Astrônomos usando dados do telescópio espacial Hubble empregaram um método revolucionário para detectar a matéria escura em aglomerados de galáxias.
© Hubble/M. Montes (luz intra-aglomerado em Abell S1063)
O método permite destacar a distribuição da matéria escura com mais precisão do que qualquer outro método usado até hoje e que possa ser usado para explorar a natureza da matéria escura.
Nas últimas décadas, os astrônomos tentaram entender a verdadeira natureza da substância misteriosa que compõe a maior parte da matéria e mapear sua distribuição no Universo. A matéria escura representa cerca de 85% da matéria no Universo e cerca de um quarto da sua densidade total de energia. A matéria escura não emite nenhum tipo de radiação eletromagnética, sua presença só pode ser determinada via efeitos gravitacionais.
Agora, dois astrônomos da Austrália e da Espanha utilizaram dados do programa Frontier Fields do telescópio espacial Hubble para estudar com precisão a distribuição da matéria escura.
Os pesquisadores descobriram que a luz muito fraca em aglomerados de galáxias, a luz intra-aglomerado, mapeia como a matéria escura é distribuída.
A luz intra-aglomerado é um subproduto das interações entre as galáxias. No decorrer destas interações, as estrelas individuais são removidas de suas galáxias e flutuam livremente dentro do aglomerado. Uma vez livres de suas galáxias, elas se alojam onde a maioria da massa do aglomerado reside, principalmente matéria escura.
Tanto a matéria escura como estas estrelas isoladas atuam como componentes sem colisão, seguindo o potencial gravitacional do próprio aglomerado. O estudo mostrou que a luz intra-aglomerado está alinhada com a matéria escura, traçando sua distribuição com mais precisão do que qualquer outro método baseado em traçadores luminosos usados até agora.
Este método também é mais eficiente do que o método mais complexo de usar lentes gravitacionais. Enquanto o segundo exige tanto a reconstrução precisa de lentes quanto campanhas espectroscópicas demoradas, este método utiliza apenas imagens profundas. Isso significa que mais aglomerados podem ser estudados com o novo método na mesma quantidade de tempo de observação.
Os resultados do estudo introduzem a possibilidade de explorar a natureza da matéria escura. "Se a matéria escura é auto-interagente, poderíamos detectar isso como pequenos desvios na distribuição de matéria escura em comparação com este brilho estelar muito fraco", destaca Ignacio Trujillo, do Instituto de Astrofísica de Canárias, Espanha. Atualmente, tudo o que se sabe sobre a matéria escura é que ela parece interagir gravitacionalmente com a matéria regular, mas não de outra maneira. Descobrir que se auto-interage colocaria restrições significativas em sua identidade.
Outro teste importante deste método será a observação e análise de aglomerados de galáxias adicionais por outras equipes de pesquisa, para adicionar ao conjunto de dados e confirmar estas descobertas.
A equipe também pode esperar pela aplicação das mesmas técnicas usando futuros telescópios espaciais como o James Webb, que terá instrumentos ainda mais sensíveis capazes de resolver a luz fraca do intra-aglomerado no Universo distante.
Os resultados foram publicados na revista Monthly Notices da Royal Astronomical Society.
Fonte: ESA
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