terça-feira, 17 de janeiro de 2017

O ALMA começa a observar o Sol

Os astrônomos utilizaram as capacidades do Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), instalado no Chile, para obter imagens da radiação milimétrica emitida pela cromosfera do Sol, a região que se situa logo acima da fotosfera e que forma a superfície visível do Sol.

mancha solar gigante a 1,25 mm

© ESO (mancha solar gigante a 1,25 mm)

A equipe da campanha solar, um grupo internacional de astrônomos com membros da Europa, América do Norte e Leste Asiático, produziu as imagens no intuito de demonstrar as capacidades do ALMA no estudo da atividade solar em comprimentos de onda maiores dos que os que se encontram normalmente disponíveis nos observatórios solares na Terra.

Os astrônomos estudam o Sol e investigam a sua superfície dinâmica e atmosfera energética de muitas maneiras há vários séculos. No entanto, para se compreender melhor o funcionamento do Sol, é necessário estudá-lo em todo o espectro electromagnético, incluindo na região do milímetro e do submilímetro, a qual pode ser observada pelo ALMA.

Uma vez que o Sol é muitos bilhões de vezes mais brilhante que os fracos objetos que o ALMA observa normalmente, as antenas do ALMA foram especialmente concebidas para poderem obter imagens do Sol com extremo detalhe usando a técnica de interferometria rádio, e evitando assim danos devido ao intenso calor da luz solar focada. Deste trabalho resultaram uma série de imagens que demonstram a visão única do ALMA e a sua capacidade em estudar o nosso Sol. Os dados da campanha de observação solar estão sendo divulgados esta semana à comunidade astronômica mundial, para análise e estudo subsequentes.

A equipe observou uma mancha solar enorme nos comprimentos de onda de 1,25 mm e 3 mm, usando duas das bandas receptoras do ALMA. As imagens revelam diferenças em temperatura entre partes da cromosfera do Sol. A compreensão do aquecimento e da dinâmica da cromosfera é uma área importante de pesquisa, que será abordada no futuro com o ALMA.

mancha solar gigante a 3 mm

© ESO (mancha solar gigante a 3 mm)

As manchas solares são estruturas transientes que aparecem em regiões onde o campo magnético do Sol é muito forte e se encontra extremamente concentrado. Têm temperaturas mais baixas que as regiões ao redor e é por isso que aparecem relativamente escuras.

A diferença entre as duas imagens deve-se aos diferentes comprimentos de onda da radiação emitida que se estão observando. As observações em comprimentos de onda mais curtos conseguem penetrar mais profundamente no Sol, o que significa que as imagens a 1,25 mm mostram uma camada da cromosfera mais profunda, e consequentemente mais próxima da fotosfera, que as imagens obtidas a um comprimento de onda de 3 mm.

O ALMA é o primeiro observatório do qual o ESO é parceiro que permite aos astrônomos estudar a nossa estrela mais próxima, o nosso Sol. Todas as outras infraestruturas do ESO, existentes ou passadas, precisam de ser protegidas da intensa radiação solar de modo a evitar danos. As novas capacidades do ALMA farão com que a comunidade do ESO se expanda para incluir os astrônomos solares.

Fonte: ESO

Imagem revela um tesouro de buracos negros

Esta é a imagem em raios X mais profunda já obtida, feita com mais de 7 milhões de segundos de observação no observatório de raios X Chandra da NASA.

concentração de buracos negros

© CDF-S (concentração de buracos negros)

Estes dados fornecem aos astrônomos o melhor olhar para o crescimento de buracos negros ao longo de bilhões de anos logo após o Big Bang.

A imagem é do Chandra Deep Field-South (CDF-S). O CDF-S completo cobre uma região aproximadamente circular no céu com uma área de cerca de dois terços da Lua cheia. No entanto, as regiões exteriores da imagem, onde a sensibilidade à emissão de raios X é mais baixa, não são mostradas aqui. As cores nesta imagem representam diferentes níveis de energia de raios X detectados pelo Chandra. Aqui os raios X de menor energia são vermelhos, a faixa média é verde, e os raios X de energia mais alta são azuis.

A região central desta imagem contém a maior concentração de buracos negros supermassivos já vistos, equivalente a cerca de 5.000 objetos que se encaixam na área do céu coberto pela Lua cheia e cerca de um bilhão sobre o céu inteiro.

Os pesquisadores usaram uma combinação de dados do CDF-S com do Cosmic Assembly Near-Infrared Deep Extragalactic Legacy Survey (CANDELS) e do Great Observatories Origins Deep Survey (GOODS), ambos incluindo dados do telescópio espacial Hubble para estudar galáxias e buracos negros entre um e dois bilhões de anos após o Big Bang.

Em uma parte do estudo, a equipe examinou a emissão de raios X de galáxias detectadas nas imagens do Hubble, a distâncias entre 11,9 e 12,9 bilhões de anos-luz da Terra. Cerca de 50 destas galáxias distantes foram detectadas individualmente com o Chandra. A equipe então usou uma técnica chamada empilhamento de raios X para investigar a emissão de neste comprimento de onda das 2.076 galáxias distantes que não foram detectadas individualmente. Foram somadas todas as contagens de raios X próximas às posições destas galáxias, permitindo obter uma sensibilidade muito maior. Através do empilhamento, a equipe conseguiu atingir tempos de exposição em torno de 8 bilhões de segundos, ou seja, equivalentes a cerca de 260 anos.

Usando estes dados, a equipe encontrou evidências de que buracos negros no Universo primitivo crescem principalmente em rajadas, e não através do lento acúmulo de matéria. A equipe também pode ter encontrado dicas sobre os tipos de embriões que formam buracos negros supermassivos. Se os buracos negros supermassivos nascem como embriões "leves" que pesam cerca de 100 vezes a massa do Sol, a taxa de crescimento necessária para atingir uma massa de cerca de um bilhão de vezes o Sol no Universo inicial pode ser tão alta que desafia os modelos atuais para este crescimento. Se os buracos negros supermassivos nascem com mais massa, a taxa de crescimento requerida não é tão alta. Os dados no CDF-S sugerem que os embriões "pesados" de buracos negros supermassivos pode ter massas de cerca de 10.000 a 100.000 vezes a do Sol.

Estes dados em raios X profundos como os do CDF-S fornecem informações úteis para a compreensão das propriedades físicas dos primeiros buracos negros supermassivos. O número relativo de objetos luminosos e fracos, caracterizado pela forma da "função de luminosidade", depende da mistura das várias quantidades físicas envolvidas no crescimento do buraco negro, incluindo a massa dos embriões dos buracos negros e a taxa na qual eles estão absorvendo o material. Os dados oriundos do CDF-S mostram uma função de luminosidade "plana", isto é, um número relativamente grande de objetos brilhantes, que pode ser utilizada para inferir combinações possíveis destas quantidades físicas. No entanto, resultados definitivos só podem vir de observações adicionais.

O artigo sobre o crescimento de buracos negros no Universo primordial foi conduzido por Fabio Vito da Universidade Estadual da Pensilvânia e foi publicado numa edição do Monthly Notices da Royal Astronomical Society.

Fonte: Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Misterioso objeto na galáxia Cygnus A

Na semana passada, na reunião da American Astronomical Society, em Grapevine, Texas, os astrônomos fizeram um anúncio que atraiu o interesse de vários pesquisadores: uma coisa muito brilhante apareceu em uma galáxia bem conhecida.

Cygnus A

© VLA/C. Carilli (Cygnus A)

É a galáxia elíptica Cygnus A, também conhecida como 3C 405. Ela é uma das fontes de rádio mais brilhantes no céu. Encontra-se a aproximadamente 800 milhões de anos-luz de nós (redshift de 0,056). Em seu núcleo fica um buraco negro supermassivo, enquanto dois jatos são lançados para fora de cada lado e iluminam o meio intergaláctico. Esta atividade produz a radiação de rádio que torna o Cygnus A tão brilhante.

Usando o recentemente atualizado Karl G. Jansky Very Large Array (VLA) no Novo México, Rick Perley do National Radio Astronomy Observatory (NRAO) e seus colegas deram uma olhada na Cygnus A, sendo que é a primeira vez que o instrumento foi apontado para a galáxia desde 1989.

As novas observações mostraram uma surpresa: um novo objeto secundário, a sudoeste do buraco negro central. Este objeto não estava na imagem de rádio de 1989. Observações adicionais de alta resolução com o Very Long Baseline Array (VLBA) também captaram o objeto, claramente distinto do núcleo da galáxia. Está a aproximadamente 1.300 anos-luz do centro.

buraco negro supermassivo e o objeto identificado em Cygnus A

© G. Canalizo (buraco negro supermassivo e o objeto identificado em Cygnus A)

Esta imagem infravermelha de cor falsa obtida pelo telescópio telescópio Keck II mostra a galáxia Cygnus A. Seu buraco negro supermassivo central é a grande mancha vermelha escura, mas esta imagem de 2003 revela uma segunda fonte misteriosa (circundada) nas proximidades.

O que quer que seja é duas vezes mais brilhante que a supernova mais brilhante conhecida nestas frequências. Na verdade, é muito mais brilhante do que qualquer sinal de rádio transitório conhecido, exceto para acúmulo de buracos negros supermassivos e eventos de ruptura de marés, explosões criadas quando um buraco negro absorve uma estrela.

A equipe vasculhou outros arquivos e encontrou o objeto em 2003 em observações infravermelhas com o telescópio Keck e em algumas imagens do telescópio espacial Hubble. O objeto é tão vermelho que não aparece bem em comprimentos de onda ópticos, e nesta faixa a resolução do telescópio espacial não é tão boa quanto a da óptica adaptativa do telescópio Keck.

