Cientistas australianos da Universidade de Sydney e da agência nacional de ciência da Austrália, CSIRO (Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation), detectaram o que é provavelmente uma estrela de nêutrons girando mais lentamente do que qualquer outra alguma vez medida.
© Carl Knox / OzGrav (ilustração do radiotelescópio ASKAP)
Nenhuma outra estrela de nêutrons emissora de rádio, das mais de 3.000 descobertas até agora, foi descoberta girando tão lentamente. É muito incomum descobrir uma candidata a estrela de nêutrons que emite pulsos de rádio desta forma.
Isto fornece novos conhecimentos sobre os complexos ciclos de vida dos objetos estelares. No fim da sua vida, as grandes estrelas com cerca de 10 vezes a massa do Sol gastam todo o seu combustível e explodem num espetacular evento a que chamamos supernova. É criado um remanescente estelar tão denso que 1,4 vezes a massa do nosso Sol é compactada numa bola com apenas 20 quilômetros de diâmetro. A matéria é tão densa que os elétrons com carga negativa são esmagados em prótons de carga positiva e o que resta é um objeto constituído por trilhões de partículas de carga neutra. Nasce uma estrela de nêutrons.
Dada a física extrema com que estas estrelas colapsam, as estrelas de nêutrons giram tipicamente a uma velocidade alucinante, levando apenas alguns segundos ou mesmo frações de segundo para girar completamente sobre o seu eixo. Agora, os astrônomos descobriram um objeto compacto que repete o seu sinal com um período relativamente lento de apenas uma hora.
A descoberta foi feita utilizando o radiotelescópio ASKAP (Australian Square Kilometre Array Pathfinder) da CSIRO na Austrália Ocidental. O radiotelescópio ASKAP consegue ver uma grande parte do céu de uma só vez, o que significa que pode captar coisas que os pesquisadores nem sequer estão à procura.
O ASKAP é um dos melhores telescópios do mundo para este tipo de investigação, uma vez que está constantemente analisando uma grande parte do céu, permitindo a detecção de quaisquer anomalias. A origem de um sinal com um período tão longo permanece um profundo mistério, embora dois tipos de estrelas sejam os principais suspeitos, as anãs brancas e as estrelas de nêutrons.
O que é intrigante é a forma como este objeto apresenta três estados de emissão distintos, cada um com propriedades completamente diferentes dos outros. O radiotelescópio MeerKAT, na África do Sul, desempenhou um papel crucial na distinção entre estes estados.
Embora uma anã branca isolada com um campo magnético extraordinariamente forte pudesse produzir o sinal observado, é surpreendente que nunca se tenham descoberto anãs brancas isoladas altamente magnéticas nas proximidades. Por outro lado, uma estrela de nêutrons com campos magnéticos extremos pode explicar de forma bastante elegante as emissões observadas.
Apesar de uma estrela de nêutrons de rotação lenta ser a explicação provável, os pesquisadores disseram que não podem excluir a possibilidade de o objeto fazer parte de um sistema binário com uma estrela de nêutrons ou outra anã branca. Será necessária mais exploração para confirmar se o objeto é uma estrela de nêutrons ou uma anã branca. De qualquer forma, o objeto fornecerá informações valiosas sobre a física destes objetos extremos.
Um artigo foi publicado na revista Nature Astronomy.
Fonte: University of Manchester