segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Nebulosa da Estrela Flamejante à Simeis 147

Esta imagem mostra a área do céu acima da constelação de Órion.

© Alistair Symon (mosaico de nebulosas)

No canto superior esquerdo, parecendo uma foice, está a Nebulosa da Estrela Flamejante, também denominada IC 405. Logo à abaixo está a Nebulosa do Girino, também denominada IC 410. No canto inferior esquerdo está o Sharpless 232. No canto inferior direito está o grande remanescente de supernova Simeis 147, também conhecida como Nebulosa do Espaguete. 

Este é um mosaico de 16 imagens tiradas pelo astrofotógrafo Alistair Symon a uma distância focal de 530 mm com um refrator de 4 polegadas. Foram 171 horas de luz coletadas através de filtros H-alph, SII e OIII. 

Fonte: Amateur Astronomy Photo of the Day

Encontro não tão próximo de galáxias

As galáxias gêmeas NGC 4496A e NGC 4496B dominam a cena nesta imagem do telescópio espacial Hubble.

© Hubble (galáxias NGC 4496A e NGC 4496B)

Ambas as galáxias estão na constelação de Virgem, mas apesar de aparecerem lado a lado nesta imagem, elas estão a distâncias muito diferentes da Terra e uma da outra. A NGC 4496A está a 47 milhões de anos-luz da Terra, enquanto NGC 4496B está a 212 milhões de anos-luz de distância. 

As enormes distâncias entre as duas galáxias significam que as duas não podem interagir, e elas só parecem se sobrepor devido a um alinhamento casual. Alinhamentos galácticos casuais como esse fornecem aos astrônomos a oportunidade de mergulhar na distribuição de poeira nessas galáxias.

A poeira galáctica aumenta a beleza das imagens astronômicas, pode ser vista nesta imagem como os tentáculos escuros atravessando NGC 4496A e NGC 4496B, mas também complica as observações astronômicas. A poeira absorve a luz das estrelas, fazendo com que as estrelas pareçam mais escuras e deslocando sua luz para comprimentos de onda mais longos, um processo chamado “vermelhidão” (não a mesma coisa que desvio para o vermelho).

Ao medir cuidadosamente como a luz das estrelas das galáxias de fundo é afetada pela poeira nas galáxias intermediárias, os astrônomos podem mapear onde a poeira está nos braços espirais da galáxia em primeiro plano. Os “mapas de poeira” resultantes ajudam os astrônomos a calibrar medições de tudo, desde distâncias cosmológicas até os tipos de estrelas que povoam as galáxias. 

Fonte: ESA

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Revelado em detalhe o lado noturno de um Júpiter quente

Os astrônomos obtiveram a visão mais clara até agora do lado escuro perpétuo de um exoplaneta que tem acoplamento de maré em relação à sua estrela.

© Engine House VFX (ilustração do exoplaneta WASP-121 b)

As observações, combinadas com medições do lado diurno permanente do planeta, proporcionam a primeira vista detalhada da atmosfera global de um exoplaneta. O planeta no centro do novo estudo é WASP-121b, um massivo gigante gasoso com quase o dobro do tamanho de Júpiter. O planeta é um Júpiter ultraquente e foi descoberto em 2015 em órbita de uma estrela a cerca de 850 anos-luz da Terra. 

O WASP-121b tem uma das órbitas mais curtas já detectadas até agora, completando uma volta em torno da sua estrela em apenas 30 horas. Também tem acoplamento de maré, o que significa que um lado está sempre virado para a estrela (diurno), enquanto o outro está sempre em escuridão, voltado sempre para o espaço.

Os Júpiteres quentes são famosos por terem lados diurnos muito brilhantes, mas o lado noturno é completamente diferente. O lado noturno de WASP-121b é cerca de 10 vezes mais tênue do que o seu lado diurno. Os astrônomos já tinham detectado anteriormente vapor de água e estudado como a temperatura atmosférica muda com a altitude no lado diurno do planeta. 

O novo estudo obteve um quadro geral muito mais detalhado. Os pesquisadores foram capazes de mapear as mudanças dramáticas de temperatura do lado do dia para o lado da noite e de ver como estas temperaturas mudam com a altitude. Também rastrearam a presença de água pela atmosfera para mostrar, pela primeira vez, como a água circula entre o lado diurno e o lado noturno de um exoplaneta.

Enquanto que na Terra a água circula primeiro evaporando, depois condensando-se em nuvens, e depois chovendo, em WASP-121b o ciclo da água é muito mais intenso: no lado diurno, os átomos que compõem a água são dissociados a temperaturas superiores a 3.000 Kelvin. Estes átomos são soprados para o lado da noite, onde as temperaturas mais frias permitem que os átomos de hidrogênio e oxigênio se recombinem em moléculas de água, que depois sopram de volta para o lado do dia, onde o ciclo recomeça. 

