Uma pesquisa apresentada na 45ª Conferência de Ciência Lunar e Planetária, realizada em Woodlands, no Texas, sugere que um destes atingiu o planeta na era Paleozoica, formando duas crateras no norte da Suécia.
© ESO (asteroide binário)
Utilizando análises de minúsculos animais marinhos encontrados nas crateras Lockne e Malingen, que se encontram a cerca de 16 quilômetros de distância, os pesquisadores encontraram a mesma idade para ambas formações. Essa seria a primeira evidência do impacto de um asteroide binário na Terra.
Acredita-se que formações binários acontecem quando um asteroide formado por um conglomerado de detritos de rocha começa a girar tão rápido sob a influência da luz solar que uma pedra solta é jogada para fora do seu plano equatorial, formando o que os astrônomos chamam de pequena lua.
Apesar de observações apontarem que 15% dos asteroides perto da Terra são duplos, apenas uma fração deles formaria crateras duplas com o impacto, já que aquelas luas que estão muito próximas de sua estrutura original criariam marcas sobrepostas. Cálculos sugerem que apenas 3% das crateras são duplas, um número próximo dos candidatos identificados por pesquisadores até o momento.
Jens Ormo, pesquisador do Centro de Astrobiologia de Madri, na Espanha, e sua equipe optaram por analisar as crateras Lockne, com 7,5 quilômetros de largura, e a Malingen, cerca de dez vezes menor, por suas características geológicas similares. Reconhecidas como crateras desde a metade do século XX, elas só foram formalizadas em meados de 1990.
Os pesquisadores perfuraram cerca de 145 metros para dentro da estrutura da Malingen utilizando pedra britada. Eles passaram pelo sedimento que a preenche, conhecido como brechas, e atingiram a pedra intacta no fundo.
A análise das brechas revelou a presença de uma forma do mineral quartzo, que é criado sob pressões intensas e está associado com o impacto de asteroides. No momento da queda, a região onde as crateras se encontram era coberta por um mar raso, então sedimentos marinhos teriam preenchido imediatamente o buraco formado no local.
A datação do impacto foi feita com um método conhecido como biostratigrafia, que permite que geólogos atribuam idades relativas a rochas com base nos tipos de criaturas fósseis encontradas dentro delas. Os pesquisadores utilizaram pequenos plânctons, chamados chitinozoas.
Os resultados revelaram que a estrutura Malingen era da mesma idade de Lockne, de cerca de 458 milhões anos de idade, durante o período Ordoviciano, da era Paleozoica.
Em entrevista à "BBC", Gareth Collin, pesquisador do Imperial College de Londres, afirmou que "com falta de testemunha dos impactos, é impossível provar que duas crateras próximas foram formadas simultaneamente, mas que a evidência neste caso é muito convincente. Sua proximidade no espaço e estimativas consistentes de idade tornam bastante provável um impacto binário".
Simulações sugerem que a pedra que formou Lockne tinha cerca de 600 metros de diâmetro, enquanto a de Malingen tinha aproximadamente 250 metros. De acordo com os pesquisadores, estas medições são um pouco maiores do que pode ser sugerido pelas suas crateras por causa dos mecanismos de impactos em ambientes marinhos.
Ormo acrescentou que a distância entre Malingen e Lockne está de acordo com a teoria de que elas teriam sido criadas por um binário. Segundo ele, para qualificar um impacto duplo, as crateras não podem estar muito longe, pois excederiam a distância máxima em que um asteroide e sua lua podem ficar vinculados por forças gravitacionais.
"O asteroide formador de Lockne era grande o suficiente para gerar uma abertura na atmosfera acima do local de impacto", disse Ormo.
Essa abertura pode fazer com que o material do asteroide se espalhe ao redor do globo, como teria acontecido durante o impacto que formou a cratera de Chicxulub, que muitos acreditam ter matado os dinossauros, há 66 milhões de anos.
O impacto no período Ordoviciano não foi potente o suficiente para que o material fosse espalhado, mas pode ter tido efeitos locais, como por exemplo, a vaporização instantânea de qualquer criatura do mar que estivesse nadando nas proximidades.
Outras crateras que podem ter sido formadas por um impacto duplo incluem Clearwater Ocidental e Oriental, em Quebec, no Canadá; Kamensk e Gusev, no sul da Rússia; e Ries e Stenheim, no sul da Alemanha.
Outros cientistas alertam que crateras aparentemente contemporâneas podem ter sido formadas com semanas, meses ou mesmo anos de intervalo.
Fonte: Lunar and Planetary Institute