Claire Max, que atua como diretora dos Observatórios da Universidade da Califórnia (que administra os observatórios Keck e Lick), rebuscou através dos dados do telescópio Keck e descobriu que, de fato, os astrônomos já haviam descoberto esta fonte. Em 2003 ela, Gabriela Canalizo (agora na Universidade da Califórnia, Riverside), e seus colegas haviam tropeçado com a fonte misteriosa. Eles também haviam encontrado em algumas imagens do Hubble e não em outros; eles não tinham certeza se isso era porque a fonte estava tremulando, ou simplesmente que o Hubble não tinha captado o suficiente para vê-lo consistentemente.

O objeto parecia ser um aglomerado compacto de velhas estrelas vermelhas, núcleo descendente de uma galáxia muito menor que Cygnus A tinha capturado. Esta fusão menor também pode explicar por que o buraco negro da grande galáxia "se acendeu", que foi evidenciada num artigo de 2003 do periódico Astrophysical Journal.

Por outro lado, Canalizo e colegas passaram a sugerir em 2004 que a fonte poderia em vez disso ser uma borda interior quente da rosquinha empoeirada que envolve o buraco negro.

A equipe da Perley também concorda com uma fusão. Mas ele defendeu em vez disso que a radiação poderia vir de um segundo buraco negro, o núcleo restante da galáxia capturada. Se assim for, então Cygnus A é uma das poucas galáxias que parece hospedar um buraco negro binário central.

No final de sua apresentação da reunião da American Astronomical Society, Perley pediu que outros astrônomos averiguassem os arquivos das observações para que pudessem apontar quando esta fonte apareceu. Sua equipe também está olhando em raios X, mas dado que o núcleo central é tão brilhante, eles não são otimistas de suas chances de ver algo, a menos que haja alguma variabilidade.

Fonte: Sky & Telescope

domingo, 15 de janeiro de 2017

Júpiter crescente e a Grande Mancha Vermelha

Esta imagem que mostra o planeta Júpiter numa fase crescente e em destaque a icônica Grande Mancha Vermelha, foi criada pelo cientista cidadão Roman Tkachenko, usando os dados do instrumento da JunoCam, a câmera a bordo da sonda Juno.

Júpiter crescente e a Grande Mancha Vermelha

© NASA/JPL-Caltech/Roman Tkachenko (Júpiter crescente e a Grande Mancha Vermelha)

Abaixo da Grande Mancha Vermelha, uma tempestade avermelhada de longa duração conhecida como Oval BA também é visível. Nota-se na imagem também uma série de tempestades esbranquiçadas e de forma ovalada, conhecidas informalmente como Colar de Pérolas.

A imagem foi realizada no dia 11 de Dezembro de 2016, às 8:30 da manhã, hora de Brasília, quando a nave espacial Juno realizou seu terceiro sobrevôo próximo de Júpiter. No momento em que esta imagem foi efetuada a sonda estava a cerca de 458.800 km de distância do planeta.

As imagens brutas da JunoCam estão disponíveis para o público que possa processar da maneira que quiser e postar no site, sendo que os melhores processamentos são escolhidos e citados. Para participar acesse: http://www.missionjuno.swri.edu/junocam

Fonte: NASA

A Lua é mais antiga do que se pensava

Uma equipe liderada pela UCLA (Universidade da Califórnia, em Los Angeles), EUA, relata que a Lua tem pelo menos 4,51 bilhões de anos e é 40 a 140 milhões de anos mais velha do que os cientistas pensavam anteriormente.

Mare Ingenii na Lua

© NASA/The Project Apollo Archive (Mare Ingenii na Lua)

Os resultados foram baseados numa análise de minerais da Lua chamados zircões que foram trazidos para a Terra pela missão Apollo 14 em 1971. Foi encontrado zirconita ou zircão, que trata-se de um silicato de zircônio (ZrSiO4).

A idade da Lua tem sido um tema muito debatido, embora os cientistas tenham tentado resolver a questão ao longo de muitos anos e usando uma ampla variedade de técnicas científicas.

"Finalmente definimos uma idade mínima para a Lua; já estava na hora de sabermos a sua idade e agora sabemos," comenta Mélanie Barboni, a autora principal do estudo e geoquímica do Departamento de Ciências da Terra, Planetárias e do Espaço da UCLA.

A Lua foi formada por uma violenta colisão frontal entre a Terra primitiva e um "embrião planetário" de nome Theia, relatou a equipe de geoquímicos e colegas da mesma universidade em 2016.

A pesquisa mais recente significa que a Lua se formou "apenas" cerca de 60 milhões de anos após o nascimento do Sistema Solar, um ponto importante porque fornece informações críticas para os astrônomos e cientistas planetários que procuram compreender a evolução inicial da Terra e do nosso Sistema Solar.

Isto tem sido uma tarefa difícil porque o que lá estava antes do impacto gigante foi apagado. Embora os cientistas não possam saber o que ocorreu antes da colisão com Theia, estes achados são importantes porque vão ajudar os cientistas a discernir os grandes eventos que a seguiram.

Geralmente é difícil determinar a idade das rochas lunares porque a maioria delas contém uma miscelânea de fragmentos de várias outras rochas. Mas a equipe foi capaz de analisar oito zircões em estado puro. Especificamente, ela examinou como o urânio que contêm decaiu para o chumbo (num laboratório da Universidade de Princeton) e como o lutécio que contêm decaiu para háfnio (usando um espectrômetro de massa na UCLA). Os cientistas analisaram estes elementos juntos para determinar a idade da Lua.

"Os zircões são os melhores relógios da Natureza. São o melhor mineral na preservação da história geológica e na revelação da sua origem," comenta Kevin McKeegan, professor de geoquímica e cosmoquímica da UCLA.

A colisão da Terra com Theia criou uma lua liquefeita que depois solidificou. Os cientistas acreditam que a maior parte da superfície da Lua estava coberta com magma logo após a sua formação. As medições do urânio-chumbo revelam quando os zircões apareceram pela primeira vez no oceano de magma inicial da Lua, que mais tarde arrefeceu e formou o manto e a crosta; as medições de lutécio-háfnio revelam quando o magma se formou, o que aconteceu mais cedo.

"A Mélanie conseguiu descobrir a idade real da Lua, que remonta à sua pré-história antes de solidificar, não à sua solidificação," comenta Edward Young, professor de geoquímica e cosmoquímica da UCLA.

Os estudos anteriores determinaram a idade da Lua com base em rochas lunares que haviam sido contaminadas por colisões múltiplas. McKeegan realça que essas rochas indicavam a data de alguns outros eventos, "mas não a idade da Lua."

Os pesquisadores da Universidade da Califórnia em Los Angeles continuam estudando os zircões trazidos pelos astronautas das Apollo e a história inicial da Lua.

Os resultados foram publicados na revista Science Advances.

Fonte: University of California

Estrelas mais distantes da Via Láctea foram capturadas de outra galáxia

As 11 estrelas mais distantes conhecidas da nossa Galáxia estão localizadas a cerca de 300.000 anos-luz da Terra, bem além do disco espiral da Via Láctea.

  simulação da captura de estrelas pela Via Láctea

  © Marion Dierickx/CfA (simulação da captura de estrelas pela Via Láctea)

Nesta imagem gerada por computador, a oval vermelha marca o disco da nossa Galáxia e o ponto vermelho mostra a localização da anã de Sagitário.

Uma nova pesquisa feita por astrônomos de Harvard mostra que metade destas estrelas podem ter sido arrancadas de outra galáxia: a anã de Sagitário. Além disso, são membros de um longo fluxo estelar que se estende um milhão de anos-luz no espaço, ou 10 vezes o diâmetro da nossa Galáxia.

"Os fluxos de estrelas que foram mapeados até agora são como riachos em comparação com o rio gigante de estrelas que prevemos observar eventualmente," afirma Marion Dierickx do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics.

A anã de Sagitário é uma das dúzias de pequenas galáxias que rodeiam a Via Láctea. Ao longo da história do Universo, completou várias órbitas em torno da nossa Galáxia. Em cada passagem, as marés gravitacionais da Via Láctea influenciavam a galáxia menor, puxando-a e distorcendo-a como um elástico.

Dierickx e o seu orientador de doutoramento, o teórico Avi Loeb de Harvard, usaram modelos computacionais para simular os movimentos da anã de Sagitário ao longo dos últimos 8 bilhões de anos. Eles variaram a sua velocidade inicial e ângulo de aproximação à Via Láctea para determinar quais os cenários que melhor correspondiam às observações atuais.

"A velocidade de partida e o ângulo de aproximação têm um grande efeito na órbita, assim como a velocidade e o ângulo de um lançamento de um míssil afeta a sua trajetória," explica Loeb.

No início da simulação, a anã de Sagitário tinha uma massa na ordem das 10 bilhões de massas solares, ou cerca de 1% da massa da Via Láctea. Os cálculos de Dierickx mostram que, ao longo do tempo, a infeliz anã perdeu cerca de um-terço das suas estrelas e um total de nove-décimos da sua matéria escura. Isto resultou em três fluxos estelares distintos que alcançam um milhão de anos-luz a partir do centro da Via Láctea. Os fluxos estendem-se até à orla do halo da Via Láctea e são das maiores estruturas observáveis no céu.

Além disso, cinco das onze estrelas mais distantes na nossa Galáxia têm posições e velocidades que coincidem ao que seria de esperar de estrelas capturadas da anã de Sagitário. As outras seis não parecem ser de Sagitário, mas podem ter sido removidas de uma galáxia anã diferente.

Os projetos de mapeamento como o SDSS (Sloan Digital Sky Survey) traçaram um dos três fluxos previstos por estas simulações, mas não em toda a extensão que os modelos sugerem. Instrumentos futuros como o LSST (Large Synoptic Survey Telescope), que irá detectar estrelas muito mais tênues no céu, deverão ser capazes de identificar os outros fluxos.