A equipe calcula que o ciclo da água do exoplaneta é sustentado por ventos que "chicoteiam" os átomos à volta do planeta com velocidades até 5 quilômetros por segundo. Parece também que a água não está sozinha circulando em torno do planeta. Foi descoberto que o lado noturno é suficientemente frio para hospedar nuvens exóticas de ferro e corindo, um mineral que compõe rubis e safiras. Estas nuvens, como o vapor de água, podem deslocar-se até ao lado diurno, onde as altas temperaturas vaporizam os metais para o estado gasoso. Pelo caminho, pode ser produzida chuva exótica, como gemas líquidas das nuvens de corindo.

A equipe observou WASP-121b usando uma câmara espectroscópica a bordo do telescópio espacial Hubble. O instrumento observa a luz de um planeta e da sua estrela, analisando seus comprimentos de onda constituintes, cujas intensidades fornecem pistas sobre a temperatura e composição de uma atmosfera. Através de estudos espectroscópicos, os cientistas observaram detalhes atmosféricos nos lados diurnos de muitos exoplanetas. Mas fazer o mesmo para o lado noturno é muito mais complicado, uma vez que requer a observação de pequenas mudanças em todo o espectro do planeta à medida que orbita a sua estrela.

O exoplaneta WASP-121b foi observado durante duas órbitas completas, uma em 2018, e a outra em 2019. Para ambas as observações, os pesquisadores examinaram os dados de luz em busca de uma linha específica, ou característica espectral, que indicava a presença de vapor de água. 

A característica mutável da água ajudou a equipe a mapear o perfil da temperatura tanto no lado do dia como no lado da noite. Descobriram que o lado diurno varia de 2.500 K na sua camada observável mais profunda até 3.500 K nas suas camadas mais altas. O lado noturno varia de 1.800 K na camada mais profunda a 1.500 K na atmosfera superior. Curiosamente, os perfis de temperatura parecem inverter-se, subindo com a altitude no lado diurno e descendo com a altitude no lado noturno. 

Os pesquisadores passaram então os mapas de temperatura através de vários modelos para identificar elementos químicos susceptíveis de existirem na atmosfera do planeta, dadas as altitudes e temperaturas específicas. Esta modelagem revelou o potencial para nuvens metálicas, como ferro, corindo e titânio no lado noturno. 

Os astrônomos reservaram tempo no telescópio espacial James Webb para observar WASP-121b no final deste ano e esperam mapear as mudanças não só no vapor de água, mas também no monóxido de carbono, que os cientistas suspeitam residir na atmosfera. A quantidade de carbono e oxigênio na atmosfera fornece pistas sobre onde este tipo de planeta se forma.

Um artigo foi publicado na revista Nature Astronomy.

Fonte: Massachusetts Institute of Technology

O par de anãs marrons com a maior separação uma da outra

Uma equipe de astrônomos descobriu um raro par de anãs marrons que tem a mais ampla separação de qualquer sistema binário destes astros encontrado até à data.

© William Pendrill (ilustração de um sistema binário com duas anãs marrons)

Devido ao seu pequeno tamanho, os sistemas binários de anãs marrons são normalmente muito íntimos. A força gravitacional entre um par de anãs marrons é inferior à de um par de estrelas com a mesma separação, pelo que os binários largos de anãs marrons são mais susceptíveis de se separarem com o tempo, tornando este par de anãs marrons um achado excepcional. 

O estudo se baseia em observações do Cool Star Lab da Universidade da Califórnia em San Diego, realizadas com o Observatório W. M. Keck em Maunakea, Havaí. Usando o instrumento NIRES (Near-Infrared Echellette Spectrometer) do Observatório Keck, os astrônomos obtiveram espectros infravermelhos do sistema binário, chamado CWISE J014611.20-050850.0AB. 

Os dados revelaram que as duas anãs marrons se encontram separadas por cerca de 19,3 bilhões de quilômetros, ou mais de três vezes a distância de Plutão ao Sol. Esta distância confirma que o incomum par de anãs marrons bate o recorde de maior separação entre uma e outra. 

A anã marrom secundária é extremamente fraca, mas com o Keck foi possível obter dados espectrais suficientemente bons para classificar ambas as fontes e assim identificá-las como membros de uma classe rara de anãs azuis de classe L. Sistemas largos e de baixa massa como CWISE J014611.20-050850.0AB são normalmente perturbados no início das suas vidas. 

As anãs marrons são objetos celestes menores do que uma estrela normal. Estes objetos não são massivos o suficiente para sustentar a fusão nuclear e brilharem como estrelas normais, mas são suficientemente quentes para irradiar energia.

O WISE (Wide-field Infrared Survey Explorer) da NASA descobriu muitas anãs marrons através do projeto de ciência cidadã Backyard Worlds: Planet 9, que solicita ajuda do público para procurar no banco de dados de imagens WISE anãs marrons e estrelas de baixa massa, algumas das vizinhas mais próximas do Sol.

Para este estudo, os pesquisadores analisaram imagens das descobertas do Backyard Worlds, onde as anãs marrons companheiras podem ter sido ignoradas. Ao fazê-lo, descobriram o raro sistema binário CWISE J014611.20-050850.0AB composto por duas anãs marrons. 

