sexta-feira, 1 de junho de 2018

Luas distantes podem abrigar vida

Pesquisadores da Universidade da Califórnia em Riverside e da Universidade do Sul de Queensland (Austrália) identificaram mais de 100 planetas gigantes que potencialmente hospedam luas capazes de suportar vida.

ilustração de um planeta e sua lua

© J. Friedlander/B. Griswold (ilustração de um planeta e sua lua)

Este trabalho guiará o projeto de futuros telescópios capazes de detectar estas potenciais luas e procurar sinais de vida nas suas atmosferas.

Desde o lançamento do telescópio Kepler da NASA, em 2009, os cientistas identificaram milhares de planetas localizados além do nosso Sistema Solar, chamados exoplanetas. Um dos principais objetivos da missão Kepler era o de identificar os planetas que estão nas zonas habitáveis das suas estrelas, o que significa que não são muito quentes nem muito frios para a existência de água líquida, e potencialmente a vida.

Os planetas terrestres (rochosos) são os principais alvos na busca da vida, porque alguns deles podem ser geologicamente ou atmosfericamente semelhantes à Terra. Outro lugar para procurar são os muitos gigantes gasosos identificados durante a missão Kepler. Embora não sejam candidatos a abrigar vida, os planetas parecidos com Júpiter, situados na zona habitável, podem acolher luas rochosas, ou exoluas, que podem sustentar vida.

Atualmente, existem 175 luas conhecidas em órbita dos oito planetas do nosso Sistema Solar. Embora a maioria destas luas orbitem Júpiter e Saturno, que estão fora da zona habitável do Sol, tal pode não ser o caso em outros sistemas solares.

"A inclusão de exoluas rochosas na nossa procura por vida no espaço expandirá muito os lugares que podemos examinar," comenta Stephen Kane, professor associado de astrofísica planetária e membro do Centro de Astrobiologia de Terras Alternativas da Universidade da Califórnia em Riverside.

Os cientistas identificaram 121 planetas gigantes que têm órbitas situadas nas zonas habitáveis das suas estrelas. Com mais de três vezes o raio da Terra, estes planetas gasosos são menos comuns do que os planetas terrestres, mas espera-se que cada um deles abrigue várias luas grandes.

Os cientistas especularam que as exoluas possam proporcionar um ambiente favorável à vida, talvez até melhor do que a Terra. Isto porque recebem energia não só da sua estrela, mas também da radiação refletida pelo seu planeta. Até agora, nenhuma exolua foi confirmada.

"Agora que criamos uma base de dados dos planetas gigantes conhecidos na zona habitável da sua estrela, serão feitas observações dos melhores candidatos a hospedar potenciais exoluas a fim de ajudar a refinar as propriedades esperadas das exoluas. Os nossos estudos de seguimento vão ajudar a informar os futuros projetos de telescópios, para que possamos detectar estas luas, estudar as suas propriedades e procurar sinais de vida," comenta Michelle Hill, estudante da Universidade do Sul de Queensland.

Um artigo foi publicado na revista The Astrophysical Journal.

Fonte: University of California

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Uma vizinhança superlotada em torno da Nebulosa da Tarântula

Brilhando intensamente a cerca de 160.000 anos-luz de distância da Terra, a Nebulosa da Tarântula é a estrutura mais impressionante da Grande Nuvem de Magalhães, uma galáxia satélite da nossa Via Láctea.

região em torno da Nebulosa da Tarântula

© ESO/VST (região em torno da Nebulosa da Tarântula)

O telescópio de rastreio VLT Survey Telescope (VST), instalado no Observatório do Paranal do ESO, no Chile, observou esta região e os seus arredores ricos com extremo detalhe, revelando uma paisagem cósmica de aglomerados de estrelas, nuvens de gás brilhante e restos espalhados de explosões de supernovas. Trata-se da imagem mais nítida obtida até hoje de toda a região.

Aproveitando as capacidades do VST, astrônomos captaram esta nova imagem muito detalhada da Nebulosa da Tarântula e dos seus numerosos aglomerados estelares e nebulosas vizinhas. A Tarântula, também conhecida por 30 Doradus, é a região de formação estelar mais brilhante e energética do Grupo Local de galáxias.

A Nebulosa da Tarântula, no alto da imagem, tem uma dimensão de mais de 1.000 anos-luz e situa-se na direção da constelação do Dourado, no céu austral. Esta bela nebulosa faz parte da Grande Nuvem de Magalhães, uma galáxia anã com 14.000 anos-luz de dimensão. A Grande Nuvem de Magalhães é a terceira galáxia mais próxima da Via Láctea, depois da Galáxia Elíptica Anã de Sagitário e da Galáxia Anã de Cão Maior.

No núcleo da Nebulosa da Tarântula situa-se um jovem aglomerado estelar gigante chamado NGC 2070, uma região com formação explosiva de estrelas cujo núcleo denso, R136, contém algumas das estrelas mais massivas e luminosas que se conhecem. O intenso brilho da Nebulosa da Tarântula foi inicialmente observado e anotado pelo astrônomo francês Nicolas-Louis de Lacaille em 1751.

