Deslumbrante cometa verde!
© J. F. Hernández (cometa 2022 E3 ZTF)
Os cometas são objetos feitos principalmente de gases congelados, rocha e poeira. Eles se tornam ativos à medida que se aproximam do Sol, ocorrendo sublimação, ou seja, fazendo com que seu gelo se transforme em gás. Neste processo forma-se uma nuvem ao redor do cometa conhecida como “coma”. O cometa C/2022 E3 (ZTF) foi visto inicialmente com uma coma esverdeada brilhante.
O cometa C/2022 E3 (ZTF) foi descoberto em 2 de março de 2022 pelo programa Zwicky Transient Facility (ZTF), que opera o telescópio Samuel-Oschin de 48 polegadas no Observatório Palomar da Caltech, na Califórnia. O cometa inicialmente foi relatado como um candidato a asteroide. Uma noite depois, as fotografias do objeto efetuadas pelo observador japonês Hirohisa Sato revelaram uma pequena coma, mudando seu status para um cometa. Outros observadores confirmaram o relatório de Sato. Na época, o cometa tinha magnitude 17 e estava a quase 5 UA (Unidades Astronômicas) da Terra, quase idêntica à distância média de Júpiter ao Sol. O cometa tem um diâmetro relativamente pequeno, com cerca de 1 km e foi detectado ao passar pela órbita de Júpiter.
Este refugiado da Nuvem de Oort - uma grande região contendo inúmeros detritos gelados e envolvendo o Sistema Solar - já é visível com binóculos e uma bela vista em telescópios modestos. Observadores com céus escuros, sem poluição luminosa e sem Lua podem até avistar vagamente o cometa a olho nu. As estimativas atuais de magnitude visual colocam o cometa C/2022 E3 (ZTF) com magnitude 5,5.
O astrônomo amador e administrador do grupo do Facebook Comet Asteroid Meteor Watch, Jose Pablo Navarro, examinou 2.509 observações visuais e CCD do cometa do banco de dados do Minor Planet Center. Sua análise indica uma desaceleração recente na taxa de brilho do cometa, com um pico de brilho próximo à magnitude 6,0.
As fotografias mostram uma impressionante coma verde-azulada, uma característica frequentemente vista em cometas que viajam para o interior do Sistema Solar. A luz solar ultravioleta (UV) ao aquecer o núcleo decompõe grandes moléculas orgânicas que gera compostos mais simples, incluindo o carbono diatômico (C2) de brilho verde. Em alguns dias, esta mesma luz energética destrói a molécula antes que ela tenha tempo de sair da coma, impedindo-a de viajar para a cauda do cometa e tingi-la de verde. Às vezes, esta tonalidade esverdeada é sutilmente visível em binóculos, mas normalmente é necessário um telescópio de 6 polegadas ou maior.
A órbita do cometa é inclinada cerca de 109º em relação à eclíptica - a projeção sobre a esfera celeste da trajetória aparente do Sol observada a partir da Terra - e seu deslocamento é retrógrada em relação aos planetas. O periélio, a distância mais próxima do Sol, ocorreu em 12 de janeiro a 1,11 UA (166 milhões de quilômetros).
Em 17 de janeiro, fortes ventos solares de uma ejeção de massa coronal causaram um evento de desconexão na cauda de íons do cometa, fazendo-a parecer quebrada. Em 22 de janeiro, uma anticauda tornou-se visível. A cauda parece estar apontando para o Sol e para longe do material de íons e poeira; isto parece ser causado por partículas situadas em um disco do plano orbital do cometa e, quando a Terra se alinha com este plano, parece uma cauda invertida, conforme visto na imagem abaixo.
© Dan Barllett (cometa 2022 E3 ZTF)
O perigeu, a distância mais próxima da Terra, ocorre hoje (1/2/2023), quando o cometa passará a 0,28 UA (42 milhões de quilômetros) daqui, passando a ser visível no Hemisfério Sul, porém pouco acessível. No Brasil, ele será visível apenas para moradores das regiões Norte e Nordeste. Como o cometa está se deslocando para o Sul, a cada noite fica mais favorável sua observação.
Embora seu período orbital é de longo período, devido a perturbações dos planetas, o cometa agora está totalmente fora do Sistema Solar. Com base em elementos orbitais conhecidos em dezembro de 2022, a órbita do cometa era elíptica muito antes de se aproximar do Sistema Solar interno com uma excentricidade aproximada de 0,99920 e um semi-eixo maior aproximado de 1.400 UA, seu período orbital de aproximadamente 52.000 anos. Devido à atração gravitacional dos planetas, em particular devido às passagens relativamente próximas de Saturno e Júpiter, sua excentricidade orbital aumentará em cerca de 0,00080 (ignorando forças não gravitacionais) e ficará muito próxima de 1. Se o cometa ainda estará em órbita fechada ou deixará o Sistema Solar em uma órbita hiperbólica, não pode ser dito devido à atual incerteza dos dados.
Com o passar dos dias, o cometa será visto mais alto no céu e com mais tempo de visibilidade. Na noite do dia 4 de fevereiro, o cometa estará muito perto de uma estrela brilhante azulada chamada Capela, apontando para o Norte. No dia 10 de fevereiro, ele estará muito próximo de Marte, quando o cometa cruza cerca de 1,5° a nordeste do planeta, localizado na constelação de Touro. Ele estará visível em todo o Brasil, tente observá-lo logo após o poente, entre às 19 e 21 horas. Entre 13 a 15 de fevereiro, passará em frente ao aglomerado aberto Híades.
Veja outras informações em Dois cometas promissores.
Esperamos que o cometa C/2022 E3 (ZTF), mesmo se não for tão espetacular, forneça belas imagens.
Fonte: Sky & Telescope