quarta-feira, 15 de julho de 2015

Gêmeo de Júpiter descoberto em torno de gêmea do Sol

Uma equipe internacional de astrônomos utilizou o telescópio de 3,6 metros do ESO para identificar um planeta como Júpiter orbitando uma estrela do tipo do Sol, HIP 11915, à mesma distância da estrela que Júpiter do Sol.

ilustração de um gêmeo de Júpiter em torno de estrela

© ESO/M. Kornmesser (ilustração de um gêmeo de Júpiter em torno de estrela)

De acordo com as teorias atuais, a formação de planetas com a massa de Júpiter desempenha um papel importante na arquitetura de sistemas planetários. A existência de um planeta com a mesma massa e numa órbita semelhante à de Júpiter em torno de uma estrela do tipo do Sol abre a possibilidade de que o sistema planetário em torno desta estrela seja semelhante ao nosso próprio Sistema Solar. A HIP 11915 tem aproximadamente a mesma idade que o Sol e, adicionalmente, a sua composição semelhante à do Sol sugere que possam existir também planetas rochosos em órbitas mais próximas da estrela.

Até agora, os rastreios de exoplanetas têm sido mais sensíveis a sistemas planetários que são povoados nas suas regiões mais internas por planetas massivos, com massas de, no mínimo, algumas vezes a massa da Terra. Este aspecto contrasta com o Sistema Solar, onde  existem pequenos planetas rochosos nas regiões interiores e gigantes gasosos como Júpiter mais para o exterior. As atuais técnicas de detecção são mais sensíveis a planetas grandes ou massivos situados próximo das suas estrelas hospedeiras. Planetas pequenos e de pequena massa estão, na maioria dos casos, para além das nossas atuais capacidades de detecção. Planetas gigantes que possuem órbitas mais afastadas das suas estrelas são também mais difíceis de detectar. Consequentemente, muitos dos exoplanetas que conhecemos atualmente são enormes e/ou massivos,  e situam-se próximo das suas estrelas progenitoras.
De acordo com as teorias mais recentes, a arquitetura do Sistema Solar, tão propícia ao desenvolvimento de vida, foi possível graças à presença de Júpiter e da sua influência gravitacional exercida no Sistema Solar durante a fase da sua formação. Este fato leva-nos a crer que encontrarmos um planeta gêmeo de Júpiter é um marco importante na busca de um sistema planetário que seja semelhante ao nosso.
Uma equipe liderada por brasileiros tem observado estrelas do tipo do Sol numa tentativa de encontrar um sistema planetário semelhante ao nosso. A equipe descobriu agora um planeta com uma massa muito semelhante à de Júpiter, em órbita de uma estrela do tipo do Sol, HIP 11915, e quase exatamente na mesma posição que Júpiter ocupa no nosso Sistema Solar. A nova descoberta foi feita com o auxílio do HARPS, um dos instrumentos mais precisos a detectar exoplanetas, montado no telescópio de 3,6 metros do ESO no Observatório de La Silla, no Chile. O planeta foi descoberto ao medir o ligeiro movimento que induz na sua estrela hospedeira enquanto a orbita. Como a inclinação da órbita do planeta não é conhecida, apenas podemos estimar o limite inferior da sua massa. É de notar que a atividade da estrela, que está ligada às variações do seu campo magnético, poderia imitar o sinal que está sendo interpretado como sendo a assinatura do planeta. Os astrônomos fizeram todos os testes que se conhecem para investigar esta possibilidade, no entanto neste momento é ainda impossível descartar completamente esta hipótese.
Embora já se tenham descoberto muitos planetas semelhantes a Júpiter a uma variedade de distâncias de estrelas do tipo solar, o planeta recentemente descoberto, tanto em termos de massa como de distância à sua estrela hospedeira, e em termos de semelhança entre esta estrela e o nosso Sol, é o análogo mais preciso encontrado até agora do Sol e de Júpiter. Um exemplo de outro gêmeo de Júpiter é um planeta que se encontra em torno da estrela HD 154345, descrito neste link.
A hospedeira do planeta, a gêmea solar HIP 11915, não é apenas semelhante ao Sol em termos de massa, mas tem também aproximadamente a mesma idade. Fortalecendo ainda mais as similaridades, a composição desta estrela é semelhante à do Sol. A assinatura química do nosso Sol pode estar parcialmente marcada pela presença de planetas rochosos no Sistema Solar, o que aponta por isso para a possibilidade de existência de planetas rochosos em torno de HIP 11915.
De acordo com Jorge Melendez, da Universidade de São Paulo, Brasil, líder da equipe e co-autor do artigo científico que descreve estes resultados, “a procura de uma Terra 2.0 e de um Sistema Solar 2.0 completo, é um dos esforços mais excitantes da astronomia. Estamos muito entusiasmados por fazer parte desta investigação de vanguarda, tornada possível pelas infraestruturas observacionais disponibilizadas pelo ESO.” 
Desde a assinatura do acordo de adesão do Brasil ao ESO em dezembro de 2010, os astrônomos brasileiros têm tido total acesso a todas as instalações de observação do ESO.

Megan Bedell, da Universidade de Chicago e autora principal do artigo científico, conclui: “Após duas décadas de busca de exoplanetas, estamos finalmente vendo planetas gigantes gasosos de período longo semelhantes aos do nosso próprio Sistema Solar, graças à estabilidade de longo termo de instrumentos “caçadores de planetas” como o HARPS. Esta descoberta é, em todos os aspectos, um sinal muito estimulante de que existem outros sistemas solares à espera de serem descobertos.”
São necessárias observações de acompanhamento para confirmar e delimitar a descoberta, mas a HIP 11915 é, até agora, uma das mais promissoras candidatas a abrigar um sistema planetário semelhante ao nosso.

Este trabalho foi descrito no artigo intitulado “The Solar Twin Planet Search II. A Jupiter twin around a solar twin”, de M. Bedell et al., que será publicado na revista especializada Astronomy and Astrophysics.

Fonte: ESO

terça-feira, 14 de julho de 2015

New Horizons passou hoje mais perto de Plutão

À medida que a sonda New Horizons da NASA aproximava-se do voo histórico de hoje por Plutão, continuava fazendo as suas diversas funções, produzindo imagens de um mundo gelado que se tornou mais fascinante e complexo com o passar dos dias.

misterioso e brilhante coração de Plutão

© NASA/JHUAPL/SWRI (misterioso e brilhante "coração" de Plutão)

No dia 12 de julho, a New Horizons captou a imagem acima a uma distância de 2,5 milhões de quilômetros, que sugere algumas novas características de interesse para a equipe Geology, Geophysics and Imaging (GGI), agora reunida no Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins em Laurel, no estado americano de Maryland. Pela primeira vez, a imagem revela características lineares que podem ser penhascos, bem como uma característica circular que pode ser uma cratera de impacto. Emergindo do lado esquerdo, está a denominada área em forma de coração que será observada em mais detalhe durante a maior aproximação da New Horizons.

A New Horizons percorreu 5 bilhões de quilômetros, durante mais de nove anos, para alcançar Plutão. Às 08:49 de hoje (horário de Brasília), a sonda passou a aproximadamente 12.500 km do planeta anão e a 49.600 km/h, os seus sete instrumentos científicos trabalhando a todo vapor para recolher dados.

A câmara de longo alcance da sonda conseguirá resolver características tão pequenas quanto 70 metros. Cerca de catorze minutos depois da maior aproximação, passou a cerca de 29.000 km de Caronte e esteve também na mira das quatro luas mais pequenas de Plutão: Hydra, Nix, Kerberos e Stix.

Depois da passagem, a sonda irá virar-se para fotografar Plutão eclipsando o Sol, enquanto procura também a existência de anéis ou camadas de poeira iluminadas pela luz.

Os outros seis instrumentos científicos vão construir mapas termais do par Plutão-Caronte, medir a composição da superfície e atmosfera e observar a interação de Plutão com o vento solar. Tudo isto acontecerá em modo automático.

A sonda New Horizons já respondeu a uma das questões mais básicas sobre Plutão; qual é o o seu tamanho?

