendo o espaço que o rodeia!

HAWK-I and Hubble Explore a Cluster with the Mass of two Quadrillion SunsGalaxy Cluster RCS2 J2327

© HAWK-I/Hubble (aglomerado de galáxias RCS2 J2327)

O aglomerado, cujo núcleo se encontra no centro da imagem, chama-se RCS2 J2327 e trata-se de um dos aglomerados mais massivos conhecidos a esta distância ou mais distantes.

Objetos massivos como o RCS2 J2327 têm uma influência tão grande sobre o seu meio envolvente que distorcem de forma visível o espaço que os rodeia. Este efeito, chamado lente gravitacional, faz com que a luz emitida por objetos mais distantes se curve, distorça e amplifique, permitindo-nos observar galáxias que, de outro modo, estariam demasiado distantes para serem detectadas. O efeito de lente gravitacional é uma das previsões da teoria da relatividade geral de Albert Einstein e pode ser observado em três regimes diferentes: lentes gravitacionais fortes, lentes gravitacionais fracas e micro lentes gravitacionais. Ao contrário das lentes gravitacionais fortes, que produzem imagens impressionantes de galáxias distorcidas, arcos vastos ou fenômenos conhecidos por anéis de Einstein, as lentes gravitacionais fracas são principalmente estudadas de forma estatística, no entanto fornecem-nos uma maneira de medir as massas de objetos cósmicos, como no caso deste aglomerado.

Esta imagem foi composta a partir de observações obtidas com o instrumento HAWK-I montado no Very Large Telescope (VLT) do ESO e com a Advanced Camera for Surveys do telescópio espacial Hubble da NASA/ESA. A imagem mostra um detalhe impressionante, um resultado de colaboração para estudar lentes gravitacionais fracas no cosmos. O estudo descobriu que o RCS2 J2327 tem uma massa equivalente a dois quatrilhões de sóis!

Fonte: ESO & ESA

A grande galáxia espiral NGC 1232

As galáxias são fascinantes não somente pela parte visível delas, mas também pela parte invisível.

NGC 1232

© ESO/VLT (NGC 1232)

A grande galáxia espiral NGC 1232, registrada em detalhe nessa imagem feita pelo Very Large Telescope (VLT) do ESO é um bom exemplo disso. A parte visível é dominada por milhões de estrelas brilhantes, e por linhas escuras de poeira, tudo isso preso a um movimento espiral ao redor do centro.

Os aglomerados abertos contendo estrelas azuis brilhantes podem ser vistos espalhados ao longo dos braços espirais, enquanto que linhas escuras formadas por uma densa poeira interestelar podem ser vistas entre eles. Menos visível, mas detectável, são as bilhões de estrelas e os vastos traços de gás interestelar, que juntos somam uma grande massa que domina a dinâmica da parte interna da galáxia.

Algumas teorias indicam que a maior parte da matéria na galáxia é invisível. Essa matéria é chamada de matéria escura e é postulada, em parte, para explicar os movimentos da matéria visível nas regiões mais externas da galáxia.

Fonte: NASA

domingo, 24 de dezembro de 2017

A nebulosa festiva do Hubble

O telescópio espacial Hubble captou o que parece um ornamento de férias colorido no espaço.

A star's colourful final splash

© Hubble (NGC 6326)

Na verdade, é uma imagem da NGC 6326, uma nebulosa planetária com mechas brilhantes de gás em efusão que são iluminadas por uma estrela central que se aproxima do fim de sua vida.

Quando uma estrela envelhece e a fase gigante vermelha de sua vida chega ao fim, ela começa a expulsar camadas de gás de sua superfície deixando atrás uma anã branca quente e compacta. Às vezes, esta ejeção resulta em padrões elegantemente simétricos de gás incandescente, mas a nebulosa planetária NGC 6326 é muito menos estruturada. Este objeto está localizado na constelação de Ara, o Altar, a cerca de 11 mil anos-luz da Terra.

As nebulosas planetárias são uma das principais maneiras pelas quais os elementos mais pesados ​​do que o hidrogênio e o hélio são dispersos no espaço após sua criação nos núcleos das estrelas. Eventualmente, alguns destes materiais externos podem formar novas estrelas e planetas.

Esta imagem foi criada através da Wide Field Planetary Camera 2 do telescópio espacial Hubble. As matizes vívidas em azul e vermelho são oriundas de material que inclui oxigênio ionizado e hidrogênio brilhante sob a ação da feroz radiação ultravioleta da estrela central ainda quente.

