domingo, 7 de agosto de 2016

Outra Terra?

À procura de outra Terra? Uma equipe internacional de pesquisadores identificou quais dos mais de 4.000 exoplanetas descobertos pela missão Kepler da NASA são mais suscetíveis de serem semelhantes com o nosso planeta.

ilustração do exoplaneta Kepler-186f

© Danielle Futselaar (ilustração do exoplaneta Kepler-186f)

A pesquisa descreve 216 planetas localizados na "zona habitável", a área em torno de uma estrela na qual a superfície de um planeta pode abrigar água líquida. Desses, listam 20 que são os melhores candidatos a planetas rochosos habitáveis como a Terra.

"Este é o catálogo completo de todas as descobertas do Kepler que estão na zona habitável das suas estrelas hospedeiras," afirma Stephen Kane, professor associado de física e astronomia da Universidade Estatal de São Francisco e autor principal do estudo. "Isto significa que podemos focar-nos nos planetas do estudo e realizar acompanhamento para aprender mais sobre eles, inclusive se são realmente habitáveis."

zona habitável de estrelas e exoplanetas

© Chester Harman (zona habitável de estrelas e exoplanetas)

Esta tabela mostra a zona habitável de estrelas com diferentes temperaturas, bem como a posição de candidatos planetários de tamanho terrestre e planetas confirmados do Kepler descritos na nova pesquisa. Alguns dos planetas rochosos do Sistema Solar são também mostrados para comparação.

A pesquisa também confirma que a distribuição dos planetas Kepler dentro da zona habitável é a mesma que a distribuição daqueles fora dela, uma evidência adicional de que o Universo está repleto de planetas e luas onde a vida pode potencialmente existir.

Os limites da zona habitável são críticos. Se um planeta está demasiado perto da sua estrela, sofre um efeito de estufa descontrolado, como Vênus. Mas se está demasiado longe, qualquer água aí presente congela, como em Marte. Kane e colegas ordenaram os planetas consoante uma interpretação mais conservativa da zona habitável. Em seguida, ordenaram-nos novamente por tamanho: planetas pequenos e rochosos vs. gigantes gasosos.

As quatro categorias têm o objetivo de ajudar os astrônomos na sua investigação. Aqueles que procuram luas potencialmente habitáveis podem estudar exoplanetas nas categorias de gigantes gasosos, por exemplo.

Os 20 planetas na categoria mais restrita - superfície rochosa e uma zona habitável conservadora - são os mais propensos a serem parecidos com a Terra. Kane já começou a recolher dados adicionais sobre esses planetas, bem como de outros nas restantes categorias.

O estudo e o levantamento de mais de 4.000 exoplanetas levou mais de três anos e envolveu pesquisadores da NASA, da Universidade Estatal do Arizona, do Caltech, da Universidade do Havaí, da Universidade de Bordeaux, da Universidade de Cornell e do Centro Harvard-Smithsonian para Astrofísica.

"É emocionante ver a enorme quantidade de planetas que existem por aí, o que nos faz pensar sobre a probabilidade de vida em outros lugares," afirma Michelle Hill, aluna australiana que estuda na Universidade Estatal de São Francisco e que esteve envolvida no estudo.

"Existem muitos candidatos planetários e o tempo de telescópio para os estudar é curto," comenta Kane. "Esta pesquisa é realmente um grande marco em direção a responder as perguntas fundamentais de quão comum é a vida no Universo e quão comuns são os planetas como a Terra."

A pesquisa detalhada será publicada num artigo da revista The Astrophysical Journal.

Fonte: San Francisco State University

sábado, 6 de agosto de 2016

O que as cores das galáxias nos dizem sobre a sua evolução?

Cientistas podem ter respondido à questão pela qual as galáxias de cor verde são raras no Universo e de que modo suas cores podem revelar um passado conturbado. A pesquisa foi divulgada no National Astronomy Meeting na Universidade de Nottingham.

imagens virtuais de galáxias azuis, verdes e vermelhas

© U. Durham/J. Trayford/EAGLE (imagens virtuais de galáxias azuis, verdes e vermelhas)

A equipe internacional, liderada pelo Institute for Computational Cosmology, da Universidade de Durham, usou novos modelos computacionais do Universo para investigar as cores das galáxias e o que elas nos contam sobre a sua evolução. Usando simulações EAGLE de última geração, os pesquisadores construíram um modelo que explica como as idades e as composições das estrelas se traduzem na cor das luzes produzidas pelas galáxias que as hospedam. As simulações também mostraram que as cores das galáxias podem ajudar a prever como elas evoluem.

Enquanto as galáxias vermelhas e azuis são relativamente comuns, as verdes são raras e provavelmente estão passando por uma importante etapa transitória de sua evolução, transitando do azul (quando as estrelas e os exoplanetas estão nascendo) para o vermelho, ou seja, quando as estrelas envelhecidas dominam o cenário.

O pesquisador James Trayford, estudante de doutoramento na ICC que liderou a pesquisa, afirmou: As galáxias emitem um brilho azul saudável enquanto há novas estrelas e exoplanetas sendo criados. No entanto, quando a formação de estrelas cessa, as galáxias tornam-se vermelhas, tal como as estrelas que começam a envelhecer e a morrer. No Universo real, vemos muitas galáxias azuis e vermelhas, mas as galáxias verdes intermédias são mais raras. Isto sugere que as poucas galáxias verdes que conseguimos observar estão provavelmente em um estágio crítico da sua evolução, transitando rapidamente do azul para o vermelho.

A equipe descobriu que como as estrelas se formam a partir de gás denso seria necessário um processo poderoso para destruir rapidamente as reservas de gás e causar as mudanças dramáticas na cor. James Trayford acrescentou: Em um estudo recente, nós seguimos as simulações computacionais da evolução de galáxias à medida que mudavam de cor e investigamos os processos que causam suas alterações. Tipicamente, nós descobrimos que as galáxias verdes menores são violentamente agitadas pela atração gravitacional de uma enorme galáxia vizinha, o que lhes arranca as suas reservas de gás. Ao mesmo tempo, as galáxias verdes maiores podem se autodestruir devido a explosões imensas originadas em buracos negros supermassivos existentes nos seus núcleos, os quais podem afastar o gás denso.

Entretanto, a pesquisa descobriu que há alguma esperança para as galáxias verdes, já que um pequeno e afortunado número delas pode absorver suplementos de gás das regiões vizinhas. Isto pode reavivar a formação de estrelas e exoplanetas e restaurar essas galáxias na cor azul.

James Trayford concluiu: Utilizando simulações computacionais que estudam a alteração das cores das galáxias, podemos acelerar o processo da evolução das galáxias, desde os bilhões de anos que leva no Universo real para apenas uns dias em computador. Isto significa que não vemos apenas as cores das galáxias congeladas no tempo, podemos ver a sua evolução. Outra vantagem é que podemos remover fatores indesejáveis, responsáveis pela alteração das cores que vemos, como nuvens de poeira que impedem que a luz se escape das galáxias. Como as simulações EAGLE que usamos representam um novo nível de realismo, podemos ter uma maior confiança na aplicação destes resultados ao Universo real.