Outro aglomerado estelar na Nebulosa da Tarântula é o muito mais antigo Hodge 301, no qual se estima que pelo menos 40 estrelas tenham explodido sob a forma de supernovas, liberando gás para a região. Outro exemplo de um resto de supernova é a superbolha SNR N157B, que envolve o aglomerado estelar aberto NGC 2060. Este aglomerado foi inicialmente observado pelo astrônomo britânico John Herschel em 1836, usando um telescópio refletor de 18,6 polegadas no Cabo da Boa Esperança, África do Sul. Na periferia da Nebulosa da Tarântula, embaixo à direita, podemos ver a localização da famosa supernova SN 1987A. A SN 1987A foi a primeira supernova a ser observada com telescópios modernos desde a Estrela de Kepler de 1604. A SN 1987A brilhou intensamente com o poder de 100 milhões de sóis durante vários meses após a sua descoberta em 23 de Fevereiro de 1987.

Deslocando-nos para o lado esquerda da Nebulosa da Tarântula, podemos ver ainda o brilhante aglomerado estelar aberto chamado NGC 2100, que mostra uma concentração brilhante de estrelas azuis rodeadas por estrelas vermelhas. Este aglomerado foi descoberto pelo astrônomo escocês James Dunlop em 1826, quando trabalhava na Austrália, usando um telescópio refletor de 23 cm construído por ele próprio.

No centro da imagem encontra-se o aglomerado estelar e nebulosa de emissão NGC 2074, outra região de formação de estrelas massivas descoberta por John Herschel. Olhando com mais atenção, podemos observar uma estrutura escura de poeira com uma forma semelhante a um cavalo marinho, o “Cavalo Marinho da Grande Nuvem de Magalhães”. Esta gigantesca estrutura em forma de pilar tem cerca de 20 anos-luz de dimensão, quase cinco vezes a distância entre o Sol e a sua estrela mais próxima, Alfa Centauri. Esta estrutura está condenada a desaparecer nos próximos milhões de anos, já que, à medida que mais estrelas se formam no aglomerado, a sua luz e ventos vão varrendo lentamente os pilares de poeira.

A obtenção desta imagem foi possível graças à câmera especial de 256 milhões de pixels do VST, a OmegaCAM. A imagem foi criada a partir de dados obtidos por esta câmera através de quatro filtros de cor diferentes, incluindo um concebido para isolar o brilho vermelho do hidrogênio ionizado.

A linha de emissão de H-alfa é uma linha espectral vermelha que se forma quando o elétron no interior do átomo de hidrogênio perde energia. Este fenômeno ocorre no hidrogênio ao redor de estrelas quentes jovens, quando este gás se ioniza por efeito da intensa radiação ultravioleta e subsequentemente os elétrons se recombinam com os prótons para formar novamente átomos. A capacidade da OmegaCAM em detectar esta linha espectral permite aos astrônomos caracterizar a física de nuvens moleculares gigantes onde se formam novas estrelas e planetas.

Fonte: ESO

terça-feira, 29 de maio de 2018

Uma lupa para um pulsar

Em um sistema a 6.500 anos-luz de distância, um pulsar e uma anã marrom dançam chicoteando um ao outro a cada nove horas.

ilustração do pulsar e anã marrom

© Mark A. Garlick (ilustração do pulsar e anã marrom)

A dança deles não vai durar, além de seu feixe de ondas de rádio como um farol, o pulsar PSR B1957+20 está emitindo um vento feroz de partículas que lentamente explodem seu companheiro. Por essa razão, o pulsar ganhou o nome de “viúva negra”, ou seja, espécies de aranha que comem seu parceiro.

Mas antes que a refeição esteja completa, a anã marrom tem algo a nos oferecer: uma lupa que expõe o pulsar em detalhes incríveis.

O sistema inteiro é minúsculo: a anã marrom é do tamanho de Júpiter e o pulsar é apenas do tamanho de uma cidade pequena; a distância que os separa é aproximadamente cinco vezes a distância entre a Terra e a Lua. Do ponto de vista da Terra, a anã marrom é grande o suficiente para eclipsar o pulsar por 40 minutos toda vez que eles circulam um ao outro.

É esta geometria afortunada que dá à anã marrom seu poder de ampliação. O casulo de plasma ao redor da anã marrom tem um efeito de concentrar o feixe do farol do pulsar, quando tudo está alinhado, nota-se o pulso de ondas de rádio passando pelo plasma, que concentra a radiação.

Não era óbvio que isso deveria acontecer. Mas, em 2014, Robert Main (Universidade de Toronto) e seus colegas observaram uma órbita completa de 9,2 horas usando o telescópio de 305 metros William E. Gordon no Observatório de Arecibo. Pouco antes e logo após cada eclipse do pulsar, eles notaram a emissão dos pulsos de rádio. Além disso, os pulsos se iluminaram de maneiras diferentes em frequências diferentes, exatamente como esperado para um evento de lente.

  A emissão dos dois polos do pulsar não é amplificada igualmente. Há momentos em que a emissão de um polo é grandemente aumentada, enquanto o outro não é afetado. Em outras palavras, a "lente" gasosa ao redor da anã marrom às vezes aumentava a emissão do polo norte do pulsar e às vezes do seu polo sul, resolvendo duas áreas de emissão a apenas 10 km além de 6.500 anos-luz de distância. Isso equivale a decifrar uma pulga na superfície de Plutão usando telescópios baseados na Terra.