Fonte: ESA

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Fenômenos de fusão de estrelas de nêutrons em ondas de rádio

Três meses de observações com o Karl G. Jansky Very Large Array (VLA) permitiram determinar a explicação mais provável para o que aconteceu após a violenta colisão de um par de estrelas de nêutrons numa galáxia a 130 milhões de anos-luz da Terra.

ilustração da colisão entre duas estrelas de nêutrons

© NRAO/D. Berry (ilustração da colisão entre duas estrelas de nêutrons)

Cenários diferentes para o rescaldo da colisão entre duas estrelas de nêutrons. À esquerda, um jato de material que se move quase à velocidade da luz é impulsionado a partir do local da colisão para uma esfera de material inicialmente expelido pela explosão resultante. Se visto a partir de um ângulo desviado do centro do jato, a emissão a longo-prazo de raios X e de ondas rádio teria ficado mais fraca. À direita, o jato não consegue furar a concha de detritos da explosão, e ao invés "varre" material para um grande "casulo", que absorve a energia do jato e emite raios X e ondas rádio num maior ângulo. Neste caso, a emissão ainda está aumentando em intensidade, tal como observado tanto com radiotelescópios como com telescópios de raios X.

No dia 17 de agosto de 2017, os observatórios de ondas gravitacionais LIGO e VIRGO juntaram forças para localizar as fracas ondulações no espaço-tempo provocadas pela fusão de duas estrelas de nêutrons superdensas. Foi a primeira detecção confirmada de uma fusão do gênero e apenas a quinta detecção direta de ondas gravitacionais, previstas há mais de um século por Albert Einstein.

As ondas gravitacionais foram seguidas por explosões de raios gama, raios X e luz visível do evento. O VLA detectou as primeiras ondas de rádio provenientes do evento no dia 2 de setembro. Esta foi a primeira vez que um objeto astronômico foi detectado tanto em ondas gravitacionais como em ondas eletromagnéticas.

A força da radiação eletromagnética, em diferentes comprimentos de onda, forneceu pistas acerca da natureza dos fenômenos criados pela colisão inicial das estrelas de nêutrons. Antes do evento de agosto, foram propostos vários modelos teóricos sobre estes fenômenos. Como a primeira colisão a ser identificada positivamente, o evento de agosto proporcionou a primeira oportunidade para comparar previsões dos modelos com observações reais.

Usando o VLA, o Australia Telescope Compact Array (ATCA) e o Giant Metrewave Radio Telescope (GMRT) na Índia, os astrônomos observaram regularmente o objeto a partir de setembro em diante. Os radiotelescópios mostraram a emissão de rádio ganhando força. Com base nisto, os astrônomos identificaram o cenário mais provável para as consequências da fusão.

"O brilho gradual do sinal de rádio indica que estamos vendo um fluxo exterior de material de grande angular, viajando a velocidades comparáveis à da luz, da fusão das estrelas de nêutrons," afirma Kunal Mooley, do National Radio Astronomy Observatory (NRAO).

As medições observadas estão ajudando a descobrir a sequência de eventos desencadeada pela colisão das estrelas de nêutrons.

A fusão inicial dos dois objetos superdensos provocou uma explosão, chamada quilonova, que impulsionou para fora uma concha esférica de detritos. As estrelas de nêutrons colapsaram num remanescente, possivelmente um buraco negro, cuja poderosa gravidade começou a puxar o material na sua direção. Este material formou um disco com rápida rotação que produziu um par de jatos estreitos e velozes expelidos a partir dos polos.

Se um dos jatos estivesse apontado na direção da Terra, teríamos visto uma explosão de raios gama de curta duração, como muitas já foram observadas antes, disseram os cientistas.

Algumas das primeiras medições do evento de agosto sugeriram, em vez disso, que um dos jatos podia estar ligeiramente desviado da direção da Terra. Este modelo explicaria a razão de que as emissões rádio e de raios X foram vistas apenas pouco tempo depois da colisão.

Os astrônomos debruçaram-se num modelo publicado em outubro por Mansi Kasliwal do Caltech, e colegas, e desenvolvido posteriormente por Ore Gottlieb, da Universidade de Tel Aviv, e colegas. Neste modelo, o jato não percorre o caminho para fora da esfera dos detritos da explosão. Ao invés, reúne material circundante enquanto se dirige para fora, produzindo um "casulo" amplo que absorve a energia do jato.

Logo após as observações iniciais do local da fusão, a viagem anual da Terra em torno do Sol colocou o objeto demasiado perto da nossa estrela, para que os telescópios de raios X e ópticos o pudessem observar. Durante semanas, os radiotelescópios foram a única maneira de continuar a obtenção de dados do evento.