Os cientistas da missão determinaram que Plutão tem 2.370 km em diâmetro, um pouco maior que as estimativas anteriores. Este resultado confirma o que já se esperava: Plutão é maior do que todos os outros objetos conhecidos para além da órbita de Netuno.

A nova estimativa do tamanho de Plutão significa que a sua densidade é inferior ao que se pensava, e que a fração de gelo no seu interior é ligeiramente maior. Igualmente, a camada mais baixa da atmosfera de Plutão, chamada troposfera, é também mais fina do que se pensava.

A medição do tamanho de Plutão tem sido um desafio de décadas devido a fatores complexos derivados da sua atmosfera. Caronte, a maior lua, não tem uma atmosfera substancial e o seu diâmetro foi mais fácil de determinar usando telescópios terrestres. As observações da New Horizons confirmam as estimativas anteriores de 1.208 km.

A sonda também começou a estudar as luas mais pequenas, nomeadamente Nix e Hydra. Nix tem um tamanho estimado em aproximadamente 35 km, enquanto Hidra mede mais ou menos 45 km. Estes tamanhos levam os cientistas a concluir que as suas superfícies são muito brilhantes, possivelmente devido à presença de gelo.

Referente às restantes duas luas, Kerberos e Stix, estas são mais difíceis de estudar. Os cientistas da missão deverão conseguir determinar os tamanhos com as observações da sonda durante a passagem pelo planeta anão.

As manchas aparecem no lado de Plutão orientado sempre para a sua maior lua, Caronte. Esta face foi invisível para a New Horizons durante a aproximação máxima. Alan Stern, pesquisador principal da New Horizons, descreve a imagem como o "último e melhor olhar que teremos do lado 'oculto' de Plutão durante décadas".

As manchas estão ligadas por uma faixa escura que rodeia a região equatorial de Plutão. O que continua despertando o interesse dos cientistas é o seu tamanho semelhante e até mesmo o espaçamento. "É estranho estarem espaçadas tão regularmente," afirma Curt Niebur, cientista do programa New Horizons na sede da NASA em Washington, EUA. Jeff Moore, do Centro de Pesquisa Ames da NASA, em Mountain View, no estado da Califórnia, está igualmente intrigado: "nós não conseguimos discernir se são planaltos ou planícies, ou se são variações de brilho numa superfície completamente lisa."

As grandes áreas escuras têm um tamanho atualmente estimado em 480 km. Em comparação com as imagens anteriores, vemos agora que as áreas escuras são mais complexas do que inicialmente pareciam, enquanto as fronteiras entre os terrenos escuros e brilhantes são irregulares e bem definidos.

sistema de abismos e crateras de Caronte

© NASA/JHUAPL/SWRI (sistema de abismos e crateras de Caronte)

As imagens mais recentes da maior lua de Plutão, Caronte, revelam que é um mundo de abismos e crateras. De acordo com William McKinnon, da equipe GGI, o mais pronunciado, que se encontra no hemisfério sul, é mais longo e mais profundo que o Grand Canyon da Terra.

"Esta é a primeira evidência de falhas e rupturas à superfície de Caronte," afirma. "A New Horizons tem transformado a nossa visão desta lua distante, de uma bola de gelo quase sem traços característicos, para um mundo que exibe todos os tipos de atividade geológica."

A cratera mais proeminente, que se encontra perto do polo sul de Caronte, vista numa imagem obtida dia 11, mede cerca de 96,5 km de diâmetro. O brilho dos raios, material expelido para fora da cratera, sugere que se formou há relativamente pouco tempo (em termos geológicos), durante uma colisão com um pequeno objeto do Cinturão de Kuiper, talvez durante os últimos bilhões de anos.

O tom escuro do solo da cratera é especialmente interessante. Uma explicação é que a cratera expôs um tipo de material gelado mais refletivo do que o que se encontra à superfície. Outra possibilidade é que o gelo no interior da cratera é o mesmo material que os seus arredores, mas contém grãos maiores de gelo, o que reflete menos luz solar. Neste cenário, o objeto impactante derreteu o gelo no chão da cratera que, em seguida, congelou novamente em grãos maiores.

A região escura e misteriosa perto do polo norte de Caronte prolonga-se por 320 km. As imagens que a sonda enviar, talvez um pouco antes da passagem mais próxima ocorrida, podem fornecer mais pistas sobre a origem da região escura.

Fonte: Johns Hopkins University Applied Physics Laboratory

domingo, 12 de julho de 2015

Buraco negro colossal evolui na sua galáxia anfitriã

Uma nova descoberta vai contra a maioria das observações sobre os buracos negros, que são objetos enormes do espaço com gravidade extraordinariamente forte que pode puxar qualquer coisa, inclusive a luz.

M87

© NASA/Canada-France-Hawaii Telescope/J.-C. Cuillandre (M87)

Na maioria dos casos, os buracos negros e suas galáxias hospedeiras expandem no mesmo ritmo. Mas os astrônomos têm descoberto um buraco negro amplamente dimensionado no início do Universo que cresceu muito mais rápido do que a sua galáxia hospedeira.

Este buraco negro especial foi formado no início do Universo, cerca de dois bilhões de anos após o Big Bang. Um grupo internacional de pesquisadores fizeram a descoberta durante um projeto para mapear o crescimento de buracos negros supermassivos em todo o tempo cósmico. A equipe incluiu astrônomos da Universidade de Yale, ETH Zurique, do Instituto Max-Planck na Alemanha, da Universidade Harvard, da Universidade do Havaí, INAF-Osservatorio Astronomico di Roma, e a Universidade de Oxford.
"Nossa pesquisa foi projetada para observar os objetos médios, e não os exóticos", disse C. Megan Urry da Universidade Yale. "Este projeto dirige-se especificamente aos buracos negros moderados que habitam atualmente galáxias típicas. Foi um choque ver um buraco negro extremamente grande em um campo tão profundo."

Levantamentos de campo profundo destinam-se a olhar para galáxias fracas; eles apontam para pequenas áreas do céu por um longo período de tempo, ou seja, o volume total do espaço a ser amostrado é relativamente pequeno.

Este buraco negro particular, localizado na galáxia CID-947, está entre os maiores buracos negros já encontrados. Ele mede cerca de 7 bilhões de massas solares (uma massa solar é equivalente à massa do nosso Sol, ou seja 2 x 10³º kg).

No entanto, foi a massa da galáxia circundante que mais surpreendeu a equipe de pesquisa. "As medições correspondem à massa de uma galáxia típica," disse o autor Benny Trakhtenbrot, pesquisador do Instituto de Astronomia ETH Zurich. "Estamos, portanto, tendo um buraco negro gigantesco dentro de uma galáxia de tamanho normal."

A maioria das galáxias, incluindo a nossa própria Via Láctea, tem um buraco negro em seu centro, segurando milhões a bilhões de massas solares. O novo estudo desafia as noções anteriores sobre a forma como as galáxias hospedeiras crescem em relação aos buracos negros, e também as sugestões anteriores de que a radiação emitida pelos buracos negros em expansão limitam a criação de estrelas.

Estrelas ainda estavam se formando na CID-947 e a galáxia continuava a crescendo. A galáxia CID-947 poderia ser uma precursora de sistemas massivos extremos observados no Universo local de hoje, como a galáxia NGC 1277, na constelação de Perseu, localizada 220 milhões de anos-luz da Via Láctea. Mas, o crescimento do buraco negro ainda antecipou muito o crescimento da galáxia circundante, ao contrário do que os astrônomos pensavam anteriormente.

Urry e seus colegas creditaram o observatório W.M. Keck no Havaí e o Chandra COSMOS que auliaram o trabalho da equipe. "A sensibilidade e versatilidade do novo espectrômetro infravermelho do Keck, MOSFIRE, foi fundamental para essa descoberta", disse Urry.

O buraco negro no centro da galáxia elíptica super gigante M87 mostrado na parte superior da imagem no aglomerado de Virgem está a 50 milhões de anos-luz de distância, é o buraco negro mais massivo, cuja uma massa exata foi medida com 6,6 bilhões de massas solares. Orbitando a galáxia está uma anormalmente grande população de cerca de 12.000 aglomerados globulares, em comparação com 150 a 200 aglomerados globulares que orbitam a Via Láctea.

