Esta imagem permite-nos ver mais de perto como é que os buracos negros situados no centro das galáxias se alimentam.
© ALMA (galáxia Circinus)
Apesar de ser uma crença bastante comum, a ideia de que os buracos negros simplesmente sugam tudo o que se aproxima deles não é correta. A matéria apenas pode cair num buraco negro quando é, de alguma forma, desacelerada.
Assim, que tipo de fenômeno poderá ser responsável por travar o movimento da matéria, fazendo com que esta possa cair no buraco negro?
Para dar resposta a esta questão, uma equipe de astrônomos da Universidade de Leiden, Países Baixos, mapeou a distribuição do gás molecular na galáxia Circinus, situada na constelação austral de Circinus a cerca de 13 milhões de anos-luz de distância da Terra. Embora seja uma das grandes galáxias mais próximas, só foi descoberta em 1977 por estar escondida atrás do disco da Via Láctea.
Podemos ver esta galáxia no visível no canto superior esquerdo da imagem. As duas outras imagens inseridas, à direita e em baixo, foram obtidas com o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA).
O gás flui em direção ao buraco negro por dois braços em espiral existentes no disco, que vemos nas regiões mais internas da galáxia (em cima à direita). Estes braços alimentam a nuvem em forma de rosquinha que rodeia o buraco negro (em baixo).
A influência gravitacional dos braços em espiral perturba o movimento do gás molecular, que cai diretamente no buraco negro, do mesmo modo que um satélite cairia na Terra se a sua órbita fosse perturbada. O processo de alimentação é, no entanto, muito pouco eficiente: a equipe descobriu que cerca de 90% deste material acaba por não cair no buraco negro, sendo "cuspido" de volta.
Foi calculado que o gás nos braços se move para dentro a velocidades de até 150.000 km/h. Além disso, parece que apenas 12% da matéria que entra realmente desaparece no buraco negro. O restante é ejetado novamente antes de atingi-lo.
Por que tão pouca matéria chega ao buraco negro? Todos os buracos negros supermassivos têm braços espirais como este? A matéria ejetada acaba caindo de volta no buraco negro como uma fonte em um lago ou acaba mais longe e desencadeia a formação de estrelas?
Os pesquisadores esperam encontrar as respostas usando o Event Horizon Telescope (EHT), que tirou as primeiras fotos icônicas de buracos negros supermassivos, e o Extremely Large Telescope (ELT), que está em construção no Chile.
Um artigo foi aceito para publicação no periódico Astronomy & Astrophysics.
Fonte: ESO