"Existem lá fora ainda mais 'intrusos' de Sagitário, à espera de serem encontrados," comenta Dierickx.

As descobertas foram aceitas para publicação na revista The Astrophysical Journal.

Fonte: Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics

Uma galáxia vista de lado

A grande galáxia espiral NGC 891 se espalha por cerca de 100 anos-luz e é vista quase que exatamente de lado desde a nossa perspectiva.

NGC 891

© Adam Block (NGC 891)

De fato, localizada a cerca de 30 milhões de anos-luz de distância da Terra na constelação de Andrômeda, a NGC 891 se parece muito com a nossa galáxia, a Via Láctea.

Numa primeira olhada, ela tem um disco galáctico de estrelas fino e plano e um bulbo central cortado no meio por regiões de poeira escura. Mas o que se destaca mesmo na aparência da NGC 891, vista de lado, são os filamentos de poeira que se estendem por centenas de anos-luz acima e abaixo da linha central.

A poeira provavelmente foi expelida do disco por explosões de supernovas ou pela intensa atividade de formação de estrelas. Galáxias mais apagadas podem ser vistas perto do disco nesta imagem profunda da NGC 891.

Fonte: NASA

Uma nebulosa aparentemente quadrada

Como pode, uma estrela que é esférica, criar uma nebulosa quadrada?

IC 4406

© Hubble/C. R. O'Dell (IC 4406)

Essa dúvida aparece quando se estuda nebulosas planetárias como a IC 4406.

Evidências indicam que a IC 4406 tem provavelmente uma forma cilíndrica, mas que do ponto de vista da Terra aparece com essa forma quadrada, como se estivéssemos vendo o cilindro de lado. Se a IC 4406 fosse vista de cima ela se pareceria com a Nebulosa do Anel.

Essa bela imagem foi composta a partir de dados obtidos pelo telescópio espacial Hubble nos anos de 2001 e 2002. O gás quente flui para fora das porções terminais do cilindro, enquanto que os filamentos de poeira escura e de gás molecular se chocam com o que seriam as paredes do cilindro.

A estrela que foi primariamente responsável por essa verdadeira escultura interestelar pode ser vista no centro da nebulosa planetária. Em alguns milhões de anos, a única coisa que irá restar da IC 4406 será uma estrela apagada do tipo anã branca.

Fonte: NASA

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Hubble detecta exocometas mergulhando numa estrela jovem

Previsão meteorológica interestelar para uma estrela próxima: chuva de cometas!

cometas viajando por um disco protoplanetário rumo à jovem estrela

© A. Feild/G. Bacon (cometas viajando por um disco protoplanetário rumo à jovem estrela)

O telescópio espacial Hubble da NASA/ESA descobriu cometas que mergulham na estrela HD 172555, que tem apenas 23 milhões de anos e reside a 95 anos-luz da Terra.

Os exocometas - cometas fora do nosso Sistema Solar - não foram observados diretamente ao redor da estrela, mas a sua presença foi inferida pela detecção de gás que é provavelmente o remanescente vaporizado dos seus núcleos gelados.

A HD 172555 representa o terceiro sistema extrassolar onde os cometas "condenados" e instáveis foram detectados. Todos estes sistemas são jovens, com menos de 40 milhões de anos.

A presença destes cometas condenados à morte fornece evidências circunstanciais da "agitação gravitacional" por um planeta do tamanho de Júpiter, ainda não visto, onde os cometas são desviados pela sua gravidade e catapultados para a estrela. Estes eventos também fornecem novas informações sobre a atividade passada e presente dos cometas no nosso Sistema Solar. É um mecanismo onde cometas em "queda" podem ter transportado água até à Terra e a outros planetas interiores do nosso Sistema Solar.

Os astrônomos encontraram mergulhos semelhantes no nosso próprio Sistema Solar. Os cometas rasantes ao Sol caem rotineiramente na nossa estrela. "A observação destes cometas suicidas no nosso Sistema Solar e em três sistemas extrassolares significa que esta atividade poderá ser comum em sistemas estelares jovens," afirma a líder do estudo Carol Grady da organização Eureka Scientific, em Oakland, no estado norte-americano da Califórnia, e do Goddard Spaceflight Center da NASA em Greenbelt, no estado norte-americano de Maryland. "Esta atividade, no seu pico, representa a adolescência ativa de uma estrela. A observação destes eventos dá-nos uma visão do que provavelmente ocorreu nos primeiros dias do nosso Sistema Solar, quando os cometas atacavam os corpos do Sistema Solar interior, incluindo a Terra. De fato, estes cometas que passam perto da estrela poderão até tornar a vida possível, porque transportam água e outros elementos necessários à vida, como carbono, para planetas terrestres."

Grady apresentou os resultados da sua equipe na reunião de inverno da Sociedade Astronômica Americana em Grapevine, Texas, EUA.

A estrela faz parte do Grupo Móvel de Beta Pictoris, uma coleção de estrelas nascidas do mesmo berçário estelar. É o segundo membro do grupo que se sabe abrigar tais cometas. Beta Pictoris, o homônimo da associação, também se abastece de exocometas que viajam demasiado perto. E já foi observado um gigante gasoso no vasto disco de detritos da estrela.

É importante estudar este grupo estelar porque é a coleção de estrelas jovens mais próxima da Terra. Pelo menos 37,5% das estrelas mais massivas do Grupo Móvel de Beta Pictoris ou têm um planeta já fotografado diretamente, como 51 Eridani b no sistema 51 Eridani, ou têm corpos que raspam e caem na estrela, ou, no caso de Beta Pictoris, ambos os tipos de objetos. O grupo está aproximadamente na idade de criar planetas terrestres, comenta Grady.

Uma equipe de astrônomos franceses descobriu pela primeira vez exocometas que transitavam HD 172555 em dados de arquivo recolhidos entre 2004 e 2011 pelo espectrógrafo caçador de planetas HARPS (High Accuracy Radial velocity Planet Searcher) do ESO. Um espectrógrafo divide a luz nas suas cores componentes, permitindo a detecção da composição química de um objeto. O espectrógrafo HARPS detectou as impressões digitais químicas do cálcio impressas na luz estelar, evidência do suicídio de objetos cometários na estrela.

Como seguimento desta descoberta, em 2015 a equipe de Grady usou o instrumento STIS (Space Telescope Imaging Spectrograph) e o instrumento COS (Cosmic Origins Spectrograph), ambos do Hubble, para efetuar uma análise espectrográfica na luz ultravioleta, que permite com que o telescópio espacial identifique a assinatura de vários elementos. O Hubble fez duas observações, separadas por seis dias.

O Hubble detectou os gases silício e carbono na luz estelar. Moviam-se a cerca de ‪580.000 km/h através da face da estrela. A explicação mais provável para estes gases velozes é que o Hubble estava observando material de objetos parecidos com cometas que se fragmentaram depois de passar pela estrela.

Os detritos gasosos dos cometas em desintegração são largamente dispersados em frente da estrela. "No que toca a características em trânsito, este material vaporizado é fácil de ver porque contém estruturas muito grandes," salienta Grady. "Isto contrasta bastante bem com a tentativa de encontrar um pequeno exoplaneta em trânsito, quando estamos à procura de minúsculas diminuições no brilho da estrela."

O Hubble recolheu esta informação porque o disco de detritos que rodeia a estrela HD 172555 está ligeiramente inclinado em relação à perspetiva do Hubble, dando ao telescópio uma visão clara da atividade cometária.

A equipe de Grady espera usar novamente o STIS para fazer observações de acompanhamento e procurar oxigênio e hidrogênio, o que confirmaria a identidade dos objetos desintegrantes como cometas.

"O Hubble mostra que estes objetos parecem-se e movem-se como cometas, mas até que determinemos a sua composição, não podemos confirmar que são cometas," realça Grady. "Precisamos de dados adicionais para determinar se estes objetos rasantes são gelados como os cometas ou mais rochosos como os asteroides."

Fonte: Space Telescope Science Institute

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Uma explosão que poderá mudar o céu noturno

O professor Larry Molnar, do Calvin College, e seus alunos, juntamente com colegas do Observatório Apache Point (Karen Kinemuchi) e da Universidade de Wyoming (Henry Kobulnicky), estão prevendo uma mudança no céu noturno que será visível a olho nu.

V838 Monocerotis

© Hubble (V838 Monocerotis)

A estrela V838 Monocerotis, em janeiro de 2002, tornou-se subitamente 600.000 vezes mais luminosa do que o nosso Sol, tornando-se temporariamente na estrela mais brilhante da Via Láctea. É, possivelmente, uma nova vermelha (um tipo de explosão estelar apenas recentemente reconhecida como distinta de outros gêneros).

Molnar evidencia uma previsão que ele fez em 2015, da fusão de uma estrela binária no futuro próximo, que está progredindo da teoria à realidade.

"A probabilidade de conseguirmos prever uma explosão é de uma num milhão," comenta Molnar acerca do seu prognóstico audacioso.

A previsão de Molnar é a de que uma estrela binária, conhecida como KIC 9832227, vai fundir-se e explodir em 2022; neste momento a estrela aumentará dez mil vezes de brilho, tornando-se por algum tempo uma das estrelas mais brilhantes do céu. A estrela será visível como parte da constelação do Cisne, e acrescentará uma estrela ao padrão estelar reconhecível do Cruzeiro do Norte.

a forma do sistema binário de contacto KIC 9832227

© Larry Molnar (a forma do sistema binário de contacto KIC 9832227)

Este gráfico mostra a forma do sistema binário de contacto KIC 9832227, à medida que a estrela menor eclipsa parcialmente a maior. Para efeitos de escala, a estrela maior tem um raio 40% maior que o do Sol. O plano orbital está inclinado 53º em relação ao nosso ponto de vista.