A equipe teorizou que o buraco negro da M87 alcançou seu tamanho enorme, mesclando com vários outros buracos negros. A galáxia M87 é a de maior massa no Universo próximo, e provavelmente pode ter sido formada pela fusão de galáxias menores.

Obtenha mais informações no artigo noticiado neste blog.

Um estudo sobre o fenômeno foi publicado na revista Science.

Fonte: Universidade Yale

sábado, 11 de julho de 2015

Uma galáxia florescendo

As conchas fantasmagóricas da galáxia ESO 381-12 são captadas numa nova imagem feita pelo telescópio espacial Hubble da NASA/ESA, contra um fundo salpicado de galáxias distantes.

galáxia ESO 381-12

© Hubble/P. Goudfrooij (galáxia ESO 381-12)

A estrutura e os aglomerados de estrelas que orbitam a galáxia sugerem que a ESO 381-12 pode ter sido parte de uma grande colisão que ocorreu em algum momento num passado relativamente presente.

Localizada a aproximadamente 270 milhões de anos-luz de distância da Terra, na constelação de Centaurus (O Centauro), uma brilhante constelação da porção sul do céu, a ESO 381-12, também conhecida como PGC 42871 pode ter recentemente interagido com outra galáxia, enviando ondas de choque através de sua estrutura como ondas numa piscina. Essas fusões galácticas são processos violentos, que comprimem material dentro das galáxias em colisão e mudam completamente sua aparência e o seu desenvolvimento futuro. Esse violento evento provavelmente disparou uma onda de formação de estrelas através da galáxia, levando à criação de muitas estrelas quentes e jovens.

Os astrônomos têm estudado a ESO 381-12 em detalhe devido à sua estrutura pouco comum. Ela foi uma das amostras de galáxias exploradas pela Advanced Camera for Surveys do Hubble durante um recente estudo das propriedades das galáxias de conchas criadas em eventos de fusão ocorridos a um bilhão de anos atrás.

A proeminente galáxia na direita da imagem, conhecida como ESO 381-13 ou PGC 42877, é uma diferente amostra onde tanto a formação ativa de estrelas como a poeira podem ser vistas em seu interior. Contudo, as galáxias ESO 381-12 e  ESO 381-13 estão a distâncias muito parecidas da Terra, e, apesar de suas diferenças podem estar interagindo.

Fonte: Space Telescope Science Institute

O centro do alvo de um buraco negro

O que parece ser um alvo de tiro é na verdade uma imagem de anéis imbricados de luz de raios X centrados num buraco negro em erupção.

anéis de luz de raios X centrados no sistema V404 Cygni

© NASA/Swift/Andrew Beardmore (anéis de luz de raios X centrados no sistema V404 Cygni)

A imagem acima mostra anéis de luz de raios X centrados no V404 Cygni, um sistema binário que contém um buraco negro em erupção (ponto no centro), foram fotografadas pelo telescópio de raios X a bordo do satélite Swift da NASA em 30 de junho a a 4 de julho deste ano. A cor indica a energia dos raios X, com a mais baixa representando o vermelho (800 a 1.500 eV elétron-volts), o verde para energias intermediárias (1.500 a 2.500 eV), e a mais energética (2.500 a 5.000 eV) mostrado em azul. Para comparação, a luz visível tem energias que variam desde cerca de 2 a 3 eV. As linhas escuras que aparecem diagonalmente através da imagem são artefatos do sistema de imagem.

No dia 15 de Junho de 2015, o satélite Swift da NASA detectou o início de uma nova explosão da V404 Cygni, onde um buraco negro e uma estrela parecida com o Sol se orbitam. Desde então, os astrônomos ao redor do mundo têm monitorado o show de luz.

No dia 30 de Junho de 2015, uma equipe liderada por Andrew Beardmore na Universidade de Leicester, no Reino Unido, imageou o sistema usando o telescópio de raios X a bordo do Swift revelando uma série de anéis concêntricos se estendendo cerca de um terço do tamanho aparente da Lua Cheia. Um filme feito pela combinação das observações adicionais adquiridas nos dias 2 e 4 de Julho de 2015 mostram a expansão e o gradativo apagamento dos anéis.

Os astrônomos dizem que os anéis resultam de um eco da luz de raios X. As flares do buraco negro emitem raios X em todas as direções. Camadas de poeira refletem parte desses raios X de volta para a Terra, mas a luz viaja uma distância maior e atinge nooso planeta pouco tempo depois do que a luz que viaja numa trajetória mais direta. O intervalo de tempo cria o eco de luz, formando os anéis que se expandem com o tempo.

Análises detalhadas dos anéis em expansão mostram que todos eles originam de uma grande flare que ocorreu no dia 26 de Junho de 2015, às 14:40, hora de Brasília. Existem múltiplos anéis pois existem múltiplas camadas de poeira de reflexão entre 4.000 e 7.000 anos-luz de distância de nós. O monitoramento regular dos anéis e como eles mudam à medida que a erupção continua permitirá aos astrônomos entenderem melhor sua natureza.

“O planejamento flexível das observações do Swift tem nos dado as melhores imagens de anéis de raios X espalhados pela poeira já feitas”, disse Beardmore. “Com essas observações nós podemos fazer um estudo detalhado da poeira interestelar normalmente invisível na direção desse buraco negro”.

O V404 Cygni está localizado a cerca de 8.000 anos-luz de distância. A cada duas décadas o buraco negro tem entrado em atividade, gerando uma explosão de alta energia. Sua erupção anterior aconteceu em 1989.

Veja outros detalhes na notícia veiculada aqui.

Fonte: Goddard Space Flight Center

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Messier 43: uma grande região de formação estelar

Frequentemente fotografada mas raramente mencionada, Messier 43 (M43) é uma grande região HII de formação estelar.

M43

© Yuri Beletsky/Igor Chilingarian (M43)

A M43, também conhecida como NGC 1982 e Nebulosa De Mairan, foi descoberta por Jean-Jacques De Mairan Dortous em 1731.

A M43 faz parte do complexo de formação de formação estelar de gás e poeira que inclui a mais famosa vizinha, a Messier 42 (M42), a grande nebulosa de Órion. Na verdade, a grande nebulosa de Órion está fora da borda inferior desta cena. A imagem mais próxima da M43 foi obtida durante os testes das capacidades de um instrumento que capta infravermelho próximo acoplado em um dos telescópios gêmeos Magalhães de 6,5 metros no observatório Las Campanas nos Andes chilenos.

A imagem composta desvia os comprimentos de onda infravermelhos invisíveis para as cores: azul, verde e vermelha. Perscrutando dentro das cavernas de poeira interestelar que obscurecem a luz visível, a visão em infravermelho próximo também pode ser usada para estudar as frias estrelas anãs marrons nesta região complexa, juntamente com o sua célebre vizinha (M42). A M43 está localizada  a cerca de 1.500 anos-luz de distância, na borda da nuvem molecular gigante da Órion. A essa distância, este campo de visão se estende por cerca de 5 anos-luz.

Fonte: NASA

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Novo rastreio enorme irá ajudar a compreender a matéria escura

Foram divulgados os primeiros resultados de um novo rastreio importante de matéria escura no céu austral, conduzido pelo VLT Survey Telescope (VST) do ESO , montado no Observatório do Paranal, no Chile.

rastreio KiDS mostrando a presença de matéria escura

© ESO/Kilo-Degree Survey Collaboration (rastreio KiDS mostrando a presença de matéria escura)

O rastreio KiDS do VST permitirá aos astrônomos fazer medições precisas de matéria escura, da estrutura de halos de galáxias e da evolução de galáxias e aglomerados. Os primeiros resultados KiDS mostram como é que as características das galáxias observadas são determinadas pelos enormes halos de matéria escura invisível que as rodeiam.

