terça-feira, 23 de junho de 2015

Sharpless 308: A Bolha Estelar

Soprada pelos rápidos ventos de uma estrela quente e massiva, essa bolha cósmica é enorme.

Sharpless 308

© Kfir Simon (Sharpless 308)

Catalogada como Sharpless 2-308, ela localiza-se a cerca de 5.200 anos-luz de distância na direção da constelação de Canis Major (Cão Maior) e cobre um pouco mais do céu do que a Lua Cheia. Isso corresponde a um diâmetro de 60 anos-luz para a distância estimada. A estrela massiva que criou a bolha, uma estrela do tipo Wolf-Rayet, é a estrela brilhante que pode ser vista perto do centro da nebulosa. As estrelas do tipo Wolf-Rayet têm mais de 20 vezes a massa do Sol e acredita-se sejam uma breve fase primária de supernova da evolução de uma estrela massiva. Ventos velozes dessa estrela Wolf-Rayet cria a nebulosa em forma de bolha à medida que eles varrem o material mais lento ejetado numa fase anterior da evolução. A nebulosa formada pelo vento estelar tem cerca de 70.000 anos. Emissões relativamente apagadas, captadas nessa imagem são dominadas pelo brilho dos átomos de oxigênio ionizado mapeados em azul.

Fonte: NASA

As misteriosas manchas de Ceres

Quanto mais nos aproximamos de Ceres, mais intrigante o distante planeta anão se torna. Novas imagens de Ceres, obtidas pela sonda Dawn da NASA, fornecem mais pistas sobre as suas misteriosas manchas brilhantes e também revelam um pico em forma de pirâmide que se eleva sobre uma paisagem relativamente plana.

pico em forma de pirâmide em Ceres

© NASA/JPL-Caltech/Dawn (pico em forma de pirâmide em Ceres)

"A superfície de Ceres revelou muitas características interessantes e originais. Por exemplo, as luas geladas no Sistema Solar exterior têm crateras com picos centrais, mas em Ceres as fossas centrais são muito mais comuns. Estas e outras características vão permitir-nos compreender a estrutura interna de Ceres que não podemos observar diretamente," afirma Carol Raymond, pesquisadora da missão Dawn no Jet Propulsion Laboratory da NASA em Pasadena, no estado americano da Califórnia.

A Dawn tem estudado o planeta anão em detalhe a partir da sua segunda órbita de mapeamento, cerca de 2.700 km acima de Ceres. Uma nova vista das suas intrigantes manchas, localizadas numa cratera com mais ou menos 90 km de diâmetro, mostra ainda mais manchas pequenas na cratera.

manchas na superfície de Ceres

© NASA/JPL-Caltech/Dawn (manchas na superfície de Ceres)

Podem ser vistas pelo menos oito manchas ao lado da maior área brilhante, que os cientistas pensam medir aproximadamente 9 km de largura. O responsável por estas manchas é um material altamente refetivo; as hipóteses mais prováveis são gelo e sal, mas os cientistas estão considerando também outras opções.

O espectrômetro de mapeamento visível e infravermelho da Dawn permite aos cientistas identificarem minerais específicos presentes em Ceres ao estudar o modo como a luz é refletida. Cada mineral reflete luz de uma forma única e esta assinatura favorece a determinação da composição de Ceres. Assim, à medida que a sonda continua enviando mais imagens e dados, é possível aprender mais sobre as misteriosas manchas brilhantes.

Além das manchas brilhantes, as imagens mais recentes também mostram uma montanha com declives acentuados destacando-se a partir de uma área relativamente plana da superfície do planeta anão. A estrutura eleva-se cerca de 5 km acima da superfície.

Ceres também tem inúmeras crateras de vários tamanhos, muitas das quais têm picos centrais. Existem amplas evidências de atividade passada à superfície, incluindo fluxos, deslizamentos e estruturas colapsadas. Parece que Ceres contém mais vestígios de atividade do que o protoplaneta Vesta, que a Dawn estudou intensamente durante 14 meses em 2011 e 2012.

A Dawn é a primeira missão a visitar um planeta anão e a primeira a orbitar dois alvos distintos no nosso Sistema Solar. Chegou a Ceres, o maior objeto do cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter, no dia 6 de março de 2015.

A Dawn permanecerá na sua altitude atual até 30 de junho, continuando a obter imagens e espectros de Ceres em órbitas de três dias cada. Seguidamente, se moverá para a sua próxima órbita de 1.450 km, cuja passagem se espera estar concluída no início de agosto.

Fonte: NASA

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Uma nebulosa planetária rica em nitrogênio

A imagem a seguir obtida pelo telescópio espacial Hubble das NASA e ESA mostra uma nebulosa planetária chamada NGC 6153, localizada a cerca de 4.000 anos-luz de distância da Terra na constelação de Scorpius (Escorpião).

nebulosa planetária NGC 6153

© Hubble (nebulosa planetária NGC 6153)

O brilho azul apagado através da imagem mostra o que restou de uma estrela parecida com o Sol depois dela ter degradado a maior parte de seu combustível. Quando isso acontece, as camadas externas da estrela são ejetadas, e se tornam excitadas e ionizadas pela luz ultravioleta energética emitida pelo núcleo brilhante da estrela, consequentemente formando a nebulosa.

A NGC 6153 é uma nebulosa planetária que tem uma forma elíptica, com uma rede extremamente rica de laços e filamentos, mostrados claramente nessa imagem do Hubble. Contudo, não é isso que faz essa nebulosa planetária tão interessante para os astrônomos.

Medidas mostram que a NGC 6153 contém uma grande quantidade de neônio, argônio, oxigênio, carbono e cloro, mais de três vezes maior do que a quantidade encontrada no Sistema Solar. A nebulosa contém cinco vezes mais nitrogênio que o Sol. Embora possa ser que a estrela tenha desenvolvido níveis mais altos desses elementos enquanto crescia e se desenvolvia, é mais provável que a estrela originalmente se formou de uma nuvem de material que já continha muito desses elementos.

Uma versão dessa imagem foi inscrita na competição de processamento de imagem Hubble’s Hidden Treasures pelo competidor Matej Novak.

