sábado, 11 de fevereiro de 2023

Um exoplaneta que poderá abrigar vida

Foi recentemente descoberto um exoplaneta onde poderá valer a pena procurar sinais de vida.

© NASA / D. Rutter (exoplaneta rochoso em órbita de estrela anã vermelha)

Análises efetuadas por uma equipe liderada pela astrônoma Diana Kossakoski do Instituto Max Planck para Astronomia descrevem um planeta que orbita a sua estrela hospedeira, a anã vermelha Wolf 1069, na zona habitável.

Esta zona inclui distâncias em torno da estrela para as quais pode existir água líquida à superfície do planeta. Além disso, o planeta, chamado Wolf 1069 b, tem uma massa semelhante à da Terra. Muito provavelmente, este é um planeta rochoso que também pode ter uma atmosfera. Isto torna-o um dos poucos alvos promissores onde procurar sinais de condições favoráveis à vida e bioassinaturas.

Quando os astrônomos procuram planetas localizados além do nosso Sistema Solar, estão particularmente interessados em planetas semelhantes à Terra. Dos mais de 5.000 exoplanetas descobertos até agora, apenas cerca de uma dúzia têm uma massa semelhante à da Terra e habitam na zona habitável, num sistema planetário, onde a água pode manter a sua forma líquida à superfície do planeta. 

Com Wolf 1069 b, temos mais um candidato na lista de exoplanetas sobre os quais a vida poderá ter evoluído. A detecção de planetas com baixa massa continua sendo um grande desafio. 

Como parte do projeto Carmenes, foi desenvolvido um instrumento especificamente para a procura de mundos potencialmente habitáveis. A equipe Carmenes está utilizando este aparelho no Observatório de Calar Alto, na Espanha.

Analisando os dados da estrela Wolf 1069 foi descoberto um sinal claro e de baixa amplitude parecendo ser um planeta com aproximadamente a massa da Terra. Ele orbita a estrela em cerca de 15,6 dias a uma distância equivalente a quinze avos da separação entre a Terra e o Sol. 

De acordo com o estudo, a superfície da estrela anã é relativamente fria e, por isso, parece laranja-avermelhada. Como resultado, a chamada zona habitável desloca-se para mais perto. Apesar da sua pequena distância à estrela, o planeta Wolf 1069 b recebe, portanto, apenas cerca de 65% da energia que a Terra recebe do Sol. Estas condições especiais tornam os planetas em torno de anãs vermelhas como Wolf 1069 potencialmente amigáveis à vida. Além disso, todos eles podem partilhar uma propriedade especial: têm provavelmente bloqueio de marés, ou seja, o planeta tem sempre a mesma face voltada para a estrela. Portanto, há um dia eterno, enquanto do outro lado é sempre noite. Esta é também a razão pela qual vemos sempre o mesmo lado da Lua. 

Se se assumir que Wolf 1069 b é um planeta "nu" e rochoso, a temperatura média mesmo no lado virado para a estrela seria de apenas -23º C. Contudo, de acordo com os conhecimentos atuais, é bem possível que Wolf 1069 b tenha formado uma atmosfera. Sob esta hipótese, a sua temperatura pode subir para 13º C, como demonstram as simulações por computador com modelos climáticos. Nestas circunstâncias, a água continuaria líquida e as condições favoráveis à vida poderiam prevalecer, porque a vida como a conhecemos depende da água.

Uma atmosfera não é apenas uma condição prévia para o aparecimento da vida de um ponto de vista climático. Também protegeria Wolf 1069 b da radiação eletromagnética altamente energética e das partículas que destroem possíveis biomoléculas. A radiação e as partículas ou provêm do espaço interestelar ou da estrela central. Se a radiação da estrela for demasiado intensa, pode também despojar a atmosfera de um planeta, como aconteceu em Marte. Mas, como anã vermelha, Wolf 1069 emite apenas radiação relativamente fraca; assim, neste planeta recentemente descoberto pode ter sido preservada uma atmosfera. 

É até possível que o planeta tenha um campo magnético que o protege das partículas carregadas do vento estelar. Muitos planetas rochosos têm um núcleo líquido, o que gera um campo magnético através do efeito dínamo, semelhante ao do planeta Terra. Tem havido um enorme progresso na busca por exoplanetas desde que o primeiro deste tipo foi descoberto há 30 anos. 

As assinaturas que os astrônomos procuram a fim de detectar planetas com massas e diâmetros semelhantes à Terra são relativamente difíceis de extrair dos dados. A equipe Carmenes está à procura de pequenas mudanças periódicas no espectro estelar. Espera-se que estas mudanças surjam quando um companheiro "puxa" a estrela hospedeira, fazendo com que oscile. Como resultado, a frequência da luz medida a partir da Terra muda devido ao efeito Doppler. 

No caso de Wolf 1069 e do seu recém-descoberto planeta, estas flutuações são suficientemente grandes para serem medidas. Uma das razões é que a diferença de massa entre a estrela e o planeta é relativamente pequena, fazendo com que a estrela oscile em torno do centro de massa do sistema de forma mais pronunciada do que em outros casos. A partir do sinal periódico, a massa do planeta também pode ser estimada. 

A uma distância de 31 anos-luz, Wolf 1069 b é o sexto planeta, de massa terrestre e na zona habitável, mais próximo de nós. Pertence a um pequeno grupo de objetos, como Proxima Centauri b e TRAPPIST-1 e, que são candidatos a buscas por bioassinaturas. No entanto, tais observações estão atualmente para além das capacidades da investigação astronômica. O ELT (Extremely Large Telescope), atualmente em construção no Chile, poderá ser capaz de estudar a composição das atmosferas destes planetas e possivelmente até detectar evidências moleculares de vida. 

Um artigo foi publicado no periódico Astronomy & Astrophysics

Fonte: Max Planck Institute for Astronomy

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