O Chandra observou novamente o objeto nos dias 2 e 6 de dezembro.

"No dia 7 de dezembro, foram divulgados os resultados do Chandra, e a emissão de raio X tinha ficado mais forte, exatamente como havíamos previsto," afirma Gregg Hallinan, do Caltech.

"Uma implicação importante para o modelo de casulo é que devemos poder ver muitas mais destas colisões através da detecção das suas ondas eletromagnéticas, não apenas das suas ondas gravitacionais," realça Hallinan.

Os resultados foram divulgados na revista Nature.

Fonte: National Radio Astronomy Observatory

Bolhas gigantes na superfície de estrela gigante vermelha

Astrônomos observaram diretamente pela primeira vez padrões de granulação na superfície da estrela gigante vermelha π1 Gruis localizada fora do Sistema Solar.

superfície da estrela gigante vermelha π1 Gruis

© ESO/VLT (superfície da estrela gigante vermelha π1 Gruis)

Situada a 530 anos-luz de distância da Terra na constelação do Grou, π1 Gruis é uma estrela gigante vermelha fria. Possui cerca da mesma massa do Sol, mas é 350 vezes maior e várias milhares de vezes mais brilhante. O nosso Sol irá também aumentar de tamanho, tornando-se uma gigante vermelha semelhante a esta, daqui a cerca de 5 bilhões de anos.

O nome π1 Gruis vem do sistema de designação Bayer. Em 1603 o astrônomo alemão Johann Bayer classificou 1564 estrelas, dando-lhes nomes compostos por uma letra grega seguida do nome da constelação onde se encontravam. De modo geral, dava-se às estrelas nomes com letras gregas relativas ao seu brilho aparente quando vistas a partir da Terra, sendo que a mais brilhante era designada por Alfa (α). A estrela mais brilhante da constelação do Grou é por isso designada Alfa Gruis. π Gruis corresponde, na realidade, a um par de estrelas de cores contrastantes que nos aparecem próximas no céu, a segunda naturalmente com o nome de π2 Gruis. São estrelas suficientemente brilhantes para poderem ser observadas com um par de binóculos. Nos anos 1830 Thomas Brisbane notou que π1 Gruis era ela própria um sistema binário de estrelas situado muito mais próximo de nós. Annie Jump Cannon, a quem se atribui a criação do Sistema de Classificação Espectral de Harvard, foi a primeira a descobrir, em 1895, o espectro peculiar de π1 Gruis.

Uma equipe internacional de astrônomos liderada por Claudia Paladini (ESO) usou o instrumento PIONIER montado no Very Large Telescope do ESO para observar π1 Gruis com o maior detalhe conseguido até agora. A equipe descobriu que a superfície desta gigante vermelha tem apenas algumas células convectivas, ou grânulos, cada um com cerca de 120 milhões de km de dimensão, cerca de um quarto do diâmetro da estrela. Os grânulos são padrões de correntes de convecção no plasma de uma estrela. À medida que o plasma aquece no centro da estrela, expande-se e sobe até à superfície, esfriando depois nas fronteiras mais exteriores e tornando-se mais escuro e denso, descendo por isso de volta ao centro. Este processo continua durante bilhões de anos, desempenhando um papel principal em muitos processos astrofísicos, incluindo transporte de energia, pulsação, ventos estelares e nuvens de poeira em anãs marrons. Para comparação, apenas um destes grânulos estenderia-se desde o Sol até depois da órbita de Vênus. As fotosferas de muitas estrelas gigantes encontram-se obscurecidas por poeira, o que dificulta as observações. No entanto, no caso da π1 Gruis, e apesar de haver poeira longe da estrela, este efeito não é significativo nas novas observações infravermelhas.

π1 Gruis é um dos membros mais brilhantes da rara classe S de estrelas, a qual foi inicialmente definida pelo astrônomo americano Paul W. Merrill para agrupar estrelas com espectros similarmente incomuns. As estrelas π1 Gruis, R Andromedae e R Cygni tornaram-se os protótipos deste tipo. Os seus espectros peculiares são agora conhecidos como sendo o resultado do processo de captura lenta de nêutrons, responsável pela criação de metade dos elementos mais pesados que o ferro.

Quando π1 Gruis gastou todo o hidrogênio que tinha para queimar, há muito tempo atrás, esta estrela anciã terminou a primeira fase da sua fusão nuclear. A estrela diminuiu de tamanho quando ficou sem energia, o que fez com que aquecesse a uma temperatura de mais de 100 milhões de graus. Estas temperaturas extremas deram origem à próxima fase da estrela, que começou então a queimar hélio, transformando-o em átomos mais pesados como o carbono e o oxigênio. O núcleo intensamente quente expeliu as camadas mais externas da estrela, fazendo com que esta aumentasse o seu tamanho em centenas de vezes relativamente ao tamanho original. A estrela que vemos hoje é uma gigante vermelha variável. Até agora, a superfície de uma destas estrelas nunca tinha sido observada com tanto detalhe.