Esta não é a primeira vez que os astrônomos viram as lentes de plasma. Outros exemplos incluem quasares distantes e o pulsar da Nebulosa do Caranguejo. No entanto, levou 30 anos entre a descoberta do PSR B1957+20 e a detecção de suas lentes. Tudo se resume ao aumento do poder de computação que permitiu aos astrônomos examinar as mudanças nas escalas de microssegundos em várias frequências de rádio.

Os pulsares são usados para iluminar o Universo invisível!

Os resultados foram divulgados na revista Nature.

Fonte: Sky & Telescope

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Hubble mostra o Universo local em ultravioleta

Usando a nitidez incomparável e as capacidades de observação ultravioleta do telescópio espacial Hubble, uma equipe internacional de astrônomos criou o mais abrangente levantamento de luz ultravioleta de alta resolução de galáxias em formação de estrelas no Universo local.

NGC 6744

© Hubble/LEGUS (NGC 6744)

A luz ultravioleta é um dos principais marcadores das estrelas mais jovens e mais quentes. Estas estrelas são de curta duração e intensamente brilhantes. Os astrônomos concluíram agora um inquérito chamado LEGUS (Legacy ExtraGalactic UV Survey) que captou os detalhes de 50 galáxias locais num raio de 60 milhões de anos-luz da Terra, tanto na luz visível como na ultravioleta.

A equipe da LEGUS selecionou cuidadosamente seus alvos dentre as 500 galáxias candidatas compiladas a partir de levantamentos em terra. Eles escolheram as galáxias com base em sua massa, taxa de formação de estrelas e sua abundância de elementos mais pesados ​​que o hidrogênio e o hélio. Devido à proximidade das galáxias selecionadas, o Hubble conseguiu obter resolução em seus principais componentes: estrelas e aglomerados estelares. Com os dados da LEGUS, a equipe criou um catálogo com cerca de 8.000 aglomerados jovens e também criou um catálogo de estrelas com cerca de 39 milhões de estrelas azuis quentes que são pelo menos cinco vezes mais massivas que o nosso Sol.

M96

© Hubble/LEGUS (M96)

Os dados, reunidos com a Wide Field Camera 3 e a Advanced Camera for Surveys do Hubble, forneceram informações detalhadas sobre estrelas jovens e massivas e aglomerados estelares, e como o ambiente afeta o seu desenvolvimento. Como tal, o catálogo oferece um extenso recurso para compreender as complexidades da formação de estrelas e evolução das galáxias.

Uma das principais questões que a pesquisa pode ajudar os astrônomos a responder é a conexão entre a formação de estrelas e as principais estruturas, como os braços espirais, que formam uma galáxia. Estas distribuições estruturadas são particularmente visíveis nas populações estelares mais jovens.

Ao resolver os detalhes das galáxias estudadas, ao mesmo tempo em que estuda a conexão com estruturas galácticas maiores, a equipe busca identificar os mecanismos físicos por trás da distribuição observada das populações estelares dentro das galáxias.

Descobrir o elo final entre a formação de gases e estrelas é a chave para entender completamente a evolução das galáxias. Os astrônomos estão estudando este elo observando os efeitos do ambiente nos aglomerados estelares e como sua sobrevivência está ligada ao seu entorno.

O LEGUS não apenas permitirá que os astrônomos entendam o Universo local, mas também ajudará a interpretar pontos de vista de galáxias distantes, onde a luz ultravioleta de estrelas jovens é esticada para comprimentos de onda infravermelhos devido à expansão do espaço. O telescópio espacial James Webb e sua capacidade de observação no infravermelho distante complementarão as visões da LEGUS.

Fonte: Space Telescope Science Institute

Um arco cósmico verde

Esta imagem efetuada pelo telescópio espacial Hubble mostra um aglomerado com centenas de galáxias localizado a aproximadamente 7,5 bilhões de anos-luz de distância da Terra.

SDSS J1156 1911

© Hubble (SDSS J1156+1911)

A galáxia mais brilhante do aglomerado é a SDSS J1156+1911 e é conhecida como Brightest Cluster Galaxy (BCG), e pode ser visível na parte central inferior da imagem. Ela foi descoberta pelo Sloan Giant Arc Survey, que estuda dados dos mapas que cobrem imensas partes do céu do Sloan Digital Sky Survey. E o resultado é que este projeto encontrou mais de 70 galáxias que são fortemente afetadas pelo fenômeno cósmico conhecido como lente gravitacional.

A lente gravitacional é das previsões da Teoria Geral da Relatividade de Albert Einstein. A massa contida dentro de uma galáxia é tão grande que ela pode contorcer o chamado tecido do espaço-tempo, fazendo com que a luz viaje então por trajetórias curvas. Como resultado, a imagem das galáxias mais distantes aparecem distorcidas e ampliadas para um observador, já que a luz está sendo desviada ao redor da galáxia mais massiva na frente. Este efeito pode ser muito útil na astronomia, permitindo a visualização de galáxias que até então eram muito distantes para serem observadas com os instrumentos astronômicos convencionais.

Os aglomerados de galáxias são gigantescas estruturas que possuem centenas ou milhares de galáxias com massa equivalente a trilhões de vezes a massa do Sol. O SDSS J1156+1911 tem uma massa aproximada de 600 bilhões de vezes a massa do Sol, fazendo dele um aglomerado menos massivo do que a média. Contudo, ele ainda é massivo o suficiente para produzir o arco esverdeado logo abaixo da galáxia mais brilhante, este arco nada mais é que a imagem de uma galáxia distante sofrendo os efeitos da lente gravitacional.

