O Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) observa o Universo em ondas rádio, a extremidade de menor energia do espectro eletromagnético. Com os receptores de Banda 5 recentemente instalados, o ALMA pode agora “abrir os seus olhos” a uma nova região do espectro rádio, criando assim novas possibilidades de observação.
© ALMA/Hubble (Arp 220)
O cientista de programa europeu do ALMA, Leonardo Testi, explica o significado deste melhoramento: “Os novos receptores tornarão muito mais fácil a detecção de água, um pré-requisito para a vida tal como a conhecemos, no nosso Sistema Solar, em regiões mais distantes da nossa Galáxia e para além dela. Estes receptores permitirão também ao ALMA procurar carbono ionizado no Universo primordial.”
É a localização única do ALMA, a 5.000 metros de altitude no cimo do árido planalto do Chajnantor, no Chile, que torna, antes de mais nada, tais observações possíveis. Uma vez que a água também se encontra presente na atmosfera da Terra, os observatórios situados em locais menos elevados e em ambientes menos áridos têm muito mais dificuldade em identificar a origem da emissão que vem do espaço. A grande sensibilidade do ALMA, aliada à sua elevada resolução angular, implica que até os sinais muito fracos de água no Universo local conseguem observar-se nestes comprimentos de onda. Uma assinatura espectral determinante da água situa-se precisamente nesta região de comprimentos de onda, a 1,64 milímetros.
Os receptores de Banda 5, desenvolvidos pelo Grupo de Desenvolvimento de Receptores Avançados (GARD, acrônimo do inglês) no Observatório Espacial Onsala, Universidade de Tecnologia Chalmers, na Suécia, foram já testados no telescópio APEX, no instrumento SEPIA. Estas observações foram igualmente muito importantes para a seleção de alvos apropriados para os primeiros testes realizados com os receptores montados no ALMA.
Os primeiros receptores foram construídos e entregues ao ALMA na primeira metade de 2015 por um consórcio constituído pela NOVA (Netherlands Research School for Astronomy) e pelo GARD em parceria com o Observatório Nacional de Rádio Astronomia dos Estados Unidos da América (NRAO), que contribuiu para o projeto com o oscilador local. Estes receptores estão agora instalados e estão sendo preparados para poderem ser utilizados pela comunidade astronômica.
Para testar os receptores recentemente instalados fizeram-se observações de vários objetos incluindo as galáxias em colisão Arp 220, uma região de formação estelar massiva situada próximo do centro da Via Láctea, e também uma estrela supergigante vermelha poeirenta, que está quase atingindo a fase de supernova, terminando assim a sua vida.
Para processar os dados e verificar a sua qualidade, astrônomos e especialistas técnicos do ESO e do Centro Regional Europeu do ALMA (ARC), reuniram-se no Observatório Espacial Onsala na Suécia, para a “Semana da Banda 5”, organizada pelo nodo nórdico do ARC. Os resultados finais acabam de ser postos à disposição da comunidade astronômica mundial.
Robert Laing, membro da equipe no ESO, está otimista quanto às possibilidades que se abrem com as observações ALMA na Banda 5: “É extremamente interessante ver estes primeiros resultados da Banda 5 do ALMA, obtidos com dados coletados apenas com um conjunto limitado de antenas. No futuro, a alta sensibilidade e a resolução angular do complemento total da rede ALMA permitirá estudar detalhadamente a água numa grande variedade de objetos, incluindo estrelas em formação e evoluídas, meio interestelar e regiões próximas de buracos negros supermassivos.”
Fonte: ESO