A exploração da estrela KIC 9832227, por Molnar, começou em 2013. Ele participava numa conferência de astronomia quando a sua colega e astrônoma Karen Kinemuchi apresentou o seu estudo das mudanças de brilho da estrela, que concluiu com uma questão: é pulsante ou é um binário?

Também presente na conferência, estava o então estudante do Calvin College Daniel Van Noord, assistente de pesquisa de Molnar. Ele tomou a questão como um desafio pessoal e fez algumas observações da estrela com o Observatório Calvin.

"Ele observou como a cor da estrela se correlacionava com o brilho e determinou que era definitivamente um sistema duplo," salienta Molnar. "De fato, ele descobriu que era um binário de contato, no qual das duas estrelas partilham uma atmosfera comum, como dois amendoins que partilham uma única casca.

"A partir daí, Dan determinou um período orbital preciso a partir dos dados de Kinemuchi e do satélite Kepler (pouco menos de 11 horas) e ficou surpreso ao descobrir que o período era ligeiramente inferior ao mostrado por dados anteriores," continua Molnar.

Este resultado trouxe à mente o trabalho publicado pelo astrônomo Romuald Tylenda, que estudou os arquivos observacionais para ver como outra estrela (V1309 Scorpii) se comportou antes de explodir inesperadamente em 2008 e produzir uma nova vermelha. O registo da pré-explosão mostrou um binário de contato com um período orbital decrescente e a um ritmo cada vez maior. Para Molnar, este padrão de alteração orbital foi uma "pedra de Rosetta" para interpretar os novos dados.

Ao observar a continuação da mudança de período em 2013 e 2014, Molnar apresentou efemérides orbitais ao longo de um espaço de tempo de 15 anos na reunião de janeiro de 2015 da Sociedade Astronômica Americana, fazendo a previsão de que KIC 9832227 poderia estar seguindo as pegadas de V1309 Scorpii. No entanto, antes de levar a hipótese demasiado a sério, seria necessário excluir outras interpretações mais mundanas da mudança de período.

Nos dois anos que se seguiram a esta reunião, Molnar e a sua equipe realizaram dois fortes testes observacionais das interpretações alternativas. Primeiro, as observações espectroscópicas descartaram a presença de uma terceira estrela companheira com um período orbital. Em segundo lugar, a velocidade de diminuição do período orbital, ao longo destes dois últimos anos, seguiu a previsão feita em 2015 e agora excede aquela observada em outros binários de contato.

Molnar e colegas vão observar a KIC 9832227 no próximo ano em toda a gama de comprimentos de onda: usando o VLA (Very Large Array), o IRTF (Infrared Telescope Facility) e o XMM-Newton para estudar a emissão da estrela dupla no rádio, no infravermelho e em raios X, respectivamente.

"O tempo orbital pode ser verificado por astrônomos amadores," salienta Molnar. "É incrível o equipamento que os astrônomos amadores possuem hoje em dia. Podem medir variações de brilho ao longo do tempo para esta estrela de magnitude 12, à medida que eclipsa, e ver por si mesmos se continua como previsto ou não."

Fonte: Sky & Telescope

O buraco negro da Via Láctea está ejetando bolas de tamanho planetário

A cada poucos milhares de anos, uma estrela azarada vagueia demasiado perto do buraco negro no centro da Via Láctea.

ilustração de objetos de massa planetária lançados do Centro Galáctico

© Mark A. Garlick/CfA (ilustração de objetos de massa planetária lançados do Centro Galáctico)

A poderosa gravidade do buraco negro rasga a estrela, chicoteando uma longa corrente de gás para fora. Isto podia ser o fim da história, mas não é. Uma nova investigação mostra que não só o gás se pode reunir em objetos de tamanho planetário, como estes objetos são então lançados por toda a Galáxia num jogo cósmico de arremesso.

"Uma única estrela despedaçada pode formar centenas destes objetos de massa planetária. Nós perguntámo-nos: para onde é que vão? Quão perto chegam eles de nós? Desenvolvemos um software para responder a estas questões," afirma Eden Girma, autora principal do estudo, estudante da Universidade de Harvard e membro do Instituto Banneker/Aztlan.

Girma vai apresentar os seus achados esta semana numa conferência de imprensa durante uma reunião da Sociedade Astronômica Americana.

Os cálculos de Girma mostram que o mais próximo destes objetos de massa planetária poderá estar até algumas centenas de anos-luz da Terra. Teria uma massa entre Netuno e Júpiter. Brilharia também do calor da sua formação, apesar de não ser brilhante o suficiente para ser detectado por levantamentos anteriores. Os instrumentos futuros, como o LSST (Large Synoptic Survey Telescope) e o Telescópio Espacial James Webb, poderão ser capazes de avistar estes distantes e estranhos objetos.

Ela também descobriu que a grande maioria dos objetos de massa planetária - 95% - deixará a Galáxia inteiramente devido às suas velocidades de aproximadamente 10.000 km/s. Dado que a maioria das outras galáxias também têm buracos negros gigantes nos seus núcleos, é provável que o mesmo processo ocorra também nelas.

"Outras galáxias como Andrômeda estão lançando estes objetos constantemente na nossa direção," comenta James Guillochon do Centro Harvard-Smithsonian para Astrofísica (CfA).

Embora possam ser de tamanho planetário, estes objetos seriam muito diferentes de um planeta normal. São literalmente feitos de material estelar e, dado que podem desenvolver-se a partir de partes diferentes da antiga estrela, as suas composições podem variar.

Também se formam muito mais rapidamente do que um planeta normal. É preciso apenas um dia para o buraco negro destruir a estrela (num processo conhecido como ruptura de marés), e apenas cerca de um ano para os fragmentos resultantes se aglomerarem novamente. Isto contrasta com os milhões de anos necessários para formar um planeta como Júpiter.

Uma vez lançado, um destes objetos levaria cerca de um milhão de anos até chegar à vizinhança da Terra. O desafio será diferenciá-los dos planetas flutuantes que são criados durante o processo mais mundano de formação estelar e planetária. Apenas um entre mil planetas flutuantes será um destes astros de segunda geração.

Fonte: Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics

O cálculo da verdadeira massa da Via Láctea

É um problema de complexidade galáctica, mas pesquisadores estão mais perto de medir, com precisão, a massa da Via Láctea.

ilustração da Via Láctea

© U. McMaster (ilustração da Via Láctea)

Na última de uma série de artigos que poderão ter implicações mais amplas para o campo da astronomia, a astrofísica Gwendolyn Eadie, da McMaster University, trabalhando com o seu supervisor de doutoramento William Harris e com um estatístico da Queen's University, Aaron Springford, refinou o próprio método de Eadie e Harris para medir a massa da Galáxia que abriga o nosso Sistema Solar.

A resposta curta, usando o método refinado, é entre 4,0 x 1011 e 5,8 x 1011 massas solares.

Em termos mais simples, é a massa do nosso Sol multiplicada por 400 a 580 bilhões. O Sol, para que conste, tem uma massa de 1,99 x 1030 kg, ou 330.000 vezes a massa da Terra de 5,97 x 1024 kg.

Esta estimativa da massa Galáctica inclui matéria até 125 kiloparsecs  (kpc) do centro da Via Láctea (125 kiloparsecs equivalem a quase 4 x 1018 quilômetros). Quando a estimativa da massa é alargada até 300 kpc, a massa é de aproximadamente de 9 x 1011 massas solares.

A medição da nossa Galáxia hospedeira, ou de qualquer galáxia, é particularmente difícil. Uma galáxia não inclui só estrelas, planetas, luas, gases, poeiras e outros objetos e materiais, mas também uma grande quantidade de matéria escura, uma forma misteriosa e invisível de matéria que ainda não é bem compreendida e que não foi detectada diretamente em laboratório. No entanto, os astrônomos e cosmólogos podem inferir a presença da matéria escura através da sua influência gravitacional sobre objetos visíveis.

Eadie, candidata a doutoramento em Física e Astronomia da Universidade de McMaster, tem vindo a estudar a massa da Via Láctea e o seu componente de matéria escura desde que começou o seu percurso universitário. Ela usa as velocidades e posições de aglomerados globulares que orbitam a Via Láctea. As órbitas dos aglomerados globulares são determinadas pela gravidade da Galáxia, que é ditada pelo seu componente massivo de matéria escura.

Anteriormente, Eadie tinha desenvolvido uma técnica para usar as velocidades dos aglomerados globulares, mesmo quando os dados estavam incompletos.

A velocidade total de um aglomerado globular deve ser medida em duas direções: uma ao longo da nossa linha de visão e uma através do céu, chamado movimento próprio. Os pesquisadores ainda não mediram os movimentos próprios de todos os aglomerados globulares em torno da Via Láctea. Eadie, no entanto, desenvolveu previamente uma maneira de usar essas velocidades que são apenas parcialmente conhecidas, além das velocidades que são plenamente conhecidas, para estimar a massa da Galáxia.

Agora, Eadie usou um método estatístico chamado análise hierárquica bayesiana que inclui não apenas dados completos e incompletos, mas também incorpora incertezas de medição numa fórmula estatística extremamente complexa mas mais completa. Para fazer o cálculo mais recente, os autores tiveram em conta o fato de que os dados são meramente medições das posições e velocidades dos aglomerados globulares e não necessariamente os valores verdadeiros. Eles tratam agora as posições e velocidades verdadeiras como parâmetros no modelo (o que significa acrescentar 572 novos parâmetros ao método existente).

Os métodos estatísticos bayesianos não são novos, mas a sua aplicação à astronomia ainda está nos seus estágios iniciais, e Eadie acredita que a sua capacidade para acomodar a incerteza, enquanto ainda produzindo resultados significativos, abre muitas novas oportunidades no campo científico.