Fonte: ESA

sábado, 20 de junho de 2015

Local propício para as estrelas colidirem

Cientistas têm observado um aglomerado de estrelas, fortemente obscurecido por materiais em nossa galáxia, onde as estrelas estão densamente próximas constituindo um ambiente raro onde as estrelas podem colidir.

aglomerado globular Liller 1 visto no infravermelho próximo

© Gemini Observatory/AURA (aglomerado globular Liller 1 visto no infravermelho próximo)

"É como uma mesa de bilhar estelar; onde a probabilidade de colisões depende do tamanho da mesa e o número de bolas de bilhar em cima da mesa", disse Francesco R. Ferraro da Universidade de Bolonha (Itália), um dos membros da equipe que usaram o observatório Gemini para fazer as observações.
O aglomerado de estrelas, conhecido como Liller 1, é um alvo difícil de estudar devido a sua distância e também porque ele está localizado perto do centro da Via Láctea (cerca de 3.200 anos-luz longe dele), onde o obscurecimento pela poeira é muito alto. A vista com nitidez sem precedentes do aglomerado revela uma vasta quantidade de estrelas, com uma massa total estimada de pelo menos 1,5 milhão de sóis, muito semelhantes aos aglomerados globulares de maior massa em nossa galáxia: Omega Centauri e Terzan 5.
"Embora a nossa galáxia tem mais de 200 bilhões de estrelas, há muito espaço entre as estrelas propiciando a colisão de sóis", disse Douglas Geisler, pesquisador da Universidade de Concepción (Chile). "As regiões centrais congestionadas de aglomerados globulares são um destes lugares. Nossas observações confirmaram que, entre os aglomerados globulares, Liller 1 é um dos melhores ambientes em nossa galáxia para colisões estelares".
A equipe de Geisler é especializada no estudo de aglomerados globulares, perto do centro da Via Láctea, enquanto a equipe de Ferraro é adepto aos dados infravermelhos de aglomerados globulares. Ambos os grupos trabalharam em conjunto para obter as observações detalhadas de Liller 1 com o Gemini.
Liller 1 é uma esfera apertada de estrelas conhecidas como um aglomerado globular. Aglomerados globulares orbitam em um grande halo ao redor do núcleo de nossa galáxia e muitos dos aglomerados globulares mais próximos são espetaculares, mesmo em pequenos telescópios ou binóculos. "Este aglomerado globular é tão obscurecido por material no bojo central da nossa galáxia que é quase completamente invisível à luz visual", observou Sara Saracino, autor principal do artigo, da Universidade de Bolonha. Na verdade, Liller 1 está localizado a quase 30.000 anos-luz da Terra, em uma das regiões mais inacessíveis da nossa galáxia, onde as espessas nuvens de poeira impedem sua visualização. "A radiação infravermelha pode viajar através destas nuvens e trazer-nos informação direta sobre as suas estrelas", comentou Emanuele Dalessandro da Universidade de Bolonha.
As observações do aglomerado bem compactado utilizaram o poderoso sistema de óptica adaptativa do observatório Gemini no telescópio Gemini Sul no Chile.
Uma técnica denominada GeMS (Gemini Multi-conjugate adaptive optics System), em combinação com a poderosa câmera infravermelha Gemini South Adaptive Optics Imager (GSAOI), foi capaz de penetrar o denso nevoeiro circundante de Liller 1 fornecendo aos astrônomos essa visão sem precedentes de suas estrelas. Isto foi possível graças à combinação de duas características específicas de GeMS: em primeiro lugar, a capacidade de operar nos comprimentos de onda do infravermelho próximo (especialmente no banda K); segundo, uma forma inovadora e revolucionária para remover as distorções que a atmosfera turbulenta da Terra inflige nas imagens astronômicas. Para compensar os efeitos de degradação da atmosfera da Terra, o sistema GeMS utiliza três estrelas naturais, uma constelação de cinco estrelas como guia a laser e vários espelhos deformáveis. A correção é excelente que são fornecidas imagens de nitidez sem precedentes. Nas melhores exposições na banda K de Liller 1, imagens estelares possuem uma resolução angular de apenas 75 milisegundos de arco, apenas um pouco maior do que o limite de difração teórico do espelho de 8 metros de Gemini. Isto significa que o GeMS realiza correções quase perfeitas de distorções atmosféricas.
As observações para este projeto também incluiu vários outros aglomerados globulares. Os resultados alcançados em seu primeiro alvo, Liller 1, foram tão importantes que eles têm aumentado a sua colaboração e estão trabalhando atualmente em outros grupos.

As colisões estelares são importantes porque elas podem fornecer a chave para compreender a origem de objetos exóticos que não podem ser interpretados em termos da evolução passiva de estrelas individuais. Colisões quase frontais em que as estrelas realmente se fundem, misturando seu combustível nuclear e acendendo o estopim da fusão nuclear são a origem de (pelo menos parte) da estrelas retardatárias azuis. Mas, as colisões também podem envolver sistemas binários, com o efeito de diminuir o tamanho inicial do sistema e, assim, promover as duas componentes de interagir e produzir uma variedade de objetos como binários de raios X de baixa massa, pulsares de milissegundo, entre outros. Em particular, os pulsares de milissegundo são estrelas de nêutrons velhas reaceleradas com um período de rotação de milissegundo devido à massa de uma companheira em um sistema binário. O Liller 1 é suspeito de ter uma grande população de tais objetos exóticos. Embora nenhum pulsar de milissegundo foi diretamente observado até agora, uma grande população escondida tem sido sugerida por causa da detecção de uma intensa emissão de raios γ. As observações do Gemini efetivamente confirmam que isso é possível.
"Na verdade, nossas observações confirmam que o Liller 1 é um dos melhores laboratórios, onde o impacto das dinâmicas dos aglomerados de estrelas na evolução estelar podem ser estudadas: ele abre a janela para uma espécie de estudo de sociologia estelar, destinado a medir o impacto da influência recíproca de estrelas quando elas são forçadas a viver em condições de superlotação extrema e estresse". conclui Ferraro.

Os resultados foram publicados num artigo da revista especializada The Astrophysical Journal.

Fonte: Observatório Gemini

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Mensurada a massa de um buraco negro supermassivo no centro de galáxia

Astrônomos usando o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), uma rede de dezenas de radiotelescópios localizada no norte do deserto de Atacama no Chile, mediram a massa de um buraco negro supermassivo, no centro da galáxia espiral barrada, a NGC 1097.

galáxia NGC 1097

© ESO/R. Gendler (galáxia NGC 1097)

A NGC 1097 localiza-se na constelação de Fornax, a uma distância de somente 45 milhões de anos-luz. Povoando o centro dessa galáxia, que é observada de frente desde a Terra, está um buraco negro supermassivo que de forma gradativa está sugando a matéria ao seu redor. A área imediatamente ao redor do buraco negro brilha intensamente com a radiação vinda do material que está caindo no seu centro.