Fonte: Royal Astronomical Society

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Um vazio estelar gigante na Via Láctea

Uma grande revisão é necessária em nossa compreensão da Via Láctea de acordo com uma equipe internacional liderada pelo Prof Noriyuki Matsunaga, da Universidade de Tóquio.

ilustração da distribuição de Cefeidas na Via Láctea

© U. Tokyo (ilustração da distribuição de Cefeidas na Via Láctea)

Astronomos japoneses, sul-africanos e italianos acham que há uma enorme região ao redor do centro de nossa galáxia, que é desprovido de estrelas jovens.

A Via Láctea é uma galáxia espiral que contém muitos bilhões de estrelas, com o nosso Sol cerca de 26.000 anos-luz do seu centro. Medir a distribuição destas estrelas é crucial para a nossa compreensão de como a Via Láctea se formou e evoluiu. Estrelas pulsantes chamadas Cefeidas são ideais para isso. Elas são muito mais jovens (entre 10 e 300 milhões de anos de idade) do que o nosso Sol (4,6 bilhões de anos) e pulsam com brilho em um ciclo regular. A duração deste ciclo está relacionada com a luminosidade da Cefeida, por isso, ao monitorá-las é possível estabelecer quão brilhante a estrela realmente é, compará-la com o que vemos da Terra, e inferir a sua distância.

Apesar disso, encontrar Cefeidas na Via Láctea interna é difícil, pois a galáxia está repleta de poeira interestelar que bloqueia a luz e esconde muitas estrelas de vista. A equipe de Matsunaga compensou esta situação, com uma análise das observações em infravermelho próximo feitas com um telescópio localizado em Sutherland, África do Sul. Para sua surpresa, encontraram quase nenhuma Cefeida em uma enorme região que se estende por milhares de anos-luz do núcleo da galáxia.

Noriyuki Matsunaga explica: "Já tínhamos descoberto, há algum tempo, que há variáveis Cefeidas no centro da Via Láctea (em uma região compacta com um raio de aproximadamente 150 anos-luz). Agora, descobrimos que, fora dessa região, há um enorme vazio de Cefeidas, estendendo-se até 8.000 anos-luz do centro".
Isto sugere que uma grande parte da nossa galáxia, o denominado disco interno extremo, não tem estrelas jovens. Michael Feast, coautor do estudo, observa: "Nossas conclusões são contrárias ao outro trabalho recente, mas estão de acordo com o trabalho de radioastrônomos que não observam novas estrelas nascendo neste deserto."

Giuseppe Bono, coautor do estudo, aponta: "Os resultados atuais indicam que não houve formação de estrelas significativa nesta grande região ao longo de centenas de milhões de anos. O movimento e a composição química das novas Cefeidas estão nos ajudando a entender melhor a formação e evolução da Via Láctea ".
As Cefeidas são mais tipicamente usadas para medir as distâncias de objetos no Universo distante, e o novo trabalho é um exemplo de como a mesma técnica pode revelar a estrutura da Via Láctea.

Um artigo sobre este trabalho foi publicado na revista Monthly Notices da Royal Astronomical Society.

Fonte: Royal Astronomical Society

A flutuação da atmosfera de Io

Cientistas observaram o colapso da fina atmosfera de Io durante a passagem da lua joviana pela sombra de Júpiter.

Io e Júpiter

© NASA/Cassini (Io e Júpiter)

A descoberta sugere que os gases liberados pelos vulcões de Io são diretamente convertidos em gelo quando a lua atravessa a sombra do planeta. “Esta foi a primeira vez que este extraordinário fenômeno foi observado diretamente pelos cientistas,” disse Constantine Tsang, pesquisador do Southwest Research Institute, nos Estados Unidos.

Com mais de 400 vulcões ativos na sua superfície, Io é o objeto geologicamente mais ativo do Sistema Solar. Os vulcões são uma consequência da dissipação do calor de maré produzido pelo atrito gerado no interior de Io pela ação das forças gravitacionais de Júpiter e das luas Europa e Ganimedes. Muitos destes vulcões geram gigantescas plumas compostas por dióxido de enxofre (SO2) e materiais piroclásticos, que se elevam até 483 km acima da superfície ioniana.

Usando o telescópio Gemini de 8,1 metros, localizado no Havaí, e o instrumento chamado Texas Echelon Cruz Enchelle Spectrograph (TExES) foi possível monitorar as alterações nas emissões térmicas dos gases vulcânicos que compõem a fina atmosfera de Io, durante a sua passagem pela sombra de Júpiter. As observações foram realizadas nas noites de 17 e 24 de novembro de 2013, quando Io se encontrava a mais de 676 milhões de quilômetros de distância da Terra. Os eclipses ionianos duram cerca de 2 horas e ocorrem uma vez em cada órbita (Io tem um período orbital aproximado de 42 horas e 28 minutos). Em ambas as ocasiões, os cientistas observaram a lua ao longo de 40 minutos antes do seu ingresso na sombra de Júpiter e de 50 minutos logo após o início do eclipse.

Os dados recolhidos mostram que a pressão de SO2 junto à superfície de Io cai dramaticamente quando as temperaturas descem de -148 ºC para -168 ºC, logo após o ingresso da lua na sombra do planeta. Estes resultados sugerem que a atmosfera de Io colapsa durante cada eclipse, devido provavelmente à deposição do SO2 atmosférico na superfície da lua sob a forma de gelo, e que volta a pressurizar-se assim que a lua é novamente banhada pela luz solar.

“Isto confirma que a atmosfera de Io está constantemente num estado de colapso e reparação, e mostra que uma grande fração da atmosfera é suportada pela sublimação do gelo de SO2,” explicou John Spencer, pesquisador do Southwest Research Institute. “Embora os vulcões hiperativos de Io sejam a principal fonte de SO2, a luz solar controla a pressão atmosférica numa base diária através do controle da temperatura do gelo na superfície. Há muito que suspeitávamos disto, mas agora pudemos ver finalmente este fenômeno acontecendo.”

Fonte: Journal of Geophysical Research

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Hubble contempla uma estrela morta

Esta bela imagem realizada pelo telescópio espacial Hubble registra a parte remanescente de uma estrela morta.

DEM L316A

© Hubble (DEM L316A)

Estes filamentos ondulados de gás ionizado, denominados DEM L316A, estão localizados a cerca de 160.000 anos-luz de distância da Terra, dentro de uma das vizinhas galácticas mais próximas da Terra, a Grande Nuvem de Magalhães.

A explosão que formou a DEM L316A foi um exemplo de uma supernova especialmente energética e brilhante conhecida como Tipo Ia. Acredita-se que estes eventos de supernovas ocorram quando uma estrela do tipo anã branca, rouba mais material do que ela pode lidar de uma companheira estelar próxima e fica desequilibrada. O resultado é um lançamento espetacular de energia na forma de uma brilhante e violenta explosão, que ejeta as camadas externas da estrela no espaço ao redor a uma imensa velocidade. À medida que esse gás viaja através do material interestelar, ele se aquece e ioniza, produzindo o brilho que a Wide Field Câmera 3 do Hubble registra.