"À medida que a era dos Grandes Dados se aproxima, acho que é importante pensarmos cuidadosamente sobre os métodos estatísticos que usamos na análise de dados, especialmente em astronomia, onde os dados podem estar incompletos e ter vários graus de incerteza," comenta.

Eadie explicou que as hierarquias bayesianas têm sido úteis em outros campos, mas que estão apenas começando a ser aplicadas na astronomia.

A pesquisa foi aceita para publicação na revista The Astrophysical Journal e Eadie apresentou os seus resultados no passado dia 7 de janeiro na 229.ª reunião da Sociedade Astronômica Americana em Grapevine, no estado norte-americano do Texas.

Fonte: McMaster University

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

No centro da galáxia espiral NGC 5033

O que está acontecendo no centro da galáxia espiral NGC 5033?

NGC 5033_Hubble

© Hubble/Judy Schmidt (NGC 5033)

Muitas coisas, algumas circulares, algumas energéticas, e algumas não bem compreendidas. A NGC 5033 é conhecida como uma galáxia Seyfert por causa da grande atividade vista em seu núcleo.

Estrelas brilhantes, poeira escura e gás interestelar rodam rapidamente em torno do centro galáctico que aparece ligeiramente deslocado do buraco negro supermassivo central. Este deslocamento é possivelmente o resultado da fusão da  NGC 5033 com outra galáxia ocorrida nos últimos bilhões de anos.

A imagem acima foi efetuada pelo telescópio espacial Hubble em 2005. A NGC 5033 mede aproximadamente 100.000 anos-luz de extensão e está localizada a cerca de 40 milhões de anos-luz de distância da Terra.

Fonte: NASA

O Very Large Telescope vai procurar planetas no sistema Alfa Centauri

O ESO, representado pelo Diretor Geral Tim de Zeeuw, assinou um acordo com a Breakthrough Initiatives, representada por Pete Worden, Presidente da Breakthrough Prize Foundation e Diretor Executivo da Breakthrough Initiatives.

o Very Large Telescope e o sistema estelar Alfa Centauri

© ESO/Y. Beletsky (o Very Large Telescope e o sistema estelar Alfa Centauri)

O acordo atribui fundos para que o instrumento VISIR (VLT Imager and Spectrometer for mid-Infrared), montado no Very Large Telescope do ESO (VLT), possa ser modificado de modo a aumentar significativamente a sua capacidade de procurar potenciais planetas habitáveis em torno de Alfa Centauri, o sistema estelar mais próximo da Terra. O acordo atribui também tempo de telescópio suficiente para permitir a execução de um programa de busca dedicada em 2019.

A descoberta em 2016 de um planeta, Proxima b, em torno de Proxima Centauri, a terceira e menos brilhante estrela do sistema Alfa Centauri, dá ainda mais incentivo a esta busca.

Saber onde se encontram os exoplanetas mais próximos de nós é de extremo interesse para o Breakthrough Starshot, o programa de pesquisa e engenharia lançado em abril de 2016, que pretende demonstrar o conceito de novas tecnologias, promovendo voo espacial ultra-leve não tripulado, executado a 20% da velocidade da luz, que abrirão caminho para a primeira missão a Alfa Centauri, a qual poderá ocorrer dentro de uma geração.

Detectar um planeta habitável é um enorme desafio devido ao brilho da estrela hospedeira do sistema planetário, que tem tendência a ofuscar os planetas relativamente tênues. Uma maneira de tornar esta tarefa mais fácil é observar nos comprimentos de onda do infravermelho médio, onde o brilho térmico de um planeta em órbita reduz enormemente a diferença de brilhos entre o planeta e a sua estrela hospedeira. Mas, mesmo a estes comprimentos de onda, a estrela permanece milhões de vezes mais brilhante do que os planetas que pretendemos detectar, sendo preciso recorrer a uma técnica especial para reduzir a ofuscante luz estelar.

O instrumento VISIR, que opera no infravermelho médio e está montado no VLT, terá a capacidade de fornecer um tal desempenho uma vez modificado para aumentar de modo significativo a qualidade de imagem através do uso de óptica adaptativa, e alterado para utilizar uma técnica chamada coronografia, a qual permite reduzir a radiação estelar, revelando assim o possível sinal de potenciais planetas terrestres. A Breakthrough Initiatives financiará uma grande parte das tecnologias e os custos de desenvolvimento da experiência, enquanto o ESO fornecerá as capacidades e tempo de observação necessários.

O novo hardware inclui um módulo pedido à Kampf Telescope Optics (KTO), Munique, onde será colocado o sensor da frente de onda e um instrumento inovador de calibração de detectores. Adicionalmente, existem planos para o desenvolvimento de um novo coronógrafo, desenvolvimento esse que será executado em conjunto pela Universidade de Liège (Bélgica) e pela Universidade Uppsala (Suécia).

Detectar e estudar potenciais planetas habitáveis em órbita de outras estrelas será um dos principais objetivos científicos do futuro European Extremely Large Telescope (E-ELT). Apesar do enorme tamanho do E-ELT ser essencial para a obtenção de imagens de planetas situados a maiores distâncias na Via Láctea, o poder coletor do VLT é suficiente para obter imagens de um planeta situado em torno da estrela mais próxima, Alfa Centauri.

Os desenvolvimentos aplicados ao VISIR serão também benéficos para o futuro instrumento METIS, que será montado no E-ELT, uma vez que as lições aprendidas e os conceitos utilizados serão diretamente transferidos para este instrumento. O enorme tamanho do E-ELT deverá permitir ao METIS detectar e estudar exoplanetas do tamanho de Marte situados em órbita de Alfa Centauri, se estes existirem, assim como outros potenciais planetas habitáveis que existam em torno de outras estrelas próximas.

Fonte: ESO

sábado, 7 de janeiro de 2017

A colisão de dois enormes aglomerados de galáxias

Uma equipe de pesquisa internacional mostrou algumas imagens deslumbrantes de duas das mais poderosas forças cósmicas vistas juntos pela primeira vez, um buraco negro supermassivo e dois enormes aglomerados de galáxias colidindo.

Abell 3411 e Abell 3412

© Chandra e Subaru (Abell 3411 e Abell 3412)

Os aglomerados de galáxias são conhecidos como Abell 3411 e Abell 3412, que estão localizados a cerca de dois bilhões de anos-luz da Terra. Ambos os aglomerados são bastante massivos, cada um possuindo o equivalente a cerca de um quatrilhão de vezes a massa do nosso Sol. A colisão desses objetos produziu uma enorme onda de choque, que incluiu a liberação de gás quente e partículas energéticas.

Combinando dados do observatório de raios X Chandra da NASA, Giant Metrewave Radio Telescope (GMRT) na Índia, do Karl G. Jansky Very Large Array (VLA) da National Science Foundation (NSF) e os dados ópticos obtidos pelo observatório Keck e o telescópio Subaru do Japão, ambos em Mauna Kea, Havaí, os pesquisadores descobriram o que acontece quando a matéria é ejetada por um buraco negro gigante é varrida pela fusão de dois enormes aglomerados de galáxias.

"Vimos cada um desses fenômenos espetaculares separadamente em muitos lugares", disse Reinout van Weeren do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics (CfA) em Cambridge, Massachusetts, que liderou o estudo.

Um buraco negro supermassivo girando em um dos aglomerados de galáxias produziu um funil magnético rotativo. Os potentes campos eletromagnéticos associados a esta estrutura têm acelerado parte do gás afluente para fora da vizinhança do buraco negro na forma de um jato energético de alta velocidade.

Então, essas partículas no jato foram aceleradas novamente quando encontraram ondas de choque colossais - versões cósmicas de explosões sônicas geradas por aeronaves supersônicas - produzidas pela colisão das nuvens de gás massivas associadas aos aglomerados de galáxias.

"É quase como lançar um foguete em órbita baixa na Terra e então disparar para fora do Sistema Solar por uma segunda explosão do foguete," disse Felipe Andrade-Santos, também do CfA. "Essas partículas estão entre as partículas mais energéticas observadas no Universo, graças à dupla injeção de energia".

Esta descoberta resolve um mistério de longa data na pesquisa de aglomerados de galáxias sobre a origem de belos redemoinhos de emissão de rádio com alongamento por milhões de anos-luz, detectado no Abell 3411 e Abell 3412 com o GMRT.

A equipe determinou que, à medida que as ondas de choque percorrem o aglomerado durante centenas de milhões de anos, as partículas duplamente aceleradas produzem redemoinhos gigantes de emissão de rádio.

"Esse resultado mostra que uma notável combinação de eventos poderosos geram essas fábricas de aceleração de partículas, que são as maiores e mais poderosas do Universo", disse William Dawson, do Lawrence Livermore National Lab, em Livermore, Califórnia.

Estes resultados foram apresentados na 229ª reunião da American Astronomical Society, em Grapevine, Texas (EUA).

O estudo aparece na edição inaugural da revista Nature Astronomy.

Fonte: Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Emissão veloz de rádio ligada a uma galáxia anã distante

Uma das raras e breves explosões de ondas cósmicas de rádio que confundiram os astrônomos, desde que foram detectadas há quase 10 anos, foi finalmente ligada a uma fonte: uma galáxia anã antiga a mais de 3 bilhões de anos-luz da Terra.

ilustração da localização de uma explosão rápida de rádio captada pelo VLA

© Danielle Futselaar (ilustração da localização de uma explosão rápida de rádio captada pelo VLA)

As explosões rápidas no rádio, que piscam por apenas alguns milissegundos, criaram agitação entre os astrônomos porque pareciam estar vindo de fora da nossa Galáxia, o que significa que teriam de ser muito poderosas para serem avistadas da Terra, e porque nenhuma dessas observadas pela primeira vez foram vistas novamente.