Em termos de comparação, a fotosfera do Sol contém cerca de 2 milhões de células convectivas, com diâmetros típicos de apenas 2.000 km. A enorme diferença nas células convectivas destas duas estrelas pode ser explicada em parte pelas suas gravidades de superfície variáveis. π1 Gruis tem apenas 1,5 vezes a massa do Sol mas é muito maior, o que resulta numa gravidade de superfície muito menor e em apenas alguns grânulos extremamente grandes.

Enquanto estrelas com massas maiores que 8 massas solares terminam as suas vidas em explosões de supernova, as estrelas com menos massa, como esta, expelem gradualmente as suas camadas exteriores, dando origem a nebulosas planetárias espetaculares. Estudos anteriores de π1 Gruis tinham revelado uma concha de material a 0,9 anos-luz de distância da estrela central, que se pensa ter sido ejetada há cerca de 20.000 anos atrás. Este período relativamente curto da vida de uma estrela dura apenas algumas dezenas de milhares de anos, comparado com a vida total de cerca de vários bilhões, e por isso estas observações mostram um novo método para investigar esta fase efêmera das gigantes vermelhas.

Estes novos resultados foram publicados esta semana na revista Nature.

Fonte: ESO

Exoplanetas habitáveis ao redor de pulsares são teoricamente possíveis

É teoricamente possível que existem planetas habitáveis ​​em torno dos pulsares.

ilustração de exoplaneta em torno de pulsar

© University of Cambridge (ilustração de exoplaneta em torno de pulsar)

Estes planetas devem ter uma atmosfera enorme que converta os raios X mortais e partículas de alta energia do pulsar em calor.

Os pulsares são conhecidos por suas condições extremas. São estrelas de nêutrons de apenas 10 a 30 quilômetros de diâmetro. Eles têm enormes campos magnéticos, acumularam matéria e regularmente emanam grandes quantidades de raios X e outras partículas energéticas. No entanto, Alessandro Patruno (Universidade de Leiden e ASTRON) e Mihkel Kama (Universidade de Leiden e Universidade de Cambridge) sugerem que poderia haver vida na proximidade destas estrelas.

É a primeira vez que os astrônomos tentam calcular as chamadas zonas habitáveis ​​perto das estrelas de nêutrons. Os cálculos mostram que a zona habitável em torno de uma estrela de nêutrons pode ser tão grande quanto a distância da Terra ao nosso Sol. Uma premissa importante é que o planeta deve ser uma super-Terra com uma massa entre uma e dez vezes da nossa Terra. Um planeta menor perderá sua atmosfera dentro de cerca de mil anos. Além disso, a atmosfera deve ser um milhão de vezes mais espessa que a da Terra. As condições na superfície do planeta podem parecer as do mar profundo na Terra.

Os astrônomos estudaram o pulsar PSR B1257+12 a cerca de 2.300 anos-luz de distância na constelação de Virgem. Eles usaram o telescópio espacial Chandra especialmente feito para observar os raios X. Três planetas orbitam o pulsar. Dois deles são super-Terras com uma massa de quatro a cinco vezes da Terra. Os planetas orbitam bastante perto do pulsar. "De acordo com nossos cálculos, a temperatura dos planetas pode ser adequada para a presença de água líquida em sua superfície. No entanto, ainda não sabemos se as duas super-Terras têm a atmosfera extremamente densa," disse Patruno.

No futuro, os astrônomos pretendem observar o pulsar com mais detalhes e compará-los com outros pulsares. O telescópio ALMA do European Southern Observatory (ESO) seria capaz de mostrar discos de poeira em torno das estrelas de nêutrons. Estes discos são bons precursores de planetas.

Provavelmente a Via Láctea contém cerca de 1 bilhão de estrelas de nêutrons, dos quais cerca de 200.000 pulsares. Até agora, 3.000 pulsares foram estudados e apenas 5 planetas com pulsares foram encontrados. O PSR B1257+12 é um pulsar muito estudado. Em 1992, os primeiros exoplanetas foram descobertos em torno deste objeto.

Um artigo foi publicado na revista Astronomy & Astrophysics.