A equipe estudou cerca de 3.000 anãs marrons do projeto Backyard Worlds, uma a uma, e comparou as imagens do WISE com imagens de outros levantamentos à procura de evidências de companheiras de anãs marrons. A equipe então utilizou dados do DES (Dark Energy Survey) para confirmar que se tratava de um par de anãs marrons. Foi utilizado também o NIRES do Observatório Keck para confirmar que as anãs marrons têm tipos espectrais L4 e L8, e que estão a uma distância estimada de aproximadamente 40 parsecs, ou 130,4 anos-luz da Terra, com uma separação de 129 UA (unidades astronômicas), ou 129 vezes a distância entre o Sol e a Terra. 

A equipe espera que esta descoberta forneça a oportunidade de estudar sistemas binários de anãs marrons e de desenvolver modelos e procedimentos que ajudem a reconhecer mais destes sistemas no futuro. Os sistemas binários são utilizados para calibrar muitas relações em astronomia e este par de anãs marrons recentemente descoberto apresentará um importante teste dos modelos de formação e evolução das anãs marrons. 

Um artigo foi publicado no periódico The Astrophysical Journal Letters.

Fonte: W. M. Keck Observatory

Novos conhecimentos sobre a formação das anãs marrons

As anãs marrons são corpos celestes estranhos, ocupando uma espécie de posição intermediária entre as estrelas e os planetas.

© ESO (nebulosa na constelação da Serpente)

Os astrofísicos por vezes chamam-lhes "estrelas falhadas" porque não têm massa suficiente para queimar hidrogênio nos seus núcleos e assim brilhar como estrelas. Debate-se constantemente se a formação das anãs marrons é simplesmente uma versão em escala reduzida da formação de estrelas semelhantes ao Sol. 

Os astrofísicos concentram-se nas anãs marrons mais jovens, também chamadas proto-anãs marrons. Têm apenas alguns milhares de anos e ainda se encontram nas fases iniciais de formação. Querem saber se o gás e a poeira destas proto-anãs castanhas se assemelham à composição das protoestrelas semelhantes ao Sol mais jovens. 

O foco de interesse é o metano, uma molécula simples e muito estável que, uma vez formada, só pode ser destruída por processos físicos altamente energéticos. Tem sido encontrado em vários exoplanetas. No passado, o metano desempenhou um papel fundamental para identificar e estudar as propriedades das anãs marrons mais antigas da Via Láctea, que têm várias centenas a bilhões de anos. 

Agora, pela primeira vez, uma equipe liderada por Basmah Riaz da Universidade de Munique detectou inequivocamente metano deuterado (CH3D) em três proto-anãs marrons. É a primeira detecção clara de CH3D fora do Sistema Solar. Este é um resultado inesperado. 

As proto-anãs marrons são objetos muito frios e densos. Isto torna-as difíceis de estudar em busca de assinaturas de metano no infravermelho próximo. Em contraste, podem ser facilmente observadas nos comprimentos de onda milimétricos. Ao contrário do metano que não tem assinatura espectral no domínio do rádio devido à sua simetria, o CH3D pode ser observado em comprimentos de onda milimétricos. A primeira detecção de CH3D foi ainda mais espantosa porque, de acordo com as teorias de formação das anãs marrons, as proto-anãs marrons são mais frias (cerca de 10 Kelvin ou menos) e mais densas do que as protoestrelas. 

Com base na teoria química, o CH3D é formado preferencialmente quando o gás é mais quente, a temperaturas de cerca de 20 a 30 Kelvin. As medições implicam que pelo menos uma fração significativa do gás numa proto-anã marrom tem mais do que 10 Kelvin, caso contrário o CH3D não deveria estar sequer lá. 

A abundância de CH3D fornece aos cientistas uma estimativa da abundância de metano. É também inesperado que, embora só haja uma protoestrela semelhante ao Sol conhecida até à data onde o CH3D foi detectado provisoriamente, a equipe da Universidade de Munique detectou firmemente CH3D em três proto-anãs marrons. Isto significa que as proto-anãs marrons exibem uma química orgânica quente e rica, e estes objetos astrofísicos compactos e frios podem não ser simplesmente uma réplica à escala reduzida das protoestrelas.

O metano nas proto-anãs marrons pode ou não sobreviver ou reter uma abundância tão elevada nas anãs marrons mais antigas. Uma vez que um ambiente quente é favorável à formação de moléculas mais complexas, as proto-anãs marrons são objetos intrigantes onde, no futuro, são objetos propícios para procurar estas moléculas.

Um artigo foi publicado no periódico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

Fonte: Universität München

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Hubble capta um par galáctico peculiar

Esta imagem do telescópio espacial Hubble mostra Arp 298, um par impressionante de galáxias em interação.

© Hubble (Arp 298)

O Arp 298, que compreende as duas galáxias NGC 7469 e IC 5283, fica a cerca de 200 milhões de anos-luz da Terra na constelação de Pegasus.

A maior das duas galáxias retratadas aqui é a galáxia espiral barrada NGC 7469, e IC 5283 é sua companheira diminuta. A NGC 7469 também abriga um buraco negro supermassivo ativo e um anel brilhante de aglomerados de estrelas. Ela foi descoberta em 12 de Novembro de 1784 por William Herschel.