No entanto, uma explosão repetida foi descoberta em 2012, proporcionando uma oportunidade para uma equipe de pesquisadores monitorar repetidamente a sua área do céu com o VLA (Karl Jansky Very Large Array) no estado norte-americano do Novo México e o radiotelescópio de Arecibo em Porto Rico, na esperança de determinar a sua localização.

Graças ao desenvolvimento de gravação de dados em alta velocidade e software de análise de dados em tempo real, por um astrônomo da Universidade da Califórnia, Berkeley, o VLA detectou no ano passado um total de nove explosões durante um período de um mês, o suficiente para localizá-las dentro de uma área com um décimo de segundo de arco no céu. Subsequentemente, maiores interferômetros de rádio europeus e americanos localizaram as explosões até um centésimo de segundo de arco, numa região com aproximadamente 100 anos-luz em diâmetro.

As imagens profundas dessa região, pelo Telescópio Gemini Norte no Havaí, mostraram a existência de uma galáxia anã muito tênue no visível, que o VLA descobriu também emitindo continuamente ondas de rádio de baixo nível, típicas de uma galáxia com um núcleo ativo talvez indiciativo de um buraco negro supermassivo central. A galáxia tem uma baixa abundância de elementos que não hidrogênio e hélio, o que sugere que a galáxia se formou durante a meia-idade do Universo.

 localização e posição da emissão de rádio

© U. C. Berkeley (localização e posição da emissão de rádio)

Enquanto o radiotelescópio de Arecibo pôde apenas localizar a emissão de rádio na área dentro dos dois círculos vistos na imagem acima, o VLA foi capaz de determinar a sua posição numa galáxia anã dentro do quadrado, que pode ser vista na intersecção das linhas na imagem ampliada no canto inferior direito.

A origem de uma explosão rápida no rádio, neste tipo de galáxia anã, sugere uma ligação com outros eventos energéticos que ocorrem em galáxias anãs semelhantes, diz Casey Law, astrônomo de Berkeley, que liderou o desenvolvimento do sistema de aquisição de dados e criou o software de análise para procurar explosões rápidas e singulares.

Segundo o cientista, as estrelas explosivas extremamente brilhantes e as longas explosões de raios gama também ocorrem neste tipo de galáxia. Pensa-se que ambos os eventos estejam associados com estrelas de nêutrons massivas, altamente magnetizadas e de rotação rápida a que chamamos magnetares. As estrelas de nêutrons são objetos compactos e densos formados em explosões de supernova, vistos principalmente como pulsares porque emitem pulsos de rádio periódicos enquanto giram.

"Todas estas evidências apontam para a ideia de que neste ambiente, algo produz estes magnetares," explica Law. "Podem ser formados por uma supernova superluminosa ou por uma longa explosão de raios gama e, depois, à medida que evolui e a sua rotação diminui um pouco, produz estas rajadas de rádio, bem como uma emissão de rádio contínua alimentada por essa diminuição na rotação. Mais tarde na sua vida, parece que os magnetares que vemos na nossa Galáxia, que têm campos magnéticos extremamente fortes, rodam mais como pulsares comuns."

No entanto, isto é apenas uma teoria. Existem muitas outras, apesar de novos dados excluírem várias explicações sugeridas para a fonte dessas explosões.

"Nós somos os primeiros a mostrar que este é um fenômeno cosmológico. Não é algo no nosso quintal cósmico. E somos os primeiros a ver onde este fenômeno ocorreu, nesta pequena galáxia, o que eu acho que é uma surpresa," comenta Law. "Agora o nosso objetivo é descobrir porque é que isto acontece."

Law, o líder da equipe Shami Chatterjee da Universidade de Cornell e outros astrônomos do grupo científico apresentaram os seus achados esta semana na reunião da Sociedade Astronômica Americana em Grapevine, no estado norte-americano do Texas.

As explosões rápidas no rádio são altamente energéticas, embora não sejam suficientemente energéticas para fazer explodir uma estrela, e têm vida muito curta, durando apenas entre um e cinco milissegundos. Estas rajadas de ondas de rádio permaneceram um mistério desde que a primeira foi descoberta em 2007 por pesquisadores que vasculhavam dados arquivados do Radiotelescópio Parkes na Austrália, em busca de novos pulsares. A explosão que encontraram teve lugar em 2001.

Existem agora 18 explosões rápidas no rádio conhecidas, todas descobertas usando radiotelescópios com uma única antena que não são capazes de determinar a localização do objeto com precisão suficiente para permitir que outros observatórios identifiquem o ambiente ou que as encontrem em outros comprimentos de onda. A primeira e única explosão repetida que conhecemos, de nome FRB 121102, foi descoberta na direção da constelação de Cocheiro em novembro de 2012 pelo Observatório Arecibo em Porto Rico, e já ocorreu várias vezes.

Os pesquisadores utilizam métodos para encontrar rajadas transitórias no rádio como estas, o que exige a obtenção de cerca de um terabyte de dados por hora. No VLA, ele atualmente usa 24 CPUs (unidades centrais de processamento) em paralelo, tanto para gravar como para pesquisar os dados em busca de breves explosões de rádio.

"O tema geral, primeiro com o ATA (Allen Telescope Array) e agora com o VLA, é usar estes interferômetros como câmaras de alta velocidade, pegando na sensível capacidade de imagem do telescópio, aumentando a taxa de dados e melhorando os nossos algoritmos para ter acesso a estes transientes na escala de tempo dos milissegundos. "Nós realmente esforçamo-nos para capturar de modo confiável este fluxo de dados de um terabyte por hora e para configurar uma plataforma em tempo real que extraia estas rápidas e tênues explosões desse fluxo de dados gigantesco."

A primeira explosão foi descoberta nos dados apenas algumas horas depois de ter sido gravada no dia 23 de agosto, realça Law.

"Observamos durante cerca de 40 horas no início do ano passado e não vimos nada," explica. "Então começamos uma nova campanha no outono de 2016, e na nossa primeira observação vimos uma. Então observamos por mais outras 40 horas e vimos mais oito rajadas."

Law espera mudar em breve para 64 GPUs (unidades de processamento gráfico) dedicados e mais poderosos para que a análise em tempo real seja possível.

Enquanto Law tem a sua hipótese principal para a origem destas rápidas rajadas de rádio, um magnetar rodeado por qualquer material expelido por uma explosão de supernova ou por um pulsar resultante, existem outras possibilidades. Uma alternativa é que o núcleo ativo da galáxia, com emissão de rádio proveniente de jatos de material emitidos pela região em torno de um buraco negro supermassivo. A fonte da explosão rápida no rádio está até 100 anos-luz das emissões contínuas de rádio oriundas do núcleo da galáxia, sugerindo que são as mesmas ou que estão fisicamente associadas.

A descoberta foi publicada na revista científica Nature e em dois artigos complementares que serão publicados na revista Astrophysical Journal Letters.

Fonte: University of California

Observada galáxia extremamente rara

A aproximadamente 359 milhões de anos-luz da Terra, existe uma galáxia com um nome inócuo (PGC 1000714) que não se parece muito com qualquer outra coisa que os astrônomos observaram antes.

imagem em cores falsas da galáxia PGC 1000714

© Ryan Beauchemin (imagem em cores falsas da galáxia PGC 1000714)

Uma nova pesquisa fornece uma primeira descrição de um núcleo elíptico bem definido rodeado por dois anéis circulares, uma galáxia que parece pertencer a uma classe raramente observada, galáxias do tipo Hoag. Este trabalho foi realizado por cientistas da Universidade de Minnesota Duluth e do Museu de Ciências Naturais da Carolina do Norte.

"Menos de 0,1% de todas as galáxias observadas são galáxias do tipo Hoag," afirma Burcin Mutlu-Pakdil, estudante do Instituto de Astrofísica da Universidade de Minnesota Twin Cities e da Universidade de Minnesota Duluth. As galáxias do tipo Hoag são núcleos redondos rodeados por um anel circular, sem nada a ligá-los visivelmente. A maioria das galáxias observadas são em forma de disco, como a nossa própria Via Láctea. As galáxias com aparências invulgares dão aos astrônomos percepções únicas sobre como as galáxias se formam e mudam.

Os pesquisadores recolheram imagens da galáxia em vários comprimentos de onda, que é apenas observável no Hemisfério Sul, usando um telescópio de grande abertura nas montanhas chilenas. Essas imagens foram usadas para determinar as idades das duas principais características da galáxia, o anel exterior e o corpo central.

Foi descoberto um anel exterior azul e jovem (0,13 bilhões de anos) em torno de um núcleo central avermelhado e bem mais antigo (5,5 bilhões de anos), e ficaram surpreendidos ao descobrir evidências de um segundo anel interior ao redor do corpo central. Para documentar este segundo anel, os pesquisadores tiraram as suas próprias imagens e subtraíram um modelo do núcleo. Isto permitiu-lhes observar e medir a segunda estrutura interior obscurecida.

"Já observamos galáxias com um anel azul ao redor de um corpo central avermelhado antes, o mais conhecido é o objeto de Hoag. No entanto, a característica única desta galáxia é o que parece ser um antigo anel interno vermelho e difuso," comenta Patrck Treuthardt, astrofísico no Museu de Ciências Naturais da Carolina do Norte.

Os anéis galácticos são regiões onde as estrelas se formaram a partir da colisão de gases. "As diferentes cores do anel interior e exterior sugerem que esta galáxia passou por dois períodos diferentes de formação," comenta Mutlu-Pakdil. "A partir destes instantâneos únicos e iniciais, é impossível saber como é que os anéis desta galáxia em particular foram formados." Os cientistas dizem que ao acumularem mais imagens de outras galáxias como esta, será possível começar a entender como é que galáxias invulgares se formam e evoluem.

Enquanto as formas das galáxias podem ser o produto de interações ambientais internas e externas, os pesquisadores especulam que o anel exterior possa ser o resultado desta galáxia ter incorporado porções de uma galáxia anã próxima e rica em gás. Também dizem que a dedução da história do anel mais antigo e interior exigiria o recolhimento de dados infravermelhos de mais alta resolução.