Fonte: ESA

Uma galáxia Seyfert na constelação do Lobo

Esta imagem mostra o centro da galáxia NGC 5643, situada a 55 milhões de anos-luz de distância, na constelação do Lobo, também conhecida como uma galáxia Seyfert.

Hidden from view

© ESO/ALMA (NGC 5643)

Estas galáxias possuem centros muito luminosos, que se pensa serem alimentados por matéria que está sendo acretada por um buraco negro supermassivo que se encontra no seu interior, que podem também estar envolvidos ou obscurecidos por nuvens de poeira e material intergalático.

O resultado disto é que pode ser difícil observar o centro ativo de uma galáxia Seyfert. A NGC 5643 apresenta um desafio suplementar: quando observada a partir da Terra apresenta-se com uma inclinação elevada, o que faz com que seja ainda mais difícil observar o seu interior. No entanto, os cientistas utilizaram o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) juntamente com dados de arquivo do instrumento MUSE (Multi Unit Spectroscopic Explorer), instalado no Very Large Telescope (VLT) do ESO, para revelar esta imagem da NGC 5643, com correntes de gás ionizado muito energético sendo lançadas para o espaço.

Estas correntes impressionantes estendem-se ao longo de cada um dos lados da galáxia e têm origem na matéria que está sendo ejetada pelo disco de acreção do buraco negro supermassivo situado no núcleo da NGC 5643. Os dados combinados do ALMA e do VLT mostram que a região central desta galáxia possui duas componentes distintas: um disco em rotação espiral (em vermelho), constituído por gás molecular frio, localizado através do monóxido de carbono; e gás deslocando-se para o exterior, localizado através do oxigênio e hidrogênio ionizados (em tons azul/verde), perpendicular ao disco nuclear interior.

Fonte: ESO

Segredos ocultos de uma região de formação estelar massiva

Os berçários estelares são locais nebulosos e poeirentos que brilham intensamente na luz infravermelha.

G305

© ESA/Herschel (G305)

O complexo de formação de estrelas G305 não é uma exceção. Este apresenta um número de nuvens de gás brilhantes e intrincadas, aquecidas por estrelas jovens no meio delas. Nesta espetacular imagem do observatório espacial Herschel da ESA, estes pontos quentes de formação estelar destacam-se num tom azul, que contrasta com o vermelho-acastanhado das regiões mais frias.

Embora existam vários locais de formação de estrelas espalhados por esta imagem, os mais impressionantes cercam a área escura em forma de coração, no canto superior direito da imagem. Escondido no centro da região escura, encontra-se a enorme estrela WR48a e os seus dois vizinhos, os aglomerados estelares Danks 1 e 2. Os três desempenham um papel importante no desencadeamento da formação de novas estrelas, mesmo que eles próprios sejam objetos relativamente jovens, alguns milhões de anos (para comparação, o Sol tem cerca de 4,6 bilhões de anos).

Fortes ventos e radiação da WR48a, juntamente com as estrelas de alta massa nos dois aglomerados, afastaram os restos de gás da nuvem de onde se originaram. O gás arrastado, reunido na borda da bolha em forma de coração, está agora formando novas estrelas.

Através do Herschel, os astrônomos identificaram 16 locais onde estrelas de alta massa estão se formando neste berçário estelar. A região é um dos mais brilhantes e abundantes complexos de formação estelar da Via Láctea, e uma região ideal para observar e estudar estrelas massivas em diferentes estágios de formação e evolução.

O complexo G305 fica a cerca de 12.000 anos-luz de distância e recebe o nome da sua localização, em torno de 305º de longitude no plano da nossa galáxia. No céu noturno, aparece perto da Nebulosa Saco de Carvão, uma grande nuvem interestelar de poeira, visível a olho nu, e localizada na constelação de Crux, a Cruz do Sul. Uma nebulosa escura muito proeminente, o Saco de Carvão aparece nos céus do sul como uma mancha preta contra o pano de fundo brilhante e estrelado da Via Láctea.

Esta imagem, obtida como parte do Herschel Infrared Galactic Plane Survey (Hi-GAL), combina observações em três diferentes comprimentos de onda: 70 mícrons (azul), 160 mícrons (verde) e 250 mícrons (vermelho).

Lançado em 2009, o Herschel operou durante quatro anos, observando os comprimentos de onda do infravermelho distante e do submilímetro. Esta faixa espectral permitiu observar o brilho da poeira em nuvens de gás onde as estrelas nascem, para investigar este processo e observar a sua evolução inicial.

Fonte: ESA

domingo, 27 de maio de 2018

Uma estrela de nêutrons distante e solitária

Foi descoberto um tipo especial de estrela de nêutrons pela primeira vez fora da Via Láctea, através de dados do observatório de raios X Chandra da NASA e do Very Large Telescope (VLT) do ESO no Chile.

composição de E0101, no óptico e em raios X

© Chandra/VLT/Hubble (composição de E0101, no óptico e em raios X)

As estrelas de nêutrons são os núcleos ultradensos de estrelas massivas que colapsam e explodem como supernovas. Esta estrela de nêutrons recém-identificada é de uma variedade rara pois tem um campo magnético fraco e não tem uma companheira estelar.