O distinto anel ao redor do buraco negro da NGC 1097 está explodindo de formação de novas estrelas. Um influxo de material na direção da barra central da galáxia está fazendo com que o anel se ilumine com novas estrelas. O anel tem cerca de 5.000 anos-luz de diâmetro, embora os braços espirais da galáxia se estendam por dezenas de milhares de anos-luz além dele.

Uma equipe de astrônomos liderada pelo Dr. Kyoko Onishi da Graduate University for Advanced Studies (SOKENDAI) no Japão, determinou que a NGC 1097 abriga um buraco negro que é cerca de 140 milhões de vezes mais massivo que o nosso Sol. Em comparação, o buraco negro no centro da Via Láctea é um peso leve, com uma massa de apenas poucos milhões de vezes a massa do Sol.

Primeiro, o Dr. Onishi e seus colegas mediram a distribuição e o movimento de duas moléculas, cianeto de hidrogênio (HCN) e formilium (HCO+), perto da região central da NGC 1097.

Eles então compararam as observações feitas com o ALMA com vários modelos matemáticos, cada um deles correspondente a diferentes massas do buraco negro supermassivo. O melhor ajuste para essas observações corresponderam a um buraco negro pesando cerca de 140 milhões de massas solares.

“Essa é a primeira vez que se usa o ALMA para fazer esse tipo de medida numa galáxia espiral ou espiral barrada”, disse o Dr. Kartil Sheth do National Radio Astronomy Observatory.

“Quando você olha as observações detalhadas feitas pelo ALMA, é impressionante perceber quão bem elas se ajustam a esses modelos bem testados. É muito animador pensar que nós podemos aplicar agora essa mesma técnica para outras galáxias similares e assim entender melhor como esses objetos extremamente massivos afetam suas galáxias hospedeiras”.

“Observações futuras com o ALMA continuarão a refinar essa técnica e expandir suas aplicações para outras galáxias espirais”, disseram os astrônomos.

Os resultados foram publicados no The Astrophysical Journal.

Fonte: Graduate University for Advanced Studies

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Medindo a massa de um exoplaneta do tamanho de Marte

Determinar o tamanho de um exoplaneta do tamanho da Terra, pela quantidade de luz estelar que ele bloqueia a centenas de anos-luz de distância já foi algo que fazia parte de filmes de ficção científica.

ilustração do sistema planetário Kepler-138

© SETI Institute/Danielle Futselaar (ilustração do sistema planetário Kepler-138)

Medindo a massa de planetas pequenos com base na sua gravidade era outro nível de desafio, mas os astrônomos acabaram de fazer isso para um exoplaneta com 50% do tamanho da Terra.

Os pesquisadores usando dados da missão Kepler da NASA mediram a massa de um exoplaneta do tamanho de Marte que tem cerca de um décimo da massa da Terra. Chamado de Kepler-138b, ele é o primeiro exoplaneta menor que a Terra a ter tanto sua massa como seu tamanho medidos. Isso estende significantemente a quantidade de planetas com densidades medidas.

Para determinar a massa do planeta, os astrônomos normalmente medem o minúsculo movimento da estrela causado pela atração gravitacional do planeta em sua órbita. Para planetas com a massa da Terra, detectar essa minúscula força é algo muito desafiador de se fazer com a atual tecnologia disponível. Felizmente, quando uma estrela possui múltiplos planetas com órbitas próximas, os cientistas desenvolveram uma outra maneira de obter a massa dos planetas.

Daniel Jontof-Hutter, um pesquisador associado no Center for Exoplanets and Habitable Worlds da Universidade Estadual da Pennsylvania, liderou uma equipe de astrônomos num estudo para medir a massa de todos os três planetas, observando precisamente o tempo que cada planeta passava em frente da estrela Kepler-138.

“Cada planeta periodicamente andava mais devagar e acelerava bem pouco devido à gravidade de seus vizinhos. A pequena mudança em tempos entre trânsitos permitiu aos astrônomos a chance de medir a massa dos planetas”, disse Jontof-Hutter.

Cada vez que um planeta transitava uma estrela ele bloqueava uma pequena fração da sua luz, permitindo aos astrônomos medirem o tamanho do planeta. Isso é como a sonda Kepler, detectou milhares de planetas ao redor de outras estrelas.

Medindo tanto a massa como o tamanho de um exoplaneta, os cientistas podem calcular a densidade e inferir a composição para determinar se um planeta é formado predominantemente de rocha, água ou gás. A pequena densidade do Kepler-138b é consistente com uma composição rochosa parecida com a Terra ou Marte, mas observações futuras são necessárias antes dos astrônomos definitivamente concluírem que esse é sim um mundo rochoso.

O Kepler-138b é o mais interno dos três planetas que orbitam a estrela Kepler-138, uma estrela que tem menos da metade do tamanho do Sol e é aproximadamente 30% mais fria. O sistema Kepler-138 está localizado a cerca de 200 anos-luz de distância da Terra na direção da constelação de Lyra.

Os outros dois planetas mais externos, o Kepler-138c, e o Kepler-138d, têm aproximadamente o tamanho da Terra. O Kepler-138c é muito provavelmente rochoso, enquanto que o Kepler-138d é menos denso e não pode ser feito da mesma mistura de material da Terra. Todos os três planetas possuem uma órbita próxima da estrela para que a água possa existir em seu estado líquido e, portanto, suportar a vida, como nós a conhecemos.

“A diferença substancial entre as densidades dos dois planetas maiores nos diz que nem todos os planetas são parecidos com a Terra em tamanho são rochosos”, disse Jack Lissauer, um co-autor e cientista planetário no Ames Research Center da NASA. “Estudos posteriores de pequenos planetas ajudarão a fornecer um melhor entendimento sobre a diversidade que existe na natureza, e nos ajudará a determinar se planetas rochosos como a Terra são comuns ou raros”.

Algo muito parecido do estudo que os astrônomos do século passado obtendo uma grande variedade de estrelas para caracterizar e classificar os diferentes tipos, os astrônomos do século 21 estão fazendo para entender a diversidade e a demografia das populações de planetas na nossa galáxia, a Via Láctea.