Cerca de 85% da matéria do Universo é escura e de um tipo que não é compreendido pelos físicos. Os astrônomos descobriram que o conteúdo total massa/energia do Universo está dividido segundo as seguintes proporções: 68% de energia escura, 27% de matéria escura e 5% de matéria dita normal. Por isso, se descartarmos a energia escura, 85% do total de matéria (sendo o total de matéria 27% + 5%) estará relacionado com a fração de matéria dita escura (já que 27/32 ~ 0,85). Embora esta matéria não brilhe nem absorva radiação, é possível detectá-la através do efeito que tem sobre estrelas e galáxias, particularmente devido à sua atração gravitacional. Um projeto importante que utiliza os telescópios de rastreio do ESO acaba de mostrar de modo extremamente claro a ligação entre esta misteriosa matéria escura e as galáxias brilhantes que observamos de forma direta. Cálculos feitos com supercomputadores mostram como é que um Universo cheio de matéria escura evolui: ao longo do tempo a matéria escura junta-se formando uma enorme rede cósmica e as galáxias e estrelas formam-se onde o gás é “puxado” pelas concentrações mais densas de matéria escura.
O projeto, chamado Kilo-Degree Survey (KiDS), faz uso de imagens do VLT Survey Telescope e da sua enorme câmera, a OmegaCAM. Situado no Observatório do Paranal no Chile, este telescópio dedica-se a mapear o céu noturno no visível, sendo complementado pelo telescópio de rastreio infravermelho, o VISTA. Um dos objetivos principais do VST é mapear a matéria escura e utilizar estes mapas para compreender a misteriosa energia escura que faz com que a expansão do Universo esteja acelerando.
A melhor maneira para descobrir onde é que se encontra a matéria escura é utilizar o efeito de lente gravitacional, a distorção do tecido do Universo devido à gravidade, a qual deflete a radiação emitida por galáxias distantes, que se encontram muito além da matéria escura. Ao estudar este efeito, é possível mapear os lugares onde a gravidade é mais forte, e portanto descobrir onde é que a matéria, incluindo a matéria escura, se encontra.
Fazendo parte da primeira remessa de artigos científicos, a equipe internacional (Holanda, Reino Unido, Alemanha, Itália e Canadá) de pesquisadores KiDS, liderada por Koen Kuijken do Observatório de Leiden, na Holanda, utilizou este método para analisar imagens de mais de dois milhões de galáxias, a cerca de 5,5 bilhões de anos-luz de distância. Este trabalho utilizou mapas 3D de grupos de galáxias, obtidos pelo projeto GAMA (Galaxy and Mass Assembly), na sequência de extensas observações no Telescópio Anglo-Australiano. A equipe estudou a distorção da radiação emitida por estas galáxias, que se curva ao passar por enormes halos de matéria escura no seu percurso até à Terra.
Os primeiros resultados vêm de apenas 7% da área total do rastreio e concentram-se em mapear a distribuição de matéria escura em grupos de galáxias. A maioria das galáxias vivem em grupos, incluindo a nossa própria Via Láctea que faz parte do Grupo Local, e compreender quanta matéria escura é que contêm é um teste crucial à teoria de formação de galáxias na rede cósmica. Os resultados obtidos através do efeito de lente gravitacional mostram que estes grupos contêm cerca de 30 vezes mais matéria escura que matéria visível.
“O mais interessante é que a galáxia mais brilhante encontra-se quase sempre no meio do halo de matéria escura,” diz Massimo Viola do Observatório de Leiden, Holanda, autor principal de um dos primeiros artigos científicos do KiDS.
“Esta previsão da teoria de formação de galáxias, que diz que as galáxias continuam se juntando em grupos e se concentrando nos seus centros, nunca tinha sido demonstrada anteriormente de modo observacional de forma tão clara ,” acrescenta Koen Kuijken.
Estes resultados são apenas o início de um programa principal que vai explorar bases de dados enormes obtidas pelos telescópios de rastreio, sendo que estes dados começam agora a ficar disponíveis a todos os cientistas do mundo através do arquivo do ESO.
O rastreio KiDS ajudará a aumentar o nosso conhecimento da matéria escura. Ser capaz de explicar a matéria escura e os seus efeitos representará um enorme avanço na física.

Este trabalho foi descrito numa série de artigos científicos que foram submetidos a diversas revistas especializadas, tais como: Astronomy & Astrophysics e Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

Fonte: ESO

Atividade solar em luz ultravioleta e raios X

As regiões ativas do Sol são destacadas nessa imagem composta que combina observações feitas por uma frota de satélites que monitoram o Sol: o NuSTAR (Nuclear Spectroscopic Telescope Array) da NASA, o Hinode da JAXA e o SDO (Solar Dynamics Observatory) da NASA.

emissão de raios X e luz ultravioleta pelo Sol

© NASA/JPL-Caltech/GSFC/JAXA (emissão de raios X e luz ultravioleta pelo Sol)

A imagem acima mostra a emissão de raios X de alta energia do NUSTAR (em azul), raios X de baixa energia do Hinode (verde) e luz ultravioleta extrema do SDO (amarelo e vermelho). Todos os três telescópios captaram suas imagens solares aproximadamente ao mesmo tempo em 29 de abril de 2015.

“Nós podemos ver nessa imagem algumas regiões ativas no Sol. O nosso Sol está no estado próximo do repouso do seu ciclo de atividade, mas ainda tem alguns anos antes de atingir o mínimo da atividade”, disse o Dr. Iain Hannah da Universidade de Glasgow, que apresentou a imagem no dia 8 de Julho de 2015 no National Astronomy Meeting em Llandudno, em Wales no Reino Unido.

“Essas regiões ativas do Sol são preenchidas com flares, que ocorrem quando as linhas do campo magnético tornam-se instáveis e se quebram, e então se reconectam”.

Devido à sua extrema sensibilidade, o NuSTAR não pode ver as maiores flares. Mas ele pode ajudar a medir a energia das microflares menores, que produzem somente um milionésimo da energia das flares maiores.

O NuSTAR também pode ser capaz de detectar diretamente as hipotéticas nanoflares que teriam somente um bilionésimo da energia das flares.

“Embora não seja otimizado para observações solares, a alta sensibilidade do NuSTAR pode pesquisar emissões de raios X anteriormente inacessíveis do Sol. Por exemplo, as fracas assinaturas de raios X de uma energia coronal lançanda numa região nas flares ocultas ou buscar por emissões não térmicas de nanoflares em regiões não ativas num Sol mais calmo”. Nós ainda precisamos que o Sol fique mais calmo no decorrer dos próximos anos para que possamos ter a habilidade de detectar esses eventos”, disse o Dr. Hannah.

“Enquanto o nosso Sol se aproxima da sua parte final de tranquilidade no seu ciclo aproximado de 11 anos, ele ainda tem mostrado suspiros de elevada atividade”.

“O que é magnífico sobre o NuSTAR é que o telescópio é tão versátil que nós podemos caçar buracos negros a milhões de anos-luz de distância e também aprender algo fundamental sobre a estrela que está no nosso quintal”, disse o co-autor Dr. Brian Grefenstette do Instituto de Tecnologia da Califórnia, em Pasadena.

Fonte: Royal Astronomical Society

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Explosões de raios gama de longa duração têm origem em magnetar

Observações obtidas nos observatórios de La Silla e Paranal no Chile demonstraram pela primeira vez que existe uma ligação entre uma explosão de raios gama de longa duração e uma explosão de supernova de brilho incomum.

ilustração de uma explosão de raios gama e de uma supernova originadas por um magnetar

© ESO (ilustração de uma explosão de raios gama e de uma supernova originadas por um magnetar)

Os resultados mostram que a supernova não teve origem em decaimento radioativo, como se esperava, mas sim em campos magnéticos muito fortes decaindo em torno de um objeto exótico conhecido como magnetar.