A Grande Nuvem de Magalhães orbita a Via Láctea como uma galáxia satélite e é a quarta maior galáxia no nosso grupo de galáxias, o chamado Grupo Local. A DEM L316A não é a única remanescente de supernova na Grande Nuvem de Magalhães, o Hubble já registrou uma em 2010, a SNR 0509, e uma em 2013, a SNR 0519.

Fonte: ESA

sábado, 30 de julho de 2016

A estrela jovem mais solitária vista pelos telescópios Sptizer e WISE

Sozinha na estrada cósmica, longe de qualquer outro objeto celeste conhecido, uma jovem estrela independente está passando por um tremendo surto de crescimento.

  ilustração de objeto celeste emitindo raios X

© NASA/JPL-Caltech (ilustração de objeto celeste emitindo raios X)

O objeto invulgar, de nome CX330, foi detectado pela primeira vez como uma fonte de raios X em 2009 pelo observatório de raios X Chandra da NASA enquanto examinava o bojo na região central da Via Láctea. Outras observações indicaram que este objeto estava também emitindo luz no visível. Com apenas estas pistas, os cientistas não faziam ideia que objeto era.

Mas quando Chris Britt, pesquisador pós-doutorado da Texas Tech University em Lubbock, e colegas examinaram imagens infravermelhas da mesma área obtidas com o WISE (Wide-field Infrared Survey Explorer) da NASA, aperceberam-se que este objeto tinha em seu redor quantidades enormes de poeira, que deverá ter sido aquecida por uma explosão.

Ao compararem os dados de 2010 do WISE com dados do Spitzer obtidos em 2007, os pesquisadores determinaram que a CX330 é provavelmente uma estrela jovem que passa por um surto de atividade há já vários anos. Na verdade, nesse período de três anos o seu brilho aumentou algumas centenas de vezes.

Os astrônomos analisaram dados do objeto obtidos por vários outros observatórios, incluindo os terrestres SOAR, Magalhães e Gemini. Também usaram os grandes levantamentos telescópicos VVV e o OGLE-IV para medir a intensidade da luz emitida por CX330. Ao combinarem todas estas diferentes perspetivas sobre o objeto, surgiu uma imagem mais clara.

"Tentamos várias interpretações e a única que faz sentido é que esta jovem estrela em rápido crescimento está se formando no meio do nada," afirma Britt, autor principal de um estudo sobre a CX330.

O comportamento da estrela solitária tem semelhanças com FU Orionis, uma estrela jovem que teve um surto de atividade inicial em 1936-7, durante três meses. Mas a CX330 é mais compacta, mais quente e provavelmente mais massiva do que objetos conhecidos e parecidos com FU Orionis. A estrela mais isolada lança "jatos" mais rápidos, fluxos de material que batem no gás e poeira em seu redor.

"O disco provavelmente aqueceu até ao ponto em que o gás no disco ficou ionizado, levando a um rápido aumento na velocidade com que o material cai para a estrela," explica Thomas Maccarone, professor associado da Texas Tech University.

O mais intrigante para os astrônomos, é que FU Orionis e objetos raros do mesmo gênero, que são conhecidos apenas cerca de 10, estão localizados em regiões de formação estelar. As estrelas jovens geralmente formam-se e alimentam-se das regiões ricas em gás e poeira em seu redor, em nuvens de formação estelar. Em contraste, a região de formação estelar mais próxima de CX330 está a mais de mil anos-luz de distância.

"A CX330 é mais intensa e mais isolada do que qualquer um desses objetos ativos que já observamos," comenta Joel Green, pesquisador do STScI (Space Telescope Science Institute) em Baltimore, EUA. "Esta pode ser a ponta do iceberg, estes objetos podem estar em toda a parte."

De fato, é possível que todas as estrelas passem por esta fase dramática de desenvolvimento durante a juventude, mas que o surto de explosões seja demasiado curto, numa perspetiva de tempo cosmológico, para que podemos observar muitas delas.

Como é que a CX330 se tornou tão isolada? Uma ideia é que poderá ter nascido numa região de formação estelar, mas foi expulsa para a sua posição atual na Galáxia. Dado que a CX330 está numa fase juvenil do seu desenvolvimento, tem provavelmente menos de um milhão de anos, e ainda está devorando o seu disco envolvente, deve ter-se formado perto da sua localização atual no céu.

"Se tivesse migrado a partir de uma região de formação estelar, não podia ter aqui chegado durante a sua vida sem perder completamente o seu disco," afirma Britt.

A CX330 também pode ajudar os cientistas a estudar o modo como as estrelas se formam em circunstâncias diferentes. Um cenário é que as estrelas se formam através de turbulência. Neste modelo "hierárquico", uma densidade crítica de gás numa nuvem faz com que a nuvem colapse gravitacionalmente numa estrela. Um modelo diferente, chamado "acreção competitiva", sugere que as estrelas começam como núcleos de baixa massa que lutam pela massa do material restante da nuvem. A CX330 encaixa mais naturalmente no primeiro cenário pois as circunstâncias turbulentas podem, teoricamente, permitir a formação de uma estrela solitária.

É ainda possível que outras estrelas, de massa intermédia a baixa, estejam presentes nas imediações da CX330, mas ainda não tenham sido detectadas.

Quando a CX330 foi observada pela última vez em agosto de 2015, ainda estava em surto de atividade. Os astrônomos planejam continuar estudando o objeto, inclusive com telescópios futuros que a poderão estudar em outros comprimentos de onda.

As explosões de atividade numa estrela jovem mudam a química no disco estelar, a partir do qual os planetas podem, eventualmente, formar-se. Caso o fenômeno seja comum, isso significa que os planetas, incluindo o nosso, podem transportar as assinaturas químicas de um antigo disco de gás e poeira marcado por explosões estelares.

Mas, considerando que a CX330 continua devorando o seu disco com uma voracidade cada vez maior, os astrônomos não contam encontrar planetas em formação neste sistema.

"Se for realmente uma estrela massiva, o seu tempo de vida será curto e violento", conclui Green.

Este estudo foi publicado recentemente na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

Fonte: Jet Propulsion Laboratory

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Anã branca castiga anã vermelha com raio misterioso

Astrônomos utilizaram o Very Large Telescope (VLT) do ESO, e mais outros telescópios tanto no solo como no espaço, e descobriram um novo tipo de estrela binária bastante exótica.

  ilustração do exótico sistema binário de estrelas AR Scorpii

  © M. Garlick/U. Warwick/ESO (ilustração do exótico sistema binário de estrelas AR Scorpii)

No sistema AR Scorpii, uma anã branca em rotação rápida acelera elétrons até quase à velocidade da luz. Estas partículas de alta energia liberam quantidades de radiação que fuzilam a estrela companheira, uma anã vermelha, fazendo com que todo o sistema pulse drasticamente a cada 1,97 minutos e libere radiação que vai do ultravioleta até as ondas de rádio.

