domingo, 14 de agosto de 2016

O Coelho da Páscoa chega a NGC 4725

Inicialmente chamado "Easterbunny" (Coelho da Páscoa) pela equipe que o descobriu, e oficialmente denominado Makemake, ele é o segundo mais brilhante planeta anão do Cinturão de Kuiper.

NGC 4725 e Makemake

© Bob English (NGC 4725 e Makemake)

Makemake foi descoberto em 31 de março de 2005, um pouco antes da Páscoa, no Observatório Palomar, por uma equipe liderada por Michael Brown, e anunciado em 29 de julho de 2005. Ele é o terceiro maior planeta anão do Sistema Solar e o maior objeto transnetuniano conhecido, com um diâmetro de cerca de dois terços o de Plutão. Sua superfície é coberta por metano, etano e possivelmente nitrogênio e tem uma baixa temperatura média de cerca de -243,2°C.

Este mundo gélido aparece duas vezes nesta imagem astronômica(riscos em vermelho), baseada em dados obtidos em 29 e 30 de junho, da brilhante galáxia espiral NGC 4725, que possui apenas um braço. Ela tem mais de 100.000 anos-luz de diâmetro, estando distante 41 milhões de anos-luz.

Makemake é marcado por curtas linhas vermelhas, com sua posição mudando através do campo de visão de um telescópio caseiro durante duas noites ao longo de uma órbita distante.

Naquelas datas, quase coincidente com a linha de visão da galáxia espiral na constelação da Cabeleira de Berenice, Makemake estava distante cerca de 52,5 UA (unidades astronômicas), ou 7,3 horas-luz de distância. Sabe-se agora que Makemake tem ao menos uma lua.

Fonte: NASA

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Galáxias em colisão no Quinteto de Stephan

Qualquer uma destas galáxias irão sobreviver?

NGC 7318

© Hubble/Jose Jimenez Priego (NGC 7318)

As duas espirais catalogadas como NGC 7318 encontram-se em colisão. A fotografia em destaque foi criada a partir de imagens obtidas pelo telescópio espacial Hubble.

Quando as galáxias chocam entre si, ocorre uma distorção gravitacional com condensação do gás para produzir novos episódios de formação de estrelas, e, finalmente, a fusão das duas galáxias.

Uma vez que estas duas galáxias fazem parte do Quinteto de Stephan, um embate derradeiro de galáxias provavelmente acontecerá ao longo dos próximos bilhões de anos, com o eventual resultado de muitas estrelas espalhadas e uma grande galáxia.

Provavelmente, a galáxia restante não será facilmente identificada através dos seus componentes galácticos iniciais.

O Quinteto de Stephan foi o primeiro grupo de galáxias identificado que fica a cerca de 300 milhões de anos luz de distância, e é visível por intermédio de um telescópio de tamanho moderado na direção da constelação do Cavalo Alado (Pegasus).

Fonte: NASA

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Um laboratório estelar em Sagitário

O pequeno punhado de estrelas azuis brilhantes situado em cima e à esquerda nesta imagem enorme do ESO, com 615 milhões de pixels, é o laboratório cósmico perfeito para estudar a vida e a morte das estrelas.

aglomerado estelar M18

© ESO (aglomerado estelar M18)

Conhecido por Messier 18 (M18), este aglomerado estelar contém estrelas que se formaram ao mesmo tempo a partir da mesma nuvem massiva de gás e poeira. Esta imagem de 30.577 por 20.108 pixels, que também mostra nuvens vermelhas de hidrogênio brilhante e filamentos escuros de poeira, foi captada pela câmera OmegaCAM montada no VLT Survey Telescope (VST, o telescópio de rastreio do VLT), situado no Observatório do Paranal do ESO, no Chile.

O M18, também está listado no New General Catalogue com o nome NGC 6613, foi descoberto e catalogado em 1764 por Charles Messier durante uma busca de objetos do tipo de cometas. Situa-se no coração da Via Láctea, a cerca de 4.600 anos-luz de distância na constelação do Sagitário, e é constituído por muitas estrelas "irmãs" ligeiramente ligadas gravitacionalmente no que se chama um aglomerado aberto.

Existem mais de 1.000 aglomerados estelares abertos na Via Láctea, cobrindo uma enorme variedade de propriedades, tais como tamanho e idade, e que fornecem aos astrônomos pistas de como as estrelas se formam, evoluem e morrem. A principal vantagem de estudar estes aglomerados é que, para cada um deles, todas as estrelas nascem ao mesmo tempo a partir do mesmo material.

No M18 as cores azuis e brancas da população estelar indicam que as estrelas do aglomerado são muito jovens, provavelmente com apenas cerca de 30 milhões de anos. O fato de serem “irmãs” significa que quaisquer diferenças entre as estrelas será apenas devida à sua massa e não à sua distância à Terra ou à composição do material que lhes deu origem. Este fato faz com que os aglomerados sejam muito úteis para afinar teorias de formação e evolução estelar.

Sabemos que a maioria das estrelas se formam em grupo, forjadas a partir da mesma nuvem de gás que colapsa sobre si mesma devido à força da gravidade. A nuvem de gás e poeira que resta após a formação estelar e que envolve as estrelas recém-formadas, é muitas vezes “soprada” para longe pelos fortes ventos estelares, enfraquecendo assim as correntes gravitacionais que unem as estrelas.

Com o tempo, as estrelas "irmãs" pouco ligadas, como as da imagem, seguem caminhos separados à medida que interações com outras estrelas vizinhas e nuvens massivas de gás as empurram ou puxam, separando-as. A nossa estrela, o Sol, fez outrora muito provavelmente parte de um aglomerado parecido com o M18, até que as suas companheiras se foram gradualmente distribuindo pela Via Láctea.