A estrela de nêutrons está localizada no remanescente de uma supernova, conhecida como 1E 0102.2-7219 (abreviada como E0102) na Pequena Nuvem de Magalhães, a 200.000 anos-luz da Terra.

A nova composição da E0102 permite que os astrônomos aprendam novos detalhes sobre este objeto que foi descoberto há mais de três décadas atrás. Nesta imagem, os raios X do Chandra têm tons azuis e roxos, enquanto os dados ópticos do instrumento MUSE (Multi Unit Spectroscopic Explorer) do VLT têm um tom vermelho brilhante. Os dados adicionais do telescópio espacial Hubble têm tons vermelhos escuros e verdes.

Remanescentes de supernova ricos em oxigênio, como E0102, são importantes para compreender como as estrelas massivas fundem os elementos mais leves nos mais pesados antes de explodirem. Vistos até alguns milhares de anos após a explosão original, os remanescentes ricos em oxigênio contêm os detritos expelidos do interior da estrela moribunda. Estes detritos (visíveis como a estrutura filamentar verde na imagem combinada) são observados hoje passando pelo espaço depois de expulsos a milhões de quilômetros por hora.

As observações de E0102 pelo Chandra mostram que o remanescente de supernova é dominado por uma grande estrutura em forma de anel em raios X, associada à onda de choque da supernova. Os novos dados MUSE revelaram um anel menor de gás (em vermelho brilhante) que está se expandindo mais lentamente do que a onda de choque. No centro deste anel está uma fonte de raios X semelhante a um ponto azul. Juntos, o pequeno anel e a fonte pontual agem como um alvo celeste.

Os dados combinados do Chandra e do MUSE sugerem que esta fonte é uma estrela de nêutrons isolada, criada na explosão de supernova há cerca de dois milênios. O espectro de energia de raios X desta fonte é muito semelhante à das estrelas de nêutrons localizadas no centro de outros dois famosos remanescentes de supernova: Cassiopeia A (Cas A) e Puppis A. Estas duas estrelas de nêutrons também não têm estrelas companheiras.

A ausência de evidências de emissão de rádio estendida ou de radiação de raios X pulsada, tipicamente associadas com estrelas de nêutrons altamente magnetizadas e de rotação veloz, indica que os astrônomos detectaram os raios X da superfície quente de uma estrela de nêutrons isolada com campos magnéticos fracos. Foram detectados, na Via Láctea, cerca de 10 objetos deste tipo, mas este é o primeiro detectado fora da nossa Galáxia.

Mas como é que esta estrela de nêutrons acabou na sua posição atual, aparentemente deslocada do centro da chamada concha circular de emissão de raios X produzida pela onda de choque da supernova? Uma possibilidade é que a explosão de supernova ocorreu perto do meio do remanescente, mas a estrela de nêutrons foi expulsa do local por uma explosão assimétrica, a uma velocidade alta de aproximadamente 3,2 milhões de quilômetros por hora. No entanto, neste cenário, é difícil explicar por que a estrela de nêutrons está hoje tão bem cercada pelo recém-descoberto anel de gás visto nos comprimentos de onda visíveis.

Outra explicação possível é que a estrela de nêutrons está se movendo lentamente e a sua posição atual é aproximadamente onde a explosão de supernova teve lugar. Neste caso, o material no anel óptico pode ter sido expelido ou durante a explosão de supernova, ou pela progenitora condenada até alguns milhares de anos antes.

Um desafio deste segundo cenário é que o local da explosão estaria localizado bem longe do centro do remanescente, conforme determinado pela emissão prolongada de raios X. Isto implicaria um conjunto especial de circunstâncias para os arredores de E0102: por exemplo, uma cavidade esculpida pelos ventos da estrela progenitora antes da explosão de supernova e variações na densidade do gás e poeira interestelar em torno do remanescente.

As futuras observações de E0102 em comprimentos de onda de raios X, ópticos e de rádio devem ajudar os astrônomos a resolver este novo e empolgante mistério apresentado pela solitária estrela de nêutrons.

O artigo que descreve estes resultados foi publicado na revista Nature Astronomy.

Fonte: Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics

sábado, 26 de maio de 2018

Estudo examina a história das pequenas luas de Saturno

As pequenas luas interiores de Saturno parecem-se com ravioli e spaetzle gigantes.

formato das luas de Saturno

© Cassini (formato das luas de Saturno)

A sua forma espetacular foi revelada pela sonda Cassini. Pela primeira vez, pesquisadores da Universidade de Berna mostram como estas luas foram formadas. As formas peculiares são um resultado natural das colisões e fusões entre pequenas luas de tamanho semelhante, como demonstram simulações em computador.

Dado que Saturno tem 95 vezes mais massa do que a Terra e as luas interiores orbitam o planeta a uma distância menos de metade da distância Terra-Lua, as marés são enormes e separam quase tudo. Portanto, as luas interiores de Saturno não poderiam ter-se formado com estas formas peculiares através da acreção gradual de material em torno de um único núcleo. Um modelo alternativo chamado regime piramidal sugere que estas luas foram formadas por uma série de fusões de pequenas luas de tamanho similar.

Os pesquisadores puderam verificar o regime piramidal, e ainda mostraram que as colisões das pequenas luas resultaram, exatamente, nas formas fotografadas pela sonda Cassini. Fusões de frente (ou quase de frente) levaram a objetos achatados com grandes cristas equatoriais, como observado em Atlas e Pã. Com ângulos de impacto um pouco mais oblíquos, as colisões resultaram em formas mais alongadas parecidas com massa alemã (spaetzle), como na lua Prometeu, de 90 km de comprimento, fotografada pela Cassini.