Em maio de 2015, um grupo de astrônomos amadores da Alemanha, Bélgica e Reino Unido encontrou um sistema estelar que se comportava de um modo nunca antes observado. Observações feitas em seguida, lideradas pela Universidade de Warwick e fazendo uso de vários telescópios, colocados tanto no solo como no espaço, revelaram a verdadeira natureza deste sistema até então mal identificado.

O sistema estelar AR Scorpii, ou AR Sco, situa-se na constelação do Escorpião e está a 380 anos-luz de distância da Terra. É composto por uma anã branca em rotação rápida, do tamanho da Terra mas com cerca de 200 mil vezes mais massa, e por uma anã vermelha fria, de tipo espectral M, com um terço da massa do Sol, que se orbitam mutuamente com um período de 3,6 horas, executando uma dança cósmica tão regular como um relógio.

As anãs brancas correspondem à fase final da vida de estrelas com massas até cerca de 8 vezes a massa solar. Quando a fusão do hidrogênio no núcleo da estrela termina, as variações internas levam a uma drástica expansão da estrela, dando origem a uma gigante vermelha, seguida de uma contração acompanhada pelo lançamento das camadas exteriores da estrela para o espaço interestelar em grandes nuvens de gás e poeira. O que resta é uma anã branca, de cerca do tamanho da Terra mas 200 mil vezes mais densa. O equivalente a uma única colher de matéria de uma anã branca pesa tanto como um elefante na Terra.

Este sistema binário de estrelas exibe um comportamento muito violento. Altamente magnetizada e girando muito depressa, a anã branca acelera elétrons até quase à velocidade da luz. À medida que estas partículas de alta energia se deslocam no espaço, liberam radiação num raio semelhante a um farol, que atinge a anã vermelha fria, fazendo com que todo o sistema brilhe e apague a cada 1,97 minutos. Estes pulsos poderosos incluem radiação nas frequências de rádio, algo que nunca tinha sido antes detectado num sistema com uma anã branca.

O pesquisador principal Tom Marsh, do Grupo de Astrofísica da Universidade de Warwick, comenta: “AR Scorpii foi descoberta há mais de 40 anos, mas não suspeitamos da sua verdadeira natureza até começarmos a observá-la em 2015. Percebemos que estávamos vendo algo extraordinário poucos minutos depois de começarmos as observações.”

As propriedades observadas de AR Sco são únicas e misteriosas. A radiação emitida ao longo de uma grande gama de frequências indica emissão de elétrons acelerados em campos magnéticos, o que pode ser explicado pela anã branca em rotação. A fonte de elétrons propriamente dita permanece, no entanto, um mistério; não é claro se estará associada à própria anã branca ou à sua companheira mais fria.

AR Scorpii foi inicialmente observada no início da década de 1970 e as suas flutuações de brilho regulares a cada 3,6 horas fizeram com que fosse erroneamente classificada como uma estrela variável isolada. Uma estrela variável mostra uma flutuação no seu brilho quando vista a partir da Terra. Estas flutuações podem ser devidas a variações de propriedades intrínsecas à própria estrela. Por exemplo, algumas estrelas expandem-se e contraem-se de forma notória. As flutuações podem também ter origem num outro objeto que regularmente eclipsa a estrela. AR Scorpii foi confundida com uma única estrela variável, uma vez que a órbita de duas estrelas em torno uma da outra resulta também em flutuações regulares no brilho observado.

A verdadeira natureza da variação em luminosidade da AR Scorpii foi revelada graças aos esforços conjuntos de astrônomos profissionais e amadores. Uma pulsação semelhante tinha sido já observada anteriormente, mas vinda de estrelas de nêutrons, alguns dos objetos celestes mais densos conhecidos no Universo, e não de anãs brancas.

Boris Gänsicke, também da Universidade de Warwick, conclui: “Conhecemos estrelas de nêutrons pulsando há quase 50 anos e algumas teorias previam que as anãs brancas poderiam também apresentar um comportamento semelhante. É muito excitante termos descoberto um tal sistema e é também um exemplo fantástico de colaboração entre astrônomos amadores e profissionais.”

Este trabalho foi publicado ontem na revista Nature.

Fonte: ESO

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Olho ancião no céu

Em uma descoberta rara, o Observatório Astronômico Nacional do Japão (NAOJ), juntamente com uma equipe internacional de pesquisadores da Universidade de Tóquio e do Instituto Kavli para a Física e Matemática do Universo (Kavli IPMU) obtiveram conhecimentos avançados de como a luz de uma galáxia distante pode ser dobrada pelo efeito gravitacional de uma galáxia em primeiro plano. O efeito é conhecido como lente gravitacional.

Olho de Hórus

© NAOJ (Olho de Hórus)

Normalmente, várias imagens com lentes de um único fundo da galáxia são vistas. Em teoria, o primeiro plano de galáxias podem focar várias galáxias de fundo ao mesmo tempo. Os dados mostraram um efeito de lente gravitacional raro, sugerindo o efeito de lente pela galáxia em primeiro plano de duas galáxias de fundo a distâncias diferentes. Tais sistemas, chamados de lentes "Double Source Plane (DSP)", oferecem oportunidades únicas para examinar a física fundamental de galáxias ao estender o nosso conhecimento da cosmologia.

Com base em dados do Sloan Digital Sky Survey (SDSS), a galáxia lente tem um redshift espectroscópico de z = 0,79 (ou 7,0 bilhões de anos-luz de distância). Outras observações dos objetos focados usando o espectrômetro FIRE sensível ao infravermelho no telescópio Magellan confirmou a existência de duas galáxias atrás da lente e co z = 1,30 e o outro em z = 1,99 (9,0 e 10,5 bilhões de anos-luz de distância, respectivamente ). Esta é a primeira lente de DSP para o qual as distâncias para as três galáxias são conhecidas com precisão, o que permite a compreensão mais precisa da distribuição da massa da galáxia em primeiro plano.

Pesquisadores e estudantes fizeram a descoberta ao inspecionar visualmente imagens na sede do NAOJ em Tóquio, como parte de um convite ao telescópio Subaru para estudantes em setembro de 2015. As imagens foram recolhidas a partir da Hiper Suprime-Cam (HSC) do telescópio Subaru, que está montado no Havaí. O Japão está realizando uma pesquisa difundida com a HSC de grandes áreas do céu a uma profundidade sem precedentes como parte do Programa Estratégico Subaru.

O achado raro foi apelidado de "Olho de Hórus" por causa de sua aparência e olho (incluindo nós brilhantes, um arco, e um anel de Einstein), o que é devido a um alinhamento da galáxia central da lente e ambas as fontes, e assemelha-se ao olho de Hórus, o antigo deus do céu egípcio. A pesquisa espera encontrar mais 10 sistemas do mesmo tipo.

Esta descoberta fornece novas perpectivas na física de galáxias e na expansão do Universo ao longo dos últimos bilhões de anos.

A descoberta foi descrita no periódico The Astrophysical Journal Letters.