O “Arp” no nome deste par de galáxias significa que eles estão listados no Atlas de Galáxias Peculiares compilado pelo astrônomo Halton Arp. O Atlas de Galáxias Peculiares é uma galeria de galáxias estranhas contendo estruturas peculiares, desde braços espirais segmentados até anéis concêntricos. 

Fonte: ESA

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Buraco negro supermassivo escondido num anel de poeira cósmica

Com o auxílio do Interferômetro do Very Large Telescope (VLTI) do Observatório Europeu do Sul (ESO), foi observada uma nuvem de poeira cósmica no centro da galáxia Messier 77 (M77) que esconde um buraco negro supermassivo.

© ESO (galáxia M77 e o seu núcleo ativo)

A descoberta confirmou previsões feitas há cerca de 30 anos e fornece aos astrônomos novas pistas sobre os “núcleos ativos de galáxias”, objetos cósmicos que se situam entre os mais brilhantes e enigmáticos que existem no Universo. Os Núcleos Ativos de Galáxias (AGNs, em inglês) são fontes extremamente energéticas impulsionadas por buracos negros supermassivos que se encontram no centro de algumas galáxias. Estes buracos negros se alimentam de enormes quantidades de gás e poeira cósmica. Antes de ser consumido, este material espirala em direção ao buraco negro e grandes quantidades de energia são liberadas no processo, muitas vezes ofuscando todas as estrelas da galáxia. 

Os AGNs têm intrigado os astrônomos desde que estes objetos brilhantes foram inicialmente observados na década de 1950. Agora, e graças ao VLTI do ESO, uma equipe de pesquisadores, liderada por Violeta Gámez Rosas da Universidade de Leiden nos Países Baixos, deu um passo fundamental para entender como eles funcionam e como eles se parecem de perto. 

Ao executarem observações extremamente detalhadas do centro da galáxia M77, também conhecida por NGC 1068, Gámez Rosas e a sua equipe detectaram um anel espesso de gás e poeira cósmica que esconde um buraco negro supermassivo. Esta descoberta fornece evidências vitais para apoiar uma teoria de 30 anos conhecida como Modelo Unificado dos AGNs. 

Os astrônomos sabem que existem diferentes tipos de AGN. Por exemplo, alguns emitem no rádio enquanto outros não; alguns AGNs brilham intensamente no visível, enquanto outros, como M77, são bastante tênues nestes comprimentos de onda. O Modelo Unificado diz que, apesar destas diferenças, todos os AGNs apresentam a mesma estrutura básica: um buraco negro supermassivo cercado por um espesso anel de poeira. 

De acordo com este modelo, qualquer diferença na aparência dos AGNs se deve à orientação com que vemos a partir da Terra o buraco negro e o seu espesso anel. O tipo de AGN que vemos depende de quanto é que o anel obscurece o buraco negro, do nosso ponto de vista, escondendo-o completamente em alguns casos.

Os astrônomos encontraram anteriormente algumas evidências que apoiam o Modelo Unificado, incluindo a descoberta de poeira quente no centro de M77. Contudo, restavam ainda dúvidas sobre se esta poeira poderia esconder completamente o buraco negro e assim explicar porque é que este AGN brilha menos intensamente no visível do que outros.

As observações foram possíveis graças ao instrumento MATISSE (Multi AperTure mid-Infrared SpectroScopic Experiment) montado no VLT do ESO, situado no deserto chileno do Atacama. O MATISSE combina a luz infravermelha coletada pelos quatro telescópios de 8,2 metros do VLT por meio da técnica de interferometria. A equipe utilizou este instrumento para observar o centro de M77, localizado a 47 milhões de anos-luz de distância da Terra na constelação da Baleia.

O MATISSE consegue observar uma ampla gama de comprimentos de onda infravermelhos, permitindo ver através da poeira e medir temperaturas com precisão. Como o VLTI é um interferômetro muito grande, possui efetivamente resolução suficiente para ver o que se passa em galáxias tão distantes como M77. As imagens obtidas mostram detalhadamente variações em temperatura e absorção das nuvens de poeira situadas em torno do buraco negro. Ao combinar as variações da temperatura da poeira, causadas pela radiação intensa emitida pelo buraco negro, com mapas de absorção, a equipe conseguiu criar uma imagem detalhada da poeira e localizar a região onde deve estar o buraco negro.

A poeira num anel interno espesso e um disco mais extenso, com o buraco negro posicionado em seu centro sustenta o Modelo Unificado. A equipe usou também dados do ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array) e do VLBA (Very Long Baseline Array) do Observatório Nacional de Radioastronomia dos EUA, para construir a imagem.

Os pesquisadores querem agora usar o VLTI do ESO para encontrar mais evidências que apoiem o Modelo Unificado dos AGNs, observando mais galáxias deste tipo. O Extremely Large Telescope (ELT) do ESO, programado para começar a observar ainda esta década, irá também ajudar nesta busca, fornecendo resultados e permitirão explorar a interação entre AGNs e galáxias.

Esta pesquisa foi apresentada no artigo intitulado “Thermal imaging of dust hiding the black hole in the Active Galaxy NGC 1068” publicado na revista Nature

Fonte: ESO

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Os momentos finais de remanescentes planetários

Foi observado pela primeira vez o momento em que os destroços de planetas destruídos impactam na superfície de uma estrela anã branca.