Os cientistas estão trabalhando para usar essas novas medidas de pequenos planetas do Kepler e de missões seguintes da NASA como a Transiting Exoplanet Survey Satellite para identificar padrões nas relações entre a massa e o tamanho. Essas ideias fornecerão o contexto para se entender a história da Terra e de outros planetas no nosso próprio Sistema Solar, e informar à próxima geração de caçadores de planetas onde eles podem tentar procurar vida além do nosso Sistema Solar.

Um estudo prévio mediu a massa dos dois planetas externos. Esse novo estudo realizou uma análise mais detalhada do sistema Kepler-138 usando para isso dados adicionais do Kepler. Isso permitiu a medida da massa do planeta interno do tamanho de Marte e melhorar a precisão das medidas de massa e tamanho para os planetas mais externos. Os resultados dessa pesquisa foram publicados na revista Nature.

Fonte: Ames Research Center

A Galáxia do Olho Negro

A grande, brilhante e bela galáxia espiral Messier 64 (M64 ou NGC 4826) é comumente chamada de Galáxia do Olho Negro ou de Galáxia da Bela Adormecida devido a sua aparência exótica.

M64

© Michael Miller/Jimmy Walker (M64)

A galáxia M64 reside a cerca de 17 milhões de anos-luz de distância na constelação boreal de Coma Berenices.

Na verdade, a designação Galáxia do Olho Vermelho pode também ser um apelido apropriado ao analisarmos esta composição colorida. As enormes nuvens de poeira que obscurecem o lado mais próximo da  região central da M64 estão entrelaçadas com o brilho avermelhado revelador da massiva presença do hidrogênio, substância comumente associada as regiões de formação estelar.

Mas estas não são únicas características peculiares desta galáxia. Observações revelam que a M64 é realmente composta de dois sistemas concêntricos em contra-rotação. Enquanto todas as estrelas na M64 giram na mesma direção que o gás interestelar na região central da galáxia, em contrapartida, o gás nas regiões exteriores, que se estende até cerca de 40.000 anos-luz, roda na direção oposta. O olho empoeirado e os sistemas em rotações bizarras são provavelmente consequências da fusão de duas galáxias distintas que perfaz um bilhão de anos de idade.

Fonte: NASA

quarta-feira, 17 de junho de 2015

A melhor evidência observacional da primeira geração estelar no Universo

Com o auxílio do Very Large Telescope (VLT) do ESO, astrônomos descobriram a galáxia mais brilhante observada até hoje no Universo primordial e encontraram evidências fortes de que este objeto contém estrelas da primeira geração.

ilustração da galáxia mais brilhante do Universo primordial

© ESO/M. Kornmesser (ilustração da galáxia mais brilhante do Universo primordial)

Estas estrelas massivas e brilhantes, puramente teóricas até agora, foram as criadoras dos primeiros elementos pesados na história, os elementos necessários à formação das estrelas que nos rodeiam atualmente, os planetas que as orbitam e a vida tal como a conhecemos. A galáxia recentemente descoberta chamada CR7 é três vezes mais brilhante do que a galáxia distante mais brilhante que era conhecida até agora.

Os astrônomos desenvolveram há algum tempo a teoria da existência de uma primeira geração de estrelas, conhecidas por estrelas de População III, que teriam nascido do material primordial do Big Bang. O nome População III vem do fato dos astrônomos já terem classificado anteriormente as estrelas da Via Láctea como sendo de População I (estrelas como o Sol, ricas em elementos pesados e que formam o disco da galáxia) e de População II (estrelas mais velhas, com baixo conteúdo de elementos pesados e encontradas no bojo e no halo da Via Láctea e em aglomerados globulares).