Fonte: Kavli Institute & University of Tokyo

terça-feira, 26 de julho de 2016

Descoberta rotação vertiginosa do halo da Via Láctea

Astrônomos da Faculdade de Literatura, Ciência e Artes da Universidade de Michigan, EUA, descobriram pela primeira vez que o gás quente no halo da Via Láctea gira na mesma direção e a velocidades comparáveis à do disco da Galáxia, que contém as nossas estrelas, planetas, gases e poeiras.

Via Láctea rodeada por um halo gigante

© NASA/CXC/M. Weiss/Ohio State/A. Gupta (Via Láctea rodeada por um halo gigante)

A nossa Via Láctea e as suas pequenas companheiras estão rodeadas por um halo gigante com mais de um milhão de graus Celsius (visto aqui em azul) que é apenas visível com telescópios de raios X no espaço.

Esta nova pesquisa usou dados de arquivo do XMM-Newton da ESA, e esclarece como os átomos individuais se reuniram para formar estrelas, planetas e galáxias como a nossa, e o que o futuro reserva para estas galáxias.

Foi estabelecido que o disco da Via Láctea girava enquanto o gás quente era estacionário, mas isso está errado. Este reservatório de gás quente também gira, apenas não tão rapidamente quanto o disco.

O estudo foca-se no halo quente e gasoso da nossa Galáxia, que é várias vezes maior do que o disco da Via Láctea e composto por plasma ionizado.

Dado que o movimento produz uma mudança no comprimento de onda da luz, os cientistas mediram estes desvios no céu usando linhas do oxigênio muito quente. O que descobriram foi surpreendente: os desvios medidos pelos pesquisadores mostram que o halo da Galáxia gira na mesma direção que o disco da Via Láctea e a uma velocidade semelhante, 644.000 km/h para o halo vs. 869.000 km/h no disco.

"A rotação do halo quente é uma pista incrível da formação da Via Láctea," comenta Edmund Hodges-Kluck, cientista assistente da pesquisa. "Diz-nos que esta atmosfera quente é a fonte original de uma grande quantidade de matéria no disco."

Os cientistas há muito que se interrogavam do porquê de quase todas as galáxias, incluindo a Via Láctea, parecerem ter matéria em falta, matéria esta que seria de outra forma previsível de encontrar. Os astrônomos acreditam que 80% da matéria no Universo é a misteriosa matéria escura que, até agora, só pode ser detectada graças à sua força gravitacional. Mas até mesmo a maioria dos restantes 20% da matéria comum parece estar ausente dos discos galácticos. Mais recentemente, alguma da matéria faltante foi descoberta no halo. Os pesquisadores dizem que o conhecimento da direção e da velocidade de rotação do halo pode ajudar a aprender tanto como o material aí chegou em primeiro lugar, como a velocidade que podemos esperar para a matéria assentar na Galáxia.

"Agora que sabemos a rotação, os teóricos podem começar a usar estes dados para aprender como a nossa Via Láctea se formou, e o seu eventual destino final," afirma Joel Bregman, professor de astronomia da mesma faculdade.

"Nós podemos usar esta descoberta para aprender muito mais, a rotação deste halo quente será um grande tema para os espectrógrafos de raios X do futuro," conclui Bregman.

A pesquisa foi publicada recentemente na revista The Astrophysical Journal.

Fonte: NASA

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Imagem profunda da Grande e Pequena Nuvens de Magalhães

Será que as duas galáxias satélites mais famosas da nossa Via Láctea podem se colidir no futuro?

imagem profunda da Grande e Pequena Nuvens de Magalhães

© ESO/Yuri Beletsky (imagem profunda da Grande e Pequena Nuvens de Magalhães)

Ninguém sabe ao certo, mas uma inspeção detalhada de imagens profundas como a caracterizada aqui pode indicar tal perspectiva de colisão.

Cada um dos milhares de pontos desta nova imagem representa uma estrela distante e os buracos azuis brilhantes mostram partes das nossas galáxias vizinhas, a Grande e a Pequena Nuvens de Magalhães.

Na foto, a Grande Nuvem de Magalhães (LMC) está no canto superior esquerdo e a Pequena Nuvem de Magalhães (SMC) está no canto inferior direito. O campo circundante é monocromático para destacar filamentos tênues, mostrados em cinza. Uma leve corrente de estrelas parece estar se estendendo desde a SMC para a LMC. Além disso, estrelas à volta da LMC estão distribuídas assimetricamente, indicando em simulações que poderia muito bem ter sido puxadas para fora gravitacionalmente por causa de uma ou mais colisões.

Embora esta imagem pareça ter sido obtida por um telescópio de grande porte, na realidade foi captada a partir do Observatório de La Silla com uma montagem portátil constituída por uma câmera CCD SBIG STL-11000M e uma lente Canon com distância focal fixa. Esta montagem foi descrita num artigo científico em paralelo com simulações de ponta, num exemplo de como uma pequena câmera, uma lente rápida, um longo tempo de exposição e um dos melhores locais para a observação astronômica podem revelar enormes estruturas tênues melhor do que um telescópio grande.
Esta imagem profunda foi captada utilizando o método LRGB e mostra-nos o processo real da criação de belas astrofotografias. As pessoas que tentam fotografar o céu noturno deparam-se com muitos desafios, incluindo a interferência de outras fontes de luz e a necessidade de captar objetos astronômicos com profundidade suficiente.
Tentar maximizar o sinal recebido do alvo, ao mesmo tempo que se minimiza a emissão de outras fontes, o chamado ruído, é um aspecto crucial da astrofotografia. A otimização da razão sinal/ruído consegue-se mais facilmente em preto e branco do que a cores. Por isso, um dos truques normalmente utilizados para captar imagens de alta qualidade consiste numa exposição que produz imagens monocromáticas muito detalhadas como a que aqui apresentamos. Os detalhes coloridos de imagens obtidas através de filtros coloridos podem depois ser sobrepostos ou incorporados, como é o caso das Nuvens de Magalhães da imagem.

Tanto a LMC como a SMC são visíveis a olho nu no céu do sul. Observações telescópicas futuras e simulações de computador são a certeza de continuar o esforço contínuo para entender melhor a história da nossa Via Láctea e seus arredores.

Fonte: NASA & ESO

sexta-feira, 22 de julho de 2016

O primeiro estudo atmosférico de exoplanetas do tamanho da Terra

Usando o telescópio espacial Hubble da NASA/ESA, astrônomos concluíram a primeira pesquisa por atmosferas em planetas temperados do tamanho da Terra localizados além do nosso Sistema Solar e encontraram indícios que aumentam as hipóteses de habitabilidade em dois exoplanetas.

animação do trânsito dos dois exoplanetas

© NASA/ESA/STScI (animação do trânsito dos dois exoplanetas)

Especificamente, descobriram ser improvável que os exoplanetas TRAPPIST-1b e TRAPPIST-1c, a aproximadamente 40 anos-luz de distância, tenham atmosferas inchadas e dominadas por hidrogênio, como é comum nos mundos gasosos.

"A falta de uma concha sufocante de hidrogênio-hélio aumenta as chances de habitabilidade nesses planetas," afirma Nikole Lewis, do STScI (Space Telescope Science Institute) em Baltimore, EUA. "Se tivessem um invólucro significativo de hidrogênio-hélio, não haveria hipótese de qualquer um, potencialmente, suportar vida porque a densa atmosfera agiria como uma estufa."