© Mark Garlick (ilustração da anã branca G29-38)

Os astrônomos usaram raios X para detectar o material rochoso e gasoso, deixado por um sistema planetário após a sua estrela hospedeira morrer, à medida que colide e é consumido dentro da superfície da estrela. 

Os resultados são a primeira medição direta da acreção de material rochoso sobre uma anã branca e confirmam décadas de evidências indiretas de acreção em mais de mil estrelas até agora. O evento observado ocorreu bilhões de anos após a formação do sistema planetário.

O destino da maioria das estrelas, incluindo aquelas como o nosso Sol, é tornar-se numa anã branca. Foram descobertas mais de 300.000 anãs brancas na nossa Galáxia, e acredita-se que muitas estejam acretando destroços de planetas e outros objetos que uma vez as orbitaram. 

Ao longo de várias décadas, os astrônomos têm usado espectroscopia em comprimentos de onda ópticos e ultravioletas para medir a abundância de elementos na superfície da estrela e trabalhar, a partir daí, a composição do objeto de onde veio. Os astrônomos têm evidências indiretas, a partir de observações espectroscópicas, de que estes objetos estão acretando ativamente, que mostram 25 a 50% das anãs brancas com elementos pesados como ferro, cálcio e magnésio poluindo as suas atmosferas. Porém, até agora os astrônomos não tinham visto o material enquanto era atraído para a estrela. 

Uma anã branca é uma estrela que queimou todo o seu combustível e que liberou as suas camadas exteriores, potencialmente destruindo ou perturbando qualquer corpo orbital no processo. À medida que o material destes corpos é puxado para perto da estrela a uma velocidade suficientemente elevada, colide com a superfície, formando um plasma aquecido devido ao choque. Este plasma, com uma temperatura entre 100.000 e 1 milhão Kelvin, instala-se então à superfície e à medida que arrefece emite raios X que podem ser detectados. 

Os raios X são semelhantes à luz que os nossos olhos podem ver, mas têm muito mais energia. São criados por elétrons velozes. Frequentemente usados na medicina, na astronomia os raios X são a impressão digital do material que precipita sobre objetos exóticos, tais como buracos negros e estrelas de nêutrons. 

A detecção destes raios X é muito difícil, uma vez que a pequena quantidade que chega à Terra pode ser perdida entre outras fontes de raios X brilhantes no céu. Assim, os astrônomos aproveitaram o observatório de raios X Chandra, normalmente usado para detectar raios X de buracos negros e estrelas de nêutrons em acreção, para analisar a anã branca próxima G29-38. Com a resolução angular melhorada do Chandra em relação a outros telescópios, puderam isolar a estrela alvo das outras fontes de raios X e observar, pela primeira vez, raios X de uma anã branca isolada. Confirma décadas de observações da acreção de material em anãs brancas que se basearam em evidências de espectroscopia.

Um artigo foi publicado na revista Nature

Fonte: University of Warwick

Corpos planetários observados em zona habitável de estrela morta

De acordo com um novo estudo que envolveu astrônomos da Universidade de Sheffield, foi observado um anel de detritos planetários repletos de estruturas do tamanho de luas em órbita de uma estrela anã branca, sugerindo um planeta próximo na "zona habitável".

© Mark Garlick (anã branca e exoplaneta na zona habitável)

As anãs brancas são estrelas brilhantes que queimaram todo o seu combustível de hidrogênio. Quase todas as estrelas, incluindo o Sol, acabarão por tornar-se anãs brancas, mas sabe-se muito pouco sobre os seus sistemas planetários. No estudo, uma equipe internacional de pesquisadores liderada pela UCL (University College London) mediu a luz de uma anã branca na Via Láctea conhecida como WD1054–226, a 117 anos-luz de distância, usando dados da ULTRACAM, uma câmara ultrarrápida e tricolor para astrofísica de alta velocidade, desenvolvida na Universidade de Sheffield, e montada no NTT (New Technology Telescope) de 3,5 metros do ESO, no Observatório de La Silla no Chile.

Para sua surpresa, encontraram quedas pronunciadas no brilho da anã branca correspondentes a 65 nuvens de destroços planetários uniformemente espaçadas em órbita da estrela a cada 25 horas. Os pesquisadores concluíram que a regularidade precisa das estruturas em trânsito, diminuindo a luz estelar a cada 23 minutos, sugere que são mantidas numa disposição muito precisa por um grande planeta próximo.

O nosso Sol vai tornar-se uma gigante vermelha e depois uma anã branca daqui a alguns bilhões de anos, e por isso as observações fornecerão a oportunidade de estudar o possível destino dos planetas no nosso Sistema Solar.