"Sempre que encontramos um objeto único ou estranho para estudar, ele desafia as nossas teorias atuais e suposições sobre como o Universo funciona. Geralmente diz-nos que ainda temos muito a aprender," comenta Treuthardt.

Fonte: North Carolina Museum of Natural Sciences

Pesquisa reforça função das supernovas no estudo do Universo

Quanto da história do Universo podemos saber com a ajuda de uma supernova?

supernova G299

© NASA (supernova G299)

Uma nova pesquisa efetuda por cosmólogos da Universidade de Chicago e da Universidade Estatal de Wayne confirma a precisão das supernovas do Tipo Ia na medição do ritmo no qual o Universo se expande. Os resultados suportam uma teoria extensamente aceita de que a expansão do Universo está acelerando, cuja aceleração é atribuída a uma força misteriosa conhecida como energia escura. As descobertas vão contra manchetes recentes de que as supernovas do Tipo Ia não são de confiança na medição da expansão do Universo.

A utilização da luz da explosão de uma estrela, tão brilhante quanto galáxias inteiras, para determinar distâncias cósmicas, levou ao Prêmio Nobel da Física em 2011. O método baseia-se no pressuposto que, tal como lâmpadas de uma potência conhecida, todas as supernovas do Tipo Ia têm quase o mesmo brilho máximo quando explodem. Esta consistência permite com que sejam usadas como "velas padrão" para medir os céus. Quanto mais fraca a luz, mais distante está a estrela. Mas o método tem sido posto em dúvida nos últimos anos por causa das descobertas de que a luz emitida pelas supernovas do Tipo Ia parecem mais inconsistentes do que o esperado.

"Os dados que examinamos combatem estas reivindicações da morte das supernovas do Tipo Ia como uma ferramenta para medir o Universo," afirma Daniel Scolnic, pós-doutorado do Instituto Kavli para Física Cosmológica da Universidade de Chicago. "Nós não devemos ser persuadidos por estas outras reivindicações apenas porque atraíram muita atenção, embora seja importante continuar a questionar e a reforçar as nossas suposições fundamentais."

Uma das últimas críticas às supernovas do Tipo Ia como ferramenta de medição concluiu que o brilho destas supernovas parece estar em duas subclasses diferentes, o que poderia levar a problemas ao tentar medir distâncias. Na nova pesquisa, liderada por David Cinabro, professor da Universidade Estadual Wayne, não foi encontrada evidências de duas subclasses de supernovas do Tipo Ia nos dados examinados do SDSS (Sloan Digital Sky Survey) e SSSLS (Supernovae Search and Supernova Legacy Survey). Os artigos recentes que desafiam a eficácia das supernovas do Tipo Ia para a medição usaram conjuntos diferentes de dados.

Uma segunda crítica centrou-se na forma como as supernovas do Tipo Ia são analisadas. Quando os cientistas descobriram que as supernovas do Tipo Ia eram mais fracas do que o esperado, concluíram que o Universo estava se expandindo a um ritmo acelerado. Esta aceleração é explicada através da energia escura, que estima-se compor cerca de 70% do Universo. A força enigmática puxa a matéria, impedindo a gravidade de retardar a expansão do Universo.

No entanto, uma substância que perfaz 70% do Universo, mas permanece desconhecida, é frustrante para os cosmólogos. O resultado foi uma reavaliação das ferramentas matemáticas usadas para analisar supernovas que ganhou atenção em 2015, argumentando que as supernovas do Tipo Ia nem sequer mostram que a energia escura existe.

Os cientistas Scolnic e Adam Riess, que ganharam em 2011 o Prêmio Nobel pela descoberta da aceleração da expansão do Universo, escreveram um artigo na edição de 26 de outubro de 2016 da revista Scientific American, refutando as alegações. Eles mostraram que, mesmo que as ferramentas matemáticas usadas para analisar as supernovas do Tipo Ia tivessem sido usadas "incorretamente", ainda há uma probabilidade de 99,7% do Universo estar acelerando.

As novas descobertas são tranquilizadoras para os cientistas que usam as supernovas do Tipo Ia para obter uma compreensão cada vez mais precisa da energia escura, comenta Joshua A. Frieman, membro do Laboratório do Acelerador Nacional Fermi, que não esteve envolvido no estudo.

"O impacto deste trabalho será o de reforçar a nossa confiança na utilização das supernovas do Tipo Ia como sondas cosmológicas," acrescenta.

A pesquisa foi publicada na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

Fonte: Universidade de Chicago

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Nuvens da galáxia de Andrômeda

A bela galáxia de Andrômeda é muitas vezes fotografada por astrônomos baseados na Terra.

galáxia de Andrômeda_Rogelio Bernal Andreo

© Rogelio Bernal Andreo (galáxia de Andrômeda)

A galáxia de Andrômeda é também conhecida como M31, sendo a maior galáxia espiral mais próxima da Terra. Ela é uma galáxia familiar com faixas de poeira escura, núcleo amarelado brilhante e braços espirais marcados pela luz azulada das estrelas. O mosaico foi realizado usando dados de banda larga e estreita, onde o retrato colorido e primoroso de nossa galáxia vizinha oferece características surpreendentemente desconhecidas, porém, as apagadas nuvens avermelhadas de gás de hidrogênio ionizado brilham no mesmo campo amplo de visão. Ainda assim, as nuvens de hidrogênio ionizado provavelmente estão em primeiro plano nesta imagem, no interior da Via Láctea. Elas podem estar associadas com as nuvens interestelares empoeiradas que se espalham por centenas de anos-luz acima do plano galáctico. Se elas estivessem localizadas a uma distância de 2,5 milhões de anos-luz da Galáxia de Andrômeda, elas seriam enormes, já que a própria galáxia de Andrômeda tem 200 mil anos-luz de extensão.

Fonte: NASA

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Os segredos escondidos das Nuvens de Órion

Esta bela imagem é um dos maiores mosaicos em alta resolução no infravermelho próximo da nuvem molecular Órion A, a fábrica de estrelas massivas mais próxima que se conhece, situada a cerca de 1.350 anos-luz de distância da Terra.

nuvem molecular Órion

© ESO/VISION (nuvem molecular Órion)

Esta nova imagem composta do rastreio VISION (VIenna Survey In Orion) é uma montagem de imagens obtidas na região do infravermelho próximo pelo telescópio de rastreio VISTA (Visible and Infrared Survey Telescope for Astronomy), instalado no Observatório do Paranal do ESO no Chile, revelando muitas estrelas jovens e outros objetos que normalmente se encontram enterrados profundamente no núcleo das nuvens de poeira. A imagem cobre toda a nuvem molecular Órion A, uma de duas nuvens moleculares gigantes que fazem parte do complexo da Nuvem Molecular de Órion. Orion A estende-se para sul da familiar região de Órion conhecida como a espada, ao longo de cerca de 8 graus. A outra nuvem molecular gigante da Nuvem Molecular de Órion é a Órion B, que se situa a este do cinturão de Órion.

O VISTA é o maior telescópio de rastreio do mundo. Possui um enorme campo de visão o qual observa com detectores infravermelhos muito sensíveis, o que o torna ideal na obtenção de imagens infravermelhas profundas de alta qualidade, indispensáveis a este rastreio ambicioso.

O rastreio VISION resultou num catálogo com cerca de quase 800.000 estrelas, objetos estelares jovens e galáxias distantes individuais identificadas, o que representa uma melhor profundidade e cobertura do que as conseguidas até à data por qualquer outro rastreio desta região.

coleção de imagens da nuvem molecular Órion

© ESO/VISION (coleção de imagens da nuvem molecular Órion)

O VISTA observa radiação que o olho humano não vê, permitindo aos astrônomos identificar muitos objetos na maternidade estelar, de outro modo invisíveis. Estrelas muito jovens que não podem ser observadas em imagens obtidas no visível são reveladas quando observadas nos maiores comprimentos de onda do infravermelho, onde a poeira que as rodeia se torna mais transparente.

Esta nova imagem representa um passo em frente na obtenção de uma fotografia completa dos processos de formação estelar em Órion A, tanto para estrelas de pequena massa como para estrelas massivas. O objeto mais espectacular é a gloriosa Nebulosa de Órion, também chamada Messier 42 (M42), que pode ser vista do lado esquerdo da imagem. Esta região forma parte da espada da famosa constelação brilhante do caçador Órion.

A nebulosa de Órion foi inicialmente descoberta no início do século XVII, embora a identidade do seu descobridor permaneça incerta. O caçador de cometas francês Messier fez um desenho esquemático preciso das suas estruturas principais em meados do século XVIII, tendo-lhe atribuído o número 42 no seu famoso catálogo. Messier atribuiu também o número 43 à região mais pequena separada situada a norte da parte principal da nebulosa. Mais tarde William Herschel especulou que a nebulosa poderia ser “o material caótico de futuros sóis” e os astrônomos descobriram entretanto que a neblina é de fato gás brilhando devido à intensa radiação ultravioleta emitida por estrelas quentes jovens recentemente formadas no local.

O catálogo VISTA cobre tanto objetos familiares como novas descobertas. Estes novos objetos incluem cinco candidatos a objetos estelares jovens e dez candidatos a aglomerados de galáxias.

No resto da imagem podemos ver as nuvens escuras de Órion A e encontrar muitos tesouros escondidos, como discos de material que poderão dar origem a novas estrelas (discos protoestelares), nebulosidades associadas a estrelas recém-nascidas (objetos de Herbig Haro), aglomerados de estrelas menores e até aglomerados de galáxias situados muito além da Via Láctea. O rastreio VISION permite o estudo sistemático das fases de evolução mais precoces das estrelas jovens no coração de nuvens moleculares próximas.