Julien de Wit do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) em Cambridge, liderou uma equipe de cientistas para observar os planetas no infravermelho próximo usando o instrumento WFC3 (Wide Field Camera 3) do Hubble. Usaram espectroscopia para descodificar a luz e revelar pistas sobre a composição química da atmosfera. Embora o conteúdo atmosférico seja desconhecido e tenhamos que aguardar novas observações, a baixa concentração de hidrogênio e hélio animou os cientistas devido às implicações.

"Estas observações iniciais do Hubble são um promissor primeiro passo para aprender mais sobre estes mundos vizinhos, se são rochosos como a Terra e se podem abrigar vida," explica Geoff Yoder, administrador associado do Diretorado de Missões Científicas da NASA em Washington. "Este é um momento emocionante para a NASA e para a pesquisa exoplanetária."

Os planetas orbitam uma estrela anã vermelha com pelo menos 500 milhões de anos, na direção da constelação de Aquário. Foram descobertos no final de 2015 através de uma série de observações pelo TRAPPIST (TRAnsiting Planets and PlanetesImals Small Telescope), um telescópio robótico belga localizado no Observatório La Silla do ESO no Chile.

O TRAPPIST-1b completa uma órbita em torno da anã vermelha a cada 1,5 dias e TRAPPIST-1c em 2,4 dias. Os planetas estão entre 20 e 100 vezes mais perto da sua estrela do que a Terra está do Sol. Considerando que a estrela hospedeira é muito mais tênue que o nosso Sol, os pesquisadores pensam que pelo menos um dos planetas, TRAPPIST-1c, poderá estar na zona habitável da estrela, onde as temperaturas moderadas podem permitir a existência de água líquida à superfície.

No dia 4 de maio, os astrônomos aproveitaram um raro trânsito simultâneo, em que os dois planetas passaram em frente da estrela a apenas minutos um do outro, para medir a luz estelar à medida que era filtrada pela atmosfera existente. Este duplo trânsito, que ocorre apenas a cada dois anos, forneceu um sinal combinado de indicadores simultâneos das características atmosféricas dos planetas.

Os pesquisadores esperam usar o Hubble para realizar observações de acompanhamento e procurar atmosferas mais finas, compostas de elementos mais pesados do que o hidrogênio, como as atmosferas da Terra e Vênus.

"Com mais dados, talvez pudéssemos detectar metano ou ver as características da água nas atmosferas, o que nos daria estimativas da profundidade das atmosferas," comenta Hannah Wakeford, do Goddard Space Flight Center da NASA.

As observações com telescópios futuros, incluindo o telescópio espacial James Webb da NASA, vão ajudar a determinar a composição completa destas atmosferas e caçar potenciais bioassinaturas, como o dióxido de carbono e o ozônio, além de vapor de água e metano. O Webb também poderá analisar a temperatura e a pressão à superfície de um planeta, fatores primordiais para avaliar a sua habitabilidade.

"Estes planetas do tamanho da Terra são os primeiros mundos que os astrônomos podem estudar em detalhe com telescópios atuais e planejados, a fim de determinar se são adequados para a vida," salienta de Wit. "O Hubble tem a capacidade para desempenhar o papel de pré-triagem atmosférica que indica quais destes planetas parecidos com a Terra são os principais candidatos para um estudo mais detalhado com o telescópio Webb."

Os resultados do estudo foram publicados na revista Nature.

Fonte: Massachusetts Institute of Technology

Espaço… a fronteira final

Cinquenta anos atrás o Capitão Kirk e a tripulação da nave estelar Enterprise começaram sua jornada para o espaço: a fronteira final. Agora, como o mais novo filme de Star Trek, o telescópio espacial da Hubble está igualmente explorarando novas fronteiras, observando galáxias distantes através do programa Frontier Fields.

aglomerado de galáxias Abell S1063

© Hubble/J. Lotz (aglomerado de galáxias Abell S1063)

O último alvo da missão do Hubble é o distante aglomerado de galáxias Abell S1063, potencialmente o lar de bilhões de novos mundos.

O aglomerado pode ser visto no centro da imagem e mostra como ele era há quatro bilhões de anos. Mas o aglomerado de galáxias Abell S1063 permite-nos explorar um tempo ainda mais cedo do que isso, onde nenhum telescópio tem realmente olhado antes. A enorme massa do aglomerado distorce e amplia a luz de galáxias que estão por trás devido a um efeito chamado efeito de lente gravitacional. Isso permite que o Hubble veja galáxias que de outra forma seriam muito fracas para serem observadas e torna possível procurar e estudar a primeira geração de galáxias no Universo.

Os primeiros resultados a partir dos dados sobre o Abell S1063 prometem algumas notáveis ​​descobertas. Uma galáxia já foi encontrada como era apenas um bilhão de anos após o Big Bang.

Os astrônomos também identificaram dezesseis galáxias de fundo, cuja luz foi distorcida pelo aglomerado, fazendo imagens múltiplas delas aparecendo no céu. Isto irá ajudar os astrônomos a melhorar seus modelos de distribuição da matéria comum e escura no aglomerado de galáxias, como a gravidade destes influenciam nos efeitos de distorção. Estes modelos são a chave para a compreensão da natureza misteriosa da matéria escura.

O Abell S1063 não está sozinho em sua capacidade de curvar a luz de galáxias de fundo, nem é o único destas enormes lentes cósmicas a ser estudado utilizando Hubble. Três outros aglomerados já foram observados como parte do programa Frontier Fields, e mais dois serão observados ao longo dos próximos anos, fornecendo uma imagem notável de como eles funcionam e o que está dentro e fora deles.

Os dados recolhidos dos aglomerados de galáxias anteriores foram estudados por equipes de todo o mundo, permitindo-lhes fazer descobertas importantes, tais como: as galáxias que existiam apenas centenas de milhões de anos após o Big Bang e a primeira aparição prevista de uma supernova através de lente gravitacional.

O roteirista e produtor de televisão norte-americano Eugene Roddenberry, o criador de Star Trek, ficaria orgulhoso com tal extensa colaboração internacional.

Fonte: ESA

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Uma matriosca no meio interestelar

A descoberta desta bolha tripla, feita de 3 conchas de supernova, permite compreender melhor os mecanismos ocorridos nos discos galácticos.

ilustração de bolha tripla num aglomerado estelar

© IAC (ilustração de bolha tripla num aglomerado estelar)

Como se fosse uma matriosca (boneca russa) espacial, um grupo de astrônomos, liderada por pesquisadores do Instituto de Astrofísica das Canárias (IAC) descobriu o primeiro caso conhecido de três remanescentes de supernova um dentro do outro. Usando o programa BUBBLY, um método desenvolvido dentro do grupo para a detecção de grandes bolhas de expansão do gás no espaço interestelar, os pesquisadores estavam observando a galáxia M33 em nosso grupo local de galáxias e encontraram esta bolha tripla. Os resultados obtidos ajudam a compreender o processo fundamental de formação de estrelas e a disseminação de metais produzidos em estrelas massivas.