O autor principal, o professor Jay Farihi da UCL, disse: "Esta é a primeira vez que os astrônomos detectam qualquer tipo de corpo planetário na zona habitável de uma anã branca. As estruturas do tamanho de luas que temos observado são irregulares e poeirentas (por exemplo, semelhantes a cometas) em vez de corpos sólidos e esféricos. A sua absoluta regularidade, uma passagem em frente da estrela a cada 23 minutos, é um mistério que não podemos atualmente explicar. Uma possibilidade excitante é que estes corpos são mantidos num padrão orbital tão uniformemente espaçado devido à influência gravitacional de um grande planeta próximo. Sem esta influência, o atrito e as colisões causariam a dispersão de estruturas, perdendo a regularidade precisa que é observada. Um precedente para este "pastoreio" é a forma como a atração gravitacional das luas em torno de Netuno e Saturno ajudam a criar estruturas anulares estáveis que orbitam estes planetas. A possibilidade de um grande planeta na zona habitável é excitante e também inesperada; não estávamos à procura disto. Contudo, é importante ter em mente que são necessárias mais evidências para confirmar a presença de um planeta. Não podemos observar diretamente o planeta, pelo que a confirmação pode vir por comparação de modelos de computador com outras observações da estrela e dos detritos em órbita." 

Espera-se que esta órbita em torno da anã branca tenha sido "limpa" durante a fase de gigante vermelha da sua vida, e assim quaisquer planetas que possam potencialmente abrigar água. A área seria habitável durante pelo menos dois bilhões de anos, incluindo pelo menos um bilhão de anos no futuro. 

A zona habitável é a área onde a temperatura permitiria teoricamente a existência de água líquida à superfície de um planeta. Em comparação com uma estrela como o Sol, a zona habitável de uma anã branca será menor e mais próxima da estrela, uma vez que as anãs brancas emitem menos luz e, portanto, menos calor. As estruturas observadas no estudo orbitam numa área que teria sido envolvida pela estrela enquanto esta era uma gigante vermelha, por isso é provável que se tenham formado ou chegado aí há relativamente pouco tempo, em vez de terem sobrevivido ao nascimento da estrela e do seu sistema planetário.

O estudo publicado no periódico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

Fonte: Royal Astronomical Society

Trio galáctico tumultuoso

A massa de poeira e redemoinhos brilhantes de estrelas nesta imagem são a distante fusão galáctica IC 2431, que fica a 681 milhões de anos-luz da Terra na constelação de Câncer.

© Hubble (IC 2431)

O telescópio espacial Hubble captou o que parece ser uma fusão tripla de galáxias em andamento, bem como uma mistura tumultuada de formação de estrelas e distorções de maré causadas pelas interações gravitacionais deste trio galáctico. 

O centro desta imagem está obscurecido por uma espessa nuvem de poeira, embora a luz de uma galáxia de fundo possa ser vista penetrando suas extremidades externas. Esta imagem é de uma série de observações do Hubble investigando galáxias estranhas e maravilhosas encontradas pelo projeto de ciência cidadã Galaxy Zoo. Usando a poderosa Câmera Avançada para Pesquisas (ACS) do Hubble, os astrônomos observaram mais de perto algumas das galáxias mais incomuns que os voluntários identificaram. 

O projeto original do Galaxy Zoo foi o maior censo de galáxias já realizado e contou com o tempo de exploração com mais de 100.000 voluntários para classificar 900.000 galáxias não examinadas. O projeto alcançou o que teria sido anos de trabalho para um astrônomo profissional em apenas 175 dias e levou a um fluxo constante de projetos semelhantes de ciência cidadã astronômica. Projetos posteriores do Galaxy Zoo incluíram os maiores estudos de fusões de galáxias e galáxias anãs com forças de maré, bem como a descoberta de tipos inteiramente novos de galáxias compactas de formação de estrelas. 

Fonte: ESA

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Novo planeta em torno da estrela mais próxima do Sol

Com o auxílio do Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul (ESO) no Chile, uma equipe de astrônomos encontrou evidências da existência de outro planeta em órbita de Proxima Centauri, a estrela mais próxima do nosso Sistema Solar.

© ESO/L. Calçada (ilustração do exoplaneta Proxima d)

Este candidato a planeta é o terceiro detectado neste sistema planetário e o mais leve descoberto até agora em órbita desta estrela. Com apenas um quarto da massa da Terra, o planeta também é um dos exoplanetas mais leves já encontrados.

Proxima Centauri é a estrela mais próxima do Sol, situada a apenas pouco mais de 4 anos-luz de distância. O planeta recém-descoberto, com o nome Proxima d, orbita a estrela Proxima Centauri a uma distância de cerca de quatro milhões de km, ou seja, menos de um décimo da distância entre Mercúrio e o Sol. O planeta orbita entre a estrela e a sua zona habitável, a região em torno da estrela onde pode existir água líquida à superfície de um planeta, e demora apenas cinco dias para completar uma órbita em torno de Proxima Centauri.

Esta estrela também abriga dois outros planetas: Proxima b, um planeta com uma massa comparável à da Terra que orbita a estrela a cada 11 dias e que se encontra na sua zona habitável, e o planeta candidato Proxima c, que executa uma órbita mais longa de cinco anos em torno da estrela. Proxima b foi descoberto há alguns anos atrás com o auxílio do instrumento HARPS montado no telescópio de 3,6 metros do ESO. Esta descoberta foi confirmada em 2020 quando os cientistas observaram o sistema Proxima com um novo instrumento de maior precisão montado no VLT do ESO, o ESPRESSO (Echelle SPectrograph for Rocky Exoplanets and Stable Spectroscopic Observations).

