O objeto misterioso 1I/2017 U1 'Oumuamua passou perto da Terra depois de chegar do espaço interestelar profundo.
© ESO/M. Kornmesser (ilustração do objeto 'Oumuamua)
Durante a formação e evolução do Sistema Solar, números significativos de cometa e asteroides foram ejetados para o espaço interestelar. É razoável esperar que acontecesse o mesmo para os sistemas planetários que não os nossos. A detecção de tais objetos interestelares nos permitiria testar os processos de formação planetesimal em torno de outras estrelas, possivelmente junto com os efeitos da exposição a longo prazo ao meio interestelar. O 'Oumuamua é o primeiro objeto interestelar conhecido, descoberto pelo telescópio Pan-STARRS1 em outubro de 2017.
Desde que o objeto foi avistado em outubro, o professor Alan Fitzsimmons e a Dra. Michele Bannister da Queen's University lideraram uma equipe internacional de astrônomos para reunir um perfil do estranho visitante.
A equipe mediu o modo como 'Oumuamua reflete luz solar e descobriu que é parecido com objetos gelados cobertos com uma crosta seca. Isto porque 'Oumuamua está exposto aos raios cósmicos há milhões de anos, talvez bilhões, tendo formado à superfície uma camada isolante rica em materiais orgânicos.
A fotometria na época da descoberta do 'Oumuamua implica um corpo altamente alongado com dimensões de aproximadamente 200 x 20 m quando é assumido um albedo de 0,04. Espera-se que a população de objetos interestelares observáveis seja dominada por corpos semelhantes a cometas de acordo com os espectros coletados, mas a inatividade relatada do 'Oumuamua indica uma falta de gelo superficial.
A pesquisa sugere que a crosta seca de 'Oumuamua poderá ter protegido o seu interior gelado de ser vaporizado, mesmo quando o objeto estava a apenas 37 milhões de quilômetros do Sol em setembro, a sua aproximação máxima à nossa estrela.
Fitzsimmons comenta: "Descobrimos que a superfície de 'Oumuamua é parecida com a dos pequenos corpos do Sistema Solar ricos em carbono, cuja estrutura é alterada pela exposição aos raios cósmicos. Também descobrimos que um revestimento de meio metro de espessura, rico em materiais orgânicos, poderá ter protegido o interior rico em água gelada, interior este como o de um cometa, de vaporizar quando o objeto foi aquecido pelo Sol, apesar de ter alcançado uma temperatura superior a 300º C."
Bannister e sua equipe observaram 'Oumuamua enquanto ainda estava ao alcance dos maiores telescópios do mundo e os seus achados foram publicados na semana passada na revista Astrophysical Journal Letters. Descobriram que o objeto tem a mesma cor que alguns dos gelados planetas menores que estudam nos limites do nosso Sistema Solar. Isto significa que diferentes sistemas planetários na nossa Galáxia contêm planetas menores como o nosso.
Bannister explica: "Descobrimos que este é um planetesimal com uma crosta bem 'cozida' que se parece muito com os mundos menores nas regiões externas do nosso Sistema Solar, tem uma superfície acinzentada/vermelha e é altamente alongado. É fascinante que o primeiro objeto interestelar descoberto se pareça muito com um mundo minúsculo do nosso Sistema Solar. Isto sugere que o modo como os nossos planetas e asteroides se formaram pode ter semelhanças com a formação de sistemas em torno de outras estrelas."
Fonte: Nature Astronomy