No último dia 30 de agosto foi descoberto o objeto GB00234 pelo astrônomo amador ucraniano Gennady Borisov, do Instituto Astronômico de Sternberg.
© Gennady Borisov (C/2019 Q4)
É possível que o objeto tenha origem interestelar, sendo o segundo a ser flagrado em visita ao nosso Sistema Solar. O primeiro objeto interestelar a ser detectado numa visita a nosso Sistema Solar foi o 1I/2017 U1 (‘Oumuamua). Após duas semanas de acompanhamento, esta é no momento a principal hipótese para explicar a presença do objeto catalogado como C/2019 Q4 (Borisov).
O C/2019 Q4 foi localizado a 3 UA do Sol (UA: unidade astronômica, é a distância média Terra-Sol, cerca de 150 milhões de km). Ele parece ser um objeto bastante grande, talvez cerca de 10 km ou mais de diâmetro, dependendo da refletividade de sua superfície. Ele está trafegando com velocidade de 30 km/s.
Ele deve atingir o periélio (máxima aproximação do Sol) ao redor de 7 de dezembro e passará meses ao alcance dos telescópios. Trata-se também de um objeto bem maior que o ‘Oumuamua, o que facilitará sua observação. A apromimação máxima da Terra ocorrerá em torno do dia 29 de dezembro.
O que diferencia o C/2019 Q4 de quase todos os outros cometas é a excentricidade de sua órbita. A excentricidade mede o quanto uma órbita se desvia de um círculo perfeito, que tem uma excentricidade de 0. Órbitas elípticas, típicas de planetas, asteroides e cometas, têm excentricidades entre 0 e 1. As parábolas são iguais a 1 e uma excentricidade maior que 1 indica uma órbita hiperbólica.
Para confirmar que ele é mesmo interestelar sua trajetória provavelmente será hiperbólica, mas ainda há a possibilidade da órbita ser parabólica, ou seja, o objeto estaria ligado gravitacionalmente ao Sol, vindo da nuvem de Oort, a camada mais externa de detritos do Sistema Solar. Com base nas observações atuais, a excentricidade do C/2019 Q4 é de cerca de 3,2, definitivamente hiperbólica. Objetos em órbitas hiperbólicas não estão ligados em uma órbita ao redor do nosso Sol.
Mas, o Minor Planet Center da IAU (União Astronômica Internacional), catalogou o objeto como sendo um cometa.
Diferentemente do ‘Oumuamua, que tinha atividade cometária muito discreta ou nula, o C/2019 Q4 se comporta como um cometa, ejetando gases conforme se aproxima do Sol. Provavelmente não em taxa suficiente para justificar a hipótese parabólica da órbita, mas mais do que bastante para classificá-lo como cometa. Contudo, se a hipótese interestelar se confirmar, ele deve ganhar a designação I, e passará a ser denominado 2I/2019 Q4.
O objeto veio da direção da constelação de Cassiopeia, próximo da constelação Perseu, e passará próximo à órbita de Marte no periélio, antes sair fora do Sistema Solar.
O ritmo de descobertas deve aumentar ainda mais com futuros projetos de varredura de céu inteiro agora em planejamento, como o Large Synoptic Survey Telescope (LSST), que deve começar a funcionar em 2022, no Chile.
Este objeto em particular está muito perto do Sol, por isso a janela de observação é pequena. Está muito baixo no céu, o que dificulta ainda mais as observações. E tem uma magnitude 18, ou seja, é demasiado tênue para ser visto a olho nu e só pode ser observado por telescópios de tamanho considerável.
Fonte: Sky & Telescope