Esta nova imagem obtida no Observatório de La Silla do ESO mostra parte de uma maternidade estelar conhecida como a Nebulosa da Gaivota.
© ESO (vista detalhada da cabeça da Nebulosa da Gaivota)
Esta nuvem de gás, cujo nome formal é Sharpless 2-292, parece ter a forma de uma cabeça de gaivota e brilha intensamente devido à radiação muito energética emitida por uma estrela jovem muito quente que se situa no seu centro.
As nebulosas encontram-se entre os objetos visualmente mais impressionantes do céu noturno. São nuvens interestelares de poeira, moléculas, hidrogênio, hélio e outros gases ionizados, onde novas estrelas estão nascendo. Embora estas nebulosas apresentem diferentes formas e cores, muitas partilham uma característica comum: quando observadas pela primeira vez, as suas formas estranhas e evocativas fazem disparar a imaginação dos astrônomos, que lhes dão nomes curiosos. Esta região dramática de formação estelar, a qual se deu o nome de Nebulosa da Gaivota, não é exceção.
Esta nova imagem obtida pelo instrumento Wide Field Imager, montado no telescópio MPG/ESO de 2,2 metros, instalado no Observatório de La Silla do ESO, no Chile, mostra a parte da cabeça da Nebulosa da Gaivota. É apenas uma parte de uma nebulosa maior conhecida formalmente como IC 2177, que abre as suas asas com uma extenão de mais de 100 anos-luz e se parece com uma gaivota em pleno voo. Esta nuvem de gás e poeira situa-se a cerca de 3.700 anos-luz de distância da Terra. O pássaro inteiro vê-se melhor em imagens de campo amplo.
© ESO (vista de campo amplo de toda a Nebulosa da Gaivota)
A Nebulosa da Gaivota tem tido muitos nomes ao longo do tempo - é conhecido como Sh 2-292, RCW 2 e Gum 1. O nome Sh 2-292 significa que o objeto é o número 292 do segundo catálogo Sharpless de regiões HII, publicado em 1959. O número RCW refere-se ao catálogo compilado por Rodgers, Campbell e Whiteoak e publicado em 1960. Este objeto foi também o primeiro de uma lista de nebulosas austrais compilada por Colin Gum e publicada em 1955. A Nebulosa da Gaivota situa-se na fronteira entre as constelações do Unicórnio e do Cão Maior, próximo de Sirius, a estrela mais brilhante do céu noturno. A nebulosa situa-se a mais de quatro centenas de vezes mais distante do que a famosa estrela.
O complexo de gás e poeira que forma a cabeça da gaivota brilha intensamente no céu devido à forte radiação ultravioleta emitida principalmente por uma estrela brilhante jovem - HD 53367 - a qual pode ser vista no centro da imagem e que poderia ser considerada como o olho da gaivota. A HD 53367 é uma estrela jovem com vinte vezes a massa do nosso Sol. Está classificada como uma estrela Be, o que significa que é uma estrela do tipo espectral B com linhas proeminentes de emissão de hidrogênio no seu espectro. Esta estrela tem uma companheira com uma massa de cinco vezes a do Sol, numa órbita extremamente elíptica.
A radiação emitida pelas estrelas jovens faz com que o hidrogênio gasoso circundante se transforme numa região HII, brilhando em um vermelho vivo. As regiões HII são assim chamadas, uma vez que são constituídas por hidrogênio (H) ionizado, no qual os elétrons já não estão ligados aos prótons. HI é o termo utilizado para o hidrogênio não ionizado, ou seja neutro. O brilho vermelho das regiões HII ocorre porque os prótons e os elétrons se recombinam e nesse processo emitem energia em certos comprimentos de onda bem definidos, ou cores. Uma destas transições bem proeminente (chamada hidrogênio alfa ou H-alfa) origina uma cor vermelha forte. A radiação emitida pelas estrelas azuis-esbranquiçadas é dispersada pelas pequenas partículas de poeira da nebulosa, criando um nevoeiro azul contrastante, em algumas partes da imagem.
Embora um pequeno nódulo brilhante do complexo da Nebulosa da Gaivota tenha sido observado pela primeira vez pelo astrônomo germano-britânico William Herschel em 1785, a parte que aqui se mostra teve que aguardar a descoberta fotográfica cerca de um século mais tarde.
Por acaso, esta nebulosa situa-se no céu perto da Nebulosa do Elmo de Thor (NGC 2359), a qual ganhou o recente concurso do ESO "Escolha o que o VLT vai observar". Esta nebulosa, com a sua forma distinta e nome incomum, foi escolhida como o primeiro objeto selecionado por membros do público para ser observada pelo Very Large Telescope do ESO. Estas observações farão parte das celebrações do dia do 50º aniversário do ESO, 5 de outubro de 2012. As observações poderão ser acompanhadas pela internet diretamente a partir do VLT no Paranal. Mantenha-se atento!
Fonte: ESO