As estrelas não são todas iguais, e nem seus criadores. De longe o mais bem conhecido berçário estelar, a Nebulosa de Órion já produziu milhares de jovens estrelas, grandes e pequenas.
© Hubble/M. Robberto (Nebulosa de Órion)
Ela brilha com tanta força que pode ser vista ao olho nu, mesmo estando a 1.350 anos-luz de distância. Em uma noite clara, escura e sem lua, a nuvem de gás e poeira que compõe a nebulosa parece uma estrela difusa ao sul das três estrelas altamente visíveis do cinturão de Órion, uma constelação proeminente em todas as regiões do mundo.
Agora, uma técnica de imageamento revelou que essa grande nebulosa é apenas uma pequena parte de um enorme anel de poeira que se estende por centenas de anos-luz. A descoberta sugere as origens da nebulosa: radiação e explosões de estrelas massivas no centro do anel podem ter forçado gás e poeira para fora até que parte do material colapsasse e desse origem à famosa criadora de estrelas.
Ninguém havia notado o anel anteriormente porque a poeira de primeiro plano e de fundo obscurece o objeto recém-encontrado. “Nós ficamos completamente surpresos ao descobrir essa bela estrutura anelar”, declara Eddie Schlafly, astrônomo do Instituto Max Planck de Astronomia, na Alemanha. Ele e seus colegas encontraram o anel usando o telescópio de 1,8 metros Pan-STARRS, no Havaí, para mapear poeira interestelar.
A poeira deixa a luz estelar avermelhada, essa é uma das razões de o sol poente parecer alaranjado ou vermelho; então, a equipe de Schlafly observou as cores de estrelas na maior parte do céu para verificar onde fica a poeira interestelar. A partir das cores e distâncias de 23 milhões de estrelas, a equipe estabeleceu a distribuição da poeira em três dimensões, dentro e ao redor de Órion.
Essas observações revelaram que a Nebulosa de Órion está na borda de um vasto anel de poeira com 330 anos-luz de diâmetro, tão grande que a maior parte dele chega até Monoceros, uma constelação a leste de Órion. Se o anel fosse visível a olho nu, ele pareceria 27 vezes maior que a lua cheia. A Nebulosa de Órion está localizada em uma de suas regiões mais densas.
John Bally, astrônomo da University of Colorado Boulder, que não tem relação com a descoberta, considera fenomenal a nova técnica de mapeamento de poeira que revelou o anel. “Isso realmente nos permite medir a distribuição de poeira em três dimensões pela primeira vez”, declara ele.
A descoberta sugere as origens da Nebulosa de Órion. Um dos cenários possíveis: há 10 ou 20 milhões de anos, muito antes da existência da Nebulosa de Órion, surgiu um grupo de estrelas massivas. Essas estrelas eram quentes e luminosas, e a luz ultravioleta que elas emitiam arrancava elétrons do hidrogênio gasoso interestelar em todas as direções. Essa radiação empurrava o gás e a poeira interestelares para longe em uma bolha que se expandia e foi sacudida ainda mais quando as estrelas explodiram em supernovas. Parte da superfície da bolha se tornou densa o bastante para colapsar, formando novas estrelas, e uma região especialmente rica em nascimentos estelares iluminou o gás e a poeira que atualmente chamamos de Nebulosa de Órion.
Bally e Christopher McKee, astrofísico da University of California, Berkeley, declaram que esse cenário é plausível mas requer confirmação. Se a ideia estiver correta, o anel de poeira deveria estar se expandindo, então cientistas terão que medir a velocidade de expansão da poeira para verificá-la. Essas medidas também indicariam quando a expansão começou, assim datando a sequência de eventos que pode ter levado à formação da Nebulosa de Órion.
A nova sonda europeia Gaia pode ajudar ainda mais ao determinar distâncias e movimentos de estrelas pelo céu. A Gaia pode revelar estrelas que não se afastaram do centro do anel, irmãs das estrelas mortas que o criaram, trazendo mais informações sobre seu processo de formação. De acordo com Bally, a descoberta do anel de poeira de Órion é uma peça importante do quebra-cabeças, mesmo que muitos aspectos da ecologia de formação estelar na região ainda precisem ser compreendidos.
A descoberta foi publicada no periódico The Astrophysical Journal.
Fonte: Scientific American
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