Com base na órbita atual das luas e no seu ambiente orbital, os cientistas foram capazes de estimar que as velocidades de impacto foram da ordem das dezenas de metros por segundo. Simulando colisões para vários ângulos de impacto, obtiveram várias formas estáveis parecidas, mas apenas para ângulos de impacto baixos. Se o ângulo de impacto for maior do que dez graus, as formas resultantes já não são estáveis. Qualquer objeto em forma de "patinho de borracha", como o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, desmoronaria por causa das marés de Saturno. É por isso que as pequenas luas de Saturno parecem muito diferentes dos cometas que geralmente têm formas bilobadas.

Curiosamente, as colisões frontais não são tão raras quanto se poderia achar. Pensa-se que as pequenas luas interiores tenham origem nos anéis de Saturno, um disco fino localizado no plano equatorial do planeta. Como Saturno não é uma esfera perfeita, mas sim oblata, torna difícil que qualquer objeto deixe este plano estreito. Assim, colisões quase de frente são frequentes e o ângulo de impacto tende a diminuir ainda mais em encontros subsequentes.

Embora os pesquisadores se tivessem concentrado principalmente nas pequenas luas interiores de Saturno, também descobriram uma possível explicação para um mistério de longa data a respeito da terceira maior lua de Saturno, Jápeto. Porque é que Jápeto tem uma forma oblata e uma crista equatorial distinta? Os resultados de modelagem sugerem que estas características podem ser o resultado de uma fusão entre luas de tamanho idêntico que ocorrem a um ângulo próximo do frontal, semelhante às luas menores.

Um artigo foi publicado na revista Nature Astronomy.

Fonte: University of Bern

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Uma galáxia espiral em colisão

Esta galáxia está tendo um mau milênio.

galáxias Antennae

© Hublle/Domingo Pestana (asteroide 2015 BZ509)

De fato, os últimos 100 milhões de anos não foram tão bons, e provavelmente o próximo bilhão será bastante tumultuado. Esta imagem foi tirada pelo telescópio espacial Hubble para entender melhor as colisões de galáxias. Visível no canto inferior direito, a NGC 4038 costumava ser uma galáxia espiral normal, até que a NGC 4039, em seu canto superior esquerdo, colidiu com ela.

Os destroços em evolução vistos aqui são conhecidos como galáxias Antennae, também denominado Arp 244. À medida que a gravidade reestrutura cada galáxia, nuvens de gás se chocam umas contra as outras, nós azuis brilhantes de estrelas se formando, estrelas massivas se formam e explodem, e filamentos marrons de poeira estão espalhados.

Eventualmente, as duas galáxias irão convergir para uma galáxia espiral maior. Tais colisões não são incomuns, e até mesmo a nossa galáxia, a Via Láctea, passou por várias no passado e está prevista colidir com a nossa vizinha galáxia de Andrômeda em alguns bilhões de anos.

Fonte: NASA

Descoberto o primeiro imigrante interestelar no Sistema Solar

Um novo estudo descobriu o primeiro imigrante permanente conhecido no nosso Sistema Solar. O asteroide, atualmente aninhado na órbita de Júpiter, é o primeiro asteroide conhecido a ser capturado de outro sistema estelar.

asteroide 2015 BZ509

© C. Veillet/LBTO (asteroide 2015 BZ509)

Imagens do asteroide obtidas pelo Large Binocular Telescope Observatory (LBTO) que estabeleceu a sua natureza co-orbital retrógrada. As estrelas brilhantes e o asteroide (no círculo amarelo) aparecem escuros e o céu branco nesta imagem negativa.

O objeto conhecido como 'Oumuamua foi o último visitante interestelar a chegar às manchetes em 2017. No entanto, era apenas um turista passageiro, enquanto este ex-exoasteroide, a quem deram o nome cativante (514107) 2015 BZ509, é um residente de longa duração.

Todos os planetas do nosso Sistema Solar, e a grande maioria dos outros objetos, viajam ao redor do Sol na mesma direção. No entanto, o 2015 BZ509 é diferente, ele move-se na direção oposta, ou seja, numa órbita retrógrada.

"A razão pela qual este asteroide ficou movendo desta maneira, enquanto partilhava a órbita de Júpiter, tem sido um mistério até agora," explica o Dr. Fathi Namouni, autor principal do estudo. "Se 2015 BZ509 fosse nativo ao nosso Sistema Solar, deveria ter a mesma direção original tal como todos os outros planetas e asteroides, herdada da nuvem de gás e poeira que os formou."

No entanto, a equipe realizou simulações para traçar a localização de 2015 BZ509 até ao nascimento do nosso Sistema Solar, há 4,5 bilhões de anos, quando a era da formação planetária terminou. Estas mostram que 2015 BZ509 sempre se moveu desta forma e por isso não poderia ter aí estado originalmente. Portanto, deve ter sido capturado de outro sistema estelar.

"A imigração de asteroides de outros sistemas estelares ocorre porque o Sol inicialmente se formou num aglomerado estelar, onde cada estrela tinha o seu próprio sistema de planetas e asteroides," comenta a Dra. Helena Morais, que também integra a equipe.