O grupo vem construindo uma base de dados destas super bolhas com observações de algumas galáxias e, usando a resolução muito elevada do espectrógrafo 2D, GHaFaS (Galaxy Halpha Fabry-Perot System), no William Herschel Telescope (WHT) de 4,2m do Isaac Newton Group of Telescopes(Observatório Roque de los Muchachos, La Palma), tem sido capaz de detectar e medir estas super bolhas, que variam em tamanho de alguns anos-luz para tão grande como mil anos-luz de diâmetro.

As super bolhas em torno de grandes aglomerados de estrelas jovens são conhecidas por terem uma estrutura complexa devido aos efeitos dos ventos estelares fortes e explosões de supernovas de estrelas individuais, cujas bolhas separadas pode acabar se fundindo em uma super bolha, mas esta é a primeira vez que são encontradas três conchas concêntricas de supernova em expansão.

Este fenômeno permite explorar o meio interestelar de uma forma única, possibilitando medir a quantidade matéria existente em uma concha, e quantas centenas de vezes é da massa do Sol. No entanto, se uma supernova expele apenas cerca de dez vezes a massa do Sol, onde é que os segundo e terceiro reservatórios obterão o seu gás se o primeiro reservatório da supernova varre todo o gás?

A resposta para isso deve vir do gás ao redor e no meio interestelar não homogêneo. O meio interestelar não é totalmente uniforme, deve haver aglomerações densas de gás, rodeado por espaço com gás a uma densidade muito menor. A supernova não apenas varre o gás, ela evapora as laterais dos aglomerados, deixando um pouco de gás denso por trás da qual pode fazer a segunda e a terceira concha.

A presença das bolhas explica porque a formação de estrelas tem sido muito mais lenta do que os modelos simples previstos de evolução da galáxia. Estas bolhas são parte de um processo feedback generalizado no disco da galáxia, se não fosse pelo feedback as galáxias espirais teriam vidas muito curtas, e nossa própria existência seria improvável. A ideia de um meio interestelar não homogêneo não é nova, mas a bolha tripla dá uma visão muito mais clara e quantitativa da estrutura e do processo de feedback. Os resultados ajudarão os teóricos que trabalham com feedback uma melhor compreensão de como este processo funciona em todos os discos de galáxias.

Um artigo foi publicado no periódico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

Fonte: Instituto de Astrofísica de Canarias

terça-feira, 19 de julho de 2016

Missão K2 do Kepler confirma mais de 100 novos exoplanetas

Uma equipe internacional de astrônomos descobriu e confirmou novos mundos usando a missão K2 do telescópio Kepler da NASA.

 ilustração de exoplanetas orbitando uma estrela anã

© NASA/JPL (ilustração de exoplanetas orbitando uma estrela anã)

Entre as descobertas, que totalizaram 197 candidatos iniciais a planeta, cientistas confirmaram 104 exoplanetas. Entre os confirmados está um sistema planetário composto por quatro planetas, planetas estes que poderão ser rochosos.

Os planetas, todos entre 20% e 50% maiores do que a Terra em diâmetro, orbitam a anã M K2-72, a 181 anos-luz de distância na direção da constelação de Aquário. A estrela hospedeira tem menos de metade do tamanho do Sol e é menos brilhante. Os períodos orbitais dos planetas variam entre 5,5 e 24 dias, e dois deles podem ter níveis de irradiação comparáveis aos da Terra. Apesar das suas órbitas íntimas, mais perto da estrela do que Mercúrio está do Sol, de acordo com Ian Crossfield, do Laboratório Lunar e Planetário da Universidade do Arizona, a possibilidade de que a vida possa surgir num planeta em torno de uma estrela deste gênero não pode ser descartada.

Os pesquisadores atingiram este grupo extraordinário de exoplanetas através da combinação de dados com observações de acompanhamento por telescópios terrestres, incluindo o telescópio Gemini Norte e o observatório W. M. Keck no Havaí, o APF (Automated Planet Finder) dos observatórios da Universidade da Califórnia e o LBT (Large Binocular Telescope) operado pela Universidade do Arizona. 

Tanto o Kepler como a sua missão K2 descobrem novos planetas através da medição da queda sutil no brilho de uma estrela, que provocada pela passagem de um planeta em frente da sua estrela. Na sua missão inicial, o Kepler investigou apenas uma zona do céu no hemisfério norte, determinando a frequência de planetas cujo tamanho e temperatura podem ser semelhantes à da Terra em órbita de estrelas parecidas com o nosso Sol. Durante a missão prolongada, em 2013, perdeu a sua capacidade de olhar permanentemente para a sua área de estudo original, mas uma brilhante solução deu nova vida ao telescópio, que está provando ser cientificamente frutífera.

Depois da correção, o Kepler começou a sua missão K2, que tem proporcionado um campo de visão eclíptico com maiores oportunidades para observatórios terrestres tanto no hemisfério norte como no sul. Adicionalmente, a missão K2 é inteiramente conduzida pela comunidade, ou seja, todos os alvos são propostos pela comunidade científica.

Dado que abrange mais do céu, a missão K2 é capaz de observar uma maior fração de estrelas mais frias e pequenas. Considerando que as anãs vermelhas são muito mais comuns na Via Láctea do que as estrelas parecidas com o Sol, as estrelas nas proximidades são predominantemente anãs vermelhas.

"Uma analogia seria dizer que o Kepler realizou um estudo demográfico, ao passo que a missão K2 foca-se nas estrelas brilhantes e próximas com tipos diferentes de planetas," afirma Crossfield. "A missão K2 permite-nos aumentar o número de estrelas pequenas e vermelhas por um fator de 20, que perfazem os melhores sistemas para um estudo mais aprofundado."

Para validar os candidatos a planeta identificados pela missão K2, os pesquisadores obtiveram imagens espectroscopia óptica de alta resolução das estrelas hospedeiras. Ao dispersar a luz estelar como um prisma, os espectrógrafos permitem aos cientistas inferirem as propriedades física de uma estrela - como massa, raio e temperatura - a partir das quais as propriedades de quaisquer planetas em órbita podem ser inferidas.

Estas observações representam um salto natural da missão K2 para as outras missões exoplanetárias no futuro da agência espacial norte-americana, como o TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite) e o telescópio espacial James Webb.

As descobertas foram publicadas online na Série de Suplementos da revista The Astrophysical Journal.

Fonte: University of California

Superfície de Vênus revelada através das nuvens

Usando observações do satélite Venus Express da ESA, cientistas demonstraram pela primeira vez como os padrões climáticos observados nas espessas camadas de nuvens de Vênus estão diretamente ligados com a topografia da superfície por baixo. Ao invés de agir como uma barreira às observações, as nuvens de Vênus fornecem uma visão sobre o que está por baixo.

ondas de gravidade em Vênus

© ESA (ondas de gravidade em Vênus)

Vênus é notoriamente quente, devido a um extremo efeito de estufa que aquece a sua superfície até temperaturas tão elevadas quanto 450ºC. O clima à superfície é opressivo; além de ser quente, o ambiente superficial é pouco iluminado, devido a uma espessa camada de nuvens que envolve completamente o planeta. Os ventos ao nível do solo são lentos, movendo-se pelo planeta a velocidades de aproximadamente 1 metro por segundo.