As explosões de raios gama constituem um dos eventos associados às maiores explosões que ocorreram desde o Big Bang. São detectadas por telescópios em órbita sensíveis a este tipo de radiação altamente energética, a qual não consegue penetrar a atmosfera terrestre, e são igualmente observadas a maiores comprimentos de onda por outros telescópios, situados tanto no espaço como no solo.
As explosões de raios gama duram tipicamente alguns segundos, mas em casos muito raros podem ocorrer durante horas. As explosões de raios gama de longa duração duram entre 2 e 2.000 segundos. Existem quatro explosões conhecidas com durações entre 10.000 e 25.000 segundos, as chamadas explosões de raios gama de duração muito longa. Uma destas explosões de longa duração foi captada pelo satélite Swift em 9 de dezembro de 2011 e chamada GRB 111209A. Foi simultaneamente uma das mais longas e mais brilhantes explosões de raios gama já observada. Existe também uma classe distinta de explosões de curta duração que se pensa ter origem num mecanismo diferente.
À medida que o brilho remanescente da explosão ia desaparecendo, o evento foi estudado pelo instrumento GROND montado no telescópio MPG/ESO de 2,2 metros em La Silla e pelo instrumento X-shooter no Very Large Telescope (VLT) no Paranal. Foi encontrada uma assinatura clara de uma supernova, chamada mais tarde SN 2011kl. Esta é a primeira vez que uma supernova é descoberta associada a uma explosão de raios gama de muito longa duração. A ligação entre supernovas e explosões de raios gama de longa duração (normal) foi estabelecida inicialmente em 1998, principalmente através de observações da supernova 1998bw obtidas nos observatórios do ESO, e confirmada em 2003 com a GRB 030329.
O autor principal do novo artigo científico que descreve estes resultados, Jochen Greiner do Max-Planck-Institut für extraterrestrische Physik, Garching, Alemanha, explica: “Uma vez que apenas uma explosão de raios gama de longa duração é produzida para cada 10.000 a 100.000 supernovas, a estrela que explodiu deve ser de algum modo muito especial. Os astrônomos pensavam que estas explosões de raios gama tinham origem em estrelas muito massivas, cerca de 50 vezes a massa do Sol, e que assinalavam a formação de um buraco negro. No entanto, as nossas novas observações da supernova SN 2011kl, descoberta após a GRB 111209A, estão modificando este paradigma relativamente às explosões de raios gama de muito longa duração.”
Num cenário favorável do colapso de uma estrela massiva, espera-se que a intensa emissão ótica/infravermelha da supernova, com duração de cerca de uma semana, venha do decaimento do níquel-56 radioativo formado durante a explosão. Pensa-se que a explosão de raios gama propriamente dita tem origem em jatos relativísticos produzidos pelo material da estrela colapsando para um objeto compacto central através de um disco de acreção denso e quente. No entanto, no caso de GRB 111209A as observações combinadas do GROND e do VLT mostraram sem ambiguidades, e pela primeira vez, que isto não era o que se passava. A quantidade de níquel-56 medido na supernova com o instrumento GROND é demasiado elevada para poder ser compatível com a emissão ultravioleta forte que se observa com o instrumento X-shooter. Outras sugestões foram igualmente postas de lado. Outras fontes de energia sugeridas para explicar as supernovas superluminosas eram interações por choques com o material circundante, possivelmente ligadas a conchas estelares ejetadas antes da explosão, ou uma estrela progenitora supergigante azul. No caso da SN 2011kl as observações excluem de forma clara ambas estas hipóteses.
A única explicação que justifica as observações da supernova associada à GRB 111209A é que esta terá tido origem numa magnetar, uma estrela de nêutrons minúscula que gira centenas de vezes por segundo e que possui um campo magnético muito mais potente que as estrelas de nêutrons normais, as quais são também conhecidas por pulsares rádio. As pulsares constituem a classe mais comum de estrelas de nêutrons observáveis. Pensa-se que as estrelas magnéticas desenvolvem campos magnéticos 100 a 1.000 vezes mais fortes que os observados nas pulsares. Pensa-se que as magnetares são os objetos mais magnetizados no Universo conhecido. Esta é a primeira vez que uma ligação clara entre uma supernova e uma magnetar foi identificada.
Paolo Mazzali, co-autor do estudo, reflete sobre o significado desta nova descoberta: “Estes resultados fornecem evidências de uma relação inesperada entre explosões de raios gama, supernovas muito brilhantes e magnetares. Já há alguns anos que suspeitávamos de algumas destas relações do ponto de vista teórico, mas conseguir ligar tudo isto é realmente um desenvolvimento muito interessante.”
“O caso de SN 2011kl e GRB 111209A obriga-nos a considerar alternativas ao cenário de uma estrela em colapso. Estes resultados aproximam-nos de ideias novas e muito mais claras sobre o funcionamento das explosões de raios gama”, conclui Jochen Greiner.

Este trabalho foi descrito num artigo científico intitulado “A very luminous magnetar-powered supernova associated with an ultra-long gamma-ray burst”, de J. Greiner et al., que será publicado amanhã na revista Nature.

Fonte: ESO

terça-feira, 7 de julho de 2015

Um buraco negro sob uma lente gravitacional

Os observatórios espaciais Integral, Fermi e Swift usaram o poder de ampliação de uma lente cósmica para explorar as regiões internas de um buraco negro supermassivo.

  ilustração de uma lente gravitacional ampliando um buraco negro

  © ESA/ATG medialab (ilustração de uma lente gravitacional ampliando um buraco negro)

Os raios gama são a radiação altamente energética emitida por alguns dos objetos mais extremos do Universo. Por exemplo, jatos de raios gama que se deslocam quase à velocidade da luz são originários de áreas ao redor dos buracos negros. Pensa-se que estes jatos são emitidos por material superaquecido que gira descontroladamente à medida que é devorado pelo buraco negro.

Os nossos telescópios nunca serão poderosos o suficiente para revelar estas regiões internas e os cientistas lutam para examinar exatamente o modo como estes jatos são expelidos para o Universo.

"Considerando que não podemos ver claramente o que está acontecendo, nós não compreendemos totalmente este comportamento," afirma Andrii Neronov da Universidade de Genebra, Suíça.

"No entanto, o nosso método permitiu-nos 'resolver' esta região e obter uma ideia da zona do espaço diretamente em torno de um buraco negro supermassivo conhecido como PKS 1830-211."

Este buraco negro está localizado a muitos bilhões de anos-luz de distância. Nem o satélite Integral da ESA nem o telescópio de raios gama Fermi da NASA conseguem observar a região sem ajuda, mas uma feliz coincidência forneceu uma "mãozinha": uma microlente gravitacional.

"Vistos da Terra, os buracos negros são pequenos. É porque estão muito, muito longe," afirma o Dr. Neronov. "Tentar observar o PKS 1830-211 é como tentar observar uma formiga na Lua. Nenhum dos nossos telescópios consegue observar algo tão pequeno, por isso usamos um truque para resolver tal problema, aplicando uma enorme lente gravitacional."

Objetos cósmicos gigantescos, desde estrelas individuais a aglomerados de galáxias, dobram e focam a luz que flui ao seu redor graças à gravidade, agindo como lupas gigantes.

O Dr. Neronov e colegas usaram uma galáxia situada entre o alvo e a Terra para fazer "zoom" do buraco negro e assim medir o tamanho da região que emite os jatos, a primeira vez que este método foi usado com raios gama.

A zona observada do céu cobre uma região com cerca de 100 vezes a distância Terra-Lua. Em termos astronômicos, é notavelmente pequena.

"As nossas observações demonstram que os raios gama vêm das imediações do próprio buraco negro," comenta o Dr. Neronov. "Isto dá-nos uma ideia do que é e não é importante na produção dos jatos. É incrível sermos capazes de ver coisas tão pequenas a distâncias enormes. Estou muito animado por ter um 'buraco negro-escópio' para investigar as regiões internas dos jatos."

A observação da fonte de raios gama com o Integral da ESA e o Fermi e Swift da NASA permitiu com que os astrônomos contruíssem uma imagem mais completa da radiação que flui para fora.

Os raios gama mais energéticos, detectados pelo Fermi, parecem ser provenientes da pequena base do jato. a região com o tamanho de "uma formiga na Lua", enquanto os menos energéticos, detectados pelo Integral, foram emitidos pela muito maior região circundante.

A equipe também estudou raios X usando o Integral e o Swift. Descobriram que estes raios X surgem de uma região em volta do buraco negro que se estende até mais ou menos 400 bilhões de quilômetros.

"Este buraco negro é um dos mais poderosos objetos conhecidos do seu gênero. A caracterização da sua emissão nos fornece muito mais informações acerca da formação destes jatos," afirma Erik Kuulkers, cientista do projeto Integral da ESA.

"Felizmente, o buraco negro está situado na direção do centro da nossa Galáxia, por isso o Integral observa-o com frequência."