As faixas escuras que serpenteiam ao longo da imagem são filamentos de poeira cósmica que bloqueiam a radiação emitida por estrelas distantes.  As fracas nuvens avermelhadas contrastantes que permeiam a imagem por entre as estrelas são compostas por hidrogênio gasoso ionizado. O gás brilha porque estrelas jovens extremamente quentes como estas emitem radiação ultravioleta intensa, a qual arranca os elétrons do gás ao redor, fazendo com que este emita o tênue brilho que observamos na imagem. Sujeito a condições adequadas, este material poderá um dia colapsar sobre si mesmo, dando à Via Láctea mais uma “ninhada” de estrelas, num processo de formação estelar que pode continuar indefinidamente.

Fonte: ESO

domingo, 7 de agosto de 2016

Outra Terra?

À procura de outra Terra? Uma equipe internacional de pesquisadores identificou quais dos mais de 4.000 exoplanetas descobertos pela missão Kepler da NASA são mais suscetíveis de serem semelhantes com o nosso planeta.

ilustração do exoplaneta Kepler-186f

© Danielle Futselaar (ilustração do exoplaneta Kepler-186f)

A pesquisa descreve 216 planetas localizados na "zona habitável", a área em torno de uma estrela na qual a superfície de um planeta pode abrigar água líquida. Desses, listam 20 que são os melhores candidatos a planetas rochosos habitáveis como a Terra.

"Este é o catálogo completo de todas as descobertas do Kepler que estão na zona habitável das suas estrelas hospedeiras," afirma Stephen Kane, professor associado de física e astronomia da Universidade Estatal de São Francisco e autor principal do estudo. "Isto significa que podemos focar-nos nos planetas do estudo e realizar acompanhamento para aprender mais sobre eles, inclusive se são realmente habitáveis."

zona habitável de estrelas e exoplanetas

© Chester Harman (zona habitável de estrelas e exoplanetas)

Esta tabela mostra a zona habitável de estrelas com diferentes temperaturas, bem como a posição de candidatos planetários de tamanho terrestre e planetas confirmados do Kepler descritos na nova pesquisa. Alguns dos planetas rochosos do Sistema Solar são também mostrados para comparação.

A pesquisa também confirma que a distribuição dos planetas Kepler dentro da zona habitável é a mesma que a distribuição daqueles fora dela, uma evidência adicional de que o Universo está repleto de planetas e luas onde a vida pode potencialmente existir.

Os limites da zona habitável são críticos. Se um planeta está demasiado perto da sua estrela, sofre um efeito de estufa descontrolado, como Vênus. Mas se está demasiado longe, qualquer água aí presente congela, como em Marte. Kane e colegas ordenaram os planetas consoante uma interpretação mais conservativa da zona habitável. Em seguida, ordenaram-nos novamente por tamanho: planetas pequenos e rochosos vs. gigantes gasosos.

As quatro categorias têm o objetivo de ajudar os astrônomos na sua investigação. Aqueles que procuram luas potencialmente habitáveis podem estudar exoplanetas nas categorias de gigantes gasosos, por exemplo.

Os 20 planetas na categoria mais restrita - superfície rochosa e uma zona habitável conservadora - são os mais propensos a serem parecidos com a Terra. Kane já começou a recolher dados adicionais sobre esses planetas, bem como de outros nas restantes categorias.

O estudo e o levantamento de mais de 4.000 exoplanetas levou mais de três anos e envolveu pesquisadores da NASA, da Universidade Estatal do Arizona, do Caltech, da Universidade do Havaí, da Universidade de Bordeaux, da Universidade de Cornell e do Centro Harvard-Smithsonian para Astrofísica.

"É emocionante ver a enorme quantidade de planetas que existem por aí, o que nos faz pensar sobre a probabilidade de vida em outros lugares," afirma Michelle Hill, aluna australiana que estuda na Universidade Estatal de São Francisco e que esteve envolvida no estudo.

"Existem muitos candidatos planetários e o tempo de telescópio para os estudar é curto," comenta Kane. "Esta pesquisa é realmente um grande marco em direção a responder as perguntas fundamentais de quão comum é a vida no Universo e quão comuns são os planetas como a Terra."

A pesquisa detalhada será publicada num artigo da revista The Astrophysical Journal.

Fonte: San Francisco State University

sábado, 6 de agosto de 2016

O que as cores das galáxias nos dizem sobre a sua evolução?

Cientistas podem ter respondido à questão pela qual as galáxias de cor verde são raras no Universo e de que modo suas cores podem revelar um passado conturbado. A pesquisa foi divulgada no National Astronomy Meeting na Universidade de Nottingham.

imagens virtuais de galáxias azuis, verdes e vermelhas

© U. Durham/J. Trayford/EAGLE (imagens virtuais de galáxias azuis, verdes e vermelhas)

A equipe internacional, liderada pelo Institute for Computational Cosmology, da Universidade de Durham, usou novos modelos computacionais do Universo para investigar as cores das galáxias e o que elas nos contam sobre a sua evolução. Usando simulações EAGLE de última geração, os pesquisadores construíram um modelo que explica como as idades e as composições das estrelas se traduzem na cor das luzes produzidas pelas galáxias que as hospedam. As simulações também mostraram que as cores das galáxias podem ajudar a prever como elas evoluem.

Enquanto as galáxias vermelhas e azuis são relativamente comuns, as verdes são raras e provavelmente estão passando por uma importante etapa transitória de sua evolução, transitando do azul (quando as estrelas e os exoplanetas estão nascendo) para o vermelho, ou seja, quando as estrelas envelhecidas dominam o cenário.

O pesquisador James Trayford, estudante de doutoramento na ICC que liderou a pesquisa, afirmou: As galáxias emitem um brilho azul saudável enquanto há novas estrelas e exoplanetas sendo criados. No entanto, quando a formação de estrelas cessa, as galáxias tornam-se vermelhas, tal como as estrelas que começam a envelhecer e a morrer. No Universo real, vemos muitas galáxias azuis e vermelhas, mas as galáxias verdes intermédias são mais raras. Isto sugere que as poucas galáxias verdes que conseguimos observar estão provavelmente em um estágio crítico da sua evolução, transitando rapidamente do azul para o vermelho.

