Além das bilhões de estrelas da Via Láctea, o observatório espacial Gaia da ESA também observa objetos extragaláticos. O seu sistema automatizado de alerta avisa os astrônomos sempre que é detectado um evento transitório.
© NRAO/NASA (ilustração de um evento de ruptura de marés)
Uma equipe de astrônomos descobriu que, ao ajustar o sistema automatizado existente, a sonda Gaia pode ser usada para detectar centenas de transientes peculiares nos centros de galáxias. Encontraram cerca de 480 transientes ao longo de um período de cerca de um ano. O seu novo método será implementado no sistema o mais rápido possível, permitindo que os astrônomos determinem a natureza destes eventos.
Em 2013, a ESA lançou a sua sonda Gaia para medir a localização de bilhões de estrelas na nossa Galáxia e dezenas de milhões de galáxias. Cada posição no céu entra na visão da sonda uma vez por mês, num total de aproximadamente setenta vezes durante a missão. Isto permite que a sonda identifique eventos transitórios, como buracos negros supermassivos que dilaceram estrelas ou estrelas que explodem como supernovas. O observatório Gaia nota uma diferença no brilho quando volta à mesma zona do céu um mês depois. Uma equipe de astrônomos do Netherlands Institute for Space Research (SRON) da Holanda, da Universidade de Radboud e da Universidade de Cambridge encontrou agora quase quinhentos transientes ocorrendo nos centros de galáxias ao longo de um ano.
Os astrônomos Zuzanna Kostrzewa-Rutkowska, Peter Jonker, Simon Hodgkin e outros procuraram na base de dados do Gaia eventos transitórios em torno dos núcleos de galáxias entre julho de 2016 e junho de 2017. Usaram um catálogo de galáxias, a versão 12 do Sloan Digitized Sky Survey (SDSS), e uma ferramenta matemática personalizada. A nova ferramenta permite que os pesquisadores identifiquem eventos luminosos e raros oriundos dos centros galácticos. Identificaram 480 eventos, dos quais apenas cinco foram captados antes pelo sistema de alerta.
Alertar rapidamente a comunidade astronômica é fundamental para muitos dos eventos descobertos. Para cerca de cem destes eventos, nada fora do comum foi observado pelo observatório Gaia no mês anterior e no mês após a detecção, indicando que o evento que levou à emissão de luz foi curto. "Estes eventos têm um grande valor porque permitem que os astrônomos estudem por um breve período buracos negros supermassivos anteriormente invisíveis," explica Jonker. "Especialmente os eventos de curta duração, que podem indicar a localização dos até agora elusivos buracos negros de massa intermédia que destroem as estrelas."
A explicação principal para a maioria dos eventos é que os buracos negros supermassivos que residem nos núcleos das galáxias tornam-se repentinamente muito mais ativos à medida que a quantidade de gás que cai para o buraco negro aumenta e ilumina o ambiente próximo do buraco negro. Este novo combustível pode ser extraído de uma estrela rasgada pela enorme atração gravitacional do buraco negro.
Peter Jonker, com Zuzanna Kostrzewa-Rutkowska e outros do seu grupo, iniciaram recentemente uma campanha para decifrar a natureza dos 480 novos transientes usando o telescópio William Herschel situado em La Palma, Ilhas Canárias.
Os resultados serão publicados na edição de novembro da revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.
Fonte: Netherlands Institute for Space Research