"Estas observações fornecem informações exclusivas sobre os processos de alta energia que ocorrem em torno de buracos negros supermassivos, pelo que nos permite 'espreitar' o interior de estruturas minúsculas que estão a enormes distâncias de nós."

Um artigo sobre o assunto foi publicado ontem na edição online da revista Nature Physics.

Fonte: ESA e Max-Planck-Gesellschaft

Contando estrelas com o Gaia

A imagem abaixo com base nos dados do satélite Gaia da ESA, não é uma representação comum dos céus. Embora a imagem retrate o esboço da nossa Galáxia, a Via Láctea, e das suas vizinhas, as Nuvens de Magalhães, foi obtida de uma forma bastante invulgar.

mapa de densidade estelar da Via Láctea

© ESA/Gaia/Edmund Serpell (mapa de densidade estelar da Via Láctea)

À medida que o Gaia varre o céu para medir posições e velocidades de bilhões de estrelas com uma precisão sem precedentes, para algumas estrelas também determina a sua velocidade através do sensor da câmara. Esta informação é usada em tempo real pelo sistema de controle de atitude e órbita a fim de garantir que a orientação do satélite é mantida com a precisão desejada.

Estas estatísticas de velocidade são frequentemente enviadas para a Terra, juntamente com os dados científicos. Incluem o número total de estrelas, usadas no circuito de controle de atitude, que são detetadas a cada segundo em cada um dos campos de visão do Gaia.

Foi este último conjunto de dados, basicamente uma indicação da densidade de estrelas pelo céu, o usado para produzir esta visualização invulgar da esfera celeste. As regiões mais brilhantes indicam concentrações mais altas de estrelas, enquanto as regiões mais escuras correspondem a áreas do céu onde são observadas menos estrelas.

O plano da Via Láctea, onde a maioria das estrelas da Galáxia residem é, evidentemente, a região mais brilhante da imagem, estendendo-se na horizontal e especialmente brilhante no centro. As regiões mais escuras em toda esta vasta faixa de estrelas, conhecida como Plano Galáctico, correspondem a nuvens interestelares e densas de gás e poeira que absorvem luz estelar ao longo da linha de visão.

O Plano Galáctico é a projeção sobre o céu do disco Galáctico, uma estrutura achatada com um diâmetro de aproximadamente de 100.000 anos-luz e uma altura vertical de apenas 1.000 anos-luz.

Para além do plano apenas são visíveis alguns objetos, principalmente a Grande e a Pequena Nuvem de Magalhães, duas galáxias anãs que orbitam a Via Láctea e que se destacam na parte inferior da imagem.

Alguns aglomerados globulares - grandes aglomerados com até milhões de estrelas mantidas juntas pela sua gravidade mútua - polvilham também os arredores do Plano Galáctico. Os aglomerados globulares, a população mais antiga de estrelas da Galáxia, situam-se principalmente num halo esférico que se estende até 100.000 anos-luz do centro da Via Láctea.

O aglomerado globular NGC 104 é facilmente visível na imagem, à esquerda imediata da Pequena Nuvem de Magalhães. Outros aglomerados fechados destacam-se na versão legendada da imagem.

Curiosamente, a maioria das estrelas brilhantes visíveis a olho nu e que formam as constelações do céu, não estão contabilizadas na imagem porque são demasiado brilhantes para serem usadas pelo sistema de controle do Gaia. Da mesma forma, a Galáxia de Andrômeda, o maior vizinho galáctico da Via Láctea, também não se destaca na imagem.

Contraintuitivamente, apesar do Gaia transportar uma câmara de bilhões de pixéis, não é uma missão destinada a obter imagens do céu: está fazendo o maior e mais preciso mapa 3D da nossa Galáxia, fornecendo uma ferramenta crucial para o estudo da formação e evolução da Via Láctea.

Fonte: ESA

domingo, 5 de julho de 2015

Descobertas nove concentrações de matéria escura

Pesquisadores do Observatório Astronômico Nacional do Japão (NAOJ), a Universidade de Tóquio e outras instituições começaram um levantamento da distribuição da matéria escura no Universo usando o Hyper Suprime-Cam (HSC), uma nova câmera de campo amplo instalada no telescópio Subaru no Havaí.

distribuição da matéria escura

© NAOJ/HSC (distribuição da matéria escura)

As linhas de contorno na imagem acima mostram a distribuição da matéria escura obtidas pela HSC, numa seção de 14 x 9,5 minutos de arco.

Os resultados iniciais de observações cobrindo uma área de 2,3 graus quadrados no céu na direção da constelação de Câncer revelou nove grandes concentrações de matéria escura, cada uma tendo a massa de um aglomerado de galáxias.

Foi examinando como a matéria escura é distribuída e como as mudanças de distribuição ao longo do tempo é essencial para a compreensão da função da energia escura que controla a expansão do Universo. Estes primeiros resultados demonstram que os astrônomos têm agora as técnicas e ferramentas para compreender a energia escura. O próximo passo da equipe de pesquisa é expandir a área para cobrir mil graus quadrados no céu, ampliando a possibilidade de desvendar o mistério da energia escura e da expansão do Universo.
Mapeando a matéria escura sobre uma região ampla é fundamental para compreender as propriedades da energia escura, que controla a expansão do Universo. Estes primeiros resultados demonstram que com as técnicas atuais de pesquisa e tecnologia através da HSC, a equipe agora está pronta para explorar como a distribuição da matéria escura no Universo mudou ao longo do tempo, e explorar o Universo.

Desde 1929, quando o astrônomo Edwin Hubble descobriu que o Universo está em expansão, os astrônomos usaram um modelo de trabalho que teve a taxa de expansão abrandada ao longo do tempo. A atração gravitacional, até recentemente, a única força conhecida agindo entre as galáxias, trabalha contra a expansão. No entanto, na década de 1990, estudos de supernovas distantes mostraram que o Universo está se expandindo mais rápido hoje do que era no passado. Esta descoberta necessita de uma mudança dramática na nossa compreensão da física: ou há algum tipo de "energia escura" com uma força repulsiva que obriga as galáxias se distanciarem, ou a física da gravidade precisa de alguma revisão fundamental. Lembrando que o Prêmio Nobel de Física 2011 foi concedido para Saul Perlmutter, Brian P. Schmidt e Adam G. Riess pela descoberta da expansão acelerada do Universo através de observações de supernovas distantes.

Na expansão acelerada do Universo é útil observar a relação entre a taxa de expansão do Universo e a taxa à qual os objetos cósmicos se formam. Por exemplo, se o Universo está se expandindo rapidamente, levará mais tempo para a matéria se aglutinar e as galáxias se formarem. Por outro lado, se o Universo está se expandindo lentamente, é mais fácil para as estruturas como as galáxias se constituírem. O desafio de confirmar a existência de matéria escura e seu efeito sobre a expansão é que a maior parte da matéria no Universo é escura e não emite luz, ou seja, não pode ser detectada diretamente por telescópios ópticos.

Uma técnica que pode ultrapassar este desafio é a detecção e análise de "lentes gravitacionais fracas". A concentração de matéria escura funciona como uma lente que dobra a luz que vem até mesmo de objetos mais distantes. Ao analisar como que a luz de fundo é dobrada e como a lente distorce as formas dos objetos distantes é possível determinar como a matéria escura é distribuída em primeiro plano. Esta análise da matéria escura e os seus efeitos permitem que os astrônomos determinem como ela foi constituída ao longo do tempo. A história da montagem da matéria escura pode estar relacionada com a história da expansão do Universo, e deve revelar algumas das propriedades físicas da energia escura, sua força e como ela mudou ao longo do tempo.

Para obter uma quantidade suficiente de dados, os astrônomos precisam observar as galáxias localizadas a mais de um bilhão de anos-luz de distância, através de uma área maior do que mil graus quadrados (cerca de um quadragésimo de todo o céu). A combinação do telescópio Subaru, com a sua abertura diâmetro de 8,2 metros, e a Suprime-Cam, predecessora da HSC, com um campo de visão de um décimo de um grau quadrado (comparável ao tamanho da Lua), tem sido uma das ferramentas de maior sucesso na busca de objetos distantes fracos sobre uma vasta área do céu.