Esta imagem muito detalhada de Órion A estabelece uma nova base observacional para estudos futuros de formação de estrelas e aglomerados, destacando uma vez mais o poder do telescópio VISTA na obtenção de imagens de vastas áreas do céu, rápida e profundamente, na região do infravermelho próximo do espectro eletromagnético. O bem sucedido rastreio VISION de Órion será seguido por um novo rastreio público maior de outras regiões de formação estelar chamadas VISIONS, que será efetuado pelo VISTA e terá início em abril de 2017.

Este trabalho foi descrito no artigo científico intitulado “VISION - Vienna survey in Orion I. VISTA Orion A Survey”, de S. Meingast et al., que foi publicado na revista especializada Astronomy & Astrophysics.

Fonte: ESO

O papel dos gases na evolução das galáxias

Um dos temas mais fascinantes da cosmologia trata do estudo da evolução das galáxias.

Galáxia de Andrômeda

© Robert Gendler (Galáxia de Andrômeda)

O objetivo é compreender como as nuvens primordiais de gás, no Universo recém-nascido, condensaram-se até formar estrelas e galáxias, e como estas evoluíram até se tornar espirais magníficas como a Via Láctea.

Um trabalho de astrofísicos brasileiros e espanhóis procurou estimar como, ao longo de bilhões de anos, processou-se a queda do gás interestelar das regiões externas do disco em espiral em direção ao núcleo galáctico, atraído por sua tremenda força gravitacional.

Descobrir qual a taxa da queda do gás interestelar no tempo e no espaço é fundamental para saber a razão de formação de estrelas, pois é daquele gás que elas são feitas. Ou seja, quanto mais gás cai através do disco, mais estrelas se formam e mais brilhante se torna a galáxia.

Mas há um problema. Os instrumentos básicos dos astrônomos para estudar a evolução galáctica são os observatórios. Só que, salvo raras exceções, a tecnologia atual não permite a observação de galáxias quando o Universo era jovem, ou seja, quando tinha metade da idade atual, que é de aproximadamente 13,8 bilhões de anos.

“A imagem é muito tênue, difusa, de baixa resolução. Isso é problemático, principalmente quando se sabe que a primeira metade da vida do Universo foi o período mais dinâmico na evolução das galáxias”, disse Oscar Cavichia, professor do Instituto de Física e Química da Universidade Federal de Itajubá, um dos autores do estudo.

Para tentar entender como eram as galáxias quando jovens, os pesquisadores usaram o cluster computacional Alphacrucis, instalado no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP).

Trata-se de um dos maiores aglomerados de processadores (são 192 servidores que agregam 2.304 processadores) unicamente dedicados ao estudo da Astronomia. Inaugurado em 2012, o Alphacrucis é um dos maiores supercomputadores do Brasil e foi adquirido com apoio da FAPESP.

“Fizemos simulações de 144 modelos diferentes de queda de gás. Eles variavam, por exemplo, de acordo com a massa e o tamanho da galáxias. A potência computacional do Alphacrucis permitiu que realizássemos todas as simulações ao mesmo tempo, em vez de separadamente, o que economizou muito tempo e acelerou o trabalho”, disse Cavichia.

Foram feitas simulações com galáxias espirais hipotéticas de três tamanhos. Médias, como a vizinha Triângulo (M33), que tem 40 bilhões de estrelas. Grandes, como a Via Láctea, com 400 bilhões de estrelas. E gigantes, como a vizinha mais próxima, Andrômeda (M31), com 1 trilhão de estrelas.

As simulações envolveram a queda do gás naqueles três tipos de galáxias a partir da sua formação inicial, quando o Universo contava apenas 1 bilhão de anos (redshift 6), e prosseguiram ao longo do tempo para estimar o que acontecia quando o Universo tinha 1,5 bilhão de anos (redshift 4), 3 bilhões (redshift 2), 6 bilhões (redshift 1) e 9 bilhões de anos (redshift 0,5). Redshift, ou “desvio para o vermelho”, é a alteração na forma como a frequência das ondas de luz é observada em função da velocidade relativa entre a fonte emissora e o receptor.

Também se procurou analisar a variação da queda do gás a partir da distância que ele se encontrava do núcleo galáctico, sob argumento de que quanto mais perto do núcleo maior é a gravidade e mais rápida a queda. Por outro lado, quanto mais longe do núcleo, menor é a gravidade e mais lenta a queda.

“A hipótese do trabalho era de que as galáxias de maior massa se formariam mais rapidamente do que as de menor massa, pois quanto maior a massa da galáxia, maior é a sua força gravitacional”, disse Cavichia.

“Da mesma forma, nossa hipótese sugeria que o gás deveria cair mais rapidamente nas partes internas da galáxia do que nas externas”, completou Cavichia.

O resultado das simulações foi na direção do que os astrofísicos esperavam, mas trouxe uma surpresa. “A queda do gás é mais ou menos constante, com exceção das regiões centrais”, contou Cavichia.

De fato, quanto mais próximo do núcleo da galáxia está o gás, mais acelerada é a sua queda. E, conforme teorizado, o gás cai de forma mais lenta nas galáxias de menor massa.

Mas isso não quer dizer que as galáxias pequenas se formaram mais lentamente do que as grandes; e as grandes, por sua vez, mais devagar do que as gigantes. “O que a simulação revelou foi que todas as galáxias, tanto gigantes quanto grandes e pequenas, capturam gás a uma taxa muito similiar à medida que o tempo passa”, explicou Cavichia.

A maior parte do gás interestelar disponível para a formação de novas estrelas já teria caído quando o Universo completou 9 bilhões de anos, o que está de acordo com as observações astronômicas.

O passo atual dessa pesquisa é estudar a abundância química de elementos, como por exemplo o oxigênio, nos discos das galáxias simuladas. O objetivo é determinar a quantidade correspondente de cada elemento químico no gás presente nos discos formados e avaliar se a similaridade observada na taxa de queda de gás para galáxias de diferentes massas tem algum reflexo na distribuição dos elementos químicos ao longo do tempo nestas galáxias.

O estudo foi publicado no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

Fonte: FAPESP

Quando galáxias colidem

Esta mancha delicada no espaço profundo é muito mais turbulenta do que parece.

IRAS 14348-1447

© Hubble (IRAS 14348-1447)

Conhecido como IRAS 14348-1447, um nome derivado do projeto que o descobriu, o Infrared Astronomical Satellite (IRAS), este objeto celeste é na verdade a combinação de duas galáxias espirais ricas em gás. Esta dupla condenada se aproximou muito no passado, e a gravidade puxou uma para a outra lentamente, destruindo-as e as fundindo num só objeto. A imagem mostrada aqui foi feita pela Advanced Camera for Surveys (ACS) do Hubble.

O IRAS 14348-1447 está localizado a mais de um bilhão de anos-luz da Terra. É um dos exemplos mais ricos em gás conhecidos de uma galáxia ultraluminosa infravermelha, uma classe de objetos cósmicos que brilha de forma característica e intensa na região infravermelha do espectro. Quase 95% da energia emitida pelo IRAS 14348-1447 está no infravermelhodistante!

A quantidade enorme de gás molecular dentro do IRAS 14348-1447 abastece sua emissão, e origina uma série de processos dinâmicos enquanto interage e se move ao redor; estes mecanismos são responsáveis pela própria aparência giratória e etérea do IRAS 14348-1447, criando caudas e saliências proeminentes que se estendem para longe do corpo principal da galáxia.

Fonte: NASA

domingo, 1 de janeiro de 2017

Dois astros são detectados próximos da Terra

A missão NEOWISE descobriu recentemente dois novos objetos com características peculiares em órbitas próximas da Terra.

ilustração do 2016 WF9

© NASA/JPL-Caltech (ilustração do 2016 WF9)

O primeiro recebeu a designação provisória de 2016 WF9 e deverá aproximar-se do nosso planeta no dia 25 de fevereiro de 2017, a uma distância de 51 milhões de quilômetros. O segundo é o cometa C/2016 U1 NEOWISE, um pequeno objeto escuro que viaja numa trajetória hiperbólica, o que sugere que poderá estar numa primeira incursão através do Sistema Solar interior.

O 2016 WF9 foi descoberto a 27 de novembro de 2016 e tem aproximadamente 0,5 a 1,0 km de diâmetro. A sua órbita transporta-o através do Cinturão de Asteroides, desde as proximidades da órbita de Júpiter até ao interior da órbita da Terra. A sua superfície é bastante escura, refletindo apenas uma pequena percentagem da luz solar incidente. Objetos com estas características poderão ter múltiplas origens. A maioria são antigos membros das populações de asteroides ricos em carbono que habitam as regiões mais exteriores do Cinturão de Asteroides. Uma pequena fração são provavelmente antigos cometas que perderam a maioria dos compostos voláteis que originalmente se encontravam depositados junto à superfície.

cometa C2016 U1 NEOWISE

© Michael Jäger (cometa C/2016 U1 NEOWISE)

O C/2016 U1 NEOWISE foi detectado a 21 de outubro de 2016 e, ao contrário do 2016 WF9, exibe uma coma bem definida. Nas próximas duas semanas deverá aumentar consideravelmente o seu brilho, podendo tornar-se visível através de uns bons binóculos. Neste momento é possível observar o C/2016 U1 NEOWISE pouco antes do nascer do Sol, na direção da constelação do Ofiúco. Nos próximos dias, o cometa irá mover-se cada vez mais para sul, até alcançar o periélio da sua órbita no dia 14 de janeiro, momento em que o seu brilho deverá ultrapassar a 6ª magnitude.

As trajetórias dos dois objetos são já suficientemente bem conhecidas para excluir qualquer possibilidade de colisão com a Terra num futuro próximo.

Fonte: Astronomy Now