Foi durante essas observações mais recentes do VLT que os astrônomos detectaram os primeiros indícios de um sinal correspondente a um objeto com uma órbita de cinco dias. Como o sinal era tão fraco, a equipe teve que realizar observações de acompanhamento com o ESPRESSO para confirmar que era devido a um planeta, e não simplesmente resultado de mudanças na própria estrela.

O Proxima d é o exoplaneta mais leve já medido usando a técnica de velocidade radial, ultrapassando um planeta recentemente descoberto no sistema planetário L 98-59. A técnica funciona captando pequenas oscilações no movimento de uma estrela criada pela atração gravitacional de um planeta em órbita. O efeito da gravidade de Proxima d é tão pequeno que só faz com que Proxima Centauri se mova para frente e para trás a cerca de 40 centímetros por segundo (1,44 km/h).

A procura de outros planetas por parte do ESPRESSO será complementada pelo Extremely Large Telescope (ELT) do ESO, atualmente em construção no deserto do Atacama, que será crucial para descobrir e estudar muitos mais planetas em torno de estrelas próximas. 

Esta pesquisa foi apresentada no artigo intitulado “A candidate short-period sub-Earth orbiting Proxima Centauri” publicado na revista Astronomy & Astrophysics

Fonte: ESO

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Um encontro cósmico impetuoso

Agora é amplamente aceito entre os astrônomos que um aspecto importante de como as galáxias evoluem é a maneira como elas interagem umas com as outras.

© Hubble (Arp 182)

As galáxias podem se fundir, colidir ou passar por cima umas das outras, cada uma delas tem um impacto significativo em suas formas e estruturas. Por mais comuns que se pense que estas interações sejam no Universo, é raro captar uma imagem de duas galáxias interagindo de maneira tão visivelmente dinâmica.

Esta fotografia, do telescópio espacial Hubble, aparece incrivelmente tridimensional para uma imagem do espaço profundo. O foco desta imagem é um par de galáxias em interação, denominado Arp 282, que é composto pela galáxia Seyfert NGC 169 (abaixo) e a galáxia IC 1559 (acima). 

Curiosamente, ambas as galáxias que compõem Arp 282 têm núcleos monumentalmente energéticos, conhecidos como núcleos galácticos ativos (AGN), embora seja difícil dizer isto a partir desta imagem.

Isto é realmente uma sorte, porque se a emissão total de dois AGNs fosse visível nesta imagem, provavelmente obscureceria as interações de maré lindamente detalhadas que ocorrem entre NGC 169 e IC 1559. As forças de maré ocorrem quando a gravidade de um objeto faz outro objeto distorcer ou esticar. A direção das forças de maré será afastada do objeto de menor massa e em direção ao objeto de maior massa.

Quando duas galáxias interagem, gás, poeira e até sistemas solares inteiros serão atraídos de uma galáxia para a outra por estas forças de maré. Este processo pode realmente ser visto em ação nesta imagem, onde delicados fluxos de matéria se formaram, ligando visivelmente as duas galáxias.

Fonte: ESA

A galáxia do Guarda-Chuva

Está chovendo estrelas.

© CFHT (NGC 4651)

O que parece ser um guarda-chuva cósmico gigante agora é conhecido como um fluxo de estrelas de uma pequena galáxia satélite.

A galáxia principal, a galáxia espiral NGC 4651, tem aproximadamente o tamanho da nossa Via Láctea, enquanto seu guarda-chuva estelar parece se estender cerca de 100 mil anos-luz acima do disco brilhante desta galáxia. 

Uma pequena galáxia provavelmente foi dilacerada por repetidos encontros enquanto varria para frente e para trás em órbitas excêntricas através da NGC 4651. As estrelas restantes certamente serão capturadas e se tornarão parte de uma galáxia maior combinada nos próximos milhões de anos. 

A imagem em destaque foi captada pelo Telescópio Canadá-França-Havaí (CFHT) no Havaí, EUA. A galáxia do Guarda-Chuva fica a cerca de 50 milhões de anos-luz de distância em direção à constelação do norte de Coma Berenices. 

Fonte: NASA

Um buraco negro pego soprando uma rajada de vento

Situada a cerca de 70 milhões de anos-luz de distância da Terra na direção da constelação do Grou, encontra-se a galáxia espiral NGC 7582, que abriga no seu centro um buraco negro supermassivo.

© ESO/VLT (NGC 7582)

Estas imagens foram obtidas com o auxílio do instrumento MUSE montado no Very Large Telescope (VLT) do ESO como parte de um estudo que pretende descobrir o efeito de um buraco negro ativo na formação estelar na galáxia.

Esta galáxia possui um núcleo galáctico ativo (AGN, sigla do inglês), um motor central extremamente energético alimentado por um buraco negro supermassivo que "engole" matéria da sua vizinhança imediata.

Este processo aquece a matéria, ejetando enormes quantidades de energia e ventos poderosos para a região que o circunda. No entanto, que efeito terá este processo na galáxia como um todo? 