Todos os elementos químicos mais pesados, como o oxigênio, nitrogênio, carbono e ferro, que são essenciais à vida, formaram-se no interior das estrelas, o que significa que as primeiras estrelas se devem ter formado dos únicos elementos que existiam antes delas: hidrogênio, hélio e traços mínimos de lítio.
Estas estrelas de População III seriam enormes, várias centenas ou mesmo milhares de vezes mais massivas do que o Sol, extremamente quentes e transientes, que explodiriam sob a forma de supernovas após cerca de apenas dois milhões de anos. No entanto, e até agora, a busca de provas físicas da sua existência tinha-se revelado infrutífera. Encontrar estas estrelas é muito difícil: estes objetos teriam uma vida muito curta e teriam brilhado num momento em que o Universo era essencialmente opaco à sua luz. Descobertas anteriores incluem Nagao et al., 2008, onde não foi detectado hélio ionizado; De Breuck et al., 2000, onde se detectou hélio ionizado ao mesmo tempo que carbono e oxigênio, assim como uma assinatura clara de um núcleo ativo de galáxia; e Cassata et al., 2013, onde foi detectado hélio ionizado, mas com uma largura equivalente muito pequena (ou fraca intensidade), ao mesmo tempo que carbono e oxigênio.
Uma equipe liderada por David Sobral, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, Universidade de Lisboa, e do Observatório de Leiden, Holanda, utilizou o VLT para observar o Universo primordial, no período conhecido por época da reionização, que ocorreu cerca de 800 milhões de anos após o Big Bang. Em vez de fazer um estudo profundo e direcionado a uma pequena área do céu, a equipe ampliou o seu foco de estudo produzindo o maior rastreio de galáxias muito distantes já obtido.
Este extenso estudo fez uso não apenas do VLT, mas também do observatório W. M. Keck, do telescópio Subaru e do telescópio espacial Hubble da NASA/ESA. A equipe descobriu e confirmou um número surpreendente de galáxias brilhantes muito jovens. Uma delas, chamada CR7, trata-se de um objeto excepcionalmente raro, de longe a galáxia mais brilhante alguma vez observada nesta época do Universo. O nome CR7 é uma abreviação do COSMOS Redshift 7, uma medida do lugar ocupado em termos de tempo cósmico. Quanto maior o desvio para o vermelho (redshift), mais distante estará a galáxia e mais para trás no tempo da história do Universo se encontra também. A A1689-zD1, uma das galáxias mais velhas já observada, por exemplo, tem um desvio para o vermelho de 7,5. A CR7 é três vezes mais brilhante que a anterior detentora deste título, Himiko, que se pensava ser uma galáxia extraordinária para esta época precoce do Universo. Galáxias ricas em poeira observadas em épocas mais recentes do Universo podem irradiar mais energia que a CR7, através da emissão infravermelha da poeira morna. A energia proveniente da CR7 é majoritariamente luz visível e ultravioleta. Com a descoberta da CR7 e outras galáxias brilhantes, o estudo era já um sucesso, no entanto pesquisa posterior produziu mais resultados ainda melhores.
Com o auxílio dos instrumentos X-shooter e SINFONI montados no VLT, a equipe encontrou forte emissão de hélio ionizado em CR7 mas, crucialmente e surpreendentemente, nenhum traço de elementos mais pesados na região mais brilhante da galáxia, o que constitui uma forte evidência da existência de aglomerados de estrelas de População III com gás ionizado, numa galáxia do Universo primordial. A equipe considerou duas teorias alternativas: que a fonte de luz era ou um AGN ou estrelas Wolf-Rayet. A falta de elementos pesados e outras evidências, no entanto, vão contra estas duas teorias. A equipe considerou também que a fonte poderia ser um buraco negro em colapso direto, um tipo de objeto que é ele próprio excepcionalmente exótico e puramente teórico. A ausência de uma linha de emissão larga e o fato da luminosidade do hidrogênio e do hélio serem muito maiores do que o previsto para tais buracos negros indicam que esta hipótese é altamente improvável. A ausência de emissão de raios X negaria também esta possibilidade, no entanto são necessárias mais observações.
“A descoberta superou, desde o início, todas as nossas expectativas”, disse David Sobral, “uma vez que não esperávamos encontrar uma galáxia tão brilhante. Após desvendarmos pouco a pouco a natureza de CR7, percebemos que não só tínhamos descoberto a galáxia distante mais brilhante conhecida até agora, como também que este objeto tinha todas as características que se esperam de estrelas de População III. Estas estrelas são as que formaram os primeiros átomos pesados que, em última análise, são os que nos permitem estar aqui. Este estudo revelou-se extremamente interessante”.
Em CR7 encontraram-se tanto aglomerados de estrelas mais azuis como também alguns mais vermelhos, o que indica que a formação das estrelas de População III ocorreu em ondas, como se previa. O que a equipe observou de modo direto foi o último período de estrelas de População III formadas, sugerindo que tais estrelas devem ser mais fáceis de detectar do que o que se pensava anteriormente: estas estrelas encontram-se no meio de estrelas regulares, em galáxias mais brilhantes, e não apenas nas galáxias mais tênues, menores e precoces, as quais são tão fracas que se tornam extremamente difíceis de estudar.
Jorry Matthee, segundo autor do artigo científico que descreve estes resultados, conclui: “Sempre me perguntei de onde é que nós viemos. Mesmo quando era pequeno queria saber de onde vinham os elementos químicos: o cálcio dos meus ossos, o carbono dos meus músculos, o ferro do meu sangue. Descobri que estes elementos foram formados inicialmente no início do Universo, pela primeira geração de estrelas. Com esta descoberta estamos vendo, de fato, tais objetos pela primeira vez”.
Estão planejadas mais observações com o VLT, o ALMA e o telescópio espacial Hubble de modo a confirmar sem sombra de dúvidas que o que se observou são estrelas de População III, além de procurar e identificar outros exemplos.

Este trabalho foi descrito no artigo científico intitulado “Evidence for PopIII-like stellar populations in the most luminous Lyman-α emitters at the epoch of re-ionisation: spectroscopic confirmation”, por D. Sobral, et al., que foi aceito para publicação na revista especializada The Astrophysical Journal.

Fonte: ESO

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Uma galáxia anã, compacta e azul

Essa imagem obtida pelo telescópio espacial Hubble da NASA e ESA, mostra uma galáxia conhecida como UGC 11411, uma galáxia irregular do tipo Blue Compact Dwarf (BCD).

galáxia UGC 11411

© Hubble (galáxia UGC 11411)

A galáxia UGC 11411 está localizada na constelação do Dragão a uma distância de 15 milhões de anos-luz da Terra.

As galáxias do tipo BCD tem cerca de um décimo do tamanho de uma galáxia espiral típica como a Via Láctea, e são feitas de grandes aglomerados de estrelas quentes e massivas que ionizam o gás ao redor com sua intensa radiação. Pelo fato das estrelas serem tão quentes, elas brilham intensamente com uma tonalidade azulada, dando às galáxias como a UGC 11411 sua tonalidade caracteristicamente azul. Com essas massivas estrelas tendo menos de 10 milhões de anos de existência, elas são muito jovens se comparadas com os padrões estelares. Elas foram criadas durante um fenômeno de explosão de estrelas, um episódio de proporções galácticas onde de maneira furiosa ocorre uma grande formação de estrelas. A UGC 11411 em particular tem uma taxa de formação de estrelas extremamente alta, até mesmo para uma galáxia do tipo BCD.

Normalmente, para galáxias com regiões de intensa formação de estrelas, as BCDs não possuem uma grande quantidade de poeira, ou elementos pesados que normalmente são encontrados em estrelas recém-formadas, fazendo sua composição muito similar àquela do material  das primeiras estrelas formadas no Universo. Por causa disso, os astrônomos consideram as galáxias do tipo BCD ótimos objetos para serem estudados de modo a melhorar o nosso entendimento principalmente sobre os processos primordiais de formação de estrelas.

As estrelas brilhantes observadas na imagem são estrelas de primeiro plano, pertencentes à Via Láctea.

Fonte: ESA

domingo, 14 de junho de 2015

Gigantes gasosos ricos em hélio podem ser comuns na Via Láctea

Planetas gasosos com atmosferas podem ser comuns na nossa galáxia, a Via Láctea, de acordo com um novo estudo.

ilustração de um exoplaneta com atmosfera de hélio

© NASA/JPL-Caltech (ilustração de um exoplaneta com atmosfera de hélio)

Até o momento, os astrônomos usando o telescópio espacial Kepler da NASA descobriram centenas de candidatos a planetas que caíram na categoria chamada de Netunos quentes e sub-Netunos.

Esses exoplanetas gigantes gasosos teriam a massa aproximada de Netuno ou seriam um pouco mais leves, e orbitariam bem perto suas estrelas hospedeiras, o que os aqueceria em demasia.

De acordo com o novo estudo, a radiação das estrelas evaporaria o hidrogênio na atmosfera dos planetas. Tanto o hidrogênio como o héio são ingredientes comuns de planetas gasosos como esses. O hidrogênio é mais leve que o hélio e assim mais fácil de escapar. Após de bilhões de anos perdendo hidrogênio, a atmosfera do planeta se tornaria enriquecida em hélio.