Para o levantamento de mil graus quadrados do céu foi utilizado a HSC, uma câmera com a mesma qualidade de imagem da Suprime-Cam, mas com um campo de visão mais de sete vezes maior. A HSC com 870 milhões de pixels foi instalada no Telescópio Subaru em 2012, ela proporciona imagens que cobrem uma área do céu tão grande como nove luas cheias em uma única exposição, com muito pouca distorção e resolução fina de sete milésimos de grau (0,5 segundos de arco).

Os pesquisadores ao medir as formas individuais de inúmeras galáxias criaram um mapa do esconderijo da matéria escura em primeiro plano. O resultado foi a descoberta de nove aglomerados de matéria escura, cada um pesando como um aglomerado de galáxias. A confiabilidade da análise das lentes gravitacionais fracas, e os mapas da matéria escura resultante, foram confirmadas por observações com telescópios que mostram aglomerados de galáxias atuais correspondentes aos aglomerados de matéria escura descobertos pela HSC. A equipe utilizou dados da Deep Lens Survey para identificação dos aglomerados de galáxias ópticos.

O número de aglomerados de galáxias obtidos pela HSC excede previsões dos modelos atuais da história inicial do Universo. Como a equipe de pesquisadores ampliou o mapa de matéria escura de sua meta de mil graus quadrados, os dados devem revelar se esse excesso é real ou apenas um acaso estatístico. Se o excedente for real, ele sugere que a energia escura não era como se esperava no passado, permitindo que o Universo se expandisse delicadamente e as estrelas e galáxias se formassem rapidamente.

Usando lentes gravitacionais fracas para o mapear a matéria escura é uma forma de descobrir objetos astronômicos usando sua massa, ao saber que algo existe e quanto ele pesa, ao mesmo tempo. Ele dá uma medida direta da massa que é normalmente disponível quando é utilizado outros métodos de descoberta. Portanto, os mapas de massa de matéria escura são uma ferramenta essencial para a compreensão da história da expansão do Universo com precisão e exatidão.

Estes são os primeiros resultados científicos da tecnologia HSC e foram aceitos para publicação no periódico Astrophysical Journal.

Fonte: National Astronomical Observatory of Japan

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Medida a idade de estrelas que contêm exoplanetas parecidos com a Terra

Uma das maiores questões em astrofísica é: será que existe vida além da Terra?

ilustração de estrela e seu exoplaneta parecido com a Terra

© IAC (ilustração de estrela e seu exoplaneta parecido com a Terra)

Até mesmo para começar a responder isso, precisamos saber quantos planetas como o nosso existem lá fora, e quando eles se formaram. Entretanto, a determinação das idades de estrelas e de seus planetas orbitando é extremamente difícil; idades precisas estão disponíveis apenas para um punhado de estrelas hospedeiras graças às observações de sismologia estelar feitas com o satélite Kepler.

As 33 estrelas foram escolhidas devido às oscilações serem como a do Sol e um conjunto de parâmetros básicos foram determinados com alta precisão mostrando que as estrelas de 11 bilhões de anos têm planetas como a Terra.
"Nossa equipe determinou as idades para estrelas hospedeiras individuais com níveis semelhantes de precisão, constituindo o melhor conjunto caracterizado de estrelas hospedeiras de exoplanetas atualmente disponível," disse Victor Silva Aguirre do Centro de Astrofísica Estelar na Universidade de Aarhus, na Dinamarca.

Medir as idades das estrelas é um dos problemas mais difíceis que os astrônomos contemporâneos enfrentam. Até agora apenas a idade do Sol foi determinada com alta precisão, ou seja, 4,57 bilhões de anos, com uma precisão de ±10 milhões de anos. O grupo internacional de astrônomos determinaram as idades, os diâmetros, as densidades, as massas e as distâncias de 33 estrelas com grande precisão. Especialmente, todas estas estrelas têm planetas como a Terra, dando-nos uma nítida indicação de que tais planetas se formaram em na Via Láctea muito antes da Terra e ainda estão sendo formadas lá fora.

As 33 estrelas foram cuidadosamente selecionadas de mais de 1.200 estrelas com planetas ao seu redor que têm sido observados com o satélite Kepler. As estrelas têm de ser suficientemente brilhante para dar uma boa base estatística para os resultados, e elas têm que mostrar algumas características semelhantes ao Sol para torná-las comparáveis.

Estrelas pulsam, vibram e ressoam como as ondas sonoras em um instrumento musical. A técnica avançada de medição destas melodias estelares é chamada sismologia estelar, um método bastante semelhante ao utilizado por geólogos para sondar a composição do interior da Terra por meio de sismos.

O satélite Kepler da NASA constantemente mediu minúsculas variações na luz de cerca de 145.000 estrelas em um período de um pouco mais de quatro anos. Analisando essas variações ao longo do tempo fornece os períodos de muitas pulsações simultâneas em cada estrela, e que podem derivar as propriedades básicas importantes das estrelas individuais.

Conhecer as idades, tamanhos e outros parâmetros básicos das estrelas é importante quando se quer estudar o desenvolvimento em grande escala da nossa galáxia e do Universo, uma disciplina relativamente nova chamada "arqueologia galáctica". Nós todos queremos saber de onde viemos! Num nível mais prático as estrelas funcionam em grande parte do mesmo modo que um reator de fusão. O conhecimento preciso do mecanismo interno nas estrelas pode ajudar, no futuro, na produção de energia aqui na Terra.

Esta não é a primeira vez que as idades precisas das estrelas individuais foram determinadas. Mas, a utilização de uma grande amostra e análise com o mesmo instrumento, o satélite Kepler, com os mesmos métodos teóricos e estatísticos gera maior confiança na precisão dos resultados. A comparação das estrelas podem também revelar propriedades estelares incomuns e até agora desconhecidas.

O conhecimento preciso especialmente das idades estelares pode estar relacionado com os espectros das estrelas. Isto fornece um conjunto de estrelas com calibração conhecida e, portanto, permite aplicar a espectroscopia de estrelas fracas para suas idades.

As 33 estrelas selecionadas para o estudo não são todas semelhantes ao Sol, mas elas se comportam da mesma forma que ele, chamado tecnicamente de osciladores solares. "O termo osciladores solares significa que as pulsações das estrelas apresentam o mesmo mecanismo que o Sol: bolhas de gás se movendo para cima e para baixo. Estas bolhas produzem ondas sonoras que viajam através do interior das estrelas, saltando para trás e para frente, e à superfície produzindo minúsculas variações no brilho estelar," disse Aguirre.

O novo estudo fornece os valores para as estrelas selecionados com precisão sem precedentes. As propriedades estelares obtidas apresentam as seguintes porcentagens: 1,2% (raio), 1,7% (densidade),
3,3% (massa), 4,4% (distância) e 14% (idade). Se, por exemplo, uma estrela tem uma idade calculada de 5 bilhões de anos, o 14% significa que a verdadeira idade se situa entre 4,3 e 5,7 bilhões anos.

Todas as estrelas estudadas pelo satélite Kepler situam em uma pequena área do céu, perto da constelação de Cygnus. As 33 estrelas estão localizadas entre 100 e 1.600 anos-luz do Sol. Com uma pequena área da Via Láctea, tais estrelas analisadas durante um tempo relativamente curto  representam as mais de 300 bilhões de estrelas em nossa galáxia? A resposta é um sonoro "sim". Certamente, os astrônomos gostariam de estudar muito mais estrelas por muito mais tempo, mas, por enquanto, e em comparação com o que era anteriormente conhecido este é um grande primeiro passo. Futuramente, seremos capazes de estudar amostras maiores de estrelas, selecionadas a partir de uma área maior do céu com o projeto atual Kepler2 e a exploração de todo o céu com o satélite TESS em 2017. Sendo que melhores resultados são esperados a partir do satélite PLATO que deverá ser lançado pela ESA (Agência Espacial Europeia), em meados dos anos 2020.

O satélite Kepler é capaz de fornecer dois tipos diferentes de resultados com o mesmo tipo de medição. Desde as pequenas variações na intensidade da luz das estrelas, pode-se deduzir valores tanto de sismologia estelar e também descobrir quaisquer exoplanetas que circundam as estrelas. Determinação das propriedades exatas destes exoplanetas só é possível se também for conhecida as características fundamentais das estrelas hospedeiras. Os dois campos da astronomia estão intimamente ligados.