A equipe descobriu que como as estrelas se formam a partir de gás denso seria necessário um processo poderoso para destruir rapidamente as reservas de gás e causar as mudanças dramáticas na cor. James Trayford acrescentou: Em um estudo recente, nós seguimos as simulações computacionais da evolução de galáxias à medida que mudavam de cor e investigamos os processos que causam suas alterações. Tipicamente, nós descobrimos que as galáxias verdes menores são violentamente agitadas pela atração gravitacional de uma enorme galáxia vizinha, o que lhes arranca as suas reservas de gás. Ao mesmo tempo, as galáxias verdes maiores podem se autodestruir devido a explosões imensas originadas em buracos negros supermassivos existentes nos seus núcleos, os quais podem afastar o gás denso.

Entretanto, a pesquisa descobriu que há alguma esperança para as galáxias verdes, já que um pequeno e afortunado número delas pode absorver suplementos de gás das regiões vizinhas. Isto pode reavivar a formação de estrelas e exoplanetas e restaurar essas galáxias na cor azul.

James Trayford concluiu: Utilizando simulações computacionais que estudam a alteração das cores das galáxias, podemos acelerar o processo da evolução das galáxias, desde os bilhões de anos que leva no Universo real para apenas uns dias em computador. Isto significa que não vemos apenas as cores das galáxias congeladas no tempo, podemos ver a sua evolução. Outra vantagem é que podemos remover fatores indesejáveis, responsáveis pela alteração das cores que vemos, como nuvens de poeira que impedem que a luz se escape das galáxias. Como as simulações EAGLE que usamos representam um novo nível de realismo, podemos ter uma maior confiança na aplicação destes resultados ao Universo real.

Fonte: Royal Astronomical Society

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Um vazio estelar gigante na Via Láctea

Uma grande revisão é necessária em nossa compreensão da Via Láctea de acordo com uma equipe internacional liderada pelo Prof Noriyuki Matsunaga, da Universidade de Tóquio.

ilustração da distribuição de Cefeidas na Via Láctea

© U. Tokyo (ilustração da distribuição de Cefeidas na Via Láctea)

Astronomos japoneses, sul-africanos e italianos acham que há uma enorme região ao redor do centro de nossa galáxia, que é desprovido de estrelas jovens.

A Via Láctea é uma galáxia espiral que contém muitos bilhões de estrelas, com o nosso Sol cerca de 26.000 anos-luz do seu centro. Medir a distribuição destas estrelas é crucial para a nossa compreensão de como a Via Láctea se formou e evoluiu. Estrelas pulsantes chamadas Cefeidas são ideais para isso. Elas são muito mais jovens (entre 10 e 300 milhões de anos de idade) do que o nosso Sol (4,6 bilhões de anos) e pulsam com brilho em um ciclo regular. A duração deste ciclo está relacionada com a luminosidade da Cefeida, por isso, ao monitorá-las é possível estabelecer quão brilhante a estrela realmente é, compará-la com o que vemos da Terra, e inferir a sua distância.

Apesar disso, encontrar Cefeidas na Via Láctea interna é difícil, pois a galáxia está repleta de poeira interestelar que bloqueia a luz e esconde muitas estrelas de vista. A equipe de Matsunaga compensou esta situação, com uma análise das observações em infravermelho próximo feitas com um telescópio localizado em Sutherland, África do Sul. Para sua surpresa, encontraram quase nenhuma Cefeida em uma enorme região que se estende por milhares de anos-luz do núcleo da galáxia.

Noriyuki Matsunaga explica: "Já tínhamos descoberto, há algum tempo, que há variáveis Cefeidas no centro da Via Láctea (em uma região compacta com um raio de aproximadamente 150 anos-luz). Agora, descobrimos que, fora dessa região, há um enorme vazio de Cefeidas, estendendo-se até 8.000 anos-luz do centro".
Isto sugere que uma grande parte da nossa galáxia, o denominado disco interno extremo, não tem estrelas jovens. Michael Feast, coautor do estudo, observa: "Nossas conclusões são contrárias ao outro trabalho recente, mas estão de acordo com o trabalho de radioastrônomos que não observam novas estrelas nascendo neste deserto."

Giuseppe Bono, coautor do estudo, aponta: "Os resultados atuais indicam que não houve formação de estrelas significativa nesta grande região ao longo de centenas de milhões de anos. O movimento e a composição química das novas Cefeidas estão nos ajudando a entender melhor a formação e evolução da Via Láctea ".
As Cefeidas são mais tipicamente usadas para medir as distâncias de objetos no Universo distante, e o novo trabalho é um exemplo de como a mesma técnica pode revelar a estrutura da Via Láctea.

Um artigo sobre este trabalho foi publicado na revista Monthly Notices da Royal Astronomical Society.

Fonte: Royal Astronomical Society

A flutuação da atmosfera de Io

Cientistas observaram o colapso da fina atmosfera de Io durante a passagem da lua joviana pela sombra de Júpiter.

Io e Júpiter

© NASA/Cassini (Io e Júpiter)

A descoberta sugere que os gases liberados pelos vulcões de Io são diretamente convertidos em gelo quando a lua atravessa a sombra do planeta. “Esta foi a primeira vez que este extraordinário fenômeno foi observado diretamente pelos cientistas,” disse Constantine Tsang, pesquisador do Southwest Research Institute, nos Estados Unidos.

Com mais de 400 vulcões ativos na sua superfície, Io é o objeto geologicamente mais ativo do Sistema Solar. Os vulcões são uma consequência da dissipação do calor de maré produzido pelo atrito gerado no interior de Io pela ação das forças gravitacionais de Júpiter e das luas Europa e Ganimedes. Muitos destes vulcões geram gigantescas plumas compostas por dióxido de enxofre (SO2) e materiais piroclásticos, que se elevam até 483 km acima da superfície ioniana.