"A proximidade das estrelas, ajudada pelas forças gravitacionais dos planetas, ajuda estes sistemas a atraírem-se, a remover e a capturar asteroides uns dos outros."

A descoberta do primeiro imigrante asteroide permanente no Sistema Solar tem implicações importantes para os problemas em aberto da formação planetária, da evolução do Sistema Solar e, possivelmente, da origem da própria vida.

Entender exatamente quando e como o asteroide 2015 BZ509 se estabeleceu no Sistema Solar fornece pistas sobre o berçário estelar original do Sol e sobre o potencial enriquecimento do nosso ambiente inicial com os componentes necessários para o surgimento da vida na Terra.

O trabalho foi publicado na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society: Letters.

Fonte: Royal Astronomical Society

segunda-feira, 21 de maio de 2018

O “último abraço” do VIMOS

Nesta imagem, obtida pelo instrumento VIMOS (VIsible Multi-Object Spectrograph) montado no Very Large Telescope (VLT) do ESO, podemos ver duas galáxias em espiral presas numa dança rodopiante.

Arp 271

© ESO/Juan Carlos Muñoz (Arp 271)

As duas galáxias em interação, NGC 5426 e NGC 5427, formam em conjunto um intrigante objeto astronômico chamado Arp 271, o qual foi captado pelo VIMOS antes deste ser desativado em 24 de Março de 2018.

O VIMOS esteve em operação no VLT durante impressionantes 16 anos. Durante este tempo, o instrumento ajudou os cientistas a estudar as fases iniciais rebeldes da vida de galáxias massivas, observar interações de galáxias triplas e explorar questões cósmicas profundas, como por exemplo, como é que as galáxias mais massivas do Universo cresceram tanto. Em vez de se focar apenas num único objeto, o VIMOS podia captar informação detalhada sobre centenas de galáxias de uma só vez. Este instrumento muito sensível colectou espectros de dezenas de milhares de galáxias em todo o Universo, mostrando-nos como se formam, crescem e evoluem.

Nesta imagem, o Arp 271 encontra-se enquadrado por um fundo de galáxias distantes e podemos ver filamentos de gás azulado, poeira e estrelas jovens transpondo o fosso entre as duas galáxias, resultado da sua interação gravitacional mútua.

Como muitas observações astronômicas, esta imagem mostra-nos também o passado. Graças à enorme distância que separa a Terra de Arp 271, a imagem mostra-nos na realidade como é que estas galáxias eram há cerca de 110 milhões de anos atrás: o tempo que a sua luz levou a chegar até nós.

Este tipo de colisão e fusão será o destino eventual da Via Láctea, uma vez que a nossa galáxia sofrerá uma interação semelhante com a sua galáxia vizinha Andrômeda.

Fonte: ESO

Um aglomerado de galáxias no superaglomerado Laniakea

À primeira vista, essa imagem no canto inferior esquerdo é dominada pelo brilho vibrante da galáxia espiral. No entanto, esta galáxia está longe de ser o espetáculo mais interessante aqui, atrás dela fica um aglomerado de galáxias.

Between Local and Laniakea

© Hubble (aglomerado de galáxias SDSS J0333+0651)

As galáxias não são distribuídas aleatoriamente no espaço; elas se juntam, reunidas pela ação inflexível da gravidade, para formar grupos e aglomerados. A Via Láctea é um membro do Grupo Local, que faz parte do Aglomerado de Virgem, que por sua vez faz parte do superaglomerado Laniakea, de 100.000 galáxias.

O aglomerado de galáxias visto nesta imagem é conhecido como SDSS J0333+0651. Os aglomerados de galáxias como esse podem ajudar os astrônomos a entender o Universo distante e primitivo. O aglomerado de galáxias SDSS J0333+0651 foi visualizado como parte de um estudo de formação de estrelas em galáxias distantes.

As regiões de formação de estrelas geralmente não são muito grandes, estendendo-se por algumas centenas de anos-luz no máximo, por isso é difícil para os telescópios possuirem resolução à distância. Mesmo usando suas câmeras mais sensíveis e de maior resolução, o telescópio espacial Hubble não consegue ter resolução de regiões estelares muito distantes, então os astrônomos usam um truque cósmico: eles procuram por aglomerados de galáxias, que têm uma influência gravitacional tão imensa que distorcem o espaço-tempo em torno deles. Essa distorção age como uma lente, ampliando a luz das galáxias que ficam muito atrás do aglomerado e produzindo arcos alongados como o que é visto à esquerda do centro dessa imagem.

Fonte: ESA

Vista nuvem de hidrogênio ionizado perto da Galáxia do Redemoinho

Uma equipe de pesquisadores liderada por astrônomos da Case Western Reserve University encontrou uma nuvem de gás hidrogênio ionizado nunca vista antes, associada à Galáxia do Redemoinho, também conhecida como M51 e NGC 5194, uma galáxia espiral localizada na constelação de Canes Venatici, a cerca de 26 milhões de anos-luz de distância.

NGC 5194 e NGC 5195

© Hubble (NGC 5194 e NGC 5195)

A descoberta oferece aos astrônomos a oportunidade de visualizar o comportamento de um buraco negro supermassivo e de sua galáxia associada à medida que consome e “recicla” o gás hidrogênio.

São conhecidas algumas nuvens como esta em galáxias distantes, mas não em uma tão próxima daqui. Isso possibilita o estudo de como o gás é ejetado das galáxias e como os buracos negros podem influenciar grandes regiões do espaço ao redor destas galáxias.