"Nosso estudo fornece a primeira amostra de idades homogeneamente determinadas para dezenas de estrelas hospedeiras de exoplanetas com um elevado nível de precisão. As estrelas que estudamos hospedam exoplanetas do tamanho comparável à Terra (entre 0,3 e 15 raios terrestres), e os nossos resultados revelam uma ampla gama de idades para estas estrelas hospedeiras, tanto mais jovens (até metade da idade solar) e mais velhas (até 2,5 vezes a era solar) do que o Sol. Isto é, independentemente do tamanho dos exoplanetas no sistema, mostra que a formação dos exoplanetas similares em tamanho à Terra ocorreu ao longo de toda a história da nossa galáxia (e ainda está acontecendo!). Na verdade, alguns desses planetas eram da mesma idade que a Terra é agora, no momento em que a própria Terra se formou. Isto é uma descoberta notável," disse Aguirre.

O novo estudo será publicado no periódico Monthly Notices da Royal Astronomical Society.

Fonte: Universidade de Aarhus

Detectado metano congelado na superfície de Plutão

O espectrômetro infravermelho a bordo da sonda New Horizons da NASA detectou metano congelado na superfície de Plutão. Astrônomos baseados em Terra observaram pela primeira vez o composto químico em Plutão, em 1976.

ilustração de nuvens na atmosfera tênue de Plutão

© NASA/JHUAPL (ilustração de nuvens na atmosfera tênue de Plutão)

“Nós já sabíamos que existia metano em Plutão, mas essa é a primeira vez que ele é realmente detectado”, disse Will Grundy, líder da equipe New Horizons Surface Composition no observatório Lowell em Flagstaff, no Arizona. “Em breve saberemos se existem diferenças na presença do gelo de metano de parte de Plutão para outra”.

O metano (CH4) é um gás incolor, inodoro que está presente na subsuperfície e na atmosfera da Terra. Em Plutão, o metano pode ser primordial, inerente à nebulosa que deu origem ao Sistema Solar a cerca de 4,5 bilhões de anos atrás. O metano foi originalmente detectado na superfície de Plutão por uma equipe de astrônomos baseados em terras liderados pelo membro da equipe da New Horizons Dale Cruikshank, do Ames Research Center da NASA, em Mountain View, na Califórnia.

animação de Plutão e a lua Caronte

© NASA/JHUAPL (animação de Plutão e a lua Caronte)

A animação acima foi feita com imagens obtidas pela câmera Long Range Reconnaissance Imager (LORRI) a bordo da New Horizons feitas entre os dia 28 de Maio e 25 de Junho de 2015. Durante o tempo das imagens, a distância da sonda para Plutão diminuiu de 56 milhões de quilômetros para 22 milhões de quilômetros. As imagens mostram Plutão e sua maior lua, Caronte, crescendo em tamanho aparente, à medida que a sonda New Horizons se aproxima do sistema. Durante o movimento de rotação de Plutão nota-se uma superfície fortemente contrastante dominada por um hemisfério norte brilhante, com uma faixa descontínua de material mais escuro correndo através do equador do planeta. Caronte, tem uma região polar escura, e existem indicativos de variações brilhantes em latitudes menores.

A sonda New Horizons tem feito observações críticias em preparativo para as futuras observações da tênue atmosfera de Plutão. Poucas horas depois do sobrevoo por Plutão, em 14 de Julho de 2015, a sonda observará a luz do Sol passando pela atmosfera do planeta, para ajudar os cientistas a determinarem a composição da atmosfera. “Será como se Plutão fosse iluminado por trás por uma luz de um trilhão de watts”, disse Randy Gladstone, um cientista da New Horizons, do Southwest Research Institute, em San Antonio. No dia 16 de Junho de 2015, o espectrógrafo de imageamento ultravioleta Alice da New Horizons, realizou com sucesso uma observação teste do Sol, a 5 bilhões de quilômetros de distância, que será usado para interpretar as observações do dia 14 de Julho de 2015.

A sonda New Horizons está operando normalmente e agora se encontra a 18 milhões de quilômetros do sistema de Plutão.

Fonte: NASA

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Enterrado no coração de uma gigante

A imagem abaixo que mostra um conjunto de estrelas coloridas e gás foi captada pela câmera Wide Field Imager (WFI), montada no telescópio MPG/ESO de 2,2 metros, no Observatório de La Silla no Chile.

o colorido aglomerado estelar NGC 2367

© ESO (o colorido aglomerado estelar NGC 2367)

Nota-se na imagem acima um jovem aglomerado estelar aberto conhecido por NGC 2367, um grupo estelar bebê que se situa no centro de uma estrutura antiga e enorme na periferia da Via Láctea.

Descoberto na Inglaterra pelo incansável observador Sir William Herschel a 20 de novembro de 1784, o brilhante aglomerado estelar NGC 2367 situa-se a cerca de 7.000 anos-luz de distância da Terra na constelação do Cão Maior. Existindo há apenas cerca de cinco milhões de anos, a maioria das suas estrelas são ainda jovens e quentes e brilham com uma intensa luz azul. Nesta nova imagem, esta cor contrasta muito bem com o brilho vermelho acetinado do hidrogênio gasoso que rodeia as estrelas.
Os aglomerados abertos como o NGC 2367 são bastante comuns nas galáxias espirais como a Via Láctea e tendem a formar-se nas regiões mais exteriores das suas hospedeiras. Ao longo da sua viagem em torno do centro galáctico, são afetados pela gravidade de outros aglomerados, assim como pelas enormes nuvens de gás que passam perto deles. Uma vez que os aglomerados abertos encontram-se apenas ligeiramente ligados pela gravidade, e como estão constantemente perdendo massa à medida que parte do seu gás é empurrado para fora pela radiação das jovens estrelas quentes, estes distúrbios ocorrem com frequência suficiente para fazer com que as estrelas se afastem das suas irmãs, tal como deve ter acontecido ao Sol há muitos anos atrás. Espera-se que um aglomerado aberto sobreviva apenas durante algumas centenas de milhões de anos antes de se dispersar completamente.
Entretanto, estes objetos são excelentes amostras para se estudar a evolução estelar. Todas as estrelas que os constituem nasceram essencialmente ao mesmo tempo a partir da mesma nuvem de material, o que significa que podem ser comparadas umas com as outras, permitindo assim que as suas idades sejam determinadas facilmente e a sua evolução mapeada.
Tal como muitos outros aglomerados abertos, o NGC 2367 encontra-se envolto por uma nebulosa de emissão, da qual nasceram as estrelas. Os restos podem ser vistos como fios e nuvens de hidrogênio gasoso, ionizado pela radiação ultravioleta que é emitida pelas estrelas mais quentes. O que é mais incomum é que, ao observarmos para além do aglomerado e da sua nebulosa, percebemos uma estrutura muito mais extensa: o NGC 2367 e a nebulosa que o contém parecem ser o núcleo de uma nebulosa maior, chamada Band 16, que, por sua vez, é ela também uma pequena parte de uma gigantesca superconcha conhecida por GS234-02.
A superconcha GS234-02 situa-se na periferia da nossa galáxia, a Via Láctea, e trata-se de uma estrutura vasta, com uma dimensão de centenas de anos-luz. Esta estrutura começou a sua vida quando um grupo de estrelas particularmente massivas, produzindo fortes ventos estelares, criou bolhas individuais de gás quente em expansão. Bolhas vizinhas acabaram por se fundir formando uma superbolha e a vida curta das estrelas no seu interior implica que estas estrelas explodiram sob a forma de supernovas mais ou menos no mesmo momento, fazendo com que a superbolha se expandisse ainda mais, até ao ponto de se fundir com outras superbolhas, instante em que a superconcha se formou. A estrutura resultante é uma das maiores que podem existir no interior de uma galáxia.
Este sistema concêntrico em expansão, tão antigo como enorme, é um exemplo fantástico das estruturas intrincadas e interligadas que são esculpidas nas galáxias pela vida e morte das estrelas.

Fonte: ESO