Para o descobrir, um estudo recente, liderado por Stéphanie Juneau do NOIRLab nos EUA, analisou a distribuição de diferentes elementos ionizados na NGC 7582. A imagem da direita mostra oxigênio, nitrogênio e hidrogênio em azul, verde e vermelho, respectivamente. As áreas vermelhas brilhantes são regiões de intensa atividade de formação estelar, enquanto as regiões dominadas por azul mostram o material em forma de cone fluindo para fora do AGN. A imagem da esquerda, que cobre a mesma região, mostra uma vista mais clássica desta galáxia, com correntes de poeira obscurecendo o azul e laranja da luz das estrelas. 

O MUSE permitiu também à equipe mapear o movimento das estrelas e do gás. Os cientistas descobriram que a galáxia NGC 7582 pode ter uma estrutura em torno de seu buraco negro supermassivo central que protege o resto da galáxia do forte fluxo de energia proveniente do AGN, desviando-o dele na forma de um vento extremamente poderoso. 

Fonte: ESO

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Descoberto o segundo asteroide troiano da Terra

Ao examinar o céu muito perto do horizonte ao nascer do Sol, o telescópio SOAR no Chile, parte do Observatório Interamericano Cerro-Tololo, um programa do NOIRLab, ajudou os astrônomos a confirmar a existência de apenas o segundo asteroide troiano da Terra conhecido e a revelar que tem mais de um quilometro de largura, cerca de três vezes maior do que o primeiro.

© NOIRLab (ilustração de asteroide troiano da terra)

Usando o Telescópio SOAR (Southern Astrophysical Research) de 4,5 metros no Cerro Pachón no Chile, astrônomos liderados por Toni Santana-Ros da Universidade de Alicante e do Instituto de Ciências do Cosmos da Universidade de Barcelona observaram o asteroide recentemente descoberto 2020 XL5 para restringir a sua órbita e tamanho.

Os resultados confirmam que 2020 XL5 é um troiano da Terra, ou seja, um asteroide companheiro da Terra que orbita o Sol pelo mesmo percurso que o nosso planeta, e que é o maior até agora encontrado.

Os troianos são objetos que partilham uma órbita com um planeta, agrupados em torno de uma de duas áreas especiais gravitacionalmente equilibradas ao longo da órbita do planeta conhecidas como pontos de Lagrange. Sabe-se que vários planetas do Sistema Solar têm asteroides troianos, mas 2020 XL5 é apenas o segundo asteroide troiano conhecido encontrado perto da Terra. 

Também foram feitas observações do asteroide 2020 XL5 pelo telescópio Lowell Discovery de 4,3 metros no Observatório Lowell, Arizona, EUA, e pela Optical Ground Station de 1 metro da ESA em Tenerife, nas Ilhas Canárias. 

Descoberto no dia 12 de dezembro de 2020 pelo telescópio Pan-STARRS no Havaí, o asteroide 2020 XL5 tem cerca de 1,2 quilômetros de diâmetro, sendo muito maior do que o primeiro asteroide troiano da Terra descoberto, de nome 2010 TK7. Quando 2020 XL5 foi descoberto, a sua órbita em torno do Sol não era suficientemente bem conhecida para dizer se se tratava de um asteroide próximo da Terra atravessando a nossa órbita, ou se se tratava de um verdadeiro troiano.

Embora outros estudos tenham apoiado a identificação do asteroide troiano, os novos resultados tornam esta determinação muito mais robusta e fornecem estimativas do tamanho de 2020 XL5 e qual o tipo de asteroide.

Os dados do SOAR permitiu fazer uma primeira análise fotométrica do objeto, revelando que 2020 XL5 é provavelmente um asteroide do tipo C, que é escuro, contém muito carbono e é o tipo de asteroide mais comum no Sistema Solar.

Os resultados também mostraram que 2020 XL5 não permanecerá para sempre um asteroide troiano. Permanecerá estável na sua posição durante pelo menos mais 4.000 anos, mas eventualmente ficará gravemente perturbado e escapará para vaguear pelo espaço.

Os asteroides 2020 XL5 e 2010 TK7 podem não estar sozinhos, podem haver muitos mais troianos da Terra que até agora não foram detectados à medida que aparecem perto do Sol no céu. Isto significa que as buscas e observações de troianos da Terra devem ser realizadas perto do nascer ou do pôr do Sol, com o telescópio apontando perto do horizonte, através da parte mais espessa da atmosfera, o que resulta em más condições de visão.

O SOAR conseguiu apontar até 16 graus acima do horizonte, enquanto muitos telescópios de 4 metros (e maiores) não são capazes de apontar tão baixo. Estas foram observações muito desafiantes, exigindo que o telescópio seguisse corretamente o seu limite de elevação mais baixo, uma vez que o objeto estava muito perto do horizonte oeste ao amanhecer. 

Por serem feitos de material primitivo que remonta ao nascimento do Sistema Solar e por poderem representar alguns dos blocos de construção que formaram o nosso planeta, os asteroides troianos são alvos atrativos para futuras missões espaciais.

Fonte: Lowell Observatory