No entanto, não é o que vemos quando observamos o "gêmeo da Terra" de cima. Em vez disso, espiamos um revestimento liso e brilhante de nuvens. Vemos uma camada que mede 20 km de espessura situada entre os 50 e os 70 km acima da superfície que é, portanto, muito mais fria do que mais abaixo, com temperaturas que rondam os –70ºC, idênticas às temperaturas encontradas no topo das nuvens aqui na Terra. A camada superior das nuvens também abriga um clima extremo, com ventos que sopram centenas de vezes mais depressa do que aqueles na superfície (e mais rápidos que a própria rotação de Vênus, um fenômeno apelidado de "super-rotação").

Apesar destas nuvens normalmente esconderem a superfície de Vênus da nossa observação, o que significa que só podemos espreitar por baixo usando radar ou radiação infravermelha, podem na verdade ser a chave para explorar alguns dos segredos de Vênus. Os cientistas suspeitavam que os padrões climáticos que ondulavam no topo das nuvens fossem influenciados pela topografia do terreno por baixo. Encontraram indícios disto no passado, mas não tinham uma imagem completa de como isto podia funcionar, até agora.

Os cientistas, por meio de observações com a Venus Express, melhoraram em muito o nosso mapa do clima de Vênus, explorando três aspetos do tempo nublado do planeta: a rapidez com que os ventos circulam, a quantidade de água nas nuvens e quão brilhantes são estas nuvens em todo o espectro (especificamente no ultravioleta).

"Os nossos resultados mostraram que todos estes aspetos - os ventos, o conteúdo de água e a composição das nuvens - estão de alguma forma ligados às propriedades da própria superfície de Vênus," afirma Jean-Loup Bertaux do LATMOS (Laboratoire Atmosphères, Milieux, Observations Spatiales), perto de Versalhes, França, e autor principal do novo estudo da Venus Express. "Nós usamos observações da Venus Express abrangendo um período de seis anos, de 2006 a 2012, o que nos permitiu estudar padrões climáticos de longo prazo do planeta."

Embora Vênus seja, comparativamente com a Terra, muito seco, a sua atmosfera contém um pouco de água sob a forma de vapor, particularmente por baixo da sua camada de nuvens. Bertaux e colegas estudaram o topo das nuvens de Vênus na zona infravermelha do espectro, o que permitiu com que captassem a absorção de luz solar pelo vapor de água e com que detectassem a quantidade presente em cada local do topo das nuvens, em torno de 70 km de altitude.

Eles descobriram que uma área particular de nuvens, perto do equador de Vênus, contém mais vapor de água do que os seus arredores. Esta região úmida está localizada mesmo acima de uma montanha com 4.500 metros de altitude na região chamada Aphrodite Terra. Este fenômeno parece ser provocado pelo ar, rico em água, da atmosfera interior, que é forçado para cima das montanhas em Aphrodite Terra, o que levou os pesquisadores a dar à característica a alcunha "fonte de Afrodite".

"Esta 'fonte' estava trancada dentro de um redemoinho de nuvens fluindo a jusante, deslocando-se de leste para oeste através de Vênus," afirma Wojciech Markiewicz do Max-Planck Institute for Solar System Research, em Göttingen, Alemanha. Porque é que toda esta água está neste lugar?

Em paralelo, os cientistas usaram a Venus Express para observar as nuvens no ultravioleta e para acompanhar as suas velocidades. Eles descobriram que as nuvens a jusante da "fonte" refletiam menos radiação ultravioleta do que em todos outros lugares, e que os ventos por cima da montanhosa região Aphrodite Terra eram cerca de 18% mais lentos do que em regiões vizinhas.

Todos estes três fatores podem ser explicados por um único mecanismo provocado pela espessa atmosfera de Vênus, propõem Bertaux e colegas.

"Quando os ventos se deslocam, lentamente, pelas encostas montanhosas à superfície, geram algo conhecido como ondas de gravidade," acrescenta Bertaux. "Apesar do nome, estas nada têm a ver com as ondas gravitacionais, que são ondulações no espaço-tempo; ao invés, as ondas de gravidade são um fenômeno atmosférico que vemos muitas vezes nas partes montanhosas da superfície da Terra. Grosseiramente falando, formam-se quando o ar ondula sobre superfícies acidentadas. As ondas propagam-se verticalmente para cima, com amplitudes cada vez maiores, até que se quebram logo abaixo do topo das nuvens, como as ondas do mar numa linha costeira."

À medida que as ondas se quebram, empurram os velozes ventos de alta altitude e fazem com que diminuam de velocidade, o que significa que os ventos acima das terras altas de Vênus são persistentemente mais lentos do que em outros lugares.

No entanto, estes ventos reaceleram para velocidades habituais a jusante de Aphrodite Terra, e este movimento funciona como uma bomba de ar. A circulação de vento cria um movimento para cima na atmosfera de Vênus e transporta ar rico em água e material escuro no ultravioleta de baixo até ao topo das nuvens, trazendo-a até à superfície da camada de nuvens e criando tanto a "fonte" observada como uma pluma estendida de vapor.

"Sabemos há décadas que a atmosfera de Vênus contém um misterioso absorvente ultravioleta, mas ainda não sabíamos a sua identidade," acrescenta Bertaux. "Esta descoberta ajuda-nos a entender um pouco mais sobre ele e sobre o seu comportamento, por exemplo, que é produzido por baixo do topo das nuvens e que o material escuro no ultravioleta é forçado para cima até ao topo das nuvens de Vênus pela circulação do vento."

Os cientistas já suspeitavam da existência de movimentos ascendentes na atmosfera de Vênus ao longo do equador, provocados pelos altos níveis de aquecimento solar. Esta descoberta revela que a quantidade de água e material escuro no ultravioleta, encontrados nas nuvens de Vênus, é também fortemente reforçada em determinados lugares ao redor do equador do planeta. "Isto é provocado pelas montanhas à superfície de Vênus, que desencadeiam o aumento das ondas e ventos circulatórios que desenterram material de baixo," explica Markiewicz.

Além de ajudar a compreender mais sobre Vênus, a descoberta de que a topografia da superfície pode afetar significativamente a circulação atmosférica tem consequências para a nossa compreensão da super-rotação planetária e do clima em geral.

"Isto certamente desafia os nossos modelos atuais de circulação," comenta Håkan Svedhem, cientista do projeto Venus Express. "Enquanto os nossos modelos reconhecem uma relação entre a topografia e o clima, não costumam produzir padrões climáticos persistentes ligados a características topográficas da superfície. Esta é a primeira vez que esta ligação foi demonstrada claramente em Vênus, é um grande resultado."

A Venus Express operou em Vênus desde 2006 até 2014, quando a sua missão terminou e a sonda começou a sua descida pela atmosfera de Vênus.

Fonte: ESA