Fonte: Netherlands Institute for Radio Astronomy

A espiral do Polo Norte de Marte

Por que há uma espiral ao redor do Polo Norte de Marte?

espiral no Polo Norte de Marte

© ESA/DLR/FU Berlin (espiral no Polo Norte de Marte)

A cada inverno este polo desenvolve uma nova camada externa com cerca de um metro de espessura composta de dióxido de carbono congelado proveniente da atmosfera marciana. Esta camada fresca é depositada numa camada de gelo de água que existe por mais de um ano. Ventos fortes sopram de baixo para cima no centro da calota e assume esta forma espiralada devido à rotação do Planeta Vermelho, o que gera então a estrutura espiral de Planum Boreum.

A imagem acima é um mosaico em perspectiva gerado com imagens feitas pela sonda Mars Express da ESA, e com os dados de elevação extraídos do altímetro a laser da sonda Mars Global Surveyor da NASA. Novas missões estão sendo planejadas para Marte nos próximos anos, incluindo a InSight que será lançada em 2018, e a ExoMars e a Mars 2020 Rover que serão lançadas em 2020, estas duas últimas com a missão de procurar pela presença de vida microscópica, atual e passada em Marte.

Fonte: NASA

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Novas informações sobre o objeto 'Oumuamua

O objeto misterioso 1I/2017 U1 'Oumuamua passou perto da Terra depois de chegar do espaço interestelar profundo.

ilustração do objeto 'Oumuamua

© ESO/M. Kornmesser (ilustração do objeto 'Oumuamua)

Durante a formação e evolução do Sistema Solar, números significativos de cometa e asteroides foram ejetados para o espaço interestelar. É razoável esperar que acontecesse o mesmo para os sistemas planetários que não os nossos. A detecção de tais objetos interestelares nos permitiria testar os processos de formação planetesimal em torno de outras estrelas, possivelmente junto com os efeitos da exposição a longo prazo ao meio interestelar.  O 'Oumuamua é o primeiro objeto interestelar conhecido, descoberto pelo telescópio Pan-STARRS1 em outubro de 2017.

Desde que o objeto foi avistado em outubro, o professor Alan Fitzsimmons e a Dra. Michele Bannister da Queen's University lideraram uma equipe internacional de astrônomos para reunir um perfil do estranho visitante.

A equipe mediu o modo como 'Oumuamua reflete luz solar e descobriu que é parecido com objetos gelados cobertos com uma crosta seca. Isto porque 'Oumuamua está exposto aos raios cósmicos há milhões de anos, talvez bilhões, tendo formado à superfície uma camada isolante rica em materiais orgânicos.

A fotometria na época da descoberta do 'Oumuamua implica um corpo altamente alongado com dimensões de aproximadamente 200 x 20 m quando é assumido um albedo de 0,04. Espera-se que a população de objetos interestelares observáveis seja dominada por corpos semelhantes a cometas de acordo com os espectros coletados, mas a inatividade relatada do 'Oumuamua indica uma falta de gelo superficial.

A pesquisa sugere que a crosta seca de 'Oumuamua poderá ter protegido o seu interior gelado de ser vaporizado, mesmo quando o objeto estava a apenas 37 milhões de quilômetros do Sol em setembro, a sua aproximação máxima à nossa estrela.

Fitzsimmons comenta: "Descobrimos que a superfície de 'Oumuamua é parecida com a dos pequenos corpos do Sistema Solar ricos em carbono, cuja estrutura é alterada pela exposição aos raios cósmicos. Também descobrimos que um revestimento de meio metro de espessura, rico em materiais orgânicos, poderá ter protegido o interior rico em água gelada, interior este como o de um cometa, de vaporizar quando o objeto foi aquecido pelo Sol, apesar de ter alcançado uma temperatura superior a 300º C."

Bannister e sua equipe observaram 'Oumuamua enquanto ainda estava ao alcance dos maiores telescópios do mundo e os seus achados foram publicados na semana passada na revista Astrophysical Journal Letters. Descobriram que o objeto tem a mesma cor que alguns dos gelados planetas menores que estudam nos limites do nosso Sistema Solar. Isto significa que diferentes sistemas planetários na nossa Galáxia contêm planetas menores como o nosso.

Bannister explica: "Descobrimos que este é um planetesimal com uma crosta bem 'cozida' que se parece muito com os mundos menores nas regiões externas do nosso Sistema Solar, tem uma superfície acinzentada/vermelha e é altamente alongado. É fascinante que o primeiro objeto interestelar descoberto se pareça muito com um mundo minúsculo do nosso Sistema Solar. Isto sugere que o modo como os nossos planetas e asteroides se formaram pode ter semelhanças com a formação de sistemas em torno de outras estrelas."

Fonte: Nature Astronomy