Chamado de Nuvem M51, o objeto tem cerca de 81.500 x 24.460 anos-luz de tamanho e está localizado a 104.370 anos-luz ao norte do centro da Galáxia do Redemoinho.

Ele foi descoberto por meio de imagens de campo amplo usando o telescópio Burrell Schmidt no Observatório Nacional de Kitt Peak.

Uma vez identificado o espectro da nuvem, foi possível inferir o quão rápido estava se afastando da Terra, e imediatamente foi verificado que fazia parte da M51, e não algo localizado na Via Láctea.

Os pesquisadores favoreceram os modelos nos quais o gás foi expelido das regiões internas do sistema M51 devido aos ventos de explosão de estrelas e foi subsequentemente ionizado por choques ou um Núcleo Ativo de Galáxia (AGN) de desvanecimento.

Este último cenário levanta a intrigante possibilidade de que a M51 possa ser o exemplo mais próximo de uma nebulosa fóssil de AGN ou eco de luz, semelhante ao famoso "Hanny's Voorwerp" no sistema IC 2497.

IC 2497 e Hanny's Voorwerp

© Hubble/Galaxy Zoo Team (IC 2497 e Hanny's Voorwerp)

A descoberta foi relatada no periódico Astrophysical Journal Letters.

Fonte: Case Western Reserve University

sábado, 19 de maio de 2018

O que acontecerá quando nosso Sol morrer?

O nosso Sol irá morrer em aproximadamente 5 bilhões de anos, mas não havia certeza sobre o que aconteceria depois… Até agora.

Abell 39

© Adam Block (Nebulosa Planetária Abell 39)

Uma equipe de astrônomos, incluindo Albert Ziljstra, da Universidade de Manchester, previu que o Sol irá se tornar um anel maciço de gás e poeira brilhante e luminoso, conhecido como Nebulosa Planetária.

As Nebulosas Planetárias são o fim de 90% da vida ativa das estrelas e marcam a transição de uma gigante vermelha para uma anã branca. Mas, por anos, os cientistas não tinham certeza se o Sol seguiria este mesmo destino: pensava-se que sua massa era pequena demais para criar uma Nebulosa Planetária visível.

Para investigar isso, a equipe desenvolveu um novo modelo de evolução estelar que prevê o ciclo de vida das estrelas. O modelo foi usado para prever o brilho (ou luminosidade) do envelope de gás ejetado em estrelas de diferentes massas e idades.

Quando uma estrela morre, ejeta uma massa de gás e poeira conhecida por envelope no espaço. O envelope pode ter a massa de até metade da estrela. O processo revela o núcleo da estrela, que neste ponto da vida está ficando sem combustível, até finalmente desligar, antes de morrer.

É só aí que o núcleo quente faz o envelope ejetado brilhar por cerca de 10.000 anos, um período breve em termos astronômicos. Isso é o que faz a Nebulosa Planetária se tornar visível. Algumas são tão brilhantes que podem ser vistas a uma distância grande, medindo dezenas de milhões de anos-luz. Neste momento, a própria estrela pode ser muito fraca para ser vista.

O modelo também resolve outro problema que têm deixado astrônomos perplexos por um quarto de século. Há aproximadamente 25 anos, astrônomos descobriram que ao observar uma Nebulosa Planetária de outra galáxia, as mais brilhantes sempre têm o mesmo brilho. Assim, era possível ver o quão longe uma galáxia estava apenas observando o brilho da Nebulosa Planetária. Na teoria, isso funciona em qualquer tipo de galáxia.

Mas enquanto os dados sugeriam que isso estava correto, os modelos científicos mostravam o contrário. De acordo com Zijstra, estrelas velhas e de pouca massa criavam nebulosas planetárias muito mais fracas do que estrelas jovens e mais massivas. Isso se tornou uma fonte de conflito por 25 anos.

Segundo os dados, era possível obter nebulosas brilhantes a partir de estrelas de baixa massa como o Sol. Já os modelos diziam que isso não era possível, qualquer objeto com a massa duas vezes menor que a do Sol resultaria em uma Nebulosa Planetária muito fraca para ser vista.

Novos modelos mostram que, após a ejeção do envelope, as estrelas esquentam três vezes mais rapidamente do que se acreditava em modelos antigos. Isso facilita à uma estrela de pouca massa, como o Sol, formar uma Nebulosa Planetária brilhante. A equipe descobriu, através dos novos modelos, que o Sol possui exatamente o menor valor de massa capaz de produzir uma Nebulosa Planetária visível, embora fraca. Estrelas apenas um pouco menores não produzem uma Nebulosa visível.

De acordo com Ziljstra: descobrimos que estrelas com massa inferior a 1,1 vezes a massa do Sol produzem nebulosas mais fracas, e estrelas mais massivas que 3 vezes a massa solar produzem nebulosas mais fortes. Para os demais casos, o brilho previsto é muito próximo do observado. Problema resolvido, depois de 25 anos!

"Esse é um bom resultado. Agora temos como saber a aparência de estrelas de alguns bilhões de anos em galáxias distantes, o que é um alcance difícil de medir, além disso sabemos no que o Sol se tornará quando morrer!"

A pesquisa foi publicada na revista Nature Astronomy.

Fonte: University of Manchester