Cientistas da NASA identificaram uma molécula na atmosfera de Titã que nunca tinha sido detectada em qualquer outra atmosfera.
© NASA/Cassini (Titã)
A molécula é denominada ciclopropenilideno (C3H2). Os cientistas dizem que esta molécula simples baseada em carbono pode ser um precursor de compostos mais complexos que poderiam formar ou alimentar uma possível forma de vida em Titã.
Os pesquisadores encontraram C3H2 usando um radiotelescópio ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), localizado no Chile. Notaram a molécula C3H2, que é feita de carbono e hidrogênio, enquanto examinavam um espectro de assinaturas de luz únicas recolhido pelo telescópio; estas revelaram a composição química da atmosfera de Titã pela energia que as suas moléculas emitiam ou absorviam.
Embora os cientistas tenham encontrado C3H2 em regiões espalhadas pela Galáxia, encontrá-la numa atmosfera foi uma surpresa. Isto porque a molécula ciclopropenilideno pode reagir facilmente com outras moléculas com as quais entra em contato e formar espécies diferentes. Os astrônomos até agora encontraram C3H2 apenas em nuvens de gás e poeira que flutuam entre sistemas estelares, ou seja, em regiões demasiado frias e difusas para facilitar muitas reações químicas. Mas atmosferas densas como a de Titã são "colmeias" de atividade química.
Essa é uma das razões principais pelas quais os cientistas estão interessados nesta lua, que é o destino da futura missão Dragonfly da NASA. A equipe foi capaz de identificar pequenas quantidades de C3H2 em Titã provavelmente porque estavam observando as camadas superiores da atmosfera da lua, onde há menos gases para interagir com C3H2. Os cientistas ainda não sabem porque é que o composto químico ciclopropenilideno apareceria na atmosfera de Titã, mas em nenhuma outra atmosfera.
A maior das 62 luas de Saturno, Titã é um mundo intrigante que, de certa forma, é o mais semelhante à Terra que já encontramos. Ao contrário de qualquer outra lua no Sistema Solar - existem mais de 200 - Titã tem uma atmosfera densa que é quatro vezes mais densa que a da Terra, além de nuvens, chuva, lagos e rios, e até mesmo um oceano subterrâneo de água salgada.
A atmosfera de Titã é composta principalmente por nitrogênio, como a da Terra, com uma pitada de metano. Quando as moléculas de metano e nitrogênio se separam sob o brilho do Sol, os seus átomos componentes desencadeiam uma complexa teia de química orgânica.
Os tipos de moléculas que podem estar à superfície de Titã podem ser os mesmos que formaram os blocos de construção da vida na Terra. No início da sua história, há 3,8-2,5 bilhões de anos, quando o metano enchia o ar da Terra em vez de oxigênio, as condições aqui podiam ser semelhantes às de Titã hoje.
A molécula ciclopropenilideno é a única outra molécula cíclica além do benzeno, que foi encontrada na atmosfera de Titã até agora. Embora o composto C3H2 não seja conhecido pela sua utilização em reações biológicas modernas, as moléculas de circuito fechado são importantes porque formam os anéis para as nucleobases do DNA, a estrutura química complexa que transporta o código genético da vida, e do RNA, outro composto crítico para as funções da vida.
O benzeno era considerado a unidade diminuta de moléculas anulares e complexas de hidrocarbonetos encontrada em qualquer atmosfera planetária. Mas agora, o C3H2, com metade dos átomos de carbono do benzeno, parece ter tomado o seu lugar.
A sonda Cassini avistou evidências de uma versão eletricamente carregada da mesma molécula, C3H3+. Sendo um achado raro, os cientistas estão tentando aprender mais sobre o ciclopropenilideno e como pode interagir com os gases na atmosfera de Titã.
A descoberta foi publicada no periódico The Astronomical Journal.
Fonte: NASA