“O hidrogênio é cerca de 4 vezes mais leve que o hélio, assim ele desapareceria vagarosamente da atmosfera dos planetas, fazendo com que elas se tornassem mais concentradas com hélio com o decorrer do tempo. O processo seria gradual, levando cerca de 10 bilhões de anos para ser completado”, disse o principal autor do estudo, o Dr. Renyu Hu do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, em Pasadena.

Acredita-se que os Netunos quentes e sub-Netunos tenham núcleos líquidos ou rochosos, envoltos por gás. Se o hélio é o componente dominante nas suas atmosferas os planetas apareceriam brancos ou cinzas.

Isso é contrastante com Netuno, que é azul devido a presença de metano. O metano absorve a cor vermelha deixando passar a cor azul. Netuno fica longe do Sol e não perdeu seu hidrogênio. O hidrogênio se junta com o carbono para formar o metano.

A falta de metano num Netuno quente particular, o Gliese 436b, é o motivo que levou os astrônomos a desenvolverem sua teoria planetária do hélio. O planeta, também é conhecido como GJ 436b, e foi descoberto em Agosto de 2004. Ele fica localizado na constelação de Leão, a aproximadamente 33,4 anos-luz de distância.

O telescópio espacial Spitzer da NASA previamente observou o Gliese 436b e encontrou evidências para o carbono mas não para o metano. Isso foi desafiador para os astrônomos, pois as moléculas são feitas de um átomo de carbono e quatro de hidrogênio, e planetas como esse são esperados ter muito hidrogênio.

De acordo com a teoria formulada pelo Dr. Hu e seus colegas, o hidrogênio pode ter sido tirado do planeta pela radiação das estrelas hospedeiras. Com menos hidrogênio ao redor, o carbono poderia combinar com o oxigênio para criar o monóxido de carbono. De fato, o telescópio espacial Spitzer encontrou evidências para uma predominância de monóxido de carbono na atmosfera do Gliese 436b.

O próximo passo para testar a teoria é buscar por outros Netunos quentes e sub-Netunos que apresentem sinais de monóxido de carbono e dióxido de carbono, que são indicadores de atmosferas ricas em hélio.

O estudo foi aceito para publicação no The Astrophysical Journal.

Fonte: Jet Propulsion Laboratory

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Observadas evidências de erupções sucessivas em buraco negro

Os astrônomos usaram o observatório de raios X Chandra da NASA para mostrar que várias erupções de um buraco negro supermassivo, ao longo de 50 milhões de anos, reorganizou a paisagem cósmica no centro de um grupo de galáxias.

composição do grupo de galáxias NGC 5813 no óptico e em raios X

© NASA/S. Randall/SDSS (composição do grupo de galáxias NGC 5813 no óptico e em raios X)

Os cientistas descobriram esta história de erupções do buraco negro através do estudo de NGC 5813, um grupo de galáxias a cerca de 105 milhões de anos-luz da Terra. Estas observações do Chandra são as mais longas já obtidas para um grupo de galáxias, com a duração de pouco mais de uma semana. Os dados do Chandra são vistos nesta composição onde os raios X do Chandra (roxo) foram combinados com dados Sloan Digital Sky Survey (SDSS) no visível (vermelho, verde e azul).

Os grupos galácticos são como os seus primos maiores, os aglomerados galácticos, mas em vez de abrigarem centenas ou até mesmo milhares de galáxias como os aglomerados, os grupos são normalmente compostos por 50 galáxias ou menos. Tal como os aglomerados de galáxias, os grupos de galáxias estão envolvidos em quantidades gigantescas de gás quente que emite raios X.

O buraco negro supermassivo em erupção está localizado na galáxia central de NGC 5813. A rotação do buraco negro, juntamente com o gás que espirala na sua direção, pode produzir uma torre vertical e enrolada de campos magnéticos que arremessam uma grande fração do gás para longe da vizinhança do buraco negro sob a forma de jatos altamente energéticos e velozes.

Os pesquisadores foram capazes de determinar a duração das erupções do buraco negro ao estudar cavidades, ou bolhas gigantes, no gás de NGC 5813 que tem vários milhões de graus. Estas cavidades são esculpidas quando jatos do buraco negro supermassivo geram ondas de choque que empurram o gás para fora e criam enormes buracos.

As últimas observações do Chandra revelam um terceiro par de cavidades, além de outros dois que já tinham sido anteriormente descobertos em NGC 5813, representando três erupções distintas do buraco negro central. Este é número mais alto de pares de cavidades já descoberto num grupo ou num aglomerado de galáxias. Semelhante à forma como uma bolha de ar de baixa densidade sobe para a superfície da água, as cavidades gigantes em NGC 5813 tornam-se "flutuantes" e afastam-se do buraco negro.

Para melhor compreender a história das erupções do buraco negro, os pesquisadores estudaram os detalhes dos três pares de cavidades. Descobriram que a quantidade de energia necessária para produzir o par de cavidades mais próximas do buraco negro é inferior à energia produzida necessária para produzir os outros dois pares mais antigos. No entanto, a taxa de produção energética é aproximadamente a mesma para todos os três pares. Isto indica que a erupção associada com o par interior de cavidades está ainda ocorrendo.

Cada um dos três pares de cavidades está associado com uma frente de choque, visível como as arestas nítidas na imagem de raios X. Estas frentes de choque, parecidas com estrondos sônicos de um avião supersônico, aquecem o gás, impedindo com que a maioria arrefeça e forme um grande número de estrelas novas.

O estudo detalhado das frentes de choque revela que são, na realidade, ligeiramente turvos em vez de nítidos. Isto pode ser provocado pela turbulência no gás quente. Assumindo que este é o caso, os autores descobriram uma velocidade turbulenta, isto é, a velocidade média dos movimentos aleatórios do gás, de aproximadamente 258.000 km/h. Isto é consistente com as previsões dos modelos teóricos e estimativas com base em observações de raios X do gás quente em outros grupos e aglomerados de galáxias.

O artigo que descreve estes resultados foi publicado na revista The Astrophysical Journal.

Fonte: Marshall Space Flight Center

Descoberta estratosfera em exoplaneta

Usando o telescópio espacial Hubble da NASA e ESA, astrônomos detectaram uma estratosfera, uma região atmosférica que é muito importante para a vida, num exoplaneta quente e massivo chamado WASP-33b.

ilustração de um exoplaneta Júpiter quente

© NASA/ESA/G. Bacon (ilustração de um exoplaneta Júpiter quente)

A presença de uma estratosfera pode fornecer pistas sobre a composição do planeta e como ele se formou. Essa camada atmosférica, ocorre quando moléculas na atmosfera absorvem luz ultravioleta e luz visível de uma estrela. Essa absorção esquenta a estratosfera e age como um tipo de camada protetora para o planeta.

Até agora, os pesquisadores não tinham certeza se essas moléculas seriam encontradas na atmosfera de exoplanetas quentes e massivos.

“Alguns desses planetas são tão quentes em suas atmosferas superiores, que eles estão essencialmente cozinhando no espaço. Nessas temperaturas, nós não necessariamente esperamos encontrar uma atmosfera que tenha moléculas que podem levar à formação de estruturas com múltiplas camadas”, disse o Dr. Avi Mandell, do Goddard Space Flight Center da NASA em Greenbelt.

Na atmosfera do nosso planeta, a estratosfera se situa acima da troposfera, a região turbulenta e climaticamente ativa que vai do solo até uma altitude onde quase todas as nuvens se encontram. Na troposfera, a temperatura é mais quente na parte inferior e mais fria na parte superior.

A estratosfera é o oposto. Nessa camada, a temperatura aumenta com a altitude, um fenômeno chamado de inversão de temperatura.

Na Terra, a inversão de temperatura ocorre porque o ozônio na estratosfera absorve muito da radiação ultravioleta do Sol, evitando que ela chegue até a superfície, protegendo a biosfera, e assim esquentando a estratosfera.

Inversões similares de temperatura ocorrem na estratosfera de outros planetas do nosso Sistema Solar, como Júpiter e Saturno. Nesses casos, o culpado é o diferente grupo de moléculas chamadas hidrocarbonetos.

Nem o ozônio e nem hidrocarbonetos poderiam sobreviver nas altas temperaturas da maioria dos exoplanetas conhecidos. Isso leva ao debate sobre se a estratosfera existiria ou não nesses exoplanetas.

Usando a Wide Field Camera 3 a bordo do telescópio espacial Hubble, o Dr. Mandell e seus colegas esquentaram ainda mais esse debate identificando uma inversão de temperatura na atmosfera do exoplaneta classificado como Júpiter Quente WASP-33b.

O planeta tem cerca de 4,5 vezes a massa de Júpiter e orbita a estrela WASP-33, também conhecida como HD 15082, localizada a cerca de 380 anos-luz de distância da Terra na constelação de Andrômeda.

Os astrônomos usaram as observações do telescópio espacial Hubble e os dados de estudos prévios, para medir a emissão de água e compará-la com a emissão de gás mais profundo na atmosfera do planeta. Eles determinaram que a emissão da água foi produzida na estratosfera a uma temperatura de cerca de 3.300 graus Celsius. O resto da emissão, veio do gás mais baixo na atmosfera que estava a uma temperatura de 1.650 graus Celsius.

Eles também apresentaram evidências de que a atmosfera do WASP-33b, contém óxido de titânio, um dos únicos poucos componentes que é um forte absorsor da radiação visível e ultravioleta, sendo capaz de permanecer em estado gasoso em atmosferas tão quentes como essas.

“Entender as conexões entre as estratosferas e as composições químicas é algo crítico para estudar os processos atmosféricos em exoplanetas. Nossa descoberta marca um importante ponto nessa direção”, disse o Dr. Nikku Madhusudhan, da Universidade de Cambridge no Reino Unido.

O estudo foi aceito para publicação no The Astrophysical Journal.

Fonte: NASA

quinta-feira, 11 de junho de 2015

A luz, a escuridão e a poeira

Essa paisagem cósmica colorida se expande por quase três Luas Cheias (1,5 graus) através de um campo estelar rico em nebulosas ao longo do plano da Via Láctea, na constelação boreal de Cepheus.

Nebulosa da Caverna, Sharpless 155, LDN 1210 e HH 168

© Herbert Walter (Nebulosa da Caverna, Sharpless 155, LDN 1210 e HH 168)

Perto da borda da nuvem molecular massiva da região, a cerca de 2.400 anos-luz de distância da Terra, a região de emissão avermelhada e brilhante Sharpless (Sh) 155, localiza-se na parte superior esquerda, sendo também conhecida como Nebulosa da Caverna. Com cerca de 10 anos-luz de diâmetro, os anéis brilhantes de gás da caverna cósmica são ionizados pela luz ultravioleta de estrelas jovens e quentes. Nebulosas de reflexão empoeiradas azuis também são abundantes nessa pintura interestelar, cortadas por densas nuvens de poeira obscura. O amplo núcleo da Lynds Dark Nebula (LDN) 1210 ancora a cena na parte inferior direita. Explorações astronômicas revelaram outros sinais dramáticos de formação estelar, incluindo o brilhante e vermelho objeto Herbig-Haro (HH) 168. Diretamente abaixo da brilhante Nebulosa da Caverna, a emissão do objeto Herbig-Haro é gerado por jatos energéticos emitidos por uma estrela recém-nascida.

Fonte: NASA

O Anel Phoebe de Saturno

Uma nova pesquisa mostrou que o anel de Saturno mais apagado e mais externo do planeta, o circula a uma distância equivalente a 7.000 vezes o diâmetro do próprio Saturno.

ilustração da extensão do anel Phoebe de Saturno

© NASA/JPL-Caltech/Keck (ilustração da extensão do anel Phoebe de Saturno)

Análises feitas em imagens obtidas com o telescópio WISE da NASA mostram que o anel descoberto em 2009, é composto na sua maioria por pequenas partículas. Rochas do tamanho de bolas de futebol compõem somente uma pequena porção da população do anel. Essa é uma mistura incomum, proporcionando um novo olhar sobre a física por trás do anel e sobre sua longevidade. Os cientistas usaram imagens da sonda Cassini para observar esse anel de forma óptica em 2012.

O anel mais externo e mais tênue de Saturno é chamado de Anel Phoebe, e acredita-se que ele contenha poeira e partículas de gelo ejetadas da lua externa de Saturno, Phoebe, após a colisão de micrometeoritos e outros impactos.

O anel é inclinado com um ângulo de 27 graus, com relação aos outros sete anéis conhecidos, e como Phoebe, orbita Saturno na direção retrógrada.

A nova pesquisa mostra que o Anel Phoebe começa a aparecer a cerca de 6 milhões de quilômetros de distância de Saturno e chega até a surpreendente distância de 16 milhões de quilômetros, com uma expansão vertical de cerca de 2,5 milhões de quilômetros, fazendo com que ele seja 10 vezes maior do que o maior anel de Saturno até então, o Anel E.

Novas observações desse anel fornecem uma visão detalhada do disco completo e permite que a sua estrutura e a sua composição sejam determinadas, o que pode nos fornecer pistas sobre como os anéis são formados.

Um artigo foi publicado na revista Nature.

Fonte: Discovery

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Uma borboleta celeste emerge do seu casulo de poeira

Algumas das imagens mais nítidas obtidas com o Very Large Telescope (VLT) do ESO revelaram pela primeira vez o que parece ser uma estrela velha originando uma nebulosa planetária em forma da borboleta.

imagem do VLT-SPHERE e NACO da estrela L2 Puppis e seus arredores

© ESO/P. Kervella (imagem do VLT/SPHERE e NACO da estrela L2 Puppis e seus arredores)

Estas observações da estrela gigante vermelha L2 Puppis, obtidas no modo ZIMPOL do recentemente instalado instrumento SPHERE, mostram também de forma clara uma companheira estelar próxima. As fases finais das estrelas continuam suscitando muitas questões aos astrônomos, incluindo a origem de uma nebulosa bipolar como esta, com a sua estranha e complexa forma de ampulheta.

A cerca de 200 anos-luz de distância, L2 Puppis é uma das gigantes vermelhas mais próximas da Terra que se sabe ter atingido já as fases finais da sua vida. As novas observações obtidas com o modo ZIMPOL do SPHERE foram feitas no visível usando métodos de ótica adaptativa extremos, com os quais se corrigem as imagens com um grau muito mais elevado do que com a ótica adaptativa normal, permitindo assim que objetos tênues próximos de fontes de luz intensa possam ser observados com imenso detalhe. Tratam-se dos primeiros resultados publicados com este modo e os mais detalhados obtidos para uma estrela deste tipo.
O ZIMPOL consegue produzir imagens três vezes mais nítidas do que as obtidas com o telescópio espacial Hubble da NASA/ESA, sendo que as novas observações mostram a poeira que rodeia a L2 Puppis de forma extremamente detalhada. Estes dados confirmam resultados anteriores, obtidos com o instrumento NACO, da poeira formando um disco, o qual a partir da Terra nos aparece praticamente de perfil, mas dão-nos uma visão muito mais detalhada. A informação de polarização obtida com o ZIMPOL permitiu à equipe construir um modelo tridimensional das estruturas de poeira. 
Os astrônomos descobriram que o disco de poeira começa a cerca de 900 milhões de quilômetros da estrela, um pouco mais do que a distância do Sol a Júpiter, e que  depois se espalha para o exterior, criando uma forma simétrica semelhante a um funil que rodeia a estrela. A equipe observou também uma segunda fonte luminosa a cerca de 300 milhões de quilômetros, o dobro da distância da Terra ao Sol, de L2 Puppis. Esta companheira estelar muito próxima é muito provavelmente outra estrela gigante vermelha de massa similar, mas mais jovem.
A combinação de enormes quantidades de poeira rodeando uma estrela que está morrerendo lentamente, juntamente com a presença de uma estrela companheira, é exatamente o tipo de sistema do qual se espera que surja uma nebulosa planetária bipolar. Estes três elementos parecem ser necessários, no entanto é também preciso uma boa dose de sorte para chegarmos ao subsequente emergir de uma borboleta celeste deste casulo poeirento.
O autor principal do artigo científico que descreve estes resultados, Pierre Kervella, explica: “A origem das nebulosas planetárias bipolares é um dos grandes problemas clássicos da astrofísica moderna, especialmente a questão de saber exatamente como é que as estrelas liberam para o espaço a sua quantidade valiosa de metais, um processo importante, uma vez que este material será usado para produzir futuras gerações de sistemas planetários”.
Além do disco de L2 Puppis, a equipe encontrou também dois cones de material perpendiculares ao disco. Mais importante ainda, no interior destes cones, foram descobertas duas plumas de material, compridas e ligeiramente curvas. A partir dos pontos de origem destas plumas, a equipe pôde deduzir que uma é possivelmente o resultado da interação entre o material de L2 Puppis e o vento e pressão de radiação da sua estrela companheira, enquanto a outra parece ter tido origem na colisão entre os ventos estelares das duas estrelas ou ser o resultado de um disco de acreção que se encontrará em torno da estrela companheira.
Embora muito ainda esteja por compreender, existem duas teorias principais sobre nebulosas planetárias bipolares, ambas apoiadas na existência de um sistema binário de estrelas. A primeira teoria diz que a poeira produzida pelos ventos estelares da estrela primária moribunda, fica confinada numa órbita em forma de anel em torno da estrela por ação dos ventos estelares e pressão de radiação da estrela companheira. Qualquer perda de massa subsequente por parte da estrela principal é canalizada ou colimada por este disco, que força a matéria a deslocar-se para o exterior em duas colunas opostas perpendiculares ao disco. A segunda teoria diz que a maior parte do material que está sendo ejetado pela estrela moribunda é acretado pela sua companheira próxima, que começa a formar um disco de acreção e um par de poderosos jatos. Qualquer material restante é empurrado pelos ventos estelares da estrela moribunda, dando origem a uma nuvem de gás e poeira, o que ocorreria normalmente num sistema com uma única estrela. Os jatos bipolares recém formados da estrela companheira, deslocando-se a velocidades muito mais elevadas que os ventos estelares da estrela moribunda, esculpem duas cavidades na poeira circundante, dando assim origem a uma nebulosa planetária bipolar.

As novas observações sugerem que ambos estes processos estão atuando em torno de L2 Puppis, parecendo muito provável que este par de estrelas dê origem a uma borboleta.
Pierre Kervella conclui: “Com a estrela companheira completando uma órbita em torno de L2 Puppis em apenas alguns anos, esperamos ver como é que esta companheira irá dar forma ao disco da gigante vermelha. Podemos seguir a evolução da poeira em torno da estrela em tempo real, uma possibilidade extremamente interessante e rara”.

Este trabalho foi descrito no artigo científico intitulado “The dust disk and companion of the nearby AGB star L2 Puppis”, de P. Kervella et al., que foi publicado hoje na revista especializada Astronomy & Astrophysics.

Fonte: ESO