Usando o telescópio Gemini de 8,1 metros, localizado no Havaí, e o instrumento chamado Texas Echelon Cruz Enchelle Spectrograph (TExES) foi possível monitorar as alterações nas emissões térmicas dos gases vulcânicos que compõem a fina atmosfera de Io, durante a sua passagem pela sombra de Júpiter. As observações foram realizadas nas noites de 17 e 24 de novembro de 2013, quando Io se encontrava a mais de 676 milhões de quilômetros de distância da Terra. Os eclipses ionianos duram cerca de 2 horas e ocorrem uma vez em cada órbita (Io tem um período orbital aproximado de 42 horas e 28 minutos). Em ambas as ocasiões, os cientistas observaram a lua ao longo de 40 minutos antes do seu ingresso na sombra de Júpiter e de 50 minutos logo após o início do eclipse.

Os dados recolhidos mostram que a pressão de SO2 junto à superfície de Io cai dramaticamente quando as temperaturas descem de -148 ºC para -168 ºC, logo após o ingresso da lua na sombra do planeta. Estes resultados sugerem que a atmosfera de Io colapsa durante cada eclipse, devido provavelmente à deposição do SO2 atmosférico na superfície da lua sob a forma de gelo, e que volta a pressurizar-se assim que a lua é novamente banhada pela luz solar.

“Isto confirma que a atmosfera de Io está constantemente num estado de colapso e reparação, e mostra que uma grande fração da atmosfera é suportada pela sublimação do gelo de SO2,” explicou John Spencer, pesquisador do Southwest Research Institute. “Embora os vulcões hiperativos de Io sejam a principal fonte de SO2, a luz solar controla a pressão atmosférica numa base diária através do controle da temperatura do gelo na superfície. Há muito que suspeitávamos disto, mas agora pudemos ver finalmente este fenômeno acontecendo.”

Fonte: Journal of Geophysical Research

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Hubble contempla uma estrela morta

Esta bela imagem realizada pelo telescópio espacial Hubble registra a parte remanescente de uma estrela morta.

DEM L316A

© Hubble (DEM L316A)

Estes filamentos ondulados de gás ionizado, denominados DEM L316A, estão localizados a cerca de 160.000 anos-luz de distância da Terra, dentro de uma das vizinhas galácticas mais próximas da Terra, a Grande Nuvem de Magalhães.

A explosão que formou a DEM L316A foi um exemplo de uma supernova especialmente energética e brilhante conhecida como Tipo Ia. Acredita-se que estes eventos de supernovas ocorram quando uma estrela do tipo anã branca, rouba mais material do que ela pode lidar de uma companheira estelar próxima e fica desequilibrada. O resultado é um lançamento espetacular de energia na forma de uma brilhante e violenta explosão, que ejeta as camadas externas da estrela no espaço ao redor a uma imensa velocidade. À medida que esse gás viaja através do material interestelar, ele se aquece e ioniza, produzindo o brilho que a Wide Field Câmera 3 do Hubble registra.

A Grande Nuvem de Magalhães orbita a Via Láctea como uma galáxia satélite e é a quarta maior galáxia no nosso grupo de galáxias, o chamado Grupo Local. A DEM L316A não é a única remanescente de supernova na Grande Nuvem de Magalhães, o Hubble já registrou uma em 2010, a SNR 0509, e uma em 2013, a SNR 0519.

Fonte: ESA

sábado, 30 de julho de 2016

A estrela jovem mais solitária vista pelos telescópios Sptizer e WISE

Sozinha na estrada cósmica, longe de qualquer outro objeto celeste conhecido, uma jovem estrela independente está passando por um tremendo surto de crescimento.

  ilustração de objeto celeste emitindo raios X

© NASA/JPL-Caltech (ilustração de objeto celeste emitindo raios X)

O objeto invulgar, de nome CX330, foi detectado pela primeira vez como uma fonte de raios X em 2009 pelo observatório de raios X Chandra da NASA enquanto examinava o bojo na região central da Via Láctea. Outras observações indicaram que este objeto estava também emitindo luz no visível. Com apenas estas pistas, os cientistas não faziam ideia que objeto era.

Mas quando Chris Britt, pesquisador pós-doutorado da Texas Tech University em Lubbock, e colegas examinaram imagens infravermelhas da mesma área obtidas com o WISE (Wide-field Infrared Survey Explorer) da NASA, aperceberam-se que este objeto tinha em seu redor quantidades enormes de poeira, que deverá ter sido aquecida por uma explosão.

Ao compararem os dados de 2010 do WISE com dados do Spitzer obtidos em 2007, os pesquisadores determinaram que a CX330 é provavelmente uma estrela jovem que passa por um surto de atividade há já vários anos. Na verdade, nesse período de três anos o seu brilho aumentou algumas centenas de vezes.

Os astrônomos analisaram dados do objeto obtidos por vários outros observatórios, incluindo os terrestres SOAR, Magalhães e Gemini. Também usaram os grandes levantamentos telescópicos VVV e o OGLE-IV para medir a intensidade da luz emitida por CX330. Ao combinarem todas estas diferentes perspetivas sobre o objeto, surgiu uma imagem mais clara.

"Tentamos várias interpretações e a única que faz sentido é que esta jovem estrela em rápido crescimento está se formando no meio do nada," afirma Britt, autor principal de um estudo sobre a CX330.

O comportamento da estrela solitária tem semelhanças com FU Orionis, uma estrela jovem que teve um surto de atividade inicial em 1936-7, durante três meses. Mas a CX330 é mais compacta, mais quente e provavelmente mais massiva do que objetos conhecidos e parecidos com FU Orionis. A estrela mais isolada lança "jatos" mais rápidos, fluxos de material que batem no gás e poeira em seu redor.

"O disco provavelmente aqueceu até ao ponto em que o gás no disco ficou ionizado, levando a um rápido aumento na velocidade com que o material cai para a estrela," explica Thomas Maccarone, professor associado da Texas Tech University.

O mais intrigante para os astrônomos, é que FU Orionis e objetos raros do mesmo gênero, que são conhecidos apenas cerca de 10, estão localizados em regiões de formação estelar. As estrelas jovens geralmente formam-se e alimentam-se das regiões ricas em gás e poeira em seu redor, em nuvens de formação estelar. Em contraste, a região de formação estelar mais próxima de CX330 está a mais de mil anos-luz de distância.

"A CX330 é mais intensa e mais isolada do que qualquer um desses objetos ativos que já observamos," comenta Joel Green, pesquisador do STScI (Space Telescope Science Institute) em Baltimore, EUA. "Esta pode ser a ponta do iceberg, estes objetos podem estar em toda a parte."

De fato, é possível que todas as estrelas passem por esta fase dramática de desenvolvimento durante a juventude, mas que o surto de explosões seja demasiado curto, numa perspetiva de tempo cosmológico, para que podemos observar muitas delas.

Como é que a CX330 se tornou tão isolada? Uma ideia é que poderá ter nascido numa região de formação estelar, mas foi expulsa para a sua posição atual na Galáxia. Dado que a CX330 está numa fase juvenil do seu desenvolvimento, tem provavelmente menos de um milhão de anos, e ainda está devorando o seu disco envolvente, deve ter-se formado perto da sua localização atual no céu.

"Se tivesse migrado a partir de uma região de formação estelar, não podia ter aqui chegado durante a sua vida sem perder completamente o seu disco," afirma Britt.

A CX330 também pode ajudar os cientistas a estudar o modo como as estrelas se formam em circunstâncias diferentes. Um cenário é que as estrelas se formam através de turbulência. Neste modelo "hierárquico", uma densidade crítica de gás numa nuvem faz com que a nuvem colapse gravitacionalmente numa estrela. Um modelo diferente, chamado "acreção competitiva", sugere que as estrelas começam como núcleos de baixa massa que lutam pela massa do material restante da nuvem. A CX330 encaixa mais naturalmente no primeiro cenário pois as circunstâncias turbulentas podem, teoricamente, permitir a formação de uma estrela solitária.

É ainda possível que outras estrelas, de massa intermédia a baixa, estejam presentes nas imediações da CX330, mas ainda não tenham sido detectadas.

Quando a CX330 foi observada pela última vez em agosto de 2015, ainda estava em surto de atividade. Os astrônomos planejam continuar estudando o objeto, inclusive com telescópios futuros que a poderão estudar em outros comprimentos de onda.

As explosões de atividade numa estrela jovem mudam a química no disco estelar, a partir do qual os planetas podem, eventualmente, formar-se. Caso o fenômeno seja comum, isso significa que os planetas, incluindo o nosso, podem transportar as assinaturas químicas de um antigo disco de gás e poeira marcado por explosões estelares.

Mas, considerando que a CX330 continua devorando o seu disco com uma voracidade cada vez maior, os astrônomos não contam encontrar planetas em formação neste sistema.

"Se for realmente uma estrela massiva, o seu tempo de vida será curto e violento", conclui Green.

Este estudo foi publicado recentemente na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

Fonte: Jet Propulsion Laboratory

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Anã branca castiga anã vermelha com raio misterioso

Astrônomos utilizaram o Very Large Telescope (VLT) do ESO, e mais outros telescópios tanto no solo como no espaço, e descobriram um novo tipo de estrela binária bastante exótica.

  ilustração do exótico sistema binário de estrelas AR Scorpii

  © M. Garlick/U. Warwick/ESO (ilustração do exótico sistema binário de estrelas AR Scorpii)

No sistema AR Scorpii, uma anã branca em rotação rápida acelera elétrons até quase à velocidade da luz. Estas partículas de alta energia liberam quantidades de radiação que fuzilam a estrela companheira, uma anã vermelha, fazendo com que todo o sistema pulse drasticamente a cada 1,97 minutos e libere radiação que vai do ultravioleta até as ondas de rádio.

Em maio de 2015, um grupo de astrônomos amadores da Alemanha, Bélgica e Reino Unido encontrou um sistema estelar que se comportava de um modo nunca antes observado. Observações feitas em seguida, lideradas pela Universidade de Warwick e fazendo uso de vários telescópios, colocados tanto no solo como no espaço, revelaram a verdadeira natureza deste sistema até então mal identificado.

O sistema estelar AR Scorpii, ou AR Sco, situa-se na constelação do Escorpião e está a 380 anos-luz de distância da Terra. É composto por uma anã branca em rotação rápida, do tamanho da Terra mas com cerca de 200 mil vezes mais massa, e por uma anã vermelha fria, de tipo espectral M, com um terço da massa do Sol, que se orbitam mutuamente com um período de 3,6 horas, executando uma dança cósmica tão regular como um relógio.

As anãs brancas correspondem à fase final da vida de estrelas com massas até cerca de 8 vezes a massa solar. Quando a fusão do hidrogênio no núcleo da estrela termina, as variações internas levam a uma drástica expansão da estrela, dando origem a uma gigante vermelha, seguida de uma contração acompanhada pelo lançamento das camadas exteriores da estrela para o espaço interestelar em grandes nuvens de gás e poeira. O que resta é uma anã branca, de cerca do tamanho da Terra mas 200 mil vezes mais densa. O equivalente a uma única colher de matéria de uma anã branca pesa tanto como um elefante na Terra.

Este sistema binário de estrelas exibe um comportamento muito violento. Altamente magnetizada e girando muito depressa, a anã branca acelera elétrons até quase à velocidade da luz. À medida que estas partículas de alta energia se deslocam no espaço, liberam radiação num raio semelhante a um farol, que atinge a anã vermelha fria, fazendo com que todo o sistema brilhe e apague a cada 1,97 minutos. Estes pulsos poderosos incluem radiação nas frequências de rádio, algo que nunca tinha sido antes detectado num sistema com uma anã branca.

O pesquisador principal Tom Marsh, do Grupo de Astrofísica da Universidade de Warwick, comenta: “AR Scorpii foi descoberta há mais de 40 anos, mas não suspeitamos da sua verdadeira natureza até começarmos a observá-la em 2015. Percebemos que estávamos vendo algo extraordinário poucos minutos depois de começarmos as observações.”

As propriedades observadas de AR Sco são únicas e misteriosas. A radiação emitida ao longo de uma grande gama de frequências indica emissão de elétrons acelerados em campos magnéticos, o que pode ser explicado pela anã branca em rotação. A fonte de elétrons propriamente dita permanece, no entanto, um mistério; não é claro se estará associada à própria anã branca ou à sua companheira mais fria.

AR Scorpii foi inicialmente observada no início da década de 1970 e as suas flutuações de brilho regulares a cada 3,6 horas fizeram com que fosse erroneamente classificada como uma estrela variável isolada. Uma estrela variável mostra uma flutuação no seu brilho quando vista a partir da Terra. Estas flutuações podem ser devidas a variações de propriedades intrínsecas à própria estrela. Por exemplo, algumas estrelas expandem-se e contraem-se de forma notória. As flutuações podem também ter origem num outro objeto que regularmente eclipsa a estrela. AR Scorpii foi confundida com uma única estrela variável, uma vez que a órbita de duas estrelas em torno uma da outra resulta também em flutuações regulares no brilho observado.

A verdadeira natureza da variação em luminosidade da AR Scorpii foi revelada graças aos esforços conjuntos de astrônomos profissionais e amadores. Uma pulsação semelhante tinha sido já observada anteriormente, mas vinda de estrelas de nêutrons, alguns dos objetos celestes mais densos conhecidos no Universo, e não de anãs brancas.

Boris Gänsicke, também da Universidade de Warwick, conclui: “Conhecemos estrelas de nêutrons pulsando há quase 50 anos e algumas teorias previam que as anãs brancas poderiam também apresentar um comportamento semelhante. É muito excitante termos descoberto um tal sistema e é também um exemplo fantástico de colaboração entre astrônomos amadores e profissionais.”

Este trabalho foi publicado ontem na revista Nature.

Fonte: ESO

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Olho ancião no céu

Em uma descoberta rara, o Observatório Astronômico Nacional do Japão (NAOJ), juntamente com uma equipe internacional de pesquisadores da Universidade de Tóquio e do Instituto Kavli para a Física e Matemática do Universo (Kavli IPMU) obtiveram conhecimentos avançados de como a luz de uma galáxia distante pode ser dobrada pelo efeito gravitacional de uma galáxia em primeiro plano. O efeito é conhecido como lente gravitacional.

Olho de Hórus

© NAOJ (Olho de Hórus)

Normalmente, várias imagens com lentes de um único fundo da galáxia são vistas. Em teoria, o primeiro plano de galáxias podem focar várias galáxias de fundo ao mesmo tempo. Os dados mostraram um efeito de lente gravitacional raro, sugerindo o efeito de lente pela galáxia em primeiro plano de duas galáxias de fundo a distâncias diferentes. Tais sistemas, chamados de lentes "Double Source Plane (DSP)", oferecem oportunidades únicas para examinar a física fundamental de galáxias ao estender o nosso conhecimento da cosmologia.

Com base em dados do Sloan Digital Sky Survey (SDSS), a galáxia lente tem um redshift espectroscópico de z = 0,79 (ou 7,0 bilhões de anos-luz de distância). Outras observações dos objetos focados usando o espectrômetro FIRE sensível ao infravermelho no telescópio Magellan confirmou a existência de duas galáxias atrás da lente e co z = 1,30 e o outro em z = 1,99 (9,0 e 10,5 bilhões de anos-luz de distância, respectivamente ). Esta é a primeira lente de DSP para o qual as distâncias para as três galáxias são conhecidas com precisão, o que permite a compreensão mais precisa da distribuição da massa da galáxia em primeiro plano.

Pesquisadores e estudantes fizeram a descoberta ao inspecionar visualmente imagens na sede do NAOJ em Tóquio, como parte de um convite ao telescópio Subaru para estudantes em setembro de 2015. As imagens foram recolhidas a partir da Hiper Suprime-Cam (HSC) do telescópio Subaru, que está montado no Havaí. O Japão está realizando uma pesquisa difundida com a HSC de grandes áreas do céu a uma profundidade sem precedentes como parte do Programa Estratégico Subaru.

O achado raro foi apelidado de "Olho de Hórus" por causa de sua aparência e olho (incluindo nós brilhantes, um arco, e um anel de Einstein), o que é devido a um alinhamento da galáxia central da lente e ambas as fontes, e assemelha-se ao olho de Hórus, o antigo deus do céu egípcio. A pesquisa espera encontrar mais 10 sistemas do mesmo tipo.

Esta descoberta fornece novas perpectivas na física de galáxias e na expansão do Universo ao longo dos últimos bilhões de anos.

A descoberta foi descrita no periódico The Astrophysical Journal Letters.

Fonte: Kavli Institute & University of Tokyo

terça-feira, 26 de julho de 2016

Descoberta rotação vertiginosa do halo da Via Láctea

Astrônomos da Faculdade de Literatura, Ciência e Artes da Universidade de Michigan, EUA, descobriram pela primeira vez que o gás quente no halo da Via Láctea gira na mesma direção e a velocidades comparáveis à do disco da Galáxia, que contém as nossas estrelas, planetas, gases e poeiras.

Via Láctea rodeada por um halo gigante

© NASA/CXC/M. Weiss/Ohio State/A. Gupta (Via Láctea rodeada por um halo gigante)

A nossa Via Láctea e as suas pequenas companheiras estão rodeadas por um halo gigante com mais de um milhão de graus Celsius (visto aqui em azul) que é apenas visível com telescópios de raios X no espaço.

Esta nova pesquisa usou dados de arquivo do XMM-Newton da ESA, e esclarece como os átomos individuais se reuniram para formar estrelas, planetas e galáxias como a nossa, e o que o futuro reserva para estas galáxias.

Foi estabelecido que o disco da Via Láctea girava enquanto o gás quente era estacionário, mas isso está errado. Este reservatório de gás quente também gira, apenas não tão rapidamente quanto o disco.

O estudo foca-se no halo quente e gasoso da nossa Galáxia, que é várias vezes maior do que o disco da Via Láctea e composto por plasma ionizado.

Dado que o movimento produz uma mudança no comprimento de onda da luz, os cientistas mediram estes desvios no céu usando linhas do oxigênio muito quente. O que descobriram foi surpreendente: os desvios medidos pelos pesquisadores mostram que o halo da Galáxia gira na mesma direção que o disco da Via Láctea e a uma velocidade semelhante, 644.000 km/h para o halo vs. 869.000 km/h no disco.

"A rotação do halo quente é uma pista incrível da formação da Via Láctea," comenta Edmund Hodges-Kluck, cientista assistente da pesquisa. "Diz-nos que esta atmosfera quente é a fonte original de uma grande quantidade de matéria no disco."

Os cientistas há muito que se interrogavam do porquê de quase todas as galáxias, incluindo a Via Láctea, parecerem ter matéria em falta, matéria esta que seria de outra forma previsível de encontrar. Os astrônomos acreditam que 80% da matéria no Universo é a misteriosa matéria escura que, até agora, só pode ser detectada graças à sua força gravitacional. Mas até mesmo a maioria dos restantes 20% da matéria comum parece estar ausente dos discos galácticos. Mais recentemente, alguma da matéria faltante foi descoberta no halo. Os pesquisadores dizem que o conhecimento da direção e da velocidade de rotação do halo pode ajudar a aprender tanto como o material aí chegou em primeiro lugar, como a velocidade que podemos esperar para a matéria assentar na Galáxia.

"Agora que sabemos a rotação, os teóricos podem começar a usar estes dados para aprender como a nossa Via Láctea se formou, e o seu eventual destino final," afirma Joel Bregman, professor de astronomia da mesma faculdade.

"Nós podemos usar esta descoberta para aprender muito mais, a rotação deste halo quente será um grande tema para os espectrógrafos de raios X do futuro," conclui Bregman.

A pesquisa foi publicada recentemente na revista The Astrophysical Journal.

Fonte: NASA

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Imagem profunda da Grande e Pequena Nuvens de Magalhães

Será que as duas galáxias satélites mais famosas da nossa Via Láctea podem se colidir no futuro?

imagem profunda da Grande e Pequena Nuvens de Magalhães

© ESO/Yuri Beletsky (imagem profunda da Grande e Pequena Nuvens de Magalhães)

Ninguém sabe ao certo, mas uma inspeção detalhada de imagens profundas como a caracterizada aqui pode indicar tal perspectiva de colisão.

Cada um dos milhares de pontos desta nova imagem representa uma estrela distante e os buracos azuis brilhantes mostram partes das nossas galáxias vizinhas, a Grande e a Pequena Nuvens de Magalhães.

Na foto, a Grande Nuvem de Magalhães (LMC) está no canto superior esquerdo e a Pequena Nuvem de Magalhães (SMC) está no canto inferior direito. O campo circundante é monocromático para destacar filamentos tênues, mostrados em cinza. Uma leve corrente de estrelas parece estar se estendendo desde a SMC para a LMC. Além disso, estrelas à volta da LMC estão distribuídas assimetricamente, indicando em simulações que poderia muito bem ter sido puxadas para fora gravitacionalmente por causa de uma ou mais colisões.

Embora esta imagem pareça ter sido obtida por um telescópio de grande porte, na realidade foi captada a partir do Observatório de La Silla com uma montagem portátil constituída por uma câmera CCD SBIG STL-11000M e uma lente Canon com distância focal fixa. Esta montagem foi descrita num artigo científico em paralelo com simulações de ponta, num exemplo de como uma pequena câmera, uma lente rápida, um longo tempo de exposição e um dos melhores locais para a observação astronômica podem revelar enormes estruturas tênues melhor do que um telescópio grande.
Esta imagem profunda foi captada utilizando o método LRGB e mostra-nos o processo real da criação de belas astrofotografias. As pessoas que tentam fotografar o céu noturno deparam-se com muitos desafios, incluindo a interferência de outras fontes de luz e a necessidade de captar objetos astronômicos com profundidade suficiente.
Tentar maximizar o sinal recebido do alvo, ao mesmo tempo que se minimiza a emissão de outras fontes, o chamado ruído, é um aspecto crucial da astrofotografia. A otimização da razão sinal/ruído consegue-se mais facilmente em preto e branco do que a cores. Por isso, um dos truques normalmente utilizados para captar imagens de alta qualidade consiste numa exposição que produz imagens monocromáticas muito detalhadas como a que aqui apresentamos. Os detalhes coloridos de imagens obtidas através de filtros coloridos podem depois ser sobrepostos ou incorporados, como é o caso das Nuvens de Magalhães da imagem.

Tanto a LMC como a SMC são visíveis a olho nu no céu do sul. Observações telescópicas futuras e simulações de computador são a certeza de continuar o esforço contínuo para entender melhor a história da nossa Via Láctea e seus arredores.

Fonte: NASA & ESO

sexta-feira, 22 de julho de 2016

O primeiro estudo atmosférico de exoplanetas do tamanho da Terra

Usando o telescópio espacial Hubble da NASA/ESA, astrônomos concluíram a primeira pesquisa por atmosferas em planetas temperados do tamanho da Terra localizados além do nosso Sistema Solar e encontraram indícios que aumentam as hipóteses de habitabilidade em dois exoplanetas.

animação do trânsito dos dois exoplanetas

© NASA/ESA/STScI (animação do trânsito dos dois exoplanetas)

Especificamente, descobriram ser improvável que os exoplanetas TRAPPIST-1b e TRAPPIST-1c, a aproximadamente 40 anos-luz de distância, tenham atmosferas inchadas e dominadas por hidrogênio, como é comum nos mundos gasosos.

"A falta de uma concha sufocante de hidrogênio-hélio aumenta as chances de habitabilidade nesses planetas," afirma Nikole Lewis, do STScI (Space Telescope Science Institute) em Baltimore, EUA. "Se tivessem um invólucro significativo de hidrogênio-hélio, não haveria hipótese de qualquer um, potencialmente, suportar vida porque a densa atmosfera agiria como uma estufa."

Julien de Wit do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) em Cambridge, liderou uma equipe de cientistas para observar os planetas no infravermelho próximo usando o instrumento WFC3 (Wide Field Camera 3) do Hubble. Usaram espectroscopia para descodificar a luz e revelar pistas sobre a composição química da atmosfera. Embora o conteúdo atmosférico seja desconhecido e tenhamos que aguardar novas observações, a baixa concentração de hidrogênio e hélio animou os cientistas devido às implicações.

"Estas observações iniciais do Hubble são um promissor primeiro passo para aprender mais sobre estes mundos vizinhos, se são rochosos como a Terra e se podem abrigar vida," explica Geoff Yoder, administrador associado do Diretorado de Missões Científicas da NASA em Washington. "Este é um momento emocionante para a NASA e para a pesquisa exoplanetária."

Os planetas orbitam uma estrela anã vermelha com pelo menos 500 milhões de anos, na direção da constelação de Aquário. Foram descobertos no final de 2015 através de uma série de observações pelo TRAPPIST (TRAnsiting Planets and PlanetesImals Small Telescope), um telescópio robótico belga localizado no Observatório La Silla do ESO no Chile.

O TRAPPIST-1b completa uma órbita em torno da anã vermelha a cada 1,5 dias e TRAPPIST-1c em 2,4 dias. Os planetas estão entre 20 e 100 vezes mais perto da sua estrela do que a Terra está do Sol. Considerando que a estrela hospedeira é muito mais tênue que o nosso Sol, os pesquisadores pensam que pelo menos um dos planetas, TRAPPIST-1c, poderá estar na zona habitável da estrela, onde as temperaturas moderadas podem permitir a existência de água líquida à superfície.

No dia 4 de maio, os astrônomos aproveitaram um raro trânsito simultâneo, em que os dois planetas passaram em frente da estrela a apenas minutos um do outro, para medir a luz estelar à medida que era filtrada pela atmosfera existente. Este duplo trânsito, que ocorre apenas a cada dois anos, forneceu um sinal combinado de indicadores simultâneos das características atmosféricas dos planetas.

Os pesquisadores esperam usar o Hubble para realizar observações de acompanhamento e procurar atmosferas mais finas, compostas de elementos mais pesados do que o hidrogênio, como as atmosferas da Terra e Vênus.

"Com mais dados, talvez pudéssemos detectar metano ou ver as características da água nas atmosferas, o que nos daria estimativas da profundidade das atmosferas," comenta Hannah Wakeford, do Goddard Space Flight Center da NASA.

As observações com telescópios futuros, incluindo o telescópio espacial James Webb da NASA, vão ajudar a determinar a composição completa destas atmosferas e caçar potenciais bioassinaturas, como o dióxido de carbono e o ozônio, além de vapor de água e metano. O Webb também poderá analisar a temperatura e a pressão à superfície de um planeta, fatores primordiais para avaliar a sua habitabilidade.

"Estes planetas do tamanho da Terra são os primeiros mundos que os astrônomos podem estudar em detalhe com telescópios atuais e planejados, a fim de determinar se são adequados para a vida," salienta de Wit. "O Hubble tem a capacidade para desempenhar o papel de pré-triagem atmosférica que indica quais destes planetas parecidos com a Terra são os principais candidatos para um estudo mais detalhado com o telescópio Webb."

Os resultados do estudo foram publicados na revista Nature.

Fonte: Massachusetts Institute of Technology

Espaço… a fronteira final

Cinquenta anos atrás o Capitão Kirk e a tripulação da nave estelar Enterprise começaram sua jornada para o espaço: a fronteira final. Agora, como o mais novo filme de Star Trek, o telescópio espacial da Hubble está igualmente explorarando novas fronteiras, observando galáxias distantes através do programa Frontier Fields.

aglomerado de galáxias Abell S1063

© Hubble/J. Lotz (aglomerado de galáxias Abell S1063)

O último alvo da missão do Hubble é o distante aglomerado de galáxias Abell S1063, potencialmente o lar de bilhões de novos mundos.

O aglomerado pode ser visto no centro da imagem e mostra como ele era há quatro bilhões de anos. Mas o aglomerado de galáxias Abell S1063 permite-nos explorar um tempo ainda mais cedo do que isso, onde nenhum telescópio tem realmente olhado antes. A enorme massa do aglomerado distorce e amplia a luz de galáxias que estão por trás devido a um efeito chamado efeito de lente gravitacional. Isso permite que o Hubble veja galáxias que de outra forma seriam muito fracas para serem observadas e torna possível procurar e estudar a primeira geração de galáxias no Universo.

Os primeiros resultados a partir dos dados sobre o Abell S1063 prometem algumas notáveis ​​descobertas. Uma galáxia já foi encontrada como era apenas um bilhão de anos após o Big Bang.

Os astrônomos também identificaram dezesseis galáxias de fundo, cuja luz foi distorcida pelo aglomerado, fazendo imagens múltiplas delas aparecendo no céu. Isto irá ajudar os astrônomos a melhorar seus modelos de distribuição da matéria comum e escura no aglomerado de galáxias, como a gravidade destes influenciam nos efeitos de distorção. Estes modelos são a chave para a compreensão da natureza misteriosa da matéria escura.

O Abell S1063 não está sozinho em sua capacidade de curvar a luz de galáxias de fundo, nem é o único destas enormes lentes cósmicas a ser estudado utilizando Hubble. Três outros aglomerados já foram observados como parte do programa Frontier Fields, e mais dois serão observados ao longo dos próximos anos, fornecendo uma imagem notável de como eles funcionam e o que está dentro e fora deles.

Os dados recolhidos dos aglomerados de galáxias anteriores foram estudados por equipes de todo o mundo, permitindo-lhes fazer descobertas importantes, tais como: as galáxias que existiam apenas centenas de milhões de anos após o Big Bang e a primeira aparição prevista de uma supernova através de lente gravitacional.

O roteirista e produtor de televisão norte-americano Eugene Roddenberry, o criador de Star Trek, ficaria orgulhoso com tal extensa colaboração